O meio e a mensagem


Na década de 60, Marshall McLuhan popularizou a expressão "O meio é a mensagem", título do capítulo inicial de sua obra Os meios de comunicação como extensões do homem (1964). Todo o livro é senão um desdobramento deste princípio difundido desde então, ou devemos dizer deste meio, tendo em vista que já não existe mais princípio, tão pouco fim em relação a uma mensagem, segundo esta compreensão. Todo o nosso conhecimento e vida se resumiria à compreensão dos meios, ou mídias sejam eles relacionados ao conhecimento filosófico, científico, tecnológico, religioso ou do senso comum. Neste sentido,  segundo o senso comum atual, basta compreender como funcionam os meios para que compreendamos, então, a realidade, e o livro de McLuhan é a primeira e mais importante tentativa dessa compreensão que, atualmente, é a tentativa de compreensão das mídias e das transformações que produziram na sociedade desde a década de 90 com o advento da Internet.

Passado tanto tempo, e com a revolução tecnológica e paradigmática socialmente produzida pela Internet, é preciso rever esta importante obra e questionar este princípio do meio, afinal, a extensão dos meios na vida das pessoas foi muito além do que McLuhan buscou compreender em sua obra e época. Primeiramente, porque sua grande preocupação é com os meios que tornam possível uma comunicação, considerando primeiramente os meios como quente ou frio:
Um meio quente é aquele que prolonga um único de nossos sentidos e em “alta definição”. Alta definição se refere a um estado de alta saturação de dados. Visualmente, uma fotografia se distingue pela “alta definição”. Já uma caricatura ou um desenho animado são de “baixa definição”, pois fornecem pouca informação visual, O telefone é um meio frio, ou de baixa definição, porque ao ouvido é fornecida unia magra quantidade de informação. (MCLUHAN, p. 38)
O que importa, neste caso, é o transporte de mais ou menos informação ou de dados gerando uma alta ou baixa definição da forma, ou ainda, um alta ou baixa saturação dos dados. Quanto mais ou menos informação transportada, mais ou menos saturação de dados e mais ou menos problemas referentes à mensagem transportada para ser compreendida. Esta compreensão é crucial, como se pode perceber, para entender todo o processo de constituição dos meios de comunicação, mas também a linguagem na contemporaneidade como uma estrutura que permite compreender metodologicamente diversos problemas na sociedade ditos de comunicação.

Ao buscar compreender os meios pouco importa, de fato, a mensagem, mas como ela é transportada ou que máquina produzida para o transporte dela. A mensagem não é mais um todo, um texto, por exemplo, inserido num livro, pois o texto depende do contexto e uma breve informação do texto ou sobre ele dependendo do contexto em que se insira a informação, pode mudar toda a compreensão que se tem do texto. Vide neste caso toda a indústria de cancelamento na Internet em relação a artistas em contextos familiares, sexuais, políticos, econômicos, sociais que afetam diretamente o texto de suas obras, literárias ou não.

Em relação ao contexto, o desenvolvimento tecnológico das máquinas eletrônicas e informáticas pós-Segunda Guerra Mundial aumentando consideravelmente as informações veiculadas nos mundo levou o texto a contextos até então inimagináveis. Neste, caso, o meio é propriamente uma máquina, mas é preciso entender o que máquina quer dizer, ou ainda, entender a técnica pressuposta nela, pois,
Em termos da mudança que a máquina introduziu em nossas relações com outros e conosco mesmos, pouco importava que ela produzisse flocos de milho ou Cadillacs. A reestruturação da associação e do trabalho humanos foi moldada pela técnica de fragmentação, que constitui a essência da tecnologia da máquina. O oposto é que constitui a essência da tecnologia da automação. Ela é integral e descentralizadora, em profundidade, assim como a máquina era fragmentária, centralizadora e superficial na estruturação das relações humanas. (pág. 21-22. Grifos e negritos meus.) 
A técnica da fragmentação da máquina é essência da tecnologia humana segundo McLuhan, mas é também a essência da automação, podemos dizer, e não oposta a esta, pois a integralidade e descentralização, em profundidade, da informação somente é possível na medida em que há uma fragmentação do texto em vários contextos, ou ainda, na medida em que a informação restrita a um texto se estende a um contexto mais amplo do que ela ou é retirada do contexto pressuposto em relação a ela como literal, isto é, o único possível de entendimento. Fragmentário e integral não se opõem totalmente, pois os fragmentos afetam a totalidade não a integralidade, mais ainda, os fragmentos disseminam a integralidade de um obra e os meios de comunicação fragmentados em diversas máquinas são, assim, extensões propriamente ditas do homem em sua integralidade. A totalidade se fragmenta, mas permanece integralmente a mesma em muitos aspectos, pois as máquinas funcionam quebradas, como dizem Deleuze e Guattari em O anti-Édipo.

De um modo mais simples, isso quer dizer que para compreender algo de modo integral é preciso compreender os fragmentos, mas não como peças de uma máquina tendo um único lugar e somente funcionando ali onde deve estar. Os fragmentos da realidade se referem diretamente a um todo compreendido não como uma forma única e imutável em relação às suas partes que sem uma ou com a mudança de lugar de uma se desfaz, mas modificando-se na medida em que suas partes se modificam, modificando-o junto e dando uma nova forma a ele. Assim, por exemplo, é que funciona a inteligência humana e semelhante a esta são programados os software de computadores que melhoram conforme são encontrados erros ou bugs neles, bem como é assim que funciona a inteligência artificial em diversos serviços de telefonia e atendimento na Internet. De modo rizomático ou maquínico, como diriam ainda Deleuze e Guattari, pois um fragmento de uma obra, seja filosófica, científica ou artística, pode mudar totalmente a compreensão que se tem dela, assim como o fragmento de uma carta de amor pode mudar a visão do amado. Uma informação se perde ou se ganha em relação ao todo conforme o fragmento e o todo nunca é o que é do princípio ao fim, ele é uma diversidade de formas mudando constantemente conforme os fragmentos dele são entendidos de um modo ou de outro conforme o meio tecnológico. A informação do livro não é a mesma que chega ao jornal que chega às redes sociais que chega a cada um como mensagem privada criptografada como um segredo e o livro nunca é o mesmo em nenhum destes casos, passando por várias "leituras".

Não importa a mensagem como um todo, ela só é o que é dependendo dos meios, e pode até mesmo não existir como pressupõe McLuhan em relação à luz elétrica que, segundo ele, " é informação pura. É algo assim como um meio sem mensagem, a menos que seja usada para explicitar algum anúncio verbal ou algum nome." (p. 22. Grifos e negritos meus.) O que se denomina conteúdo não se refere à mensagem propriamente dita, mas ao meio, pois "o 'conteúdo' de qualquer meio ou veículo [a mensagem que ele transporta] é sempre um outro meio ou veículo." (p. 23) É preciso entender o meio, ou o contexto no qual a mensagem está inserida, para compreender a mensagem, e se pensarmos na máquina enigma na Segunda Guerra Mundial, podemos perceber o quão importante isto quer dizer na medida em que sem compreender o funcionamento desta máquina não seria possível evitar os ataques alemães, já que a informação transmitida por ela ou o conteúdo das mensagens somente podiam ser conhecidos através de outros meios. Decifrar a enigma, neste caso, não quer dizer decifrar a mensagem, pois mudava conforme os códigos da máquina frequentemente. Queria dizer, entender o meio, a máquina enigma, e todo o processo de transformação que ela produzia na mensagem.

O resultado de tudo isso, segundo McLuhan é que não importa o que se faz com as máquinas, os meios ou as mídias, mas o que as máquinas, meios e mídias fazem conosco e nossas relações, "porque é o meio que configura e controla a proporção e a forma das ações e associações humanas". (p. 23) Passado tanto tempo e depois de todas as mudanças recentes introduzidas pela Internet, dificilmente pode-se dizer o contrário disso que exemplifica particularmente a ideia de que o meio é a mensagem. Ainda mais com a preocupação crescente da utilização dos meios como forma de controle da vida cotidiana das pessoas, com câmeras voltadas não para o entretenimento no cinema ou televisão e, sim, para a vigilância de cada passo que uma pessoa dá nas ruas ou na Internet deixando suas pegadas digitais não simplesmente por regimes autoritários como o resumido por Orwell em 1984, mas por "democracias" ditas liberais e preservadoras das liberdades individuais como os Estados Unidos.

O que McLuhan assevera com seu princípio do meio Ã© uma compreensão ampla dos meios ou mídias como algo objetivo e que, de modo objetivo, interferem na realidade, não apenas na compreensão dela no que diz respeito à mensagem. Em sua obra, analisa diversos meios ou objetos que produziram esta interferência ao longo dos séculos, a começar pela palavra falada, o que demonstra sua preocupação em tentar mostra a importância que os meios têm na nossa vida para além da mensagem e a despeito delas ao ponto da mensagem perder toda a importância diante da informação pura, a luz, a eletricidade. É toda a compreensão científica e tecnológica moderna o que se estende através dos meios, ou que o homem estende através deles o que se tem a partir desta compreensão de que o meio é a mensagem, tendo em vista uma "neutralidade" reivindicada pela ciência através dos diversos meios tecnológicos utilizados por si para chegar ao "objeto" sem a intervenção humana. Mas é também a neutralidade em relação à mensagem, no sentido de diversos meios e pessoas não se considerarem responsáveis por elas, desde a palavra falada "sem qualquer intenção" até as palavras ditas e impressas nas grandes empresas de telecomunicação, jornais e divulgadas nas redes sociais pelas quais ninguém se responsabiliza pelo "conteúdo veiculado". Os jornais, inclusive, deixam claro isso ao dizerem que não são responsáveis por nenhuma opinião de seus jornalistas e as grandes empresas de Internet seguem o mesmo princípio do meio neutro em relação às postagens nelas.

Se o meio é a mensagem, como diz McLuhan, o que se pode concluir disso, e demonstrado extensamente em sua obra, é que a mensagem já não tem importância e, nisto, McLuhan antecipa de modo fundamental a época em que estamos vivemos na qual os meios de comunicação não são mais responsáveis por transmitir a mensagem, mesmo que a transmitam, tendo em vista que, segundo eles, a preocupação é tão somente com os meios produtivos da mensagem ou com os próprios meios de comunicação. Em relação a isto, ao contrário do que McLuhan diz, há claramente uma diferença entre o meio e a mensagem e a perda do acento significa aqui a perda da ligação íntima entre o meio e a mensagem ou da identidade entre eles a partir do verbo que faz com que a mensagem seja o meio e, deste modo, deixe de ser algo diferente dele. Ao se dizer que o meio é a mensagem a mensagem se reduz em termos de perspectiva e de conteúdo adquirindo formas diversas conformes os meios e se esvazia de sentido deixando de ser importante. O meio e a mensagem são idênticos, iguais, mas o meio é o mais importante, é o que vem primeiro antes da mensagem a qual viria primeiro em relação a ele até então como aquilo que se queria dizer em princípio e por fim a partir de um determinado meio, mas não é mais assim. O meio diz tudo.

De modo radical, o que a expressão de McLuhan nos faz compreender claramente na atualidade é tudo que vivenciamos nas redes sociais e na Internet, mas também nos meios de comunicação televisivo e em jornais impressos nos quais a difusão da mensagem por um determinado meio, ainda que falsa, é mais importante do que a mensagem propriamente dita. A redução da mensagem ou do texto à informação ou fragmento do texto não é uma mudança objetiva simplesmente devido à mudança tecnológica, é a destruição subjetiva da comunicação tal como é compreendida modernamente no sentido de estabelecer uma relação entre as pessoas. Diferente do que McLuhan pensava sobre uma "aldeia global" criada pelos meios de comunicação e que fez emergir a Internet como meio fundamental de comunicação e relacionamento entre as pessoas, ainda que isto exista de fato, ao se reduzir a mensagem ao meio, se reduziu a comunicação ao ponto de que tudo que se comunica é uma "informação pura", isto é, uma informação destituída de qualquer mensagem, o que quer dizer, de qualquer responsabilidade, e mesmo que algumas pessoas sejam responsabilizadas por elas em algum momento pela justiça, é impossível responsabilizar a todos que a divulgam. A Internet impede o controle que ela mesmo produz sobre as pessoas, ou seja, ela funciona quebrada, quebrando-se, destruindo o controle que ela mesmo cria, bem como destruindo a sociabilidade que ela mesma produz.

Do jornal que veicula um anúncio médico totalmente falso à televisão que noticia fatos que não dizem respeito à realidade porque foram produzidos falsamente por juízes e promotores para se autopromoveram com escândalos políticos até as grandes empresas de Internet que transmitem qualquer informação através de si sem qualquer responsabilidade por elas, o que se tem atualmente é o oposto do que McLuhan pensava em termos de relação entre pessoas, pois a mensagem não é o meio. Eis o que podemos dizer não necessariamente nos contrapondo a ele, pois antecipou esta separação entre meio e mensagem e diferença entre ambos ao dizer que há uma informação pura em seu dito de que o meio é a mensagem, pois se é de fato isso, a mensagem não tem realmente importância. A mensagem é, neste sentido, algo diferente do meio, não é o meio, é diferente do meio, outra coisa totalmente diferente dele, ainda mais na atualidade em que qualquer fragmento de mensagem pode fazer viver ou morrer alguém nas redes sociais, isto é, se tornou algo soberano, mesmo que seja a mensagem mais besta de todas, a mais desprezível e sem importância, mas que adquire importância devido o meio em que é veiculada excessivamente.

Os meios ou mídias atuais abdicaram da mensagem, de transmitir uma mensagem ainda que não seja totalmente, bem como abdicaram de tudo que implica esta transmissão em termos de responsabilidade subjetiva em nome de algo objetivo, o meio e a neutralidade presumida a partir dele. A palavra falada ou dada em relação a qual não se pode voltar atrás já não implica mais nenhuma promessa e a palavra escrita, mesmo escrita, não quer dizer o que "de fato" diz, tão pouco as imagens de um político assediando claramente uma mulher numa assembleia legislativa ou dizendo uma notícia comprovadamente falsa em público para manter seu discurso negacionista. Tudo depende do contexto em que a mensagem está inserida e o contexto pode ser muito bem manipulado dependendo do meio como extensão dela e do homem literalmente que a escreveu. Jornais veiculam as mais diversas opiniões em nome de uma "liberdade de imprensa" e do contraditório sem que a contradição seja concebida como ausência de verdade e devesse ser superada em sua dialética por um conhecimento verdadeiro dos fatos, pois o que importa é o "debate" ou a "polêmica" em relação aos fatos, a divergência entre eles, o conflito, a discórdia, e não a "verdade" do fato pressuposta na liberdade de imprensa em sua busca de mostrar a verdade em relação a ele, principalmente em tempos autoritários como o que vivemos.

O meio a e mensagem são duas coisas distintas, diferentes, que se implicam no momento em que esta é transportada por aquele e a modifica, muda a mensagem e as consequências em relação a ela, inclusive, tirando a responsabilidade de quem a veicula. Se o descobrimento do código da máquina enigma levou a uma mudança histórica para evitar conflitos ainda maiores e mortes na Segunda Guerra Mundial, atualmente o que se coloca em relação aos códigos é um aumento de um conflito e mortes quando códigos são utilizados para disseminar informações falsas sobre a realidade. O que os fascistas fizeram para confundir os adversários aliados, agora qualquer pessoa faz com o acesso às redes sociais e, neste sentido, o fascismo não é simplesmente a propagação de informações falsas para manipular pessoas, mas a manipulação da informação de uma mensagem de tal modo que ninguém possa saber o que é a verdade ou a mensagem verdadeira, mudando a mensagem a todo instante, veiculando mensagens contraditórias para que a verdade, no caso, as pretensões de poder autoritário não sejam conhecidas.

Em outras palavras, o que McLuhan também nos antecipa de compreensão da realidade é que o meio é o fim da mensagem. Ã‰ o fim da mensagem no sentido de que esta depende totalmente do meio a partir de então, mas também de que ao ser dependente dos meios, ela chegou ao fim, o seu próprio fim. É um meio em relação a outro meio como ele diz ou um rizoma, como dizem Deleuze e Gauttari, que não é algo necessariamente "bom" como muitos parecem interpretar isso contra o poder do Estado,  nem tão pouco "mal" a serviço deste ao ser capturado por ele em seu movimento como máquina de guerra, pois o que está diretamente relacionado ao rizoma é um pragmatismo da linguagem e na realidade, isto é, o funcionamento dele como uma máquina, de modo maquínico como o desejo, ou ainda, uma máquina de guerra contra o Estado e em defesa dele na medida em que é apropriada pelo Estado e transformada em seu Exército ou milícia.

É preciso, enfim, diferenciar o meio e a mensagem e pensar esta independente do meio, dar importância ao que ela é como outro em relação ao meio visto como algo único, ou idêntico, ainda que este se diversifique como vários meios enquanto integral e descentralizado como a Internet propriamente dita. Ao pensar na mensagem pensamos na responsabilidade que temos por ela, não como única mensagem ou a mensagem que se quer transmitir e, sim, como mensagem diferente no sentido de que não se reduz aos meios e, se se reduz, nunca é apropriada por eles totalmente, limitada por eles e reduzida a nada ou informação pura. Pensar a mensagem é pensar o texto e o contexto, problematizando o texto a partir do contexto mas de modo que a mensagem não seja o meio ou aquilo que os meios querem que seja, definam que seja exclusivamente.

Se os meios alteram a vida social atualmente é porque alteram a mensagem, não permitem que a mensagem seja transmitida de fato, fragmentam a mensagem como jornais em manchetes para difundi-la "melhor", o que não quer dizer difundir melhor a mensagem e, sim, que haja uma difusão melhor dela a partir de determinado meio. Ou seja, é uma otimização da máquina de difusão e não da mensagem o que se busca com os meios de comunicação como extensões do homem atualmente, pois a mensagem, novamente, não importa. Mas para quem não importa é o que é devemos nos perguntar e questionar na medida em que as mensagens, e não os meios simplesmente, modificam a vida de pessoas cada vez mais, sobretudo mensagens privadas nas quais a vida pessoal de alguém é exposta ou cancelada, seja quem for, pois também não importa quem é quem para os meios.

Contraditoriamente ao que se pensa e se diz, o menor fragmento de mensagem importa para os meios e não há informação pura ou neutralidade dos meios neste aspecto. Nada que é transmitido por eles é algo verdadeiramente sem importância para eles, mesmo que os meios façam acreditar nisto. Há em toda mensagem veiculada uma importância para os meios como informação ou dado tal como se pode perceber na tentativa constante de se privatizar as informações ao contrário do que se pensa, que é torná-las públicas, publicizar. O que acontece atualmente não é uma publicização cada vez maior da vida privada das pessoas, é uma privatização da vida delas por meio das empresas de Internet e de redes sociais, quando as informações deixam de ser públicas, sem valor de mercado, para terem um valor como informação propriamente dita, como a informação de uma "fonte" para um jornal importante para que ele venda mais ou ganhe mais acesso e, portanto, mais publicidade, assim como as redes sociais.

A privatização da vida a partir das informações é a detenção de aspectos pessoais e privados por meios de grandes empresas comunicações e indústrias tecnológicas como Google, Facebook e Twitter que, independente de sua "criptografia de ponta", tem como objetivo obter informações para vendê-las no mercado publicitário como fazem os repórteres ou jornalistas em busca de noticiar um "fato" para vender mais jornais. Submeter a vida das pessoas ao mercado de informações é o grande negócio atualmente de modo que a mensagem de cada ser não importa, contanto que gere valor de troca no sistema capitalista. Não é a vigilância o mal da vida moderna em meio às novas tecnologias, pois a vigilância é apenas um controle da informação que, dependendo da situação, permanece privada. O maior problema com a introdução das novas tecnologias é a privatização da vida das pessoas por meio das informações que se tem delas, que são publicizadas pelas mídias e possuem na rede de Internet um determinado valor de mercado como provam os vazamentos de informações pessoais recentes.

Há uma aparente "gratuidade" na rede e "publicidade" nela, pois o que há é o controle da informação em termos de mercado econômico capitalista no qual o que se veicula como mensagem nas redes sociais é o que menos importa. Se uma determinada mensagem ganha ou não alcance mundial no topo de informações sendo discutida no momento, isso só importa para a sociedade manter-se informada sobre algo, mas não para os meios cuja preocupação é com os dados gerados com cada informação. Dados coletados sem ser percebidos pelos usuários em rede e que geram valores econômicos importantes para as empresas continuarem se mantendo. Se é um gato fofinho ou o maior desastre natural, social, político e econômico da humanidade e mesmo da Terra nos últimos milênios, desde o meteoro que mudou a face da Terra, como é a pandemia atual, nada disso importa enquanto mensagem, nem os afetos que ela produz, o que importa são os dados gerados a cada acesso a elas, as informações puras que adquirem valor de mercado em bits de segundo na bolsa de valores virtual que são atualmente as redes sociais, mais ou menos valiosas dependendo do quanto de dados geram a partir das mensagens veiculadas nelas que levem à vida ou a morte.

O meio e a mensagem devem ser pensados como algo diferentes e terem importância diferente em nossas vidas. Não podemos nos limitar a determinados meios e nem a determinadas mensagens. É preciso pensar o meio e a mensagem de modo separado, porém, juntos, e de modo responsável em relação a ambos. Isto requer uma nova educação com o advento das mídias atuais, pois não se pode pensar os meios como puros meios de comunicação como pensou McLuhan, os quais interferem na vida social, mas não podem ser responsabilizados por elas, pois são apenas meios assim como o carteiro que não pode ser responsabilizado pelas más notícias enviadas e não pode ser morto por isso. A reivindicação das grandes redes sociais é em defesa do que McLuhan pressupôs de modo objetivo ao analisar como os meios mudam a nossa vida e a forma de nos comunicarmos nela, mas não podem ser responsabilizadas por serem meios e não mensagem ou quem envia a mensagem.

Se os meios modificam a vida atual, eles deixaram de ser meios simplesmente, este é o problema. Eles passaram a ser o princípio e o fim e a mensagem se tornou o meio. Houve uma inversão de valores no sentido de que a mensagem é importante para o meio se difundir cada vez mais como aplicativo, por exemplo, e não meio que é importante para a mensagem ser difundida a todos como princípio democrático de tornar público uma mensagem, como a de um lei que se quer que todos saibam democraticamente. 

A consequência disso é que devemos pensar a mensagem em relação com o meio nesta nova perspectiva, pensar como as mensagens demandam não um meio como extensão humana e, sim, uma relação entre os seres, que mensagens são importantes para mantermos a comunicação, esta que se perde quando a mensagem se perde nos diversos meios de comunicação. Pensar como a mensagem se dissemina, se propaga, se publiciza e se privatiza com o marketing de algo ou de alguém em determinado meio e as implicações disso, principalmente, a destruição da comunicação entre os seres em nível político democrático.

Neste sentido, não se trata de um problema de comunicação o que se coloca, pois não se trata de otimizar os meios de nos comunicarmos. O problema é compreensão da mensagem independente da comunicação, de uma mensagem que pode levar tanto à vida como a morte, à liberdade ou ao totalitarismo, à democracia ou ao fascismo. De uma mensagem que tanto pode nos alegrar como nos fazer tristes, independente do meio de comunicação em que ela se insere, mas principalmente nos meios de comunicação em que se insere, pois não é a mensagem de modo puro, como boa, que se busca pensar neles senão a mensagem que se dissemina, se propaga, se publica e se torna um valor para as empresas privadas através do marketing até mesmo a mensagem mais mentirosa de todos aumentando o número de mortos na atual pandemia.

Se o meio é a mensagem ainda, é preciso pensar a mensagem que os meios estão disseminando, propagando, publicizando e transformando em propriedade privada através de si em prol do marketing como a alma do capitalismo atual, do contrário, é cada vez mais o cancelamento de relações que se produzirá com a exposição da vida das pessoas e privatização delas nas redes sociais e Internet que afetam a sociedade como um todo, mas não os meios.

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