Os nomes da besta
A besta tem vários nomes e é ela própria um nome. O nome besta começa por b de Bolsonaro que adora se fazer de besta, de dizer besteiras, mas também fazer o Brasil, os brasileiros e o mundo de besta. Brasil e brasileiros que também começam pela letra b e que dão a Bolsonaro os vários nomes da besta, como a jornalista Mariliz Pereira Jorge reproduziu recentemente em seu artigo Bolsonaro, do jornal A Folha de São Paulo. Artigo que bem poderia se chamar Bolsonaro, a besta, pelos vários nomes desta, mas também dele, por não existir apenas um Bolsonaro, o Jair, mas também o Flávio, o Eduardo, o Carlos, o Renan, todos Bolsonaro, como os vários nomes da besta.
Estranhamente, dentre os vários epÃtetos de Bolsonaro, ou da besta, listados por Mariliz que fariam envergonhar os deuses na Teogonia, de HesÃodo, que possuem um ou dois, no máximo três epÃtetos, não há nenhuma menção a besta. Ou seja, é como se mesmo tentando se fazer de besta e todos de besta como ele, Bolsonaro não fosse de fato besta, mais ainda, não tivesse nada de besta. Todavia, ao vermos listados todos os seus epÃtetos de uma forma tão grandiosa, 150 para ser exato, que são substitutos de seu nome e, portanto, seu nome por substituição, podemos dizer senão que ele é também besta devido os vários nomes listados que se referem de um modo ou de outro à besta, acrescentando um nome a mais à listagem, o de besta, mas não qualquer nome.
Se Bolsonaro não é chamado de besta nesta extensa lista de nomes para si é, senão, pode-se dizer, porque seu nome substitui o nome besta no tÃtulo, besta que teria vários nomes e, seria, devido a isso inominável. Não se pode dizer o nome da besta. Não se pode chamar ninguém de besta. Não se pode fazer ninguém de besta. Nem muito menos dizer besteiras. A besta é um nome proibido, ou ainda um nome que se proÃbe, um nome que se censura enquanto nome, que não pode se dizer, um nome que, se é um nome, não pode se dizer um nome, não pode se nomear, um nome inominável, o nome inominável.
A besta não é um nome, nem tão pouco um sobrenome, muito menos um prenome, nem se pode lhe atribuir um pronome definido, já que podemos tanto dizer a besta, como o besta, ou simplesmente dizer, besta. Quem? Qualquer um. Qualquer um pode ser besta, a besta pode ser qualquer um. Besta é um nome ou alguém, uma coisa ou um ser, e também a mistura de um coisa com um ser, de um que com um quem. É a transformação de alguém numa coisa e de uma coisa em alguém, o devir de um em outro, que muda de nome, mas permanece sendo o nome da besta, que já não pode ser nomeada como antes e, se é nomeada agora, já é com outro nome no momento seguinte.
Não se pode nomear a besta, apenas denominá-la, isto é, nomear negando seu nome, censurando-se e censurando-o por ser um palavrão. O maior de todos os palavrões, o palavrão dos palavrões, uma palavra que excede todas as palavras em tamanho, e que é o próprio excesso da palavra, que não se limita como palavra, que não pode ser contida numa palavra, como um nome. Besta é uma palavra que é mais do que uma palavra, um nome que é mais do que um nome, uma expressão que é mais do que uma expressão. É a própria liberdade da expressão ultrapassando todos os limites que tentam impedir a expressão de uma palavra. Se dizer besta é um palavrão não é porque seja um ofensa neste sentido é porque ela conjuga uma multidão de palavras numa só, um coro de vozes numa única voz com vários tons, palavras que ecoam em diferentes bocas, que expressam diferentes corpos juntos em sua expressão de liberdade, o corpo do povo unido contra a besta inominável como no teatro trágico o povo se une contra o rei tirano, o soberano, e sua soberana maldade.
Não se ofende ninguém chamando-o de besta, pois não se pode dizer o que é besta. Mas qualquer um se sente ofendido ao ser chamado de besta já que ninguém quer ser besta, ser feito de besta, ainda que seja besta, se faça de besta, fale besteiras. Por mais que Bolsonaro seja besta, diga besteira, se faça de besta, ele tão pouco gosta de ser visto como besta e põe a polÃcia para investigar e prender quem queira fazê-lo de besta. Somente ele pode se fazer de besta e fazer todos de besta, ninguém pode se fazer de besta como ele e tão pouco ele de besta. Isto é ser justo para Bolsonaro, o papel da justiça é mostrar que ele pode fazer de besta todos, mas ninguém pode fazer ele de besta.
O justo e a justiça, para Bolsonaro, é que ele possa se fazer de besta e todos de besta, mas ninguém se faça de besta e ele de besta. A besteira deve pertencer apenas a Bolsonaro. Ninguém pode falar besteiras a seu respeito como brincadeiras porque ofendem sua honra, mas ele pode falar besteiras ofendendo a honra de vivos e de mortos como se fosse brincadeiras. É a justiça da besteira a partir da lei do besta, de quem pode e quem não pode dizer besteiras segundo os promotores, juÃzes, desembargadores, procuradores, ministros da justiça do besta.
A besta tem vários nomes e também vários poderes, dentre os quais o principal é o de fazer todos de besta, mas não ela mesma de besta. Uma pessoa pode se fazer de besta, a outra não. É preciso que haja apenas um besta na história, pois quando todos se fazem de besta, a besteira acaba. Já não se pode dizer que há mais alguém besta. É preciso que alguém seja besta para outro que não é besta. Um besta precisa de alguém que não seja besta. Quem se faz de besta precisa de alguém que não é besta, em princÃpio, ele mesmo. A besta, o besta, não é besta.
O poder da besta é o poder de se fazer de besta sem ser e fazer dos outros que não são bestas serem bestas. A besta faz aquilo que não é besta ser besta, ser feito de besta, o ser feito besta. Bolsonaro se faz de besta sem ser, faz de todos bestas sem serem com seu poder de fazer besteiras governando o Brasil como se governa uma besta, isto é, iludindo todos como bestas. A Ilusão é o poder de se fazer de besta sem ser, fazer todos de besta sem serem, pois nenhum ser é besta, pelo menos completamente. Há um limite para ser besta, para a besteira, para a ilusão do poder ser besta, um limite que é a própria impossibilidade do ser em ser besta, se fazer de besta, motivo pelo qual senão alguém se ofende quando é chamado de besta e diz: Não. Não sou besta, não somos bestas, não adianta se fazer de besta, não adianta nos fazer de besta, chega de besteiras.
Não se pode ser besta por muito tempo e nem em todo lugar. Não se pode ser besta realmente, apenas se fazer de besta, fazer de besta, ser feito de besta por algum tempo e em algum lugar. O ser não se faz de besta. O ser não é besta. Eis o limite da besteira.
Assim como a besta, o ser possui vários nomes, ou se diz de vários modos como diz Aristóteles. Mas diferente da besta, o ser se diz, isto é, diz o que é, quem é, a besta, não. A besta nunca se diz besta. A besta engana o ser, não diz o que é, quem é, mas o ser não se engana, o ser não se deixa fazer de besta, por mais que se faça e seja feito de besta. O ser impõe um limite à besta, à besteira, ao engano, à ilusão. No fundo, por trás de todo besta, de toda besteria, há o ser, o que é, quem é, que não é besta, quem não é besta.
É preciso, portanto, discernir o ser do besta, separar o que é e quem é besta na realidade. É preciso submeter o besta, a besteira, na realidade, para além de todo se fazer de besta e fazer os outros de besta. Isto é a lei, a justiça de fato e de direito. Ninguém pode fazer e ser feito de besta. Ninguém tem o poder de ser besta, de se fazer de besta, de fazer besteira, em detrimento de outros. Se há uma diferença do ser e da besta é também de poder, pois o ser não pode ser besta, se fazer de besta, ser feito de besta na realidade. Há uma lei que impede isso, um limite para o ser besta que é o próprio limite da justiça do ser em relação ao que é injusto.
A justiça é não se poder fazer o ser de besta, mesmo que o ser se faça de besta em algum momento para escapar do que é justo para ser irresponsável, ser injusto, ser fora-da-lei, criminoso, miliciano, torturador, estuprador, assassino, genocida, um besta fera. Se é possÃvel se fazer de besta, há um justo limite para se fazer de besta, a si e a outro, que não pode ser ultrapassado, pois a lei não permite. Um genocida não pode se fazer de besta mandando matar, matando ou deixando morrer milhares de pessoas feito bestas, por besteiras. A lei, se for justa, impede isso, mas a lei pode ser injusta quando o genocida faz a lei de besta assim como faz de besta todos que defendem a justiça para além da lei quando esta é injusta ao permitir tratar mortos como bestas, celebrar a tortura, o estupro e a morte como se fossem uma besteira, como a permissão para celebrar o golpe de 1964 no qual as bestas feras militares fizeram o povo de besta por um momento e tentam fazer novamente.
A lei pode se fazer e ser feita de besta, a justiça não. A justiça não é besta e não pode ser feita de besta, pois isto é senão uma injustiça, o oposto da justiça. Se a lei pode ser justa ou injusta quando depende de quem se faz de besta e de quem é feito de besta, neste sentido, uma lei baseada na força de um sobre o outro, de um poder submeter o outro com seu poder, mandando policiais investigarem, prenderem, torturarem, estuprarem, matarem, como era a lei na ditadura militar, pelo contrário, a justiça não é a da força, do fazer alguém de besta, seja a si ou outros, para se submeter ou submeter. O ser não pode ser submetido pela força da besta, daquele que quer se fazer de besta e besta fera para ser injusto fazendo os outros de bestas, injustamente, sem qualquer responsabilidade pelo que faz a si e aos outros.
Não se pode ser besta. Não se pode nomear o ser de besta. Esta é a medida da justiça. A justiça não pode permitir que Bolsonaro e ninguém se faça de besta para ser irresponsável perante a lei. Ninguém está acima da justiça, nem mesmo deus, que deve, tem por obrigação, fazer justiça, e não pode fazer ninguém de besta também, do contrário, toda a crença em deus acaba e apenas resta o que é justo e injusto segundo a lei dos homens. Homens que, ao fazerem as leis, podem se colocar acima delas fazendo outros de bestas e se fazendo de bestas dizendo que a lei é para todos como se não fossem eles que fizessem as leis para fazer os outros de bestas, definindo quem deve ser besta perante as leis, quem deve pagar a conta, feito besta, no lugar de outros, no caso, aqueles que fazem as leis para não serem feito de bestas por elas. Homens que podem fazer de outros homens de etnias, raças, paÃses, assim como mulheres, crianças e animais feito bestas segundo a lei, submetidos aos poderes dos homens acima da lei, aos quais as leis não se aplicam, apenas aos outros.
Aquele que se faz de besta, que faz os outros de besta, que não quer ser visto como besta e nem ser feito de besta, que não quer ser descoberto como besta, que não quer ser besta quer ser acima da lei, ser soberano, ditar as leis que regem a vida e a morte das pessoas, bem como abdicar destas leis quando quiser. Ou seja, é aquele que quer fazer viver e fazer morrer, para poder se dizer responsável por isso dizendo eu matei mesmo, e daÃ?, assinando e assassinando seu nome como assassino, mas em defesa de si mesmo, em legÃtima defesa, por ser soberano, por ter o poder ou a ele ser dado o poder de fazer viver e morrer por suas mãos feito armas. Mas é também aquele que abdica desse poder de fazer viver e morrer, se fazendo de besta, como irresponsável pela vida e pela morte, seja a sua, seja a de qualquer um, novamente em legÃtima defesa de si como soberano que não tem poder sobre sua vontade dizendo eu não sou responsável pelos meus atos, eu não sabia o que estava fazendo, foi apenas uma besteira minha, eu fui um besta.
O besta soberano é, deste modo, é aquele que é responsável pela vida e morte de todos, mas não se responsabiliza por nenhuma. É aquele que faz viver e morrer todos feito bestas como ele, seguindo suas besteiras, mas que responsabiliza os outros por serem bestas, pelas besteiras, se deixarem fazer de bestas por ele. É aquele que ri dos que faz de besta e que se responsabilizam por suas besteiras, se deixam enganar por si. É o fora-da-lei que faz outros pagarem feito bestas com suas vidas e suas mortes por suas besteiras.
Bolsonaro se faz de besta soberano e faz muitos de besta atualmente ao fazer as leis serem besteiras para si, fazer da vida e da morte de milhões de brasileiros besteiras que se devem deixar de lado em nome dele, do soberano e da soberania, em nome da besta, que não é um nome propriamente dito, enfim, mas uma marca, a marca da morte que, como a besta, é inominável, e se opõe ao que o ser é em vida. Se a besta têm vários nomes como Bolsonaro listado pela jornalista, todos estes nomes se resumem num só, a morte, que é senão uma besteira para ele como a "gripezinha" que a mata desde o inÃcio da pandemia.
Até quando Bolsonaro vai se fazer de besta diante da morte de milhares de pessoas e quantos vão ser feitos e se fazerem de bestas como ele não se pode dizer, pois não há limites para a besteira, para o ser besta. Para polÃticos como ele, se fazer de besta para não assumir as responsabilidades do seu cargo e fazer os outros de besta é uma profissão de fé para a vida toda. Todavia, não se pode esperar a morte de Bolsonaro para combatermos a pandemia e a polÃtica genocida do Governo Federal, pois a realidade em que se vive hoje não é para ser vista como besteira, a não ser por quem se faz e quer ser feito de besta diante dela.
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