Spotlight - segredos não revelados
Spotlight - segredos revelados (Spotlight, 2015), filme de Tom McCarthy, é um filme arrasador em muitos sentidos, principalmente ao por em questão a nossa capacidade de saber a verdade, mas também de revelá-la quando a sabemos.
A busca pela verdade é algo inerente à capacidade de conhecer humana, seja a partir da religião ou da ciência, mais ainda da filosofia que fez da busca da verdade sua tarefa, no sentido que Benjamin atribui a esta palavra que é o mais simples e complicado de todos, o de dever, obrigação, algo que não pode faltar àquele que busca a verdade. A própria verdade a qual a filosofia busca, como a definiu Heidegger a partir do termo grego alétheia pressupõe já este dever ao se dizer não-esquecimento ou não-ocultamento, isto é, como algo que não deve ser esquecido ou ocultado, mais do que ser desvelado no sentido que Heidegger lê e interpreta esta palavra. Uma verdade, portanto, que já nos põe a tarefa de não esquecê-la durante todo o nosso ser-no-tempo, revelada a nós mesmo que não saibamos qual é em toda sua amplitude, que não a possamos revelar.
Com o desenvolvimento da imprensa moderna, a tarefa de buscar a verdade ganhou novos meios, não mais o religioso, o científico ou mesmo o filosófico, mas o jornalístico e os fatos passaram a ser obtidos sob um outro aspecto que não a relação com Deus ou com o conhecimento, filosófico ou científico. Deleuze e Guattari consideraram em sua última obra que a publicidade ou marketing seria o maior rival da filosofia atualmente por ela criar a todo instante conceitos, contudo, o jornalismo é muito mais preocupante do que isto, pois, assim como a ciência, os conceitos que cria, suas manchetes, são embasados em fatos cuja verdade ao se tornar pública é devastadora tanto quanto a descoberta da ciência em alguns casos. Porém, mais do que tornar público a verdade sobre um fato ou fatos como no caso do filme Spotlight, o que se pode perceber a partir de qualquer busca da verdade é a capacidade ainda maior de se ocultar a verdade, alcançando níveis até então inimagináveis.
Eis porque o subtítulo deste artigo é segredos não revelados e porque o filme Spotlight é tão arrasador ao questionar a nossa capacidade de saber a verdade, pois em vez de publicá-la, como é demonstrado no filme, geralmente preferimos escondê-la, torná-la privada, para o nosso bem ou para o bem de quem a verdade poderia ser um perigo, e por mais que a tarefa da imprensa seja publicá-la, há muitos interesses envolvidos a cada momento, inclusive, os interesses de imprensas rivais. Eis porque a verdade é sempre um segredo, algo que deve ser ocultado, mas também revelado para que outros o guardem para si, sobretudo para fazê-la permanecer no tempo, não ser esquecida. Como um fato que, por mais dolorido que seja, deve permanecer na memória de todos que estejam envolvido nele à espera de ser revelado a outrem e assim se manter no tempo.
A cada momento da busca pela verdade que os jornalistas do Spotlight empreendem em busca de mais casos sobre os abusos da Igreja Católica em Boston vemos a verdade se ocultar e se revelar passando de um a outro como um segredo a não ser revelado, extraoficialmente, sem que ninguém a torne pública. Mesmo quando se torna pública ou já é pública pela quantidade de pessoas que a conhecem há muito tempo, ela desvanece na frente de todos como algo que ninguém quer ver mesmo vendo ou quer saber mesmo sabendo. Um outra forma de esconder a verdade: dissimulando-a, isto é, vendo-a, mas não lhe dando muita importância, mesmo que seja vista por um padre, um advogado, um jornalista, todos subsumidos por um código moral que tem por objetivo esconder a verdade mais do que fazer com que ela se torne pública para o bem de todos.
Se o filme Spotlight, assim como os jornalistas do Spotlight, uma divisão de jornalismo investigativo do jornal The Boston Globe no qual ele foi baseado, estamparam a verdade sobre os abusos de poderes da Igreja Católica a partir de padres que abusaram sexualmente de crianças, nada nos garante que a verdade ainda esteja oculta por baixo das batinas dos padres de todo o mundo. Uma verdade que a Igreja jamais poderá esconder com todo o seu celibato que é a do desejo que leva muitos dos seus representantes a cometerem abusos contra crianças como os denunciados pelos jornalistas do Spotlight e apresentados no filme. Desejo que é o segredo não revelado de todo padre e representante da Igreja até que se revele da pior forma possível como violência àqueles que são fiéis a Deus, mas, para chegarem a Ele, devem se ajoelhar perante os padres subsumindo aos seus podres poderes.
Talvez este seja, por fim, o sentido mais arrasador deste filme: o de que assim como a batina dos padres esconde de todos a verdade de seus desejos, ela esconde uma verdade que a Igreja Católica não quer que ninguém saiba, mesmo que todos já saibam disso há muito tempo e não queiram saber, que ela não é a representante de Deus na terra, mas dos homens e mulheres que querem se religar a Deus por meio dela e que os representantes destes homens e mulheres são tão ou mais pecadores do que eles, dignos do mesmo perdão divino, mesmo que seja por algo imperdoável por muito e muito tempo...
A busca pela verdade é algo inerente à capacidade de conhecer humana, seja a partir da religião ou da ciência, mais ainda da filosofia que fez da busca da verdade sua tarefa, no sentido que Benjamin atribui a esta palavra que é o mais simples e complicado de todos, o de dever, obrigação, algo que não pode faltar àquele que busca a verdade. A própria verdade a qual a filosofia busca, como a definiu Heidegger a partir do termo grego alétheia pressupõe já este dever ao se dizer não-esquecimento ou não-ocultamento, isto é, como algo que não deve ser esquecido ou ocultado, mais do que ser desvelado no sentido que Heidegger lê e interpreta esta palavra. Uma verdade, portanto, que já nos põe a tarefa de não esquecê-la durante todo o nosso ser-no-tempo, revelada a nós mesmo que não saibamos qual é em toda sua amplitude, que não a possamos revelar.
Com o desenvolvimento da imprensa moderna, a tarefa de buscar a verdade ganhou novos meios, não mais o religioso, o científico ou mesmo o filosófico, mas o jornalístico e os fatos passaram a ser obtidos sob um outro aspecto que não a relação com Deus ou com o conhecimento, filosófico ou científico. Deleuze e Guattari consideraram em sua última obra que a publicidade ou marketing seria o maior rival da filosofia atualmente por ela criar a todo instante conceitos, contudo, o jornalismo é muito mais preocupante do que isto, pois, assim como a ciência, os conceitos que cria, suas manchetes, são embasados em fatos cuja verdade ao se tornar pública é devastadora tanto quanto a descoberta da ciência em alguns casos. Porém, mais do que tornar público a verdade sobre um fato ou fatos como no caso do filme Spotlight, o que se pode perceber a partir de qualquer busca da verdade é a capacidade ainda maior de se ocultar a verdade, alcançando níveis até então inimagináveis.
Eis porque o subtítulo deste artigo é segredos não revelados e porque o filme Spotlight é tão arrasador ao questionar a nossa capacidade de saber a verdade, pois em vez de publicá-la, como é demonstrado no filme, geralmente preferimos escondê-la, torná-la privada, para o nosso bem ou para o bem de quem a verdade poderia ser um perigo, e por mais que a tarefa da imprensa seja publicá-la, há muitos interesses envolvidos a cada momento, inclusive, os interesses de imprensas rivais. Eis porque a verdade é sempre um segredo, algo que deve ser ocultado, mas também revelado para que outros o guardem para si, sobretudo para fazê-la permanecer no tempo, não ser esquecida. Como um fato que, por mais dolorido que seja, deve permanecer na memória de todos que estejam envolvido nele à espera de ser revelado a outrem e assim se manter no tempo.
A cada momento da busca pela verdade que os jornalistas do Spotlight empreendem em busca de mais casos sobre os abusos da Igreja Católica em Boston vemos a verdade se ocultar e se revelar passando de um a outro como um segredo a não ser revelado, extraoficialmente, sem que ninguém a torne pública. Mesmo quando se torna pública ou já é pública pela quantidade de pessoas que a conhecem há muito tempo, ela desvanece na frente de todos como algo que ninguém quer ver mesmo vendo ou quer saber mesmo sabendo. Um outra forma de esconder a verdade: dissimulando-a, isto é, vendo-a, mas não lhe dando muita importância, mesmo que seja vista por um padre, um advogado, um jornalista, todos subsumidos por um código moral que tem por objetivo esconder a verdade mais do que fazer com que ela se torne pública para o bem de todos.
Se o filme Spotlight, assim como os jornalistas do Spotlight, uma divisão de jornalismo investigativo do jornal The Boston Globe no qual ele foi baseado, estamparam a verdade sobre os abusos de poderes da Igreja Católica a partir de padres que abusaram sexualmente de crianças, nada nos garante que a verdade ainda esteja oculta por baixo das batinas dos padres de todo o mundo. Uma verdade que a Igreja jamais poderá esconder com todo o seu celibato que é a do desejo que leva muitos dos seus representantes a cometerem abusos contra crianças como os denunciados pelos jornalistas do Spotlight e apresentados no filme. Desejo que é o segredo não revelado de todo padre e representante da Igreja até que se revele da pior forma possível como violência àqueles que são fiéis a Deus, mas, para chegarem a Ele, devem se ajoelhar perante os padres subsumindo aos seus podres poderes.
Talvez este seja, por fim, o sentido mais arrasador deste filme: o de que assim como a batina dos padres esconde de todos a verdade de seus desejos, ela esconde uma verdade que a Igreja Católica não quer que ninguém saiba, mesmo que todos já saibam disso há muito tempo e não queiram saber, que ela não é a representante de Deus na terra, mas dos homens e mulheres que querem se religar a Deus por meio dela e que os representantes destes homens e mulheres são tão ou mais pecadores do que eles, dignos do mesmo perdão divino, mesmo que seja por algo imperdoável por muito e muito tempo...
Muito boa resenha Este filme é bom pelo ator Michael Keaton. Lembro dos seus papeis iniciais, em comparação com os seus filmes atuais, e vejo muita evolução, mostra personagens com maior seguridade e que enchem de emoções ao expectador. Também desfrutei muito sua atuação no filme sobre McDonald's no ano passado. É de admirar o profissionalismo deste ator, trabalha muito para se entregar em cada atuação o melhor, sempre supera seus papeis anteriores. Se vocês são amantes do trabalho desse ator este é um filme que não devem deixar de ver.
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