O voto impresso e o retorno do mesmo
No momento em que o mundo se encaminha cada vez mais para um futuro tecnológico e no qual as tecnologias da informação e comunicação constituem não a salvação dele durante uma pandemia, mas um bote salva-vidas inevitável, parece estranho que se defenda o retorno do voto impresso nas eleições no Brasil como forma de auditar ou autenticar o processo eleitoral, uma defesa tão estranha que diversas brincadeiras foram feitas com imagens que pediam o retorno nostálgico de outras coisas impressas, como o cheque. Para além da oposição feita a este retorno, principalmente, de que a volta do voto impresso traria novamente a fraude nas eleições, evitadas desde então com o voto eletrônico, o que está acontecendo no Brasil não é algo tão estranho quanto parece. Ela é a expressão de um mundo conservador, militar, religioso, capitalista e fascista.
Aqueles que defendem o voto impresso são os mesmos que defendem a militarismo, o criacionismo, o capitalismo e o conservadorismo resumidos na atual vertente mundial do fascismo: o bolsonarismo. Não é coincidência que estes diversos ismos se alinhem numa frente de direita mais ampla do que a da esquerda no Brasil, cuja amplitude é o extremismo, o rompimento da história em sua dialética entre esquerda e direita a partir do centro, no caso do Brasil, de um Centrão. Pois se há uma ruptura da história, e na história, ela se dá por uma postura centralizadora, pela assunção de alguém que centraliza a história, que a faz girar em torno de si e de seu umbigo e que rompe com qualquer possibilidade de que ela siga em seu movimento dialético de alternância entre direita e esquerda, com suas crises, "superações" e conciliações momentâneas, paradas necessárias no conflito de classes, povos, Estados e nações.
Eis porque não é uma coincidência que estes ismos se juntem num só, o bolsonarismo, pois cada ismo deste tem como ponto de partida uma visão extremista, que rompe com a possibilidade do movimento, que impede o movimento de seguir em frente, de se alternar, que busca evitar qualquer alternativa, impedir a mudança, o por vir. A defesa do voto impresso é a mesma defesa do militarismo, do criacionismo, do capitalismo e do conservadorismo pelos fascistas bolsonaristas que visam fazer da história o mesmo do que pensam. Neste sentido, os fatos históricos pouco importam de fato, o que interessa para eles são os fatos apresentados por si mesmos a partir da sua visão e opinião da história fazendo com que ela seja sempre a mesma do que pensa.
A visão bolsonarista não é uma visão falsa da história tal como se adverte sendo chamada de fake news por quem pressupostamente tem a autoridade da história e pode dar uma visão autêntica dela a partir de fatos verdadeiros. Nem jornais, nem historiadores, cientistas ou filósofos, podem dizer que a visão bolsonarista da história é falsa, pois nenhum daqueles que se opõem ao bolsonarismo estão fora da história como sujeitos a-históricos, e criticar o bolsonarismo por uma visão falsa da história como se fosse possÃvel deter a verdade da história é senão cair no extremismo fascista do bolsonarismo, aquele que pretende impor uma história. A história é feita de fatos que podem ser interpretados de vários modos e se uma visão se torna paradigmática, como diz Thomas Kuhn, passa a ser aceita como "verdade" não só no senso comum, mas também na ciência e também na filosofia, mesmo que fatos provem o contrário. É quando surgem senão os "mitos" cientÃficos e filosóficos, ou "Ãdolos" como os chamava Francis Bacon, nos quais muitos passam a crer sem duvidar, sem interpretar de modo diferente, sem buscar mais a verdade numa outra perspectiva.
Em outras palavras, criticar a visão bolsonarista da história como sendo falsa é fazer o mesmo que esta visão extremista faz, mesmo não sendo igual a ela em sua defesa, pois é assumir um ponto de vista para a história, determinando que é a verdade de fato, pois o extremismo neste caso é se por à margem da história, criar uma história paralela e isto somente é possÃvel assumindo um ponto de vista centralizador, definindo-se como sujeito da história, aquele que faz a história conforme o seu pensamento, não importa quais os fatos. O extremismo é o reducionismo da história à visão de um sujeito que pensa que a história é como ele pensa e não se pode dizer simplesmente que é falsa, mas, tão somente, considerar-se uma visão bastante limitada da história como é toda e qualquer perspectiva centralizadora dela, que analisa a história a partir do seu próprio umbigo fazendo dele o centro do mundo. Um pequeno mundo do sujeito incapaz de pensar para além de si mesmo, além do que é seu próprio pensamento, sua propriedade, que vê o outro e outro mundo com desconfiança, com medo que tirem dele o que é e o que é dele, no caso, tirem sua escolha feita ao votar, necessitando de uma comprovação de que votou em quem votou, de que o fato é como pensou de fato.
Pode-se criticar a visão limitada do fato estabelecida por este tipo de pensamento e mesmo denunciá-lo como paranoico, mas estabelecer uma relação entre o fato e o pensamento é a visão da história desde que se tornou uma ciência de um ponto de vista empÃrico e que se confunde com a própria história da modernidade europeia centralizadora do poder no mundo. Neste sentido, a defesa do voto impresso é a defesa de um mundo no qual o sujeito religioso fazia a história conforme o seu próprio pensamento racional, sem se preocupar com os outros, ou ainda, a partir de uma crença no pensamento semelhante à crença um deus que criou o mundo à sua imagem e semelhança e, neste, o homem em sua visão de si mesmo como criado por deus e criador como ele de um mundo à sua imagem e semelhança no qual os fatos são como pensa enquanto sujeito que cria e que é ao mesmo tempo sujeitado em sua criação por deus. Neste sentido, o voto impresso é uma defesa do criacionismo no qual o mundo humano não é semelhante ao de um macaco, isto é, o resultado de uma transformação da natureza em si mesma da qual o homem faz parte de seu processo evolutivo, mas de um deus, pois, a natureza deve ter sido criada por alguém, um sujeito. Não se pode abdicar da visão de um sujeito na história, um espÃrito diria Hegel, neste caso, na história natural, e se o homem não é este sujeito, então, o sujeito é deus e fim da história.
O criacionismo é uma visão extremista ao estabelecer uma visão centralizadora da história a partir de um ponto de vista religioso, não necessariamente cristão, que rompe com a história natural em seu movimento evolutivo. É a ideia de que o mundo não pode ser como é, deve ser como se pensa que é, neste caso, segundo o pensamento de um sujeito divino que o cria conforme pensou mesmo que não se saiba como pensou, porque pensou deste modo e não de outro. Não importa o pensamento propriamente dito neste caso, mas que o mundo tenha sido criado do modo que deus pensou e não pode ser diferente, não pode haver mudança. O mundo tal como é em sua expressão e impressão para nós enquanto escritura comprova senão o pensamento humano em deus, ou seja, é o voto impresso do pensamento humano em ou mesmo de deus no momento em que deus o pensou ou criou.
Obviamente qualquer questionamento do mundo tal como é pensado por deus e a partir dele não é admitido e o militarismo é uma cruzada religiosa em defesa da história tal com está escrita por deus no mundo como voto impresso do pensamento divino. É preciso estabelecer pela força das armas, da violência e em batalhas numa guerra o mundo tal como deus pensou não permitindo que haja outra visão da história, ou ainda, uma visão do outro na história, ainda que seja a de outro sujeito na história e a história se repita de outro modo com outros deuses criando outros mundos nos quais também não se admite que haja outra visão da história a não ser a visão divina. O militarismo, em sua defesa da nação, é uma visão extremista da história que faz da história ser como se pensa por meio da força, da violência, fÃsica e psicológica, com castigos no corpo e pressupostos na mente em termos de culpa, por um deus maligno que não evita o mal, mas que deseja o mal para todos que não acreditem que ele é o criador do mundo, do homem, da história. Os militares são os mais devotos a deus num extremismo religioso e, por isso mesmo, é em nome de deus que lutam contra todos que querem tirar pressupostamente deus do poder e, igualmente, tirá-los do poder conferido por deus sobre os outros, suas vidas e suas histórias de modo absoluto.
O militarismo é uma defesa violenta da história tal como é pensada divinamente, criada a partir de um pensamento divino em que os militares são os enviados por deus para por ordem no mundo. O voto impresso não é o mais o mundo, é a marca da violência imposta por militares a quem pensa diferente deles e de deus. É o sujeito militar determinando a história a partir de uma violência que é sua, mas também de deus, dele como enviado de deus para por ordem no mundo ou, como se diz, para pôr moral. A defesa de uma moral é sempre religiosa. É a defesa de uma regra arbitrária e autoritária de alguém que se torna o sujeito a determinar a história desde a criação em nome de deus que também cria arbitrária e autoritariamente o mundo e a história ao seu modo, com sua ordem, suas regras que devem ser compreendidas e nunca pensadas de modo diferente. É a defesa do conservadorismo.
O conservadorismo é o princÃpio e o fim moral do militarismo e criacionismo. É a defesa de uma ordem que pode ser alterada, modificada, principalmente no pensamento. As regras morais são imutáveis ainda que se modifiquem ao longo do tempo em cada perspectiva conservadora. Não importa que mudem e é mesmo necessário que mudem. O importante é que não se o mude o pensamento moral ou os princÃpios morais que as estabelecem. Deus deve ser o princÃpio acima de tudo e aquilo que é determinado por ele deve ser defendido com força e violência se necessário e, se deus é brasileiro, o Brasil deve ser defendido acima de tudo pela violência militar das Forças Armadas segundo o pensamento conservador da ordem e progresso brasileiro.
O conservadorismo é uma moral que busca limitar não o indivÃduo em suas ações e mudanças de comportamento, e, sim, o seu pensamento. Os comportamentos impostos são o voto impresso do conservadorismo, a marca da violência sobre os corpos que comprova que estão pensando em deus, fazendo o que ele manda, obedecendo a ordem. Por sua vez é aquilo que denuncia que não se pensa em deus, que os fatos não são conforme deus pensou tal como pensam os conservadores. Qualquer mudança na liturgia demonstra que os fatos estão fora da ordem divina que os militares conservadores julgam defender. Por serem conservadores da moral e dos bons costumes, porém, não se deve entender que são opostos ao liberalismo, pelo contrário, são os que mais defendem o liberalismo tal como este se estabelece a partir de um livre-arbÃtrio, isto é, de uma liberdade de escolha, de se poder fazer o que quiser sem que alguém, outro, diferente, ou, mais propriamente, o Estado intervenha.
Não há oposição da moral conservadora ao liberalismo do livre-arbÃtrio, pois este é o resultado de sua defesa de um sujeito divino que determina a ordem do mundo a partir de si mesmo, de um sujeito que faz a história ao seu modo sem a intervenção de qualquer outro, que é livre para fazer o que quer e ninguém pode impedi-lo, um livre-arbÃtrio concedido pelo próprio deus e, portanto, um direito natural inalienável. O liberalismo é, deste ponto de vista, a defesa da liberdade entendida como a liberdade de um sujeito em particular, e o voto impresso é a comprovação de que ele é livre em seu pensamento e não sujeito ao de outro, a uma tecnologia, ao TSE, STF e ao Estado. Não há liberdade para ele se não pode comprovar o seu voto, isto é, a sua escolha e que ela é conforme o seu pensamento. O liberal é o mais conservador de todos os conservadores, pois é incapaz de pensar para além de si mesmo, e a defesa do voto impresso é a defesa de um moral pelo conservadorismo que não aceita que a história seja determinada por outros, coletivamente, comunitariamente, e, sim, por si mesmo e por quem é a imagem e semelhança de si assim como a imagem e semelhança de deus e, se não for assim, deve se tornar semelhante por meio da violência, nunca diferente.
Não por acaso conservadores e liberais são opostos ao Estado, pois este é o outro a limitar a visão extremista da história a partir de si mesmo como sujeito que quer impor uma moral e quer fazer o quiser. O Estado democrático é, para eles, o pior de todos, no qual o conservador liberal já não pode impor sua moral pela própria violência e, por isso, busca impedir a democracia no Estado substituindo-a pelo fascismo como regime de governo do Estado. É em nome de deus e do livre-arbÃtrio entendido como liberdade que conservadores e liberais impedem pela violência que a democracia se estabeleça, que a história siga uma ordem que não seja mais a divina pensada por eles e por deus. É por isso que defendem o militarismo nas escolas, na polÃtica, na justiça, de modo que tudo seja o mesmo que pensam e qualquer pensamento contrário seja visto como desobediência a si e a deus passÃvel de punição. A polÃcia é militar senão para impedir que o Estado seja democrático, que cada um tenha a liberdade de pensar mais do que a liberdade de pensar o que quiser. Qualquer um pode pensar o que quiser no fascismo, o deus autoritário não impede de que se escolha o fruto proibido, porém, será punido caso pense contrariamente ao que deus do conservador e liberal militar diz, pois se deve pensar o que é pensado segundo ele.
O fascismo é um regime de governo que quer que os fatos sejam como pensam os conservadores liberais militares religiosos. O livre-arbÃtrio não é o problema, é a liberdade de pensamento. Pode-se escolher a tortura com baratas na vagina, choques elétricos, tapas no ouvido, estupros vaginais e anais ou deletar seus amigos como diziam os militares brasileiros na ditadura e dizem os Policiais Militares a serviço do fascismo e defensores de ditadores. As escolhas podem ser diferentes, mas o pensamento deve ser o mesmo e é segundo o pensamento fascista que as escolhas são pensadas e punidas com violência por militares conservadores liberais religiosos que aceitam o livre-arbÃtrio desde que não se pense diferente deles, do contrário, se é punido, e que buscam de qualquer modo que assim seja. A perda da liberdade, isto é, a prisão é o voto impresso do fascismo, aquilo que marca no corpo e na mente a violência militar conservadora liberal religiosa e demonstra para todos que não se pode pensar, o que quer dizer, pensar diferente.
Não por acaso estátuas são erguidas, pois são o sÃmbolo desta violência e a destruição dela é a demonstração de que se pensa diferente, e isto não é possÃvel. A ordem deve ser mantida em seu sentido que é o militar em sua postura estática de vigia a observar aqueles que estão fora da ordem, aqueles cujo pensamento não gira ao redor do fascismo, que não olham para seus representantes com adoração, como sÃmbolo de uma ordem divina, que têm a liberdade de fazer o que querem em nome de deus, de violentarem quem querem dentro de uma viatura, pois a justiça humana e divina está ao seu lado. Erguem-se estátuas para o sujeito da história, que cria a história ao seu modo, que é a única testemunha da história, aquele que sabe como a história é, pois fala em nome de deus, de uma ordem divina, e a violência que inflige é senão em nome desta ordem que deve ser a mesma para todos e ninguém pode desobedecer pois é crime, um desacato a história ser diferente do que o militar conservador liberal religioso diz e que sua estátua representa. Borba Gato foi este sujeito fascista da história o qual se deve venerar por ter estuprado e matado indÃgenas e ajudado na escravidão de negros e, por isso, é o merecedor de uma estátua, para que todos possam lembrar da violência a que serão submetidos caso pensem diferente dos fascistas que o defendem.
Para religiosos militares conservadores liberais fascistas, todos um mesmo sujeito representado no bolsonarista, é preciso que os fatos sejam como eles pensam e isto é uma ordem. É assim que a história é entendida em seu progresso capitalista, isto é, acumulativo de poder de violência por meio do dinheiro, da riqueza de um sujeito, Estado ou nação. O capitalismo tem como princÃpio a religiosidade, o militarismo, o conservadorismo, o liberalismo e o fascismo é a sua última expressão, o voto impresso que comprova o seu pensamento econômico polÃtico. O fascismo é a maior expressão do liberalismo conservador econômico capitalista quando o Estado se torna uma grande empresa capitalista a determinar a vida dos cidadãos como seus empregados, obrigando-os a se comportarem de um determinado modo, a vestirem a camisa da empresa como uma farda militar, a expressarem em seu peito e ombro a insÃgnia do Estado empresa, como expressão de que a defendem como sua nação, no qual se impõe uma moral de comportamento para ser empregado, sujeitado pelo capital, vendendo seu corpo, alma e ações ao capitalismo, no qual o menor assanhado de cabelo de alguém numa escola ou empresa denuncia rebeldia, desobediência e desacato à ordem. Neste sentido, o fascismo capitalista se expressa clara e distintamente no racismo contra os negros e indÃgenas, mais do que nos judeus historicamente, pois aqueles são em seus corpos, comportamentos e culturas a rebeldia por excelência em relação a toda ordem fascista capitalista, não por acaso sendo eles culpados, punidos e castigados pela violência policial militar fascista capitalista cotidianamente como "ladrões", no caso, aqueles que querem destruir o "capital" dos capitalistas. O racismo é o voto impresso do fascismo capitalista, o que comprova que os capitalistas são fascistas em defesa do seu capital.
Se o racismo contra negros e indÃgenas é tão presente na sociedade brasileira, mas não apenas, é porque negros e indÃgenas são contra o voto impresso do capitalismo que quer vê-los à imagem e semelhança de brancos. O voto impresso é um voto em branco. Pode-se votar em qualquer pessoa, desde que ela seja branca. Negros e indÃgenas demonstram uma rebeldia em relação aos votos em branco. Não há voto em negro e tão pouco voto em indÃgena. Ao se votar se vota em branco, mesmo que o voto não seja em branco, seja em alguém, pois a escolha não pode ser diferente da pensada pelo capitalismo que é branco, apesar de sua inclusão recente de negros em cargos executivos de empresas e da relativa aceitação dos indÃgenas que não querem lucrar com o garimpo e a exploração agrária em suas terras a partir de uma defesa do meio ambiente.
O voto em branco é o voto no fascismo capitalista cuja principal representação é o estadunidense em seu racismo contra negros, latino-americanos e indÃgenas. Não importa se o negro, latino ou indÃgena tem o livre-arbÃtrio de ter o que quiser no capitalismo estadunidense, pois isto está de acordo com sua moral conservadora liberal religiosa militar. O que importa é que não tenham liberdade de pensar diferente do branco capitalista, aquele que tem a visão da história a partir da acumulação de dinheiro e riqueza, aquele que é o sujeito da história na medida em que tem dinheiro e faz a história ser como ele pensa, que utiliza o dinheiro para que a história seja como pensa depondo aqueles que ousam estabelecer um Estado que não seja capitalista, ou seja, estabelecer um comunismo, ainda que seja de modo tão arbitrário e autoritário quanto o capitalismo.
A arbitrariedade e o autoritarismo, logo a ditadura militar, nunca foram um problema para o capitalismo em seu fascismo militar conservador liberal religioso, judaico-cristão em princÃpio, pois o deus judaico-cristão é o princÃpio do livre-arbÃtrio em seu autoritarismo, logo aquilo que fundamenta o fascismo, inclusive contra o princÃpio judaico-cristão entendido de formar diferente do fascismo. Logo, o problema do comunismo para o capitalista não é por aquele estabelecer uma ditadura, é porque estabelece uma visão dos fatos diferente do que o capitalismo pensa e este não pode admitir que os fatos sejam diferentes do que pensa, ou seja, diferente do pensamento de que todos devem visar a acumulação de dinheiro e riqueza que são o voto impresso do capitalista, aquilo que comprova seu pensamento de que é deste modo que a vida é melhor, de que o capitalismo é o melhor mundo possÃvel. Mesmo que para que este seja o melhor mundo possÃvel se deva impor uma ditadura militar ou fascismo, o qual não foi destruÃdo pelo capitalismo, apenas limitado por ele, para que o capitalismo não fosse ele mesmo percebido em sua violência fascista.
O que o nazismo alemão fez, e o bolsonarismo faz novamente, foi expor o capitalismo em sua pior face: o racismo. As teorias supremacistas alemãs são mais o resultado do capitalismo estadunidense em seu racismo contra os negros, indÃgenas e homossexuais do que o resultado de uma crise econômica e polÃtica propriamente. Se há uma diferença entre os alemães e os estadunidenses a partir da crise econômica na Alemanha e Estados Unidos na década de 30 é no modo como o racismo foi exposto pelos alemães e ocultado pelos Estados Unidos. Enquanto alemães demonstraram de modo claro e distinto que não aceitavam ninguém diferente do homem branco e impuseram uma ordem fascista, separando e exterminando literalmente quem não era alemão, principalmente os judeus, os Estados Unidos fizeram isso de modo obscuro e distinto, sem demonstrar que o racismo contra os negros, indÃgenas e homossexuais era fascismo. Não por acaso, a guerra contra o racismo nazista fez com que negros passassem a guerrear contra o racismo no próprio Estados Unidos assim como a primeira guerra fez os soviéticos se voltarem contra seu czarismo, ambos crentes que lutavam por suas nações pensando que eram iguais, os pobres iguais aos ricos aristocráticos na União Soviética e os negros pensando que eram iguais em direitos aos brancos.
O fascismo é o voto impresso do capitalismo, aquilo que comprova o pensamento racista capitalista de que os fatos devem ser como o homem branco pensa e não pode ser diferente, isto é, como pensam os negros, indÃgenas e latinos. Se o fascismo foi tão abominável é porque o capitalismo foi visto em sua própria face, sem alienação, como uma determinação arbitrária e autoritária de que o mundo deve ser à sua imagem e semelhança, de que o Estado deve ser forte em defesa do capitalismo, buscando conservar a ordem capitalista e o progresso deste depende disso, muito mais do que do próprio desenvolvimento capitalista. Pois é necessário que o Estado seja cada vez mais militarizado, que cada pessoa tenha uma arma para defender a nação, que cada pessoa seja uma arma em defesa da nação denunciando quem é inimigo dela, que cada um porte em sua casa e em seu peito a bandeira nacional que demonstre como um voto impresso que defende a nação capitalista e qualquer um que seja comunista é um inimigo.
O pior inimigo do fascismo foi o comunismo e não o capitalismo. O comunismo é o pensamento de que a história pode ser diferente e ser diferente é tudo que o fascismo capitalista não quer. Todos devem vestir a farda da empresa, Estado e nação, carregar em seu peito a insignia logotÃpica que demonstra como voto impresso que defende o capitalismo. Foi o Estado defendido pelo comunismo que impôs uma derrota ao Estado fascista não simplesmente por causas naturais, mas por significar uma limitação do próprio fascismo capitalista. Isto porque o comunismo foi propriamente a defesa do Estado contra o liberalismo capitalista do fascista que pensa que pode fazer o que quer e que não pode ser limitado por ninguém, de que é o sujeito da história e que a história é como ele pensa e quer que seja.
O comunismo é o não retorno do mesmo ao sujeito, quando o outro passa a ser pensado na história. É quando o sujeito é encarado pelo outro que é diferente de si e em cujo rosto o sujeito não vê mais a sua imagem e semelhança. É o negro, o indÃgena, o latino, o pobre, o homossexual e toda a diversidade sexual e a mulher sobre os quais não se tem poder, mas que se busca ter sobre seu corpo, no caso, um biopoder, ou ainda, é uma minoria em relação a uma maioria capitalista. O Estado comunista não é o Estado capitalista na medida em que não é a representação do poder de uma maioria econômica capitalista com seu poder econômico e, sim, de uma minoria polÃtica a qual deve defender. O Estado comunista é o Estado defendido em seu caráter público, laico, não militarizado, não conservador, não liberal, não branco, pois o sujeito fascista não faz a história no Estado comunista, quem a faz é uma multidão de outros diferentes que fazem parte da mesma história negra, indÃgena, latina, não-branca, sexual e feminina.
O que se defende com o voto impresso é, por fim, o capitalismo. É o capitalismo que tem por objetivo fraudar a história fazendo dela o que pensa, não tolerando que um pobre, negro, trabalhador, indÃgenas, mulheres, LGBTQIA+ cheguem ao poder e façam uma história diferente da que o capitalista há muito tempo pensa e quer que retorne ao que era antes, com seu capitalismo fascista aberto ou oculto. O capitalismo tem necessidade de uma comprovação de que está no poder e o voto impresso é sua forma de obter isso, e pouco importa que ele seja mesmo em papel. O que importa é que o voto seja impresso, isto é, seja a comprovação de um pensamento em defesa do capitalismo em sua "democracia".
Nada mais próximo do fascismo do que a democracia na qual cada um pode votar conforme seu livre-arbÃtrio e pode decidir o que quiser, desde que seja em defesa do capitalismo. Porém, nada mais distante também do capitalismo do que a democracia e, por isso, o fascismo é necessário ao capitalista para que a história não seja diferente do que pensa. Por isso, que um pobre trabalhador chegue ao poder não é um problema desde que não taxe os ricos, não obrigue empresas a pagar impostos que se revertam em melhoria para as minorias, isto é, que não se oponha ao capitalismo fascista.
Se a democracia expressa tão bem o capitalismo é porque o voto impresso comprova o seu liberalismo, isto é, que cada um é livre para pensar e fazer o que quiser desde que seja em defesa do acúmulo de dinheiro e riqueza, e o voto é sempre para que o capitalismo seja defendido pelas melhores pessoas, no caso, os melhores governantes do Estado capitalista. Porém, a democracia é um problema para o capitalismo na medida em que deixa de expressar o liberalismo conservador do capitalismo para ser a possibilidade de uma mudança dele num comunismo, isto é, num poder que limite o poder do capitalista, do empresário, de quem explora o trabalho do outro em benefÃcio próprio, de quem quer ser o sujeito da história e não sujeitado nela e por ela, pelos outros diferentes de si na história. O fascismo é necessário na medida em que a partir da livre escolha democrática o Estado as pessoas deixem de visar o capitalismo, sendo necessário neste caso o uso da violência militar para defendê-lo por meio de um golpe e, claro, em nome de deus segundo o espÃrito protestante capitalista.
O que caracteriza o voto impresso é o retorno do mesmo Estado capitalista em sua defesa mais tradicional, no caso, a militar, religiosa, conservadora, liberal e fascista numa tentativa de impor sua ordem. Se capitalistas assinam uma nota de repúdio à defesa do voto impresso é na mesma medida em que impuseram um limite ao fascismo nazista por este demonstrar de modo claro e distinto o capitalismo em sua essência arbitrária e autoritária. Trata-se de por ordem no que está prestes a se desordenar e ser algo diferente, podendo-se esta ordem ser definida de modo diferente do que o capitalista deseja, no caso, o comunismo que, para o capitalista é pior do que o fascismo justamente por não ser capitalista.
Foi o comunismo a justificativa dos capitalistas para defenderem o fascismo militar de Bolsonaro tal como foi o fascismo nazista uma forma do capitalismo se impor ao comunismo na Europa na década de 30 e 40, assim como foi o comunismo a justificativa para defender uma ditadura militar capitalista na América Latina, em particular no Brasil, e é o comunismo a justificativa para se defender Cuba, no caso, a Cuba não comunista. Todos os capitalistas são defensores de Cuba, mas não do comunismo, obviamente, pois este é o grande problema de Cuba segundo deles, mesmo que os mesmos problemas existam no capitalismo: pobreza, desigualdade, violência policial, prisão e julgamento arbitrário, tortura em presÃdios, tudo que um Estado capitalista faz para impor sua ordem militarmente, mas que, segundo os capitalistas não pode ser feita pelo Estado comunista. Ou seja, ditadura militar no capitalismo pode, no comunismo, não, nos dois casos, porém, e nenhum dos casos sendo admitida.
Se não se pode deixar que o voto impresso volte não é tanto, porém, em defesa do capitalismo que precisa por ordem em sua casa como um homem branco em seu poder patriarcal, mas porque é por meio de um voto eletrônico que podemos ter a liberdade de decidir os rumos do capitalismo ao escolher alguém que faça do Estado a defesa não de empresas em todo seu liberalismo, racista, conservador, militar, religioso, machista, homofóbico, fascista, mas de pessoas que sofrem com tudo isto. O voto eletrônico não é poder ser livre para escolher quem quiser como se acredita ilusoriamente pensando que a liberdade é uma liberdade de escolha. O voto eletrônico é a possibilidade de uma liberdade para aqueles que são sujeitados na história sem qualquer possibilidade de escolha. Não é uma democracia como defesa da maioria o que se defende no voto eletrônico, é uma democracia em que cada minoria possa ter a liberdade de ser diferente sem sofrer a opressão de um sujeito histórico que quer que o diferente seja o mesmo.
A democracia é a possibilidade de não ser o mesmo, de não se defender o mesmo, de não fazer que o mesmo retorne e se mantenha no poder, porque se for o mesmo no poder já não vivemos numa democracia. Podemos votar nas mesmas pessoas, mas a história não pode ser a mesma e, sobretudo, a do mesmo, deve ser diferente, inclusive, quanto ao capitalismo que não pode ser o mesmo no qual vivemos oprimidos e explorados até a exaustão das forças, ou ainda, no qual nossas forças são tiradas de uma vez por policiais militares em defesa do Estado capitalista. Se o bolsonarismo deve ser tirado do poder é porque ele representa o capitalista em toda sua face fascista, o qual nos retira o mÃnimo de liberdade que ainda temos no capitalismo, o livre-arbÃtrio do voto e a possibilidade de fazermos a história tal como deve ser, em benefÃcio dos que mais precisam nela, os sujeitados historicamente, e não em benefÃcio daqueles que fazem a história ao seu modo comprando o que querem comprar, inclusive votos impressos para se manter no poder polÃtico e obter dinheiro e riqueza com ele.
Se o voto impresso é o retorno do mesmo capitalismo fascista no poder do Estado, o voto eletrônico é uma possibilidade de sairmos do eterno retorno capitalista fascista no Estado e de uma possibilidade de Estado diferente do capitalista, no caso, um Estado comunista que pensa nas diferentes minorias no poder.
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