O bolsopetismo da imprensa de extrema direita de São Paulo

O "bolsopetismo" é um termo criado pela imprensa de extrema direita brasileira, notadamente a de São Paulo, com seus dois jornais representantes, o Estado de São Paulo ou Estadão e a Folha de São Paulo. O termo ganhou força com as eleições de 2018 e tem sua origem particularmente no editorial do Estadão Uma escolha muito difícil, de 8 de outubro de 2018, quando foi feita pela primeira vez uma equivalência entre Bolsonaro e Haddad como se não houvesse diferenças entre eles assim como se faz atualmente uma equivalência do fascismo bolsonarista com o esquerdismo lulista. É preciso entender como o bolsopetismo hoje é a expressão de uma extrema direita atual que tem na imprensa de São Paulo sua liberdade de exprimir.

Parece estranho dizer que dois dos maiores jornais do país, da maior megalópole brasileira, são de extrema direita. Contudo, isto se justifica na medida em que o que expressa o extremismo é o ódio ao diferente e é isto que está presente na associação e equivalência feita pelo Estadão entre Bolsonaro e Haddad nas eleições de 2018 e que foi repetido recentemente em outro editorial, Cenário sombrio, de 14 de maio de 2021, equivalendo de modo ainda pior Bolsonaro e Lula ao se constatar em pesquisa que este venceria aquele no 1º e 2º turno das eleições de 2022. Não há nada que justifique a equivalência entre os dois enquanto políticos e lembrar as acusações a Lula em julgamentos com objetivos políticos nos processos instaurados pela Lava Jato sem levar em conta as realizações que fez como presidente demonstra o quanto o ódio pesa nas mãos dos editorialistas que devem digitar mais com punhos do que com dedos suas "opiniões" com pretensões de verdade absoluta para além do que diz o Supremo Tribunal Federal ao considerar fraudulento o julgamento contra Lula no que pese as acusações feitas por Moro a ele e que põe em descrédito todas as provas contra si. Em outras palavras, em vez de defender a Justiça, o ódio em busca de um linchamento público fala mais alto e o jornal Estadão queima em praça pública a Constituição do Brasil defendida pelos magistrados e que ele, como jornal numa democracia, deveria defender.

É preciso lembrar que este ódio expresso pelo Estadão a Lula, a Haddad, a Boulos recentemente nas eleições municipais para prefeito de São Paulo, é o que caracteriza o extremismo da direita desde as eleições de 2014 quando Aécio Neves perdeu as eleições para Dilma Roussef e o PSDB e a direita pela quarta vez seguida para o PT e a esquerda, desde a eleição de Lula para presidente em 2008. Bolsonaro foi eleito por conta do PSDB que mobilizou com uma frente popular um ódio à esquerda que adquiriu força com um nacionalismo militarizado em 2018. A eleição de Bolsonaro foi e ainda é a expressão do ódio extremista da direita pela esquerda não apenas nas eleições de 2018 e futuramente em 2022, mas desde o golpe de 1964 quando a imprensa articulada por Carlos Lacerda deu um golpe no governo de esquerda de Jânio Quadros, eleito democraticamente.

O ódio político da imprensa de extrema direita de São Paulo, mas também do Rio de Janeiro, que advém desde Carlos Lacerda em 1964 não cessou com a abertura democrática no país e tem em Lula e no PT como principal representante partidário da esquerda a principal expressão deste ódio. São incontáveis os artigos de opinião, editoriais, "políticos" e "econômicos" que são escritos não tanto para fazer uma análise das ideias de esquerda para o país, mas para ojerizá-las, demonizá-las, colocá-las como o mal caminho ao qual o país não deve seguir. A imprensa, obviamente, advoga seu direito à liberdade de expressão, contudo, ela mesma rejeita quando a liberdade de expressão se transforma em ódio, no caso, contra ela.

Se existe cada vez mais um extremismo contra a imprensa é porque a imprensa já se tornou extremista, antidemocrática, passou a defender muito mais o ódio em suas "opiniões" do que suas própria opiniões com argumentos razoáveis. Dizer que com Bolsonaro há retrocesso e com Lula há atraso não é um argumento válido enquanto não se analisar pormenorizadamente o que cada um fez em seu governo e alardear uma "crise" política e econômica produzida no governo do PT esquecendo tantas outras que o próprio PT superou produzida pelo governo do PSDB só demonstra como a falta de argumentos é expressa com o ódio, o mesmo que advém das hordas fascistas bolsonaristas.

Este é, por sua vez, o principal ponto do extremismo da imprensa de extrema direita de São Paulo que se deve observar, a associação que é feita entre o fascismo bolsonarista ao esquerdismo petista e lulista, pois o que está em questão é uma remissão histórica feita entre o fascismo alemão e o socialismo russo, uma forma de lembrar como na época da ditadura militar, o socialismo da União Soviética, dito comunista, é tão ruim quanto o fascismo alemão ou nazismo à revelia de toda evidência histórica que demonstra justamente o contrário. Pois não apenas se buscou o socialismo russo ou comunismo para derrotar o fascismo ou nazismo como o socialismo e comunismo perdeu sua perspectiva quando começou a se associar a este, ou seja, por já não se pensar no socialismo e no comunismo como um regime fascista como o nazismo que foi senão uma expressão da extrema direita mais do que da extrema esquerda e do capitalismo mais do que do comunismo.

No mesmo sentido, o fascismo bolsonarista é mais uma expressão da extrema direita capitalista e da imprensa liberal que o defendeu até pouco tempo, como os Estados Unidos defenderam a Alemanha nazista por muito tempo e defende Israel que é senão a serpente do fascismo chocada no Oriente Médio, do que uma expressão de uma "extrema esquerda petista" que, ademais, nunca existiu tanto quanto não existia o comunismo no Brasil em 1964. São expressão do ódio da imprensa da extrema direita de São Paulo e do Rio de Janeiro, da Globo no caso, mais do que uma expressão da realidade dos fatos que de fato existem e existiram. Contudo, falar de "bolsopetismo" alimenta o ódio de quem é direita em relação à quem é de esquerda e mantém viva a esperança da direita ascender ao poder depois do fascismo bolsonarista que serve para ainda hoje para canalizar o ódio à esquerda, ao PT, a Lula e a quem for de esquerda, por mais razoável e tão pouco odioso como Haddad enquanto candidato em 2018.

O "bolsopetismo" é a expressão do ódio da imprensa de extrema direita e de todos que pensam como ela a tudo que é da esquerda, a tudo que é expressão da mobilização política de trabalhadores, favelados, pobres, sem terra, sem moradia, indígena e negro. Não importa se esta imprensa tem em seus quadros jornalistas que negam tudo isso, pois uma das formas mais antigas de poder é a "captura" para domesticar aqueles que podem ser úteis em sua defesa como foi feito com cachorros para a casa e como cavalos para a guerra. Do mesmo modo que o Estado como aparelho de captura por excelência captura aqueles que servem como seus escravos, servos, trabalhadores e empregados, a imprensa em nome deste também o mesmo, capturando aqueles que podem ser escravizados, servis, trabalhadores e empregados em defesa da liberdade de expressão do seu ódio.

Enquanto a liberdade de expressão da imprensa for o ódio à esquerda, ao PT e a tudo que o socialismo representa, ela será extremista de direita, não importa o quanto democrática ela se proponha ser, e este é o principal problema político da democracia atual do Brasil, a intolerância do Estado de direita e de uma imprensa de direita a um Estado de direito em sua defesa da democracia. E enquanto houver ódio não haverá perdão para os fascistas bolsonaristas como expressão da política de Estado da direita que destrói o Estado de direito democrático brasileiro e nem para a imprensa de extrema direita que estimula cada vez mais o ódio desta extrema direita contra a esquerda antidemocraticamente.

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.