A desconstrução da linguagem e o fim do livro
Em 1967, quando Jacques Derrida anunciou em um dos capítulos de seu livro Gramatalogia (De la gramatologie) "O fim do livro" como a maior expressão da desconstrução da linguagem, que acontecia já naquele momento de modo mais intenso, mas prevista desde seu alvorecer, muitos foram os contrassensos surgidos seja quanto à "sua" desconstrução da linguagem seja quanto ao pressuposto "fim do livro". Algo que o fechamento ano passado da editora Cosac Naify e da livraria Lua Nova no início deste ano talvez nos faz entender entender melhor sejam estes contrassensos, seja como Derrida fizera em seu livro um anúncio do fim do livro.
Muitas foram as defesas de Derrida quanto a um pensamento obscuro sobre a desconstrução, seus livros e sobre si mesmo, e não se trata aqui de repeti-lo, mas pensar como a desconstrução que ele se atribuiu de certo modo como "método" e que muitos praticam à sua semelhança como discípulos, nunca ele a tendo ensinado, não se trata de um método propriamente seu, mas de uma época (epoché) que se começara a se fazer no início da fala humana ou antes mesmo dela, é a partir da segunda metade do século XX que ela se torna mais incisiva em sua "presença". Tal época é a época da escritura na qual se coloca em questão a desconstrução daquilo que Derrida chamou de "etnocentrismo mais original e mais poderoso" até então, o de uma metafísica da escritura que ele denominou por logocentrismo e que, pensava ele à època, mas se pode dizer seguramente que ainda:
pensamento que não se fala e não se escreve senão falando e escrevendo a si mesmo, isto é, em rasura, e não em razão, de si mesmo.
Eis porque de um certo modo a desconstrução da linguagem e o fim do livro não querem dizer a destruição da linguagem (falada) e do livro eles mesmos tal como se conhece através de uma gramatologia ou ciência da escritura. Em primeiro lugar, por não se tratar de uma desconstrução propriamente dita, isto é, levado ao fim e a termo, deixando-se simplesmente de falar ou escrever os pensamentos. Em segundo lugar, porque esta desconstrução não pode ser feita por alguém, de qualquer modo ou por qualquer meio simplesmente, apenas aludida por alguém, de um determinado modo ou por determinados meios, sem nunca atingir o objetivo de destruir a linguagem (falada) ou o livro o qual nunca foi seu objetivo mesmo. Em terceiro lugar, porque a desconstrução da linguagem e o fim do livro são apenas pressupostos pelo pensamento em sua expressão na medida em que nem a linguagem (falada) nem a escritura o podem expressar totalmente em sua unidade tal como se pretendeu pensar e dominar a partir delas o pensamento mesmo no que ele quer dizer.
Há muitos modos e meios de expressão do pensamento além de poder ele ser expressado por muitos alguéns. Esta é a expressão maior da desconstrução da linguagem (falada) e do fim do livro que Derrida anunciara em "sua" gramatologia que pode ainda se expressar de tantos modos e meios possíveis por qualquer alguém, pois ela não é a limitação do pensamento num determinado meio, a linguagem ou a escritura, de um determinado modo ou num determinado discurso (logos), senão, como a liberação dele em "signos" que se já não significam nada é porque são por isto mesmo livres em sua expressão, impassíveis de dominação, indecidíveis no momento mesmo que o querem seguir ao pé da letra.
O fechamento da editora Cosac Naify e da livraria Lua Nova seriam as marcas da desconstrução da linguagem (falada) e do fim da livro como encerramento da escritura num espaço-tempo determinado de uma época cujas mídias liberam cada vez mais o pensamento da linguagem (falada) e do livro como sua expressão, ainda que eles sejam seus meios mais presentes. Se há uma questão econômica nisto, é apenas restrita a um discurso que pretende reduzir o pensamento a motivos que não são os deles, como o de uma crise nas vendas e consumo de livros. Em vão se pensaria com isto, como se pensa e noticia costumeiramente, que as pessoas estão deixando de ler mais, como se pensa que elas estão deixando de conversar mais com o uso das novas tecnologias, os diversos tipos de mídias nos quais o pensamento se transcreve de modo "falado" e "escrito". Este é mais um dos efeitos da época da escritura, não a original que Derrida analisa, mas a escritura tal como a conhecemos ao inverter se inverter nesta época mais do que em outras a precedência da fala em relação ao pensamento, não sendo ela a mais próxima dele com a escritura em segundo lugar, senão o inverso. Isto porque como anunciara também Derrida e cada vez mais se percebe hoje em dia com outros termos, "todo o campo coberto pelo programa cibernético será campo de escritura (grifo dele)", o que não quer dizer que o "programa cibernético", como pensam muitos outros, é livro de toda e qualquer metafísica, pois ele supõe já em sua época com uma certeza já prevista que:
Assim, para usar uma metáfora, uma metafísica e uma teologia, se Deus ao fechar uma porta, abre uma janela, ao se fechar uma editora, uma livraria ou um livro quando ele chega ao fim, ou mesmo uma mídia atualmente, é o pensamento que se liberta e é sempre ele que pretende libertar a gramatologia em sua desconstrução.
Muitas foram as defesas de Derrida quanto a um pensamento obscuro sobre a desconstrução, seus livros e sobre si mesmo, e não se trata aqui de repeti-lo, mas pensar como a desconstrução que ele se atribuiu de certo modo como "método" e que muitos praticam à sua semelhança como discípulos, nunca ele a tendo ensinado, não se trata de um método propriamente seu, mas de uma época (epoché) que se começara a se fazer no início da fala humana ou antes mesmo dela, é a partir da segunda metade do século XX que ela se torna mais incisiva em sua "presença". Tal época é a época da escritura na qual se coloca em questão a desconstrução daquilo que Derrida chamou de "etnocentrismo mais original e mais poderoso" até então, o de uma metafísica da escritura que ele denominou por logocentrismo e que, pensava ele à època, mas se pode dizer seguramente que ainda:
hoje está em vias de se impor ao planeta, e que comanda, numa única e mesma ordem: 1. o conceito de escritura... 2. a história da metafísica... 3. o conceito da ciência ou da cientificidade da ciência - o que sempre foi determinado com lógica... (Derrida, 2004, pp. 3-4)Se a Gramatologia como ciência da escritura buscaria com esforços decisivos liberar seus "signos" deste logocentrismo através de uma desconstrução da linguagem que implicaria a desconstrução da metáfora, da metafísica e da teologia da escritura, ainda que discretamente, de modo disperso e quase imperceptível à época em que Derrida a descrevera, ela hoje se faz mais presente do que nunca ainda que ela nunca venha à luz, como sugeriu Derrida, como ciência estudada em seu nome como disciplina em seu discurso, método e campo e objeto. Isto porque, podemos dizer hoje, a gramatologia não é uma ciência específica da escritura, um estudo detalhado do que esta é em seus aspectos propriamente literais, pois ela é avant la lettre, isto é, se faz "antes do estado definitivo; antes do seu inteiro desenvolvimento" ou "antes de o termo existir", ou ainda, "existe antes mesmo de existir o próprio termo que o define" e sempre. Em outras palavras, se a gramatologia é uma ciência da escritura é de uma escritura antes da escritura tal como a conhecemos e que se impõe de modo metafórico, metafísico e teológico, e científico, a partir da letra, do alfabeto, da escrita alfabética em seu discurso; uma escritura anterior ademais à fala que produz a metáfora, metafísica e teologia da escritura tal como é conhecida como seu suplemento, sua representante, sempre secundária; uma escritura enfim que é origem da fala e da escritura como arquiescritura, a do
Eis porque de um certo modo a desconstrução da linguagem e o fim do livro não querem dizer a destruição da linguagem (falada) e do livro eles mesmos tal como se conhece através de uma gramatologia ou ciência da escritura. Em primeiro lugar, por não se tratar de uma desconstrução propriamente dita, isto é, levado ao fim e a termo, deixando-se simplesmente de falar ou escrever os pensamentos. Em segundo lugar, porque esta desconstrução não pode ser feita por alguém, de qualquer modo ou por qualquer meio simplesmente, apenas aludida por alguém, de um determinado modo ou por determinados meios, sem nunca atingir o objetivo de destruir a linguagem (falada) ou o livro o qual nunca foi seu objetivo mesmo. Em terceiro lugar, porque a desconstrução da linguagem e o fim do livro são apenas pressupostos pelo pensamento em sua expressão na medida em que nem a linguagem (falada) nem a escritura o podem expressar totalmente em sua unidade tal como se pretendeu pensar e dominar a partir delas o pensamento mesmo no que ele quer dizer.
Há muitos modos e meios de expressão do pensamento além de poder ele ser expressado por muitos alguéns. Esta é a expressão maior da desconstrução da linguagem (falada) e do fim do livro que Derrida anunciara em "sua" gramatologia que pode ainda se expressar de tantos modos e meios possíveis por qualquer alguém, pois ela não é a limitação do pensamento num determinado meio, a linguagem ou a escritura, de um determinado modo ou num determinado discurso (logos), senão, como a liberação dele em "signos" que se já não significam nada é porque são por isto mesmo livres em sua expressão, impassíveis de dominação, indecidíveis no momento mesmo que o querem seguir ao pé da letra.
O fechamento da editora Cosac Naify e da livraria Lua Nova seriam as marcas da desconstrução da linguagem (falada) e do fim da livro como encerramento da escritura num espaço-tempo determinado de uma época cujas mídias liberam cada vez mais o pensamento da linguagem (falada) e do livro como sua expressão, ainda que eles sejam seus meios mais presentes. Se há uma questão econômica nisto, é apenas restrita a um discurso que pretende reduzir o pensamento a motivos que não são os deles, como o de uma crise nas vendas e consumo de livros. Em vão se pensaria com isto, como se pensa e noticia costumeiramente, que as pessoas estão deixando de ler mais, como se pensa que elas estão deixando de conversar mais com o uso das novas tecnologias, os diversos tipos de mídias nos quais o pensamento se transcreve de modo "falado" e "escrito". Este é mais um dos efeitos da época da escritura, não a original que Derrida analisa, mas a escritura tal como a conhecemos ao inverter se inverter nesta época mais do que em outras a precedência da fala em relação ao pensamento, não sendo ela a mais próxima dele com a escritura em segundo lugar, senão o inverso. Isto porque como anunciara também Derrida e cada vez mais se percebe hoje em dia com outros termos, "todo o campo coberto pelo programa cibernético será campo de escritura (grifo dele)", o que não quer dizer que o "programa cibernético", como pensam muitos outros, é livro de toda e qualquer metafísica, pois ele supõe já em sua época com uma certeza já prevista que:
Supondo-se que teoria da cibernética possa desalojar de seu interior todos os conceitos metafísicos - e até mesmo os de alma, de vida, de valor, de escolha, de memória - que serviam antigamente para opor a máquina ao homem, ela terá de conservar, até denunciar-se também a sua pertencença histórica-metafísica, a noção de escritura, de traço, de grama ou de grafema. (Derrida, 2004, p. 11)É em vão que se considera o programa cibernético levada a cabo pelas novas tecnologias midiáticas ou as máquinas, mais precisamente mídias (máquinas que funcionam como base em programas, isto é, softwares), que lhe servem de suporte, como se eles estivessem a restringir a linguagem (falada) ou o livro. Como observara Derrida, a linguagem (falada) e o livro como metafísica, metáfora ou teologia do mundo inflacionaram e já não são mais hoje o suporte privilegiado do pensamento, ainda que as mídias não sejam o primeiro, pois não se trata de pensar quem é quem não é primeiro ou o fundamento do pensamento e do mundo, se a fala, a escrita (livro) ou as mídias mesmas, mas o que prepondera em sua expressão. No caso, hoje, indiscutivelmente, as mídias.
Assim, para usar uma metáfora, uma metafísica e uma teologia, se Deus ao fechar uma porta, abre uma janela, ao se fechar uma editora, uma livraria ou um livro quando ele chega ao fim, ou mesmo uma mídia atualmente, é o pensamento que se liberta e é sempre ele que pretende libertar a gramatologia em sua desconstrução.
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