O filósofo e os sofistas
A expressão o filósofo é ambígua. Ela é semelhante à palavra phármakon utilizada por Platão e desconstruída pelo filósofo Jacques Derrida em seu ensaio A farmácia de Platão que demonstra a partir da palavra phármakon de Platão como as palavras podem ser tanto um remédio (phármakon) como um veneno (phármakon) dependendo de como são utilizadas.
A ambiguidade da palavra phármakon que pode ser tanto um remédio como um veneno não seria uma ambiguidade em particular de uma palavra, mas uma ambiguidade que estaria presente em toda a linguagem de modo indecidível. Ao se remeter à indecidibilidade das palavras a partir do phármakon, Derrida não quer dizer que por meio de palavras indecidíveis não saberíamos mais o que nos faz bem e o que nos faz mal numa relatividade absoluta, mas que temos que nos colocar sempre diante delas de um modo desconstrutivo, isto é, sempre avaliando-as o que elas querem dizer afirmando-as e negando-as quanto o que é o bem e o mal que elas podem fazer a nós e aos outros. E a partir disto sermos senão éticos tanto em relação às palavras ou ao que dizemos como às pessoas e tudo que está ao nosso redor, sempre tentando saber o que nos é remédio e o que nos é veneno como os indígenas fazem alhures no tempo em seu meio ambiente.
Assim como a palavra phármakon a expressão o filósofo, ela pode ser tanto utilizada para o bem como para o mal ao designar alguém ou o que ele fala. Ela pode tanto ser uma valorização daquele que fala e do que fala atribuindo a uma pessoa e o que fala características do saber filosófico constituído ao longo do tempo numa tentativa de fazer bem a ela ao chamá-la de filósofa, como pode ser uma depreciação daquele que fala e do que fala justamente pelas características do saber filosófico constituído ao longo do tempo, mas numa tentativa de fazer mal à pessoa e não por menos a todos que são filósofos depreciando-os. Um bom exemplo de como fazer mal a alguém depreciando-o ao chamá-lo de o filósofo, e de como depreciar os filósofos em contrapartida, pode ser visto no texto O analfabetismo político de Tico Santa Cruz, de Kin Kataguiri, o coordenador nacional do Movimento Brasil Livre, um texto que se presta a muitos papéis e desconstruções e que se fosse impresso ganharia uma utilidade mais ampla em muito banheiro público.
Quem primeiro se chamou de filósofo, segundo a história da filosofia, foi Pitágoras de Samos, no século V, na Grécia antiga, ao juntar duas palavras philo e sophia. Estas palavras derivam de outras duas, philia e sóphos, que querem dizer respectivamente "amizade, amor fraterno e respeito entre os iguais" e "sábio", o que, a partir destes significados, se tornou costume dizer da filosofia (philosophia) que ela quer dizer amizade, amor fraterno e respeito ao saber ou à sabedoria. E por uma economia maior de palavras, simplesmente amor ao saber, ou ainda, amar saber.
A economia de palavras ou economia linguística é um problema histórico tanto quanto a economia de dinheiro e qualquer tipo de sustento, pois há sempre perdas e ganhos quando se usa as palavras e quando elas são trocadas adquirindo um novo valor. Por isso é sempre bom saber um pouco mais sobre o rendimento delas, as consequências de sua aplicação em determinado momento. No caso da palavra philo ela fez perder a dimensão de entre iguais que tinha a palavra philia e deu a ela uma característica mais ampla. Já a palavra sophia reteve aquilo que o sábio tem, a sabedoria, deixando para trás o que ele é. Neste sentido, philo, diferente de philia é uma amizade, amor e respeito incondicional e não apenas restrito a quem é considerado como igual ou irmão (fraterno), algo que acontece também com a sophia que é uma sabedoria que não se restringe mais ao sábio, mas a todos que amam saber.
Além da economia das palavras é preciso também conhecer o gesto que está por traz desta economia, isto é, a intenção com o perde e ganha de palavras, pois ao se nomear filósofo, Pitágoras inicia um jogo econômico que vai ser muito comum na história da economia das palavras do qual o filósofo não escapa hoje em dia, muito comum principalmente no Brasil até onde se pode observar. Trata-se de um jogo em que a diferença de nomeação implica por um lado, a perda de autoridade por parte de alguns e, por outro, o ganho dela por parte dos outros. No caso, do filósofo, ele retira a autoridade dos sábios em relação ao saber, que era uma autoridade religiosa em muitos aspectos, e ganha esta autoridade sem necessariamente se tornar religioso ao se nomear então como filósofo. Uma autoridade que ele dificilmente quer que lhe tirem como demonstraram Deleuze e Guattari em O que é a filosofia?, quando os amigos do saber (os filósofos) se opõem aos inimigos do saber, todos aqueles que pretendem o saber dito verdadeiro que o filósofo detém pressupostamente. Amigos do saber que tem no filósofo Sócrates o seu principal representante ao fazer com os sofistas o mesmo que Pitágoras fez com os sábios, contudo, ampliando o jogo econômicos de palavras, pois em Pitágoras pode-se ver uma pretensão de saber tanto quanto o sábio sabe e não, por assim dizer, uma pretensão de saber mais do que o sábio sabe. De certo modo, ele quer apenas a sabedoria tanto quanto o sábio, e não mais ou melhor que ele, apesar disto ainda ser indecidível quando ele se proclama filósofo.
Se com Sócrates o jogo econômico ganha peso e perde medidaé porque quando ele chama seus oponentes de sofistas, como eles se proclamavam de fato em público, já não se tem mais dúvida do que ele pretende com isto, qual sua intenção de fato. Ao se remeter também à sabedoria e ao saber segundo a etimologia da palavra sofista, os sofistas se tornaram os principais rivais de Sócrates em sua época em busca da verdade presente no saber e na sabedoria detida pelo filósofo, segundo pensava o maior filósofo grego neste período, no caso, o próprio Sócrates, o mais sábio de todos segundo o Oráculo de Delfos, mesmo que ele não quisesse esta alcunha. Para entender isto, a etimologia da palavra sofista demonstra o que está em jogo nestas nomeações em relação ao saber e à sabedoria, principalmente quanto Platão, o principal defensor de Sócrates e do filósofo entre em cena dando ao jogo econômico de palavras toda uma lógica que até então era apenas aparente ainda que essencialmente se possa dizer que era assim desde Pitágoras, ou Tales de Mileito ao ser proclamado o primeiro filósofo, ainda que proclamado também sábio pelos antigos, o último sábio neste caso. Quanto à etimologia do sofista como nome, tem-se, portanto, que:
Contudo, é preciso sempre lembrar de desconstruir esta arte e jogo econômico linguístico pensando no phármakon presente em cada palavra, ainda mais lembrando que o que os filósofos fizeram com os sofistas é feito agora com eles quando se deprecia alguém chamando-o de o filósofo. Pois o que se deprecia com isto não é simplesmente uma pessoa, mas todos aqueles que amam saber a verdade, tal como Pitágoras pensava de certo modo e como Sócrates, Platão e Aristóteles disseram utilizando o sofista como oposto dialético para explicar isto, levando, portanto, às últimas consequências o que se pode fazer com as palavras quando se quer saber mais do que outro, bem como se fazer a alguém por meio delas. Algo que tanto pode fazer bem como mal ao outro, mas também a si mesmo desde que cada palavra (phármakon) seja tomada na medida certa, que não é o homem, mas a vida que se quer manter sempre como tal diante de qualquer violência a ela, de tudo que a venha depreciar, agredir ou matar, ainda que com palavras e em pensamento.
Vida que se quer sempre remediar para que não morra envenenada e cujo remédio ainda que amargo deve ser dado àqueles que a querem mortificar com palavras e pensamentos sem amar o saber, apenas depreciando-o, com isto, depreciando a própria vida que precisa do amor ao saber para se manter senão viva.
A ambiguidade da palavra phármakon que pode ser tanto um remédio como um veneno não seria uma ambiguidade em particular de uma palavra, mas uma ambiguidade que estaria presente em toda a linguagem de modo indecidível. Ao se remeter à indecidibilidade das palavras a partir do phármakon, Derrida não quer dizer que por meio de palavras indecidíveis não saberíamos mais o que nos faz bem e o que nos faz mal numa relatividade absoluta, mas que temos que nos colocar sempre diante delas de um modo desconstrutivo, isto é, sempre avaliando-as o que elas querem dizer afirmando-as e negando-as quanto o que é o bem e o mal que elas podem fazer a nós e aos outros. E a partir disto sermos senão éticos tanto em relação às palavras ou ao que dizemos como às pessoas e tudo que está ao nosso redor, sempre tentando saber o que nos é remédio e o que nos é veneno como os indígenas fazem alhures no tempo em seu meio ambiente.
Assim como a palavra phármakon a expressão o filósofo, ela pode ser tanto utilizada para o bem como para o mal ao designar alguém ou o que ele fala. Ela pode tanto ser uma valorização daquele que fala e do que fala atribuindo a uma pessoa e o que fala características do saber filosófico constituído ao longo do tempo numa tentativa de fazer bem a ela ao chamá-la de filósofa, como pode ser uma depreciação daquele que fala e do que fala justamente pelas características do saber filosófico constituído ao longo do tempo, mas numa tentativa de fazer mal à pessoa e não por menos a todos que são filósofos depreciando-os. Um bom exemplo de como fazer mal a alguém depreciando-o ao chamá-lo de o filósofo, e de como depreciar os filósofos em contrapartida, pode ser visto no texto O analfabetismo político de Tico Santa Cruz, de Kin Kataguiri, o coordenador nacional do Movimento Brasil Livre, um texto que se presta a muitos papéis e desconstruções e que se fosse impresso ganharia uma utilidade mais ampla em muito banheiro público.
Quem primeiro se chamou de filósofo, segundo a história da filosofia, foi Pitágoras de Samos, no século V, na Grécia antiga, ao juntar duas palavras philo e sophia. Estas palavras derivam de outras duas, philia e sóphos, que querem dizer respectivamente "amizade, amor fraterno e respeito entre os iguais" e "sábio", o que, a partir destes significados, se tornou costume dizer da filosofia (philosophia) que ela quer dizer amizade, amor fraterno e respeito ao saber ou à sabedoria. E por uma economia maior de palavras, simplesmente amor ao saber, ou ainda, amar saber.
A economia de palavras ou economia linguística é um problema histórico tanto quanto a economia de dinheiro e qualquer tipo de sustento, pois há sempre perdas e ganhos quando se usa as palavras e quando elas são trocadas adquirindo um novo valor. Por isso é sempre bom saber um pouco mais sobre o rendimento delas, as consequências de sua aplicação em determinado momento. No caso da palavra philo ela fez perder a dimensão de entre iguais que tinha a palavra philia e deu a ela uma característica mais ampla. Já a palavra sophia reteve aquilo que o sábio tem, a sabedoria, deixando para trás o que ele é. Neste sentido, philo, diferente de philia é uma amizade, amor e respeito incondicional e não apenas restrito a quem é considerado como igual ou irmão (fraterno), algo que acontece também com a sophia que é uma sabedoria que não se restringe mais ao sábio, mas a todos que amam saber.
Além da economia das palavras é preciso também conhecer o gesto que está por traz desta economia, isto é, a intenção com o perde e ganha de palavras, pois ao se nomear filósofo, Pitágoras inicia um jogo econômico que vai ser muito comum na história da economia das palavras do qual o filósofo não escapa hoje em dia, muito comum principalmente no Brasil até onde se pode observar. Trata-se de um jogo em que a diferença de nomeação implica por um lado, a perda de autoridade por parte de alguns e, por outro, o ganho dela por parte dos outros. No caso, do filósofo, ele retira a autoridade dos sábios em relação ao saber, que era uma autoridade religiosa em muitos aspectos, e ganha esta autoridade sem necessariamente se tornar religioso ao se nomear então como filósofo. Uma autoridade que ele dificilmente quer que lhe tirem como demonstraram Deleuze e Guattari em O que é a filosofia?, quando os amigos do saber (os filósofos) se opõem aos inimigos do saber, todos aqueles que pretendem o saber dito verdadeiro que o filósofo detém pressupostamente. Amigos do saber que tem no filósofo Sócrates o seu principal representante ao fazer com os sofistas o mesmo que Pitágoras fez com os sábios, contudo, ampliando o jogo econômicos de palavras, pois em Pitágoras pode-se ver uma pretensão de saber tanto quanto o sábio sabe e não, por assim dizer, uma pretensão de saber mais do que o sábio sabe. De certo modo, ele quer apenas a sabedoria tanto quanto o sábio, e não mais ou melhor que ele, apesar disto ainda ser indecidível quando ele se proclama filósofo.
Se com Sócrates o jogo econômico ganha peso e perde medidaé porque quando ele chama seus oponentes de sofistas, como eles se proclamavam de fato em público, já não se tem mais dúvida do que ele pretende com isto, qual sua intenção de fato. Ao se remeter também à sabedoria e ao saber segundo a etimologia da palavra sofista, os sofistas se tornaram os principais rivais de Sócrates em sua época em busca da verdade presente no saber e na sabedoria detida pelo filósofo, segundo pensava o maior filósofo grego neste período, no caso, o próprio Sócrates, o mais sábio de todos segundo o Oráculo de Delfos, mesmo que ele não quisesse esta alcunha. Para entender isto, a etimologia da palavra sofista demonstra o que está em jogo nestas nomeações em relação ao saber e à sabedoria, principalmente quanto Platão, o principal defensor de Sócrates e do filósofo entre em cena dando ao jogo econômico de palavras toda uma lógica que até então era apenas aparente ainda que essencialmente se possa dizer que era assim desde Pitágoras, ou Tales de Mileito ao ser proclamado o primeiro filósofo, ainda que proclamado também sábio pelos antigos, o último sábio neste caso. Quanto à etimologia do sofista como nome, tem-se, portanto, que:
A palavra sofista (do grego sophistes) deriva das palavras sophia e sophos, que significam "sabedoria" ou "sábio" desde os tempos de Homero e foi originalmente usada para descrever a experiência em um conhecimento ou ofício em particular[4] . Aos poucos, porém, a palavra também veio a denotar sabedoria geral e especialmente sabedoria sobre os assuntos humanos (por exemplo, política, ética ou gestão doméstica). Este foi o significado atribuído ao grego Sete Sábios do 7º e 6º séculos a.C. (como Sólon e Tales), e foi este o significado que apareceu nas histórias de Heródoto[5] . Diz Platão que os sofistas não se preocupam em absoluto com obter a solução certa, mas desejam unicamente conseguir que todos os ouvintes estejam de acordo com eles[6]. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Sofisma)A rivalidade entre o filósofo, no caso Sócrates, mas também Platão e Aristóteles, e os sofistas representa mais do que a pretensão de uns e outros a deterem o saber ou a sabedoria sobre algo, mas o que se pode fazer e o que se faz para isto. No caso do filósofo, o que Sócrates e seus defensores Platão e Aristóteles fazem com os sofistas é algo que para sempre será marcado na história da filosofia como a maior depreciação de alguém e do que diz que se pode fazer em relação ao saber na medida em que também as derivações da palavra sofista fazem menção a algo depreciativo, como a palavra sofisma em sua etimologia:
Sofisma ou sofismo (do grego antigo σόϕισμα -ατος, derivado de σοϕίξεσϑαι "fazer raciocínios capciosos") em filosofia, é um raciocínio ou falácia se chama a uma refutação aparente, refutação sofística e também a um silogismo aparente[1] , ou silogismo sofístico, mediante os quais se quer defender algo falso e confundir o contraditor[2]. Não devemos confundir os sofismas com os paralogismos: os primeiros procedem da má fé, os segundos, da ignorância[3]. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Sofisma)Os sofistas, porém, sabiam mais do que ninguém o que representa esta depreciação, pois eles a inventaram na medida em que fizeram do homem a medida de todas as coisas, segundo o pensamento de Protágoras, e valorizaram como medida para todas as coisas a retórica e a persuasão, segundo o que se diz deles. A retórica como a arte de falar bem em público e a persuasão como o fim para este falar bem, no caso, o fim de convencer alguém de que o que diz é verdade a partir do modo como fala ou utiliza a linguagem. Pois, desse ponto de vista, eles criaram senão o jogo econômico linguístico tal como o que se conhece hoje na política, no direito e na própria economia, sobretudo na educação e na imprensa no qual falar bem e convencer os outros de sua opinião é uma arte indispensável.
Contudo, é preciso sempre lembrar de desconstruir esta arte e jogo econômico linguístico pensando no phármakon presente em cada palavra, ainda mais lembrando que o que os filósofos fizeram com os sofistas é feito agora com eles quando se deprecia alguém chamando-o de o filósofo. Pois o que se deprecia com isto não é simplesmente uma pessoa, mas todos aqueles que amam saber a verdade, tal como Pitágoras pensava de certo modo e como Sócrates, Platão e Aristóteles disseram utilizando o sofista como oposto dialético para explicar isto, levando, portanto, às últimas consequências o que se pode fazer com as palavras quando se quer saber mais do que outro, bem como se fazer a alguém por meio delas. Algo que tanto pode fazer bem como mal ao outro, mas também a si mesmo desde que cada palavra (phármakon) seja tomada na medida certa, que não é o homem, mas a vida que se quer manter sempre como tal diante de qualquer violência a ela, de tudo que a venha depreciar, agredir ou matar, ainda que com palavras e em pensamento.
Vida que se quer sempre remediar para que não morra envenenada e cujo remédio ainda que amargo deve ser dado àqueles que a querem mortificar com palavras e pensamentos sem amar o saber, apenas depreciando-o, com isto, depreciando a própria vida que precisa do amor ao saber para se manter senão viva.
Nenhum comentário: