A sangria da democracia brasileira
Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.¹ Disse Romero Jucá em diálogo vazado para o Jornal Folha de São Paulo e publicado em 23 de maio de 2016 em diversos jornais quando estava em fase final o impeachment da então presidenta Dilma (PT). O vazamento do diálogo que até hoje nunca foi investigado em seu promotor e nunca questionado em sua veracidade detalhava as motivações do impedimento de Dilma no poder, no caso, para estancar a sangria dos polÃticos corruptos que não eram do Partido dos Trabalhadores. PolÃticos que se aliaram para fazer o impeachment, fazer da Lava Jato um aparelho de Estado contra o PT e seus partidários e ajudou a eleger Bolsonaro e o fascismo que faz sangrar a democracia brasileira atualmente.
Romero Jucá era ministro do Planejamento do governo Dilma e senador do então Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) na época, partido que deixou de ser "partido" e atualmente se denomina apenas Movimento Democrático Brasileiro (MDB). No diálogo vazado, Jucá conversa com Sérgio Machado, presidente da Transpetro de 2013 a 2015, denunciado em crime de corrupção que sugere a Jucá um acordo para estancar a sangria que a operação Lava Jato promovia com as denúncias de corrupção que envolviam diversos partidos, principalmente o PMDB, e Jucá. A partir do vazamento deste diálogo Jucá renunciou do cargo de ministro depois de planejar o impeachment da presidenta Dilma como ficou claro nos diálogos. O golpe polÃtico que promoveu o governo dela de continuar foi esquecido devido a preocupação com a Lava Jato coordenada pelo agora ministro da Justiça Sérgio Moro que nunca se preocupou em saber quem vazou os diálogos à époc e que faz desde então a democracia brasileira sangrar ainda mais com a corrupção em vez de estancar a sangria como promete ainda hoje, pois ela faz parte de um grande acordo nacional, como dito por Machado, com Supremo, com tudo, como enfatizou Romero Jucá em seguida.
A corrupção que faz sangrar a democracia brasileira levando o paÃs cada vez mais para um regime autoritário, ditatorial e fascista com o então governo Bolsonaro não é de valores econômicos, nem mesmo morais, e, sim, de valores éticos como demonstra de modo sintomático o diálogo de Romero Jucá. Muitos mencionam esta crise de valores éticos, mas sem ver nisto um problema, apenas a confirmação de um sintoma do processo civilizatório brasileiro sem qualquer perspectiva de mudança a respeito, um traço do perfil colonizado do brasileiro. O predomÃnio da preocupação econômica e moral que desde a colonização tem promovido o nacionalismo ufanismo brasileiro como o promovido pela operação Lava Jato que culminou com a eleição presidencial de 2018 demonstra de modo claro e distinto esta crise ética de valores que não é uma crise qualquer histórica, mas o resultado de qualquer perspectiva ética a partir dos valores econômicos e morais que a Lava Jato e seus defensores visam promover. Isto porque o que determina a crise de valores éticos, e mesmo a falta deles, é a economia e a moral desde a colonização e defendida em questão a partir dos ideais de famÃlia e ordem nacional atualmente pelo grande acordo nacional com o Supremo, com tudo celebrado por Machado e Jucá até agora seguido à risca em todas suas fases.
O impeachment da então presidenta Dilma foi a primeira parte deste acordo de cavaleiros para passar por cima do Partido dos Trabalhadores como uma máquina de guerra fazendo eco à s manifestações de junho 2013 contra o aumento das passagens de ônibus em São Paulo convocadas pelo Movimento Passe Livre (MPL) e que se voltaram contra o Governo Federal durante a Copa das Confederações por conta da Copa do Mundo de 2014 quando diversos movimentos populares de direita e de esquerda, assim como defensores da ditadura militar, se agenciaram neste grande movimento que se tornou conhecido como Manifestações dos 20 centavos, Manifestações de Junho ou Jornadas de Junho. O avanço difuso do movimento destas manifestações levou o paÃs no ano seguinte ao movimento antipetista que marcou as eleições de 2014, mas não foi suficiente para a derrota do PT pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) do então candidato Aécio Neves, indiciado por corrupção depois e o primeiro a ser comido pelas investigações de corrupção segundo indica Romero Jucá em seu diálogo, o que até hoje nunca aconteceu. O movimento antipetista iniciado com as Manifestações de Junho de 2013 se tornou, portanto, o movimento polÃtico-partidário antipetista do PSDB em 2014 e o movimento do impeachment promovido principalmente pelo PMDB em 2016 como comprova o diálogo de Jucá e atualmente constitui o movimento democrático brasileiro de Bolsonaro cuja eleição foi antecipada por Jucá em seu diálogo diante da "situação grave" apontada por Machado com o vazamento das informações quando disse que o objetivo da Lava Jato era: Acabar com a classe polÃtica para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com... (Negritos meus.)
Esta nova casta, pura, que não tem a ver com a polÃtica, podemos dizer, complementando Jucá, pois ela defende valores econômicos e morais e não valores éticos que são os princÃpios da polÃtica desde que começou a ser pensada pelos filósofos gregos, notadamente Aristóteles em sua Ética a Nicômaco. Segundo ele, a ética deriva do ethos, isto é, dos costumes, ou ainda, da moral que rege os costumes, portanto, difere da moral que é voltada para princÃpios particulares, interesses privados de um indivÃduo, de uma famÃlia, de uma cultura, de um povo, de uma nação, de uma cidade-Estado, em outras palavras da polis em sua paideia (educação cultural grega). Por derivação linguÃstica e de ações, isto é, em seu pragmatismo, O que define a ética é o que a moral tende justamente a evitar, impedir, não fazer pensar, isto é, que as ações humanas tenham como princÃpio o universal, a universidade ou a universalidade e tenham em vista deste modo todos os seres humanos, bem como seres inumanos hoje em dia, e não princÃpios particulares e interesses privados.
É preciso abandonar princÃpios particulares e interesses privados econômicos e morais para ser ético. Todavia, abandonar princÃpios particulares econômicos e morais não quer dizer abandonar os indivÃduos que são compreendidos pelos princÃpios da ética universalmente. Quer dizer abandonar os princÃpios particulares e interesses privados econômicos e morais do movimento democrático brasileiro tal qual ecoado nas vésperas das eleições de 2018 sob o lema Brasil acima de tudo e que é econômico e moral em seu nacionalismo e nenhum pouco ético, pois vai contra tudo que a ética pressupõe como universal, universidade e universalidade. Isto porque trata-se de um movimento de busca de uma identidade nacional que começou com a sangria da Lava Jata a qual foi, desde o seu princÃpio, a sangria da democracia brasileira, pois a sangria promovida por ela era na verdade o sacrifÃcio da democracia brasileira tendo em vista uma nova casta, pura, conclamada pelos apolÃticos. Democracia que serve ainda hoje de boi de piranha, método empregado pelos ruralistas para fazer a boiada seguir para a outra margem do rio e foi lembrado por Jucá: Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem.
A democracia brasileira, o boi de piranha ou o cara, na verdade, uma mulher, Dilma no caso, foi o que fez chegar do outro lado da margem todos os envolvidos em corrupção que não eram do PT e hoje apoiam o governo de Bolsonaro cuja eleição faz parte do grande acordo nacional do movimento democrático brasileiro, pois como disse também Jucá: Nenhum polÃtico desse tradicional ganha eleição, não. No caso, a eleição de 2018, e por tradicional, os polÃticos que fazem parte tradicionalmente dos partidos em disputa no Brasil desde 1994, o PT e o PSDB, ou ainda, por tradicional o bipartidarismo como princÃpio de uma polÃtica democrática e pluripartidária como a existente ainda no paÃs. Ainda porque, como dizem os defensores nacionalistas do então presidente fazendo em coro fascista, para eles somente há um partido, o Brasil, que não é para todos como o lema do governo federal petista até Dilma, pois a defesa de um partido único que é o paÃs, a nação, o Estado não é a defesa da democracia em seus princÃpios e valores éticos e, sim, a defesa dos princÃpios e valores econômicos e morais promovida pelo fascismo. Trata-se de uma defesa da identidade contra as diferenças de classe, etnia, gênero, de pensamento que atualmente se propaga contra pobres e trabalhadores, indÃgenas, negros, mulheres e intelectuais, bem como a todos que se oponham ao governo e são vistos como inimigos aos quais Bolsonaro e seus partidos e partidários prometem missionariamente a morte em nome de deus, no caso, o deus cristão que abençoa o nacionalismo do movimento democrático brasileiro como suplemento ao lema Brasil acima de tudo, ao dizerem os nacionalistas Deus acima de todos. Ou seja, prometendo a morte a partir do Estado, ou com as próprias mãos armadas para legÃtima defesa como requerem, e, na falha deste, apelando para seu deus cumprir a promessa de morte dos inimigos de deus.
A defesa do paÃs e do deus cristão pelos nacionalistas brasileiros demonstra, outrossim, como são os valores da economia do Estado e da moral religiosa cristã que se defende de modo apolÃtico atualmente. Em contrapartida, justamente por serem apolÃticos ao defenderem princÃpios e valores econômicos e morais religiosos nenhum dos que defendem o nacionalismo brasileiro são éticos na medida em que os princÃpios e valores éticos são os princÃpios e valores da polÃtica, principalmente a democrática. Neste sentido, ao contrário do que pressupunha Aristóteles ao defender a monarquia e de seu mestre Platão, defendendo em sua República uma ditadura de classes determinadas em seu corpo e alma e educadas para servir à cidade-Estado, é a democracia o fim de toda polÃtica e toda ética, aquilo para o qual os princÃpios e valores éticos tendem na polÃtica.
Se a ética é o princÃpio da polÃtica é porque a polÃtica tem como princÃpio a relação de todos que fazem parte de uma polis, a cidade e Estado, na tomada de decisões sobre o que é o bem para todos tal como pensaram os gregos, mas sem entender nesta participação polÃtica os cidadãos como um determinada classe ou grupo de pessoas. Isto porque os gregos restringiam a participação polÃtica apenas à queles que consideravam cidadãos, no caso, os homens, principalmente, os aristocratas, grandes patriarcas donos de terra e que se conclamavam cidadãos de bem, isto é, aqueles que, como Platão defendia, visavam o bem para a cidade em sua sabedoria e justiça. O que, de modo semelhante, faz a nova casta, pura, apolÃtica emergida do movimento democrático brasileiro atualmente bolsonarista que se conclama como formada por cidadãos de bem a partir do mito da democracia grega refundado no Brasil com a colonização enquanto mito da democracia racial.
Se a ética é o princÃpio da polÃtica é porque a polÃtica tem como princÃpio a relação de todos que fazem parte de uma polis, a cidade e Estado, na tomada de decisões sobre o que é o bem para todos tal como pensaram os gregos, mas sem entender nesta participação polÃtica os cidadãos como um determinada classe ou grupo de pessoas. Isto porque os gregos restringiam a participação polÃtica apenas à queles que consideravam cidadãos, no caso, os homens, principalmente, os aristocratas, grandes patriarcas donos de terra e que se conclamavam cidadãos de bem, isto é, aqueles que, como Platão defendia, visavam o bem para a cidade em sua sabedoria e justiça. O que, de modo semelhante, faz a nova casta, pura, apolÃtica emergida do movimento democrático brasileiro atualmente bolsonarista que se conclama como formada por cidadãos de bem a partir do mito da democracia grega refundado no Brasil com a colonização enquanto mito da democracia racial.
Se Platão e Aristóteles não defendiam a democracia grega e foram os primeiros a porem o aparelho de Estado ditatorial de classes determinadas e monárquico contra o movimento democrático grego de modo ideal, mas colocados em prática como alternativas à democracia e em crises democráticas desde então, é porque em sua filosofia e, mais ainda, com seu julgamento, condenação e morte pela democracia ateniense, Sócrates demonstrou como a democracia, não apenas a grega, perde seu total fundamento sem os princÃpios éticos acima dos econômicos da cidade-Estado e, principalmente, acima dos valores morais culturais advindos de leis divinas a regerem as cidades e Estados, a polis contra a polÃtica, portanto de modo apolÃtico. Diferente de Platão e Aristóteles, Sócrates percebeu em sua prisão como o coro em defesa de uma polÃtica condicionada a partir de valores econômicos e, principalmente, morais e divinos, constitui uma violência aos cidadãos que discordam das opiniões propagadas pelo senso comum que ridiculariza pessoas de pensamento diferente como o de Sócrates que foi ridicularizado por Aristófanes em sua peça Nuvens ao ser exposto como sofista e não como um filósofo. Mais ainda, fazendo com que determinados cidadãos sejam vistos nem mesmo como estrangeiros, a quem se concede hospitalidade, e, sim, como criminosos que merecem a morte por serem inimigos como Sócrates ao movimento democrático grego à época defendido particularmente por um de seus acusadores, o "apolÃtico" Anito, que tinha interesses particulares em sua condenação como alude Sócrates em sua Apologia. Em outras palavras, Sócrates fez perceber que a polÃtica democrática deve se fundamentar em uma defesa da polÃtica de modo incondicional ou condicionada a partir de princÃpios éticos acima dos valores econômicos e morais e divinos que regem as leis de uma república sob o risco da democracia ser senão sacrificada como foi a grega com a morte de Sócrates para estancar a sangria da corrupção ética dos atenienses que defendiam a Grécia acima de tudo, a partir de Atenas, e os Deuses gregos acima de todos os outros deuses como o que Sócrates ouvia como seu daimon (δαίμων , isto é, "deus, deusa, poder divino, gênio, espÃrito-guardião") e foi um dos motivos de sua condenação, senão o principal deles, o ateÃsmo como descrença das leis divinas e polÃticas de uma religião, no caso, a grega.
O que se coloca como movimento democrático brasileiro tem como fundamento o nacionalismo e o fundamentalismo religioso tal qual aconteceu entre os gregos à época de Sócrates e em muitos outras nações desde então a partir de outras religiões. Este movimento democrático é econômico e moralista em seu princÃpio apolÃtico, isto é, não-polÃtico, ainda que seja polÃtico por se fazer de modo polÃtico tendo em vista que todas as decisões na cidade e no Estado são polÃticas, mas não-polÃtico porque não tem como fundamento princÃpios éticos e, sim, econômicos e morais religiosos. Trata-se, outrossim, de uma defesa de valores econômicos e morais religiosos a partir da polÃtica de uma cidade-Estado, no caso, a democrática, mas que são contra a polÃtica de uma cidade-Estado democrática na medida em que não defendem princÃpios e valores universais, uma universidade de princÃpios e valores ou uma universalidade deles. Em outras palavras, se as ações daqueles que defendem o movimento democrático brasileiro como cidadãos de bem têm em vista o bem ou o sumo bem, isto é, a felicidade, tal como pressupunha Aristóteles em sua Ética a Nicômaco, não é nunca o bem e a felicidade universal, a universidade do bem e da felicidade para todos que eles alcançam ou pretendem alcançar. Isto porque o que desejam é o bem para si mesmos em particular a partir da riqueza, honra e prazeres morais e divinos ao defenderem a si mesmos em seu nacionalismo e fundamentalismo e, como disse o presidente recentemente, ao odiarem todos aqueles que não são brasileiros, no caso, brasileiros cidadãos de bem como eles se conclamam de modo fascista por fazerem a defesa da polÃtica condicionada a partir de um único partido em seu movimento democrático, por fim, antidemocrático, apolÃtico, no caso, o partido do Estado-nação acima de tudo e deuses acima de todos como defendem abertamente e Sócrates percebeu em sua época a violência deste coro de coribantes em seu fanatismo em defesa das leis divinas e da República.
O fascismo que hoje se instaura no Brasil, mas também no mundo, é a falência da polÃtica tal como entendida a partir de princÃpios éticos, isto é, princÃpios que valorizam a diferença de opiniões, de etnias, de "raças", de gênero, de sexualidade, de lÃnguas e linguagens, de religiões, de cidades, de regiões, de partidos, Estados e nações. Trata-se do fim da polÃtica pretendido e da assunção de uma apolÃtica como movimento polÃtico contra a polÃtica ou democrático contra a democracia na medida em que esta é o fim ao qual tende a polÃtica e a ética. Um movimento que sacrifica a democracia em seu nome, em sua propriedade, em sua constituição, em sua lei, em sua lÃngua, em sua fala enquanto governo do povo na medida em que o governo não é para aqueles que constituem o povo com suas diferenças, mas o governo daqueles que constituem o povo como uma identidade enquanto cidadãos de bem em relação a qual todos aqueles que não se identificam com eles são vistos como criminosos, cujas ideias são consideradas criminosas, e praticam o crime previsto em 1948 por George Orwell como crimideia em seu livro 1984. Livro cujo primeiro capÃtulo inaugura a época do pós-fascismo em que vivemos que não advém com o do fascismo e, sim, começo dele com o dia D da Segunda Guerra Mundial e com as bombas atômicas dos Estados Unidos sobre Hiroshima e Nagasaki.
Pós-fascismo que é senão a época do fascismo em que vivemos cuja arkhé é o fascismo a partir do movimento democrático de extrema direita nacionalista que teve sua origem na Itália com Mussolini e Hitler transformou no Nazismo fascista alemão. Trata-se da época em que o fascismo se faz em coro pouco a pouco no mundo com a deposição em semente dele em vários paÃses da Europa invadidos por Hitler e que hoje colhe seus frutos em diversas partes do mundo em seu movimento democrático contra a democracia ou polÃtico contra a polÃtica, movimento apolÃtico. Um movimento que é do Estado contra a democracia na medida em que defende a identidade da nação e busca unir todos em prol dele independente das diferenças resgatando o nacionalismo e fundamentalismo religioso do mito da democracia grega e da democracia racial fundada no idealismo de que todos são iguais perante o Estado e perante os deuses. Todavia, todos iguais enquanto cidadãos de bem determinados a partir de uma raça pura definida por um único partido, o Estado-nação a ser defendido com a morte daqueles que não se identificam com esta raça pura.
Como pressupôs de modo fictÃcio Philip K. Dick em O homem do castelo alto, de 1962, auge da guerra fria e defesa dos Estados-nações capitalistas e comunistas, de direita e de esquerda, o fascismo venceu a guerra e o mundo todo é atualmente dividido entre os fascistas e aqueles que lutam contra ele, ou seja, a ficção se tornou realidade ainda que paralela através de meios virtuais. Vivemos atualmente esta época pós-fascismo na qual não importa em que lugar do mundo estejamos o que se coloca em questão é o fim da democracia como limite, fronteira, última soleira do que é a polÃtica, para além da qual a polÃtica não é mais possÃvel, tão somente a apolÃtica do fascismo e a não promessa de que as diferenças sejam respeitadas entre os cidadãos na medida em que se defende a identidade da nação e do Estado a partir de princÃpios e valores econômicos e morais religiosos fundamentalmente. Respeitar as diferenças enquanto princÃpio ético da polÃtica da qual a democracia é o limite é o que não pretende o movimento democrático brasileiro e mundial fascista atual que tem como princÃpio o fim da democracia, o fim da polÃtica, do polÃtico como cidadão em defesa de si diante do Estado. Estado cuja polÃtica fascista de identidade é contra as diferenças dos cidadãos polÃticos que defendem os princÃpios éticos da polÃtica e não os princÃpios econômicos, morais e religiosos do Estado-nação em que vivem e no qual buscam sobreviver em seu território ou numa terra porvir de uma democracia por vir.
Defender os princÃpios éticos da polÃtica é defender incondicionalmente uma democracia e não o movimento democrático que tem como objetivo o Estado-nação autoritário, ditatorial, fascista tal como acontece no Brasil e em diversas partes do mundo a partir de princÃpios econômicos e morais religiosos. É defender uma democracia que não seja condicionada pela corrupção da ética de onde provém todas as corrupções de valores econômicos e morais e religiosos que são corrupções daqueles que defendem seus interesses particulares e não universais, que defendem o bem e a felicidade de si mesmos como cidadãos de bem e não o bem e a felicidade de todos como pessoas. É defender que não haja a sangria da democracia brasileira em sacrifÃcio para purificar a casta de polÃticos corruptos que não são de esquerda e os apolÃticos da extrema direita bolsonarista.
Somente defendendo-se a ética para além da economia e da moral é possÃvel defender a democracia e não a deixar sangrar pela corrupção daqueles que pretendem salvá-la atualmente, mas que a levam pouco a pouco para o fim. Se o tempo é emergencial como disse também Jucá em seu diálogo com Machado ao propor um grande acordo nacional com o Supremo, com tudo, é porque o tempo da democracia finda pouco a pouco no Brasil e no mundo, não com o fascismo imperialista do Estado pensado por Hitler, mas com o fascismo do Estado pensado por Mussolini, o fascismo limitado à s fronteiras de cada paÃs e, deste modo, mundializado e globalizado. Trata-se de um tempo em que o fascismo emerge no mundo após ser semeado em cada paÃs da terra amada como nação e pátria, do qual advém rútilas as armas das máquinas de guerra econômicas e morais fascistas dominadas pelo aparelho de Estado e que se voltam contra as máquinas de guerra democráticas antifascistas nas fronteiras do próprio Estado e não mais além delas ou provindas de outros Estados.
O pós-fascismo é a época do fascismo do Estado defendido em sua identidade nacional desde o fim da Segunda Guerra Mundial nos Estados Unidos e na União Soviética, em cada paÃs da Europa, nas ditaduras da América Latina e Estados fundamentalistas religiosos, todos eles antidemocráticos, pois o princÃpio defendido em todos estes Estados é a economia neoliberal propriamente e a moral religiosa abraâmica em sua identidade e não a ética democrática que tem como fundamento as diferenças e a polÃtica para além dos princÃpios e valores econômicos e religiosos. A democracia que ainda vige nestes Estados é uma democracia em perpétua crise consigo na medida em que a identidade do povo e do sujeito e indivÃduo que a constitui está em constante conflito consigo, bem como com a perda de sua identidade dentro de suas fronteiras e fora dela em seu poder econômico e moral religioso, seja o moral religioso cristão, muçulmano ou judeu (hoje na terra prometida de Israel pelos Estados Unidos e não por deus apesar de suas crenças). É a crise dos cidadãos de bem de um povo como raça pura diante daqueles que são para si diferentes, cidadãos do mal, no caso, o estrangeiro e o estranho, que não podem ultrapassar suas fronteiras e, quando conseguem, são hostilizados ainda que lhes concedido hospitalidade a partir de uma cidadania e direitos polÃticos à s diferenças minoritárias que constituem sob a condição de não destruÃrem a identidade do povo majoritariamente representada pelos conclamados cidadãos de bem de cada nação, cidade e Estado.
Se o tempo é emergencial, por fim, é preciso cuidarmos de nós e dos outros para que o fascismo não se fortifique no pensamento de modo arborescente semeando por toda a parte o ódio à s diferenças a partir da defesa de uma identidade nacional, de um único partido, o Estado-nação, do Brasil e no mundo. Somente o cuidado de si e do outro pode nos remediar contra o fascismo do Estado em nossa época pós-fascismo e tal cuidado quer dizer tão simplesmente fazer viver a si e ao outro o máximo possÃvel diante da morte dos diferentes e das diferenças que é desejo fascista, o Desejo contra os desejos das máquinas desejantes ao desejarem um socius ou sociedade autoritária e ditatorial, monárquica e patriarcal, contra seus desejos. Desejos que são o princÃpio da ética na medida em que são universais, constituem a universidade e universalidade do si ao outro, do si que apela ao outro em seu corpo, alma e voz em sua diferença e nos faz desejar ir além de qualquer identidade entendida como si mesmo para estarmos junto a si e ao mesmo tempo ao outro, cuidando do si que somos e é o outro a partir do desejo por si, pelo outro, na equivocidade de vozes deste si como nós e como os outros e não na univocidade do si como mesmo, ou seja, idêntico e querendo que todos sejam idênticos a si na defesa de um Estado-nação fascista em si, em sua identidade.
Estar junto a si e ao outro em sua diferença, ou em différance, eis o princÃpio ético da democracia cujos valores devem ser defendidos de modo incondicional para além da democracia condicionada pelos princÃpios e valores econômicos e morais religiosos fascistas, democracia a qual literalmente precisamos estancar em sua sangria aqui e agora, no Brasil e no mundo, sempre.
1. Todas as citações sobre o vazamento dos áudios de Romero Jucá e Sérgio Machado foram extraÃdas da reportagem Em gravação, Jucá sugere 'pacto' para barrar a Lava Jato, diz jornal, do canal de notÃcias G1 através do link <http://g1.globo.com/politica/operacao-lava-jato/noticia/2016/05/em-gravacao-juca-sugere-pacto-para-deter-lava-jato-diz-jornal.html>, acessado em 24 de julho de 2019.
1. Todas as citações sobre o vazamento dos áudios de Romero Jucá e Sérgio Machado foram extraÃdas da reportagem Em gravação, Jucá sugere 'pacto' para barrar a Lava Jato, diz jornal, do canal de notÃcias G1 através do link <http://g1.globo.com/politica/operacao-lava-jato/noticia/2016/05/em-gravacao-juca-sugere-pacto-para-deter-lava-jato-diz-jornal.html>, acessado em 24 de julho de 2019.
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