Bolsonaro e a velha política


Bolsonaro se elegeu em 2018, e busca se reeleger em 2022, como aquele que faz a diferença, o novo, como o macho, imbrochável, não corrupto, o que faz uma política diferente da velha política, no caso, a velha política da esquerda e da direita, aquele que era uma alternativa à polarização política existente no Brasil desde a o início da redemocratização com a disputa eleitoral de Collor e Lula e que se acirrou entre Lula e vários candidatos do PSDB culminando na polarização PT e PSDB da qual a mídia nunca falou ou reclamou e que foi rompida por Bolsonaro ao se eleger como "terceira via" em 2018. Bolsonaro se elegeu, ademais, como aquele que é diferente, inclusive, de uma política de centro, pendente para um lado ou para outro, para a esquerda ou para a direita, dependendo das circunstâncias, no caso, a política do antigo Partido da Frente Liberal (PFL) que, hoje, é só Partido Liberal (PL), junto com outros que fazem a chamada política do Centrão. Contudo, e obviamente, isso foi mais uma das mentiras contadas por Bolsonaro na qual muitos acreditaram, e ainda acreditam, pensando que é um candidato diferente de todos os anteriores, principalmente de Lula, o ex-presidiário, mesmo que Bolsonaro tenha também sido preso por crime no Exército e condenado em primeira instância, apesar de posteriormente absolvido pelo Superior Tribunal Militar (STM) [veja aqui e aqui], assim como aconteceu com Lula no STF, mas não por cometer crime.

Diferente do que Bolsonaro diz, ele é o maior representante da velha política, mais antiga do que a política brasileira da redemocratização, no caso, a política de Platão e do rei filósofo, proclamado, e proclamando-se como representante do bem, do belo e da verdade. Que Bolsonaro tenha uma relação próxima com alguém que se proclamou filósofo observando os astros, o falecido Olavo de Carvalho, proclamando a partir de si mesmo o bem, o belo e a verdade, não é mera coincidência. Tão pouco é coincidência a relação de Bolsonaro com o rei filósofo de Platão que é senão aquele que busca servir de exemplo como modelo para todos aqueles que governa, ou pretende governar, alguém ideal, uma Ideia propriamente dita que deu, e dá origem, a todos os ismos políticos históricos: feudalismo, absolutismo, capitalismo, fascismo, nazismo, e, não por menos, ao bolsonarismo atualmente. (E o marxismo e o comunismo, o lulismo? Nunca foram uma ideia, mas uma revolta e uma revolução à toda perspectiva ideal com seu materialismo, que também não é uma ideia de matéria, mas uma "força de trabalho", que trabalha, aqueles e aquelas que trabalham conjuntamente e partilham a força de trabalho entre si).

O bolsonarismo é, assim, uma Ideia que diz ser diferente, que pretende fazer diferente, que é a diferença, ou ainda, que representa a diferença em relação a tudo e em relação a todos que existem, que pré-existe a tudo e todos. No caso, uma Ideia divina, antes de ser filosófica, advinda de um deus ao homem, Bolsonaro como representante de deus na terra, um Messias, ele mesmo visto como um deus que é o bem, a verdade, a beleza de tudo que existe e que a todos libertará com sua verdade, e nada faltará àqueles que seguirem fiéis religiosamente a si e seus pastores e padres, até mesmo falsos pastores e falsos padres, contanto que preguem a palavra do Messias Bolsonaro, pois o que importa é a palavra que vem de deus a partir dele, Bolsonaro, que nunca mente, diz ele, enquanto deus.

Neste sentido, a política de Bolsonaro não é diferente em nada da velha política grega na qual os deuses dizem aos humanos o que fazer e intervêm nas ações humanas por meio de vários acontecimentos naturais e do próprio homem a partir de uma religião dita pagã, ou ainda, a partir de uma ideia filosófica platônica. Tão pouco difere em nada da velha política judaico-cristã-protestante na qual deus intervém nas ações humanas por meio de um homem enviado por deus para divulgar o bem, a beleza e a verdade de sua palavra, seja ele Abraão, Moisés ou Jesus Cristo, quiçá Maomé também. Não há diferença alguma entre Bolsonaro e todos estes no que diz respeito à Ideia, pois é sempre uma mesma ideia, a de alguém que se diz diferente, que diz a diferença, que reivindica a diferença para si, que é o diferentão, a alternativa que não é alternativa entre uma coisa e outra, pois é alternativa pura, a pureza em pessoa que vem salvar a todos da oposição dialética existente no mundo e na história entre esquerda e direita, alguém que é a superação de todas as divergências, aquele que vai criar o reino de deus na terra e todos vão viver no paraíso novamente, a "bela-alma" de que fala Deleuze em Diferença e repetição. Se Olavo de Carvalho se proclamou o filósofo e, seguindo-o, Bolsonaro se proclama o Messias, nada mais antigo do que a relação da filosofia com a religião na política, que é, no caso, a velha política.

Bolsonaro é a velha política da filosofia e religião na política, da diferença filosófica de uma Ideia e da diferença religiosa de um deus, uma política que diz ser diferente, mas não é diferente em nada. Pelo contrário, pretende excluir toda e qualquer diferença como política fascista, a que proclama deus, pátria e família, três símbolos políticos e políticas da identidade de uma ideia. Três formas de uma ideia se realizar e se identificar como o bem, o belo e a verdade excluindo tudo que é mal, feio e mentiroso, isto é, tudo que é diferente.

É para excluir a diferença que Bolsonaro se diz diferente em sua política, algo que é contraditório, de certo, mas a contradição é o meio por excelência de excluir a diferença, pois ao se dizer diferente, Bolsonaro exclui a diferença, não se pensa mais em nada diferente, no caso, em mais nada diferente dele. Esta é a ideia, sobretudo, a Ideia platônica que se volta sempre para si mesma em diferença para não se pensar em nada mais diferente dela. Não há diferença entre uma cadeira e outra, pois tanto uma como a outra são cadeiras, isto é, são a ideia de uma cadeira realizadas na cadeira ou na imagem de cadeira que vemos. Não importa se uma cadeira é vista diferente a partir de uma determinada perspectiva, vista de cima, de baixo, de um lado ou de outro, é sempre uma cadeira quando se pensa no que é, na sua Ideia, na cadeira modelo que serve como exemplo, de exemplo e por exemplo para que o artesão crie uma cadeira. Bolsonaro é o mesmo, e mais do mesmo quando se diferente, pois é a ideia de cidadão de bem, belo e verdadeiro que advém desde Platão e senão de deus, grego ou judaico-cristão-protestante.

Assim como o artesão cria uma cadeira a partir de um modelo ideal de cadeira sem saber, muitas vezes, que modelo e ideia de cadeira é esta, no caso, uma cadeira diferente de todas as cadeiras, ainda que seja igual a uma... cadeira, o filósofo platônico pensa a cadeira a partir de uma Ideia como modelo ou exemplo para tudo, não só para cadeiras, e o religioso pensa um deus para tudo, tudo a partir de deus que é o modelo e exemplo de tudo para os religiosos. A criação, a ideia e deus, isto é, o belo, a verdade e o bem, são uma só e a mesma coisa, já dizia Platão, que se diz diferente de tudo e de todos, e dizer-se uma só e a mesma coisa é a velha política da identidade dita e redita e reeditada desde Platão, hoje, por Bolsonaro. Uma velha política da identidade que não admite que se diga e se rediga diferente a palavra divina ou uma ideia filosófica, na qual o diferente é negado mesmo quando é afirmado, porque nenhuma diferença se diz de fato e quem se diz diferente mente, não diz a verdade, é feio, faz mal e é o mal propriamente dito.

Bolsonaro mente dizendo que é diferente de uma velha política. Suas ações iguais a de uma velha política, principalmente se aliando ao Centrão, não deixam dúvidas quanto a isso, pelo menos para aqueles que não acreditam em suas mentiras, para aqueles que conseguem escapar à mentira de que Bolsonaro é diferente, escapar de uma diferença mentirosa, aqueles que sabem o que é uma mentira de verdade. Em outras palavras, para aqueles que sabem diferenciar uma cópia de uma verdadeira cópia, isto é, uma cópia de um simulacro. Aqueles que sabem diferenciar a diferença de fato, que não se exclui e não pode ser excluída, de uma diferença que se pretende excluir autoproclamando-se diferente, tornando-se uma ideia, um modelo, um exemplo, um ser divino e humano ideal, puro, a pureza em pessoa, o imbrochável. Enfim, para aqueles que sabem identificar uma cópia mal feita de uma cópia bem feita, uma cópia feia, e do que há de mais feio, de uma bela cópia, do que há de mais belo numa cópia, a repetição de algo diferente, que não é mais cópia de nada, que é realmente diferente, que não é semelhante nem se pretende semelhante, por mais semelhante que seja.

Não é fácil, porém, se identificar esta diferença, essa cópia que não é cópia mesmo que seja uma cópia, no caso, uma cópia de cópia, que é chamada de simulacro. O motivo disso é que o simulacro é uma diferença que não quer e não pode ser identificada e é, por isso mesmo, invisível, a menor diferença possível, uma diferença que não se diz diferente, que se vice-diz. Se Bolsonaro não é diferente em nada de uma velha política é senão por isso, por querer fazer visível sua diferença, por querer mostrar que é diferente, que é a diferença, e isso não é ser diferente, mas igual a todos os outros que buscam se mostrar, representar, encenar, mentir para que os outros acreditem nele, falsificar a palavra para que todos pensem que é autêntico. Ao se dizer imbrochável, o macho que nunca brocha, no caso, o macho que está sempre de pau duro, Bolsonaro é o rei filósofo que olha para seu próprio pau ereto e diz que o seu é maior do que o de todos os outros, que fica ereto o tempo todo como um cetro e centro de poder para si. É um rei nu que quer que todos acreditem que está vestido, pois ele próprio disse isso, e todos devem acreditar em sua palavra quando diz que é imbrochável, e quando diz que comeria um índio, não se deve descartar o duplo sentido de "comer" neste caso, pois o "homem branco" é um homem pervertido, que necessita da perversão para se autoafirmar, da diferença para existir. O canibalismo é o perversão do homem branco enquanto entre os indígenas é algo diferente, uma antropofagia, não uma profanação de corpos canibal, mas a celebração religiosa antropofágica de uma força divina.

A velha política de Bolsonaro é a política de não fazer diferença, uma política de identidade, que mata e genocida indígenas de modo canibalesco há muitos séculos, a política do homem branco filósofo cristão. Ao proclamar a si mesmo como diferente, imbrochável, ele quer dizer exatamente isso. É a política do homem enviado por deus que nunca falha, um homem modelo, exemplo, o exemplo de ser humano, no caso, um homem branco, cristão, pai de família, cidadão de bem, amante da pátria e temente a deus. É a política dos direitos humanos para o homem que idealiza a si mesmo há muito tempo por meio de sua razão e se considera o governante bom, belo e verdadeiro entre os gregos e que se tornou a política do governante bom, belo e verdadeiro enviado pelo deus cristão para salvar todos na terra, Jesus Cristo, substituído por muitos outros desde então, até chegar o Jair, dito também Messias, reencarnação de deus e Jesus Cristo na terra. Uma política tão velha que é já caquética de tão dita, redita e reeditada por tantos que se dizem enviados por deus na terra, eleitos por deus antes e independente mesmo da eleição dos homens.

Que se acredite nisso mesmo depois de tanta repetição na história parece algo espantoso, mas não é. Não há nenhum espanto, e, sim, admiração, pois Bolsonaro representa tudo que o ser humano admira, em princípio, a si próprio, buscando nesta admiração ser visto como um deus ou imagem e semelhança de deus. É a ideia de uma admiração, de um não se ver, não se mirar, ad-mirar, não enxergar a si mesmo na realidade, não querer ver a si mesmo na realidade e a realidade, o que é, como quando, sabiamente, alguém diz para outro: "Vê se enxerga!" Ao admirar a si mesmo, Bolsonaro, e tantos outros como ele, não querem se ver, nem tão pouco a realidade, querem se imaginar, criar uma imagem de si mesmos como o bem, o belo e o verdadeiro. Querem fazer crer que esta imagem é ele mesmo, que é a realidade, e que todos o admirem a partir desta imagem, isto é, não vejam quem é e o que é, somente a imagem criada por si como si mesmos, pois esta é a ideia, esta é a crença que hoje domina o bolsonarismo em sua filosofia e religião.

É uma imagem diferente se si mesmo que ele cria como se fosse ele mesmo o bem, o belo e o verdadeiro e, não por acaso, muitos o seguem, pois muitos querem isso hoje em dia, principalmente nas redes sociais, nas quais se busca uma imagem ideal de si, filtrar a realidade para que seja ideal, como Platão pretendia fazer com sua dialética, dividindo a realidade em partes que se opõem e se contradizem, e a Ideia a maior contradição de todas, aquilo que é visto sem ser visto. O que é visto sem ser visto é o modelo, uma ideia, a diferença de uma ideia numa imagem, que se confunde mesmo com uma imagem, um símbolo, uma cruz e uma suástica, esta como uma estilização daquela, um cruzamento perfeito na medida em que as pontas coincidem e se põem em movimento (e se o fascismo é tão difícil de conter é senão, sobretudo, pois é o movimento de uma ideia, uma imagem em movimento, cinematograficamente, e não uma ideia estatizada numa imagem). Se Platão temia tanto que uma ideia se tornasse uma imagem, que se confundisse como uma, e buscava evitar esta confusão separando a ideia da imagem, Sócrates dos sofistas, era senão porque sabia que a ideia poderia não passar de uma imagem, ser uma cópia mal feita de si mesma, nada ideal, não ser o bem, ser algo que pretende ser diferente, mas não é diferente, é o mesmo, idêntico em tudo, não haver, portanto, diferença nenhuma entre o que existe na realidade. Se a diferença é algo "bom", no sentido de uma dialética platônica, é porque a diferença difere a ideia de uma cópia, mas esta diferença deixa de ser boa quando se percebe que não há diferença entre uma ideia e uma imagem, entre o modelo e a cópia, quando a diferença entre uma e outra é pequena demais e pode-se confundir ideia e imagem. Um temor que, para Platão, era da ideia se tornar um simulacro, a confusão de uma ideia com uma imagem, no caso, para si, um símbolo do mal, pois, era incapaz de perceber a diferença em si mesma do simulacro em relação ao modelo e à cópia, que ele não é o devir do modelo numa cópia literalmente, de uma identidade numa diferença.

Bolsonaro é a velha política que não quer ser vista como velha política, quer ser uma ideia diferente da imagem de política, no caso, no Brasil, como tantos partidos que mudaram de nomes para parecerem diferentes, mas são a velha política liberal, neoliberal e fascista que reproduzem. Uma política que teme a diferença quando a diferença de fato se introduz na política da identidade que quer modificá-la, que quer fazer da identidade a própria diferença, que diz ser diferente, mas é o mesmo e o idêntico que diz gritando de modo religioso, filosófico, e desesperado, pátria acima de tudo, deus acima de tudo e família em primeiro lugar. É o grito do homem branco desesperado repetindo as palavras de Jesus Cristo olhando para o próprio pau e dizendo "deus, por que me brochaste (abandonaste)?", esperando que deus levante seu pau e se veja como homem de deus com o pau na mão novamente, ou um cacetete ou arma no lugar do seu pau, ambos símbolos de seu ser imbrochável, de viver de pau duro querendo comer quem vê pela frente.

Que esta velha política ainda funcione, mesmo brocha, como o capitalismo em sua esquizofrenia, isso foi obviamente demonstrado com a eleição de Bolsonaro em 2018 e com os votos no primeiro turno em 2022, e, sobretudo, por uma total descrença no discurso de terceira via utilizado por Ciro Gomes e Simone Tebet, que buscaram desesperadamente repetir o discurso bolsonarista de 2018 se dizendo diferentões, uma alternativa à polarização política, não mais entre esquerda e direita como foi ainda entre Haddad e Bolsonaro, pois é agora literalmente entre democracia e fascismo, respectivamente, entre Lula e Bolsonaro, e se não há mais nenhuma possibilidade para um discurso de terceira via é porque a contradição chegou ao seu limite e não há mais diferença entre ideia e imagem na cópia e vivemos sob a simbologia política fascista de deus, pátria e família. Por mais que tenham tentado ser diferentes, Ciro Gomes e Simone Tebet são mais do mesmo discurso antipetista, anti esquerda e anticomunista com o qual Bolsonaro chegou ao poder confundindo ideia e imagem, se dizendo o belo, o bom e o verdadeiro e, não por acaso, ao se dizer "o" verdadeiro político que pretendia salvar e unir o país, Ciro Gomes foi visto como linha auxiliar do fascismo bolsonarista, pois Bolsonaro disse isso primeiro, e, segundo a política da identidade, quem diz primeiro é o verdadeiro. "Ganha quem disser primeiro" é a palavra de ordem, neste caso, na religião, na filosofia e na política.

Não há alternativa entre a democracia e o fascismo, esta é a questão. A contradição chegou ao limite. Só há uma escolha, a democracia, pois, ou se defende a democracia e a diferença nela e, consigo, uma nova política que não exclua a diferença, ou se cai na velha política da identidade que não quer que a política mude, que quer que continue a mesma política e, pior, que seja a política que alguém diz que deve ser e tal qual diz, no caso, alguém que diz o bem, o belo e o verdadeiro e que se diz isso tudo, como acontece no fascismo, pois, no fascismo, só quem está no poder está certo, quem está contra ele, não, seja o poder de um governo na política, seja o de uma igreja na religião, seja o poder de uma ideia na filosofia. 

Se a política de Bolsonaro é o fascismo, ainda mais com o Centrão ao seu lado controlando um Orçamento Secreto com dinheiro de corrupção, é porque esta é a velha política em que alguém diz para onde e, sobretudo, para quem vai o dinheiro público, no caso, o dinheiro do imposto pago por todos. É uma política absolutamente centralizadora e centralista em uma pessoa, ou duas, no máximo três, Bolsonaro e seus aliados, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, que devem controlar todo o dinheiro público e dar apenas para aqueles que forem seus aliados e votarem nele e Bolsonaro. Em outras palavras, uma política econômica liberal e neoliberal que tem como único objetivo privatizar o Estado, isto é, reduzi-lo como representante de todos os cidadãos a um Estado mínimo, representante apenas parte dos cidadãos, aqueles que são aliados de Bolsonaro, incluindo empresários que financiam sua campanha.

Numa democracia, não se pode aceitar tal controle do dinheiro público por alguém e seus aliados e nem uma privatização do Estado que, na democracia, deve ser de todos, isto é, seu dinheiro indo para todos os políticos eleitos para defender o que deve ser feito para o bem de todos. A centralização política e econômica é o princípio do fascismo que não por acaso surge na democracia quando alguém resolver ser o diferentão, aquele que vai controlar tudo e todos. O diferentão é o rei filósofo, é o deus que controla a vida de todos e, sobretudo, a vida de todas, no caso, das mulheres e quem devém mulher. É o macho pai de família que quer controlar mulher e filhos e, sobretudo, filhas impedindo que elas tenham poder sobre sua própria vagina, sua sexualidade. É o militar defensor da pátria, o "coronel" do agronegócio que quer controlar toda a terra num território e explorar para ter mais dinheiro, é o pastor e padre enviado por deus para controlar tudo e todos em seus comportamentos dizendo o que deve e o que não se deve fazer e quer controlar também os impostos do governo dizendo para onde vai o dinheiro e ouro. É o imbrochável que não é aquele que não levanta do qual se ri, mas o que vive de pau duro porque é incapaz de controlar seu desejo sexual e violenta crianças, adolescentes, homens e mulheres, e qualquer um do qual se aproxima.

Se não há alternativa entre democracia e fascismo é porque se deve defender a democracia e não o fascismo caso se queira poder pensar diferente, viver diferente, fazer a diferença, pois no fascismo nada disso é possível, é preciso dizer amém a tudo que Bolsonaro, seus aliados, pastores e padres, e seus fiéis dizem. É preciso acreditar que ele é diferente do que é, diferente da pessoa que ele é destruindo tudo que é humano, natural e divino, diferente de toda a realidade que se vê, que devemos acreditar numa imagem e na ideia que ele passa através dela como sendo o bom, belo e verdadeiro. E se muitos querem acreditar em sua diferença é senão porque muitos são e querem ser idênticos a ele, são destruidores de tudo que é natural, humano e divino criando para si mesmo e tudo que existe uma imagem e uma ideia de que são diferentes na realidade.

Bolsonaro, o bolsonarismo, é a velha política da identidade que muitos buscam em deus, numa pátria e numa família desesperadamente como medo do diferente e da diferença, por não quererem ser diferentes, não quererem brochar, por quererem sere idênticos aos outros. Não por acaso o comunismo, o PT, a esquerda, Lula e, sobretudo, a democracia amedrontam Bolsonaro e bolsonaristas, pois, em tudo isso, a realidade pode ser diferente do que imaginam e idealizam na realidade. Quem vota em Lula hoje, vota na democracia e não simplesmente numa ideia, imagem ou movimento, Lula, o PT, o lulismo, apesar do que muitos acreditam e de que isso seja algo de fato que alguns acreditam. Quem vota em Lula, vota cada vez mais pela diferença, pelo indígena, negro, mulher, LGBTQIA+, pobre e trabalhador e mesmo pelos estrangeiros. É o voto de filósofos do futuro, os filósofos das diferenças, aqueles que deixam para trás de si a ideia e a imagem de filósofo para serem algo diferente.

O voto em Lula é o voto numa nova política, uma política diferente, da diferença, em uma democracia da diferença, de uma diferença que se, para muitos, ainda é a diferença de um Brasil perdido desde a eleição de Bolsonaro e antes dele, com o golpe em Dilma, ou do PT há décadas atrás, ou séculos atrás, antes de se dar a estas terras o nome de Brasil, para muitos outros não é mais esta a diferença. A diferença que se busca é uma diferença que não pode e não deve ser mais negada em nome de uma identidade. É o voto numa diferença a qual não se dá e não se pode dar um nome, não se pode identificar, nem mesmo antecipar, a diferença do novo, de uma nova democracia.

Lula, o PT, a esquerda não é a diferença, bem entendido. Ele é o que possibilita a diferença e a partir do qual uma nova política da diferença se faz possível e, não por menos, necessária para resistir ao fascismo que há em cada um de nós quando uma identidade é reivindicada como o bem, o belo e a verdade, quando nos autoproclamamos o bem, belo e o verdadeiro, e não por menos acreditamos numa imagem que criamos de nós mesmos para ocultar uma realidade diferente, que não queremos que vejam, e que criam de nós mesmos também para não nos verem diferente, obrigando-nos a ser o mesmo. Para além da imagem de nós mesmos, e da ideia expressa nela numa identidade, é preciso enxergar uma realidade diferente de nós mesmos e votar em Lula é necessário para podermos conseguir enxergar uma realidade diferente e não cada vez mais fascista como estamos vendo e sobrevivendo.

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