De volta à caverna de Platão
Ao se falar de Platão é comum se referir à sua oposição aos mitos. Todavia, paradoxalmente, é geralmente a partir de um mito visto com alegoria que sua crítica aos mitos é lembrada, no caso, o famoso mito ou alegoria da caverna. Repetido alhures historicamente, este mito é visto deste modo paradoxal como uma crítica ao mito, opondo assim o mito a si mesmo tendo em vista uma superação dele. Seria a dupla negação da dialética na medida em que o mito nega a si mesmo e a partir disto se originaria a filosofia a partir de uma Ideia, no caso a de Platão e de muitos outros filósofos que seguem esta lógica dialética.
O mito da caverna seria a demonstração deste processo de superação do mito a partir de um mito construído logicamente e criado para se opor aos mitos. Nele, homens presos numa caverna que veem sombras de objetos reais projetadas na parede por uma fogueira seriam a representação dos poetas antigos e suas histórias narradas há tempos como mitos. Sair da caverna seria a negação dos mitos com a possibilidade de ver as coisas em si mesmas em sua essência em vez de suas sombras ou aparências, a possibilidade de ter um conhecimento da realidade até então não vista, apenas presumidas nas sombras. Todavia, de nada adianta ver a realidade de todas as coisas fora da caverna sem ter para quem narrar o que viu, contar uma história, um mito, falar de uma realidade como uma aparência para aqueles que estão ainda acorrentados dentro da caverna tal como acontece com aquele que sai da caverna e volta à ela para contar o que viu. É assim que, por sua vez, o mito nega a si mesmo na medida em que tanto dentro como fora da caverna há apenas aparências para quem acredita em mitos e tudo não passa de uma história que qualquer um pode contar e ser verdadeira para aquele que acredite nelas.
Sair da caverna é o mesmo que estar dentro da caverna na medida em que se busque narrar numa história tudo que viu e não há nenhuma possibilidade de superar o mito deste modo, pois ele encerra-se em si mesmo. O que se vê na realidade fora da caverna é o mesmo que se vê dentro dela, só que diferente. Ambas são aparências da realidade em conflito, em oposição e em aporia, simetricamente iguais sem que se possa chegar a qualquer solução sobre qual a melhor já que são aparências e, no fim do mito, o que define quem está com a verdade é a força de uma maioria que considera aquele que fugiu da caverna como um louco e, como diz Sócrates, se pudesse o mataria por falar mentiras, contar histórias, falar mitos, considerado como algo que não é verdadeiro de um ponto de vista crítico.
Como seria possível sair da caverna de Platão deste ponto de vista mítico, isto é, a partir de uma história narrada a outros? Como se considerar que a história que se narra é a verdade sobre as coisas que se vê e não uma falsidade já que é uma história tanto quanto a outra, um mito que tanto pode ser verdade como uma falsidade como preveem já as musas de Hesíodo? Eis o paradoxo no qual Platão lança o mito e que Xenófanes já lançara antes dele ao dizer que se os animais pudessem pintar eles pintariam os deuses com a sua imagem, no caso, os cavalos pintariam os deuses como cavalos. E deste modo, com ele surge a primeira compreensão dos mitos como fábulas criadas pelos seres humanos para expressarem a si mesmos como deuses nos mitos e como mitos em todo seu heroísmo patriótico em defesa da Hélade.
Estabelecer um paralelismo como se faz frequentemente entre o conhecimento sensível daqueles que estão dentro da caverna e o conhecimento inteligível daqueles que estão fora da caverna, e considerar a partir da comparação deles o inteligível melhor do que o sensível somente porque os seres humanos não estão presos, acorrentados, na escuridão e, sim, livres, desacorrentados, num iluminismo, não é uma forma de superar o mito na medida em que o inteligível, neste caso, é apenas um olhar melhor aquilo que já se via antes, mas não muito bem e não é novidade. Pois é o mesmo só que com uma forma diferente e, a despeito de qualquer ideia de ascensão do conhecimento pressuposta por um ponto de vista dialético, o que se tem é um conhecimento inteligível que retorna aquilo que foi visto antes, isto é, sentido, e vê sob a luz de uma razão o que viu antes nas sombras de uma paixão. No caso, percebe detalhes antes não vistos que agora podem ser vistos pelo iluminismo e percebe que o que vê agora é diferente do que viu antes, mas ainda o mesmo, isto é, algo já conhecido que ele apenas rememora, que é uma reminiscência de um passado longínquo, logo, mítico.
A diferença entre o dentro e o fora da caverna, da escuridão e da luz, da prisão e da liberdade não é como se pensa. Pelo contrário, sabemos hoje que o fora como um espaço aberto é muito mais aprisionante do que o dentro como um espaço fechado, bem como estar diante das luzes em vez da escuridão algo muito mais temeroso. E que estar dentro da caverna atualmente chamada de casa, mesmo sendo um apartamento, dá uma maior liberdade do que estar fora dela, na insegurança da vida cotidiana.
Os milhares de anos que nos separam de Platão fazem-nos interrogar agora com olhos muito mais críticos, neste sentido, como seria possível sair da caverna e alcançar a Ideia a qual ele se refere para além de todo conhecimento sensível e inteligível que retorna a ele em rememoração. Isto porque nenhum dos dois conhecimentos nos possibilitam a liberdade de fato, apenas uma aparência dela, já que a liberdade em si mesma, ou de fato, somente é possível quando alcançamos esta Ideia de corpo e alma em nossas vidas como a Ideia de bem, de justo, de belo, de verdade. Os dois conhecimentos não são conhecimentos da Ideia, por mais que ela seja arrogada do ponto de vista inteligível, por se ter razão em vez de se ter paixão, por advir da alma e não do corpo. Isto porque a arrogância de uma inteligência a partir de um ter razão não pressupõe nenhuma Ideia de bem, de justo, de belo, de verdade e quem assim a defende uma Ideia age pela força tanto quanto aquele a defende a partir de uma paixão.
O que se coloca como Ideia em Platão é o limite do próprio conhecimento, de qualquer justificativa da Ideia a partir de uma paixão ou razão. Trata-se do bem, do justo, do bel, da verdade puros e simplesmente como Ideia, sem necessidade de qualquer defesa apaixonada ou racional, sem a ambivalência de forças de uma paixão ou razão, a partir das quais ora se faz o bem, ora o mal, ora se faz o que é justo, ora o injusto, ora se faz algo belo, ora algo feio, ora se diz algo verdadeiro, ora algo falso. A Ideia é aquilo que está para além de qualquer variação ou mudança de algo em seu contrário, para além daquilo que é afirmado e negado ao mesmo tempo por uma história, uma narrativa, um mito e qualquer que seja a justificativa passional ou racional a partir disto. Uma Ideia é aquilo que permanece independente de qualquer afirmação ou negação, sem que seja preciso ser afirmada ou que possa ser negada, pois é a realidade.
Eis a ironia platônica a qual é preciso perceber com o mito da caverna e toda a dialética que ele pressupõe do conhecimento sensível e inteligível: não é a dialética destes conhecimentos que faz ascender à Ideia, é o abandono dela pura e simplesmente que leva a uma "ascensão", pois enquanto há a dialética entre corpo e alma, paixão e razão, sensível e inteligível não é possível chegar-se a Ideia alguma da realidade, apenas a uma aparência dela de um ou de outro modo, conforme uma e outra justificativa em sua forma de narrar os fatos como mitos. Não há qualquer possibilidade de uma descendência da ideia, neste sentido, na medida em que se "ascende" a ela e não é mais possível qualquer dialética entre o que é sensível e inteligível, paixão e razão, corpo e alma, quando uma Ideia é alcançada. E se há um acordo entre estes opostos e os opostos a partir do momento em que se alcança uma Ideia é porque eles nunca foram absolutamente diferentes na defesa de uma Ideia, apenas relativamente diferentes em sua manifestação de um modo e de outro, e porque, obtida a Ideia, não há mais motivo para qualquer conflito entre eles a partir de suas diferenças, pois são iguais simetricamente. Não está mais em questão qual o melhor conhecimento neste caso, apenas a Ideia que não precisa mais de defesa alguma, sensível ou inteligível.
Pôr a Ideia em questão foi o grande mérito da filosofia de Platão aprendida com os diálogos de Sócrates, pois a Ideia é aquilo que está para além de uma razão e de uma paixão, do que se acredita saber a partir de um pensamento ou dos sentidos, para além de qualquer mudança de opinião ou de conhecimento sensível para inteligível e vice-versa. Eis algo que ninguém antes dele tinha feito até então, nem mesmo Sócrates, pois afirmava e negava ao mesmo tempo o seu saber ao dizer que só sabia que nada sabia e, deste modo, fazia o conhecimento variar em seus diálogos com os outros assim como os mitos variavam na boca dos poetas. Pôr a Ideia em questão, neste caso, é por em questão o próprio mito e o diálogo socrático em sua variação pressupondo algo que não varia conforme se conta sua história ou é expresso numa opinião ou conhecimento. É abandonar de vez não a caverna, mas o mito da caverna e o diálogo que surge a partir dele desde que Sócrates contou esta história e todos acreditaram nela como verdadeira a partir da oposição dele em relação aos mitos nos diálogos platônicos.
É preciso dizer: Platão não se opõe aos mitos como Sócrates. Ele usa os mitos para demonstrar como os mitos são falhos por si mesmos e qualquer um, até mesmo um filósofo, pode utilizá-los para fazer qualquer pessoa acreditar em sua Ideia, no que diz, a partir de uma história contada de um modo lógico pressupostamente não mais mítica. Ao contrário disso, os mitos não têm a menor importância para Platão como tem para Sócrates ou, mais ainda, para os sofistas, e todo o problema de Platão com os mitos é senão pela importância que eles têm, que as histórias têm na vida das pessoas como se fossem sua realidade e não apenas uma história dentre as várias possíveis sobre a realidade, tão convencionais como os nomes.
Não se pode acreditar nos mitos, nem mesmo nos de Platão, ou mais ainda, nos que ele conta, eis a moral da história, dos mitos. Não é o mito da caverna que importa, neste caso, para Platão, mas a Ideia que pode ser pensada a partir do momento em que o mito é negado em si mesmo, uma Ideia que não está presente nele, que não é uma presença oculta nele tal como os deuses ocultos na natureza segundo os antigos mitos. Querer ver uma Ideia oculta em sua presença nos mitos, mesmo os platônicos, é já não filosofar, é não pensar filosoficamente e, sim, miticamente ou mitologicamente. Nenhuma Ideia se oculta na medida em que se filosofa. Toda a filosofia é um desocultamento da Ideia diferente do que acontece no mito, que não está presente em algo ou naquele que a manifesta, de modo sensível ou inteligível, pois aparece pura e simplesmente de modo intuitivo se diria, como um acordo do sensível com o inteligível, se não fosse o fato de que não é possível nenhum acordo destes conhecimentos quando se coloca em questão uma Ideia. Pelo contrário, é um total desacordo que advém a partir dela, pois trata-se de algo que não foi nem sentido e nem tão pouco inteligido até então por qualquer um e em qualquer lugar e, por isto, é questionável.
O grande problema do mito da caverna está no retorno à caverna, quando aquele que se livra dela volta a ela para contar o que viu fora dela aos que estão dentro dela e faz o mesmo que fazia antes conflitando com os outros para saber o que via na realidade ou quem via a realidade, querendo que os outros acreditem em si como os outros queriam que ele acreditasse neles, e cujo fim é a inevitável morte de uma minoria por uma maioria pela força caso não haja nenhum acordo entre eles ou negação de uns pelos outros a partir de um determinado argumento. Aquele que sai da caverna e volta a ela para narrá-la não alcançou uma Ideia, apenas uma aparência dela, mais iluminada do que outros, porém, ainda assim, uma aparência, e o sol que cega os olhos é a advertência de que dizer que viu diretamente a luz é já perder toda a razão tanto quanto dizer que vê a realidade olhando para as sombras sem ter nenhuma Ideia do que vê de fato.
Contemplar uma Ideia não é olhar para aparência dela, iluminada ou sombreada, adverte Platão. É contemplar algo que ninguém nunca viu ou pensou antes e, quiçá, talvez nunca veja devido a isto, por não ser algo já conhecido, ser absolutamente diferente e por este mesmo motivo se recuse a contemplação da Ideia. Mais ainda, abomine-se quem pensa de modo tão diferente a realidade a partir desta Ideia e se tente silenciá-lo pela força, por não se acreditar na Ideia dele na medida em que coloca em questão senão o que se acredita há muito tempo e uma Ideia não ser algo em que se acredita como uma história, uma narrativa ou mito. Pelo contrário, por não ser algo que se acredita a partir da narrativa de uma história mítica a Ideia é posta em questão por aquele que a contempla e por aqueles que não querem contemplá-la.
O que se coloca em questão com uma Ideia são as crenças que se têm a partir das narrativas históricas míticas e do pensamento mitológico a partir delas, e as objeções a uma Ideia são por ser diferente de tudo que sente e pensa tradicionalmente deste modo. Uma Ideia não se reduz ao conhecimento sensível e inteligível, pois sua diferença é irredutível e absoluta a eles e não pode ser comparada e vista como semelhante ou idêntica a qualquer coisa além de si mesma pela sensibilidade ou intelectualidade, de modo que é idêntica a si mesma e igual a si mesma a partir desta diferença irredutível e absoluta e não por uma diferença relativa. Tal diferença é a diferença daquilo que é idêntico a si mesmo, igual a si mesmo, equivalente apenas a si mesmo, que não é pura todavia, pois nenhuma narrativa histórica e mítica lhe justifica como melhor do que outra ou faz dela uma Ideia melhor do que outra por ser mais sensível ou inteligível, mais apaixonante ou mais racional, afetar mais o corpo e a mente mais do que outra. Não se trata de uma opinião, neste caso, com aparência de Ideia, isto é, um ideal em beleza ou verdade, quiçá, em justiça. Trata-se de uma Ideia em si mesma que não se confunde com qualquer outra ou se manifesta como qualquer outra por analogia, semelhança, equivalência ou juízo de valor, e falar de um bem em si mesmo, belo em si mesmo, justiça em si mesma, verdade em si mesma não é falar propriamente de uma Ideia, mas de uma tentativa de fortalecer uma opinião sobre o bem, o belo, o justo e sobre o que se considera verdade como se fosse uma Ideia em si mesma, quando são apenas aparência de uma Ideia, como ela aparece na realidade.
Dizer que algo é em si mesmo é voltar à caverna de Platão e pensar que com esta volta se chegou a uma Ideia quando está, por outro lado, se afastando dela. Nenhuma ideia é algo em si mesmo mesmo que este algo seja o bem, o belo, o justo, a verdade, ou ainda, o ser humano em sua sensibilidade e entendimento de si mesmo como pressupôs Kant no limite de sua razão crítica aludindo ao limite que Platão já pressupunha ao conhecimento a partir de sua Ideia. Não é em si mesmo que se encontra a Ideia, motivo pelo qual uma intuição é apenas a aparência de um Ideia por um acordo entre paixão e razão, corpo e alma, sensibilidade e entendimento, quiçá pela imaginação dela.
É fora de si mesmo que toda Ideia é encontrada. É olhando para fora de si mesmo que encontramos as Ideias, quando deixamos para trás os preconceitos, pré-compreensões, razões preestabelecidas, opiniões fundamentadas pelos sentidos ou pelas razões e às quais se retorna toda vez que uma Ideia se manifesta em toda sua exterioridade como algo diferente, de modo permanente e não mais mutável a partir de uma contrariedade, de uma oposição, de um conflito, de uma dialética, de uma mudança de posição frequente. Uma Ideia não muda, não se altera, não pressupõe oposição, pois não está no que se conhece de um modo ou de outro, mas no que não se conhece de nenhum modo até então. Não está no que se conta, narra, numa história, mas no que não se pode contar, narrar, criar uma história, por não se saber de fato o que é, não se saber exatamente o que se vê, pois visar uma Ideia é olhar para algo que não reconhecido, diferente de tudo que já se viu antes ou possível de ser imaginado até então.
Nem mesmo Platão, imaginou que uma Ideia fosse algo tão diferente, que sua forma fosse tão desforme em relação à realidade conhecida até então e pensou a Ideia a partir de uma rememoração, como se fosse um mito do qual se lembrasse em seu fundamento. Diferente do que pensa Deleuze, neste sentido, em relação ao mito em Platão, de que ele é o fundamento da filosofia platônica, talvez se deva dizer que ele é o seu limite, seu fim, a reversão de toda filosofia no mito quando ela decide então narrar uma história de sua própria origem desde o princípio. É a reversão do platonismo na medida em que o mito denuncia o limite da Ideia na filosofia de Platão que se torna paradoxal como a frase socrática de que só sabe que nada sabe traduzida por Platão como só sei que tudo que sei não passa, no fim, de um mito, de uma filosofia cujo fim é o mito tentando ir além de si mesmo de modo paradoxal, de uma filosofia tentando ser uma filosofia, de alguém tentando sair da caverna, mas voltando a ela a todo instante pensando com uma Ideia encontrada em meios às luzes do pensamento e que desvanece à medida em que ele retorna à escuridão. Que haja um mito no fim dos diálogos de Platão demonstra a reversão de sua filosofia num mito e não que ela se fundamente a partir de um. O mito, neste caso, é o fim ao qual a filosofia platônica tende e não do qual ela parte e, se parte do mito é para retornar a ele como um fundamento que não foi posto antes por si, que não existia até então enquanto princípio ou origem e que foi fundado senão por ele mesmo.
O mito não é aquilo a partir do qual a dialética se fundamenta em Platão, mas aquilo para o qual sua dialética tende como fundamento de modo racional. É um mito fundamentado pela razão filosófica e não mais pela poesia ou fé religiosa. É um mito no qual se acredita porque serve de fundamento para tudo que se argumentou antes e não para tudo que venha a se argumentar depois. É a reversão do próprio mito em sua crença a partir da poesia e religião que a filosofia de Platão reverte em si mesma e se reverte em mito novamente. É Platão voltando à caverna para contar melhor do que outros o que viu e tentar convencer a todos de que o que viu é a verdade sobre a realidade com sua Ideia rememorada, voltada para o passado, ainda que ela seja algo que não tem mais relação com ele, que se direciona já ao futuro.
Apesar do limite de sua filosofia em relação ao mito na tentativa de superá-lo dialeticamente, pode-se pressupor a partir de Platão a Ideia como algo totalmente alheio à razão e à paixão, alheia a ele mesmo em sua tentativa de expressá-la em si mesma a partir de um mito quando sua filosofia chega ao limite. Neste sentido, a Ideia para além de uma rememoração está diretamente relacionada àquilo que é outro, diferente, desconhecido, estranho, estrangeiro e é aquilo a partir do qual devemos começar a filosofar. Sair da caverna, ter uma Ideia, portanto, é sair de si mesmo e olhar para o mundo de modo diferente do que sentimos e pensamos e sem a necessidade de voltarmos para a caverna para narrar aos outros o que vimos e pensamos sobre o que vimos. É nos tornarmos também outro, diferentes, desconhecidos, estranhos e estrangeiros no mundo, conhecendo cada vez mais o que é ele e o que somos nós nele na realidade a partir de uma Ideia ainda a ser conhecida em sua diferença absoluta, nunca em algo, nunca em nós mesmos.
E se voltamos à caverna de Platão agora é senão para sairmos dela definitivamente olhando para o mundo e a realidade como algo nunca antes visto em toda sua diferença cuja arkhé não tem qualquer fundamento, pois é uma arkhé filosófica ou arkhephylosophia que não impele ao passado e, sim, ao futuro, sempre.
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