Mr. Robot e a última utopia anticapitalista
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As questões que Mr. Robot levanta são principalmente éticas e sua análise levaria no mínimo a rever os dois tomos de Capitalismo e Esquizofrenia, de Deleuze e Guattari, uma referência imprescindível para se entender principalmente os últimos episódios da temporada. Além disso seria necessário rever todas as interpretações possíveis em torno de outros filmes que indiretamente estão associados a ela, a saber, em primeiro lugar, o filme Matrix, pela questão óbvia em relação a uma revolução produzidas por hackers e uma não menos óbvia e apenas hipotética do segundo do nome personagem Elliot, no caso Alderson, ser parecido com o segundo nome de Neo (Thomas), no caso Anderson, numa referência indireta hipotética. Em segundo lugar, o filme Clube da luta, pela questão esquizofrênica que s humanae coloca nela principalmente no fim da primeira temporada, mas também por toda a revolução pretendida a partir da destruição de dados bancários referentes à dívida das pessoas. Em último lugar, mas não menos importante, talvez mais importante até, o filme V de Vingança, que move toda a utopia anticapitalista de Elliot e de sua fsociety, isto é, a utopia anticapitalista de uma sociedade livre (freesociety, ou simplesmente, fsociety), no caso, livre do capitalismo.
Talvez fazendo referência a estes filmes se pense que não há nada de original nesta série e que talvez o que ela mostre não seja mais do que estes filmes já buscaram mostrar em seu questionamento da realidade de um ponto de vista tecnológico, mental e econômico, bem como político. Mas é justamente isto a originalidade desta série, a reunião de todas as utopias presentes nestes filmes cujos dois tomos de Capitalismo e Esquizofrenia é senão a chave de intepretação para ela. Além de colocar uma questão que não está presente nestes filmes senão subrepticiamente (uma expressão que se adequa muito bem para tudo que acontece nesta série) que é a do que acontece após a queda do capitalismo, ou se ele realmente cai, mediante todos os esforços da utopia anticapitalista da fsociety pretendida por Elliot e os hackers que associam a ele. Uma questão que não terá uma resposta simples numa próxima temporada, já que não seria tão fácil como se pensa destruir o capitalismo com apenas um código de malware.
Apesar da resposta à questão do que acontece após o capitalismo ser importante historicamente, desde os Manuscritos econômicos filosóficos de Marx e Engels, e ser o que move todas as utopias anticapitalistas, as tentativas de responder a ela na prática ao longo do século XX não foram boas e esta não é a principal questão de Mr. Robot. Ou é pelo menos quando se pensa nesta série como a última utopia anticapitalista de uma sociedade livre que ela pressupõe, no caso, uma sociedade livre por meio da cibertecnologia. Isto porque é por meio da cibertecnologia que acontece hoje a desconstrução do capitalismo, principalmente na Internet, que se é uma propriedade privada dele em muitos de seus ciberespaços, é a linha de fuga para o anticapitalismo da fsociety, a começar pela invasão da propriedade privada que a Internet possibilita e Mr. Robot faz questão de mostrar como ela praticamente não existe ou é apenas o produto da paranoia do inconsciente maquiníco capitalista em seu desejo de segurança, ou nossa a partir dela. Questão complicada cujas respostas levariam ao questionamento de toda a paranoia de segurança humana historicamente, não apenas capitalista, mas desde talvez o tempo das cavernas, e levariam à análise de todos os fluxos esquizofrênicos liberados em cada momento em que cada paranoia de segurança foi substituída no tempo por outra paranoia de segurança.
Este talvez senão o ponto central de Mr. Robot que revela sua originalidade: como no capitalismo atualmente se coloca em questão a partir da cibertecnologia uma paranoia histórica de segurança cujo contraponto é uma esquizofrenia na mesma medida por meio também desta cibertecnologia com uma tentativa de fuga a toda forma de controle produzido por ela para assegurar a propriedade privada como princípio do capitalismo a qual diz respeito diretamente ao indivíduo inviolável em sua privacidade ou subjetividade. Uma esquizofrenia que é uma tentativa de se opor a toda a forma de controle produzido atualmente pela cibertecnologia, e que é rizomática na medida em que não tem em vista o indivíduo, mas uma multiplicidade de relações se constrói e descontrói subtivamente em cada indivíduo e a cada momento exteriomente a ele dependendo de com quem ele se envolve e se envolve na linha de fuga da fsociety, no caso, que Elliot pressupõe.
Até que ponto há uma segurança da propriedade privada ou privacidade do indivíduo no capitalismo a partir da cibertecnologia da Internet, eis a questão que Mr. Robot coloca questionando toda a realidade paranoica desta segurança que uma revolução hacker visa sempre destruir e nenhum antivírus é capaz de impedir. Mr. Robot que é a última utopia anticapitalista, pois é uma utopia originada a partir do próprio capitalismo em sua crise constante em sua derradeira busca de superar a si mesmo a partir da cibertecnologia a qual foge, porém, ao seu controle como propriedade privada, e nenhuma segurança a partir dela é possível.
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