O telescópio de Galileu e a telescopia da vida moderna
O telescópio¹ de Galileu é o princípio de toda modernidade que vivemos ainda hoje. A partir dele não apenas mudamos o modo como olhamos o mundo, com o auxílio da ciência e tecnologia desde então, mudamos também nosso olhar o mundo, e, mais ainda, percebemos que o nosso olhar o mundo não é algo fixo, mas que se foca num determinado lugar e momento, concentrando-se por um breve momento em algo, depois se desfocando e desconcentrando-se e isto constantemente.
A história deste filósofo italiano renascentista, que viveu entre meados do século XVI e XVII é fantástica não apenas por suas descobertas científicas, mas também pelo que foi sua vida, ainda emblemática do que significa ser filósofo e cientista. Se levarmos em conta A vida de Galileu Galilei, peça teatral de Brecht, podemos perceber que o telescópio foi, sim, uma invenção sua, apesar de não ter sido patenteado com ele. Pois para um fabricante de óculos, como Hans Lippershey, que patenteou o telescópio, mesmo a palavra tendo sido inventada somente em 1611, na Itália, aquela invenção era mais um óculos, apena algo para se ver melhor alguma coisa, com um alcance limitado e nunca algo que ele pensaria que servisse para abalar definitivamente a visão de mundo que se tinha até então, como foi depois que Galileu construiu seu próprio telescópio.
Neste sentido, há algo interessante em relação a este que é o momento marcante do renascimento filosófico e científico da modernidade, bem como desta, pois, assim como a filosofia sofreu uma revolução com o pensamento de Sócrates, mas foi inventada enquanto palavra muito antes, pressupostamente por Pitágoras, apesar de um "amor à sabedoria" já existir antes deste, desde Tales de Mileto, somente com Galileu, a palavra telescópio ganhou a finalidade revolucionária que tem ainda hoje, de formas diversas, não apenas para filósofos e cientistas, mas para todo mundo.
O telescópio de Galileu não é, portanto, apenas um instrumento filosófico científico tecnológico, ele é propriamente um conceito inventado por Galileu, assim como a "água" de Tales de Mileto, a partir da qual ele concebeu tudo e toda a filosofia antiga a partir dele. Dito de outro modo, para justamente que não se confunda o material com o imaterial, ele criou com o telescópio, o que se poderia chamar hoje de telescopia,² que é propriamente a possibilidade de uma mudança no olhar (skopein), de ponto de vista, de foco, bem como de tudo que é visto no olhar. Em outras palavras, ele criou uma différance no olhar, isto é, um espaçamento e uma temporalização diferente dele e do que é visto por ele e que hoje podemos perceber facilmente em nossa vida moderna com a utilização das mais recentes tecnologias.
O espaçamento e a temporalização do olhar a partir de uma telescopia é produzido justamente quando utilizamos um telescópio, pelo movimento ocular fundido ao movimento do telescópio que pode ser percebido em seu modo estático ou constante na descrição que faz G. Frege da utilização do telescópio para ver a lua, que é senão aquilo que Galileu fez, mas não pensava do modo de Frege, nem do modo como pensamos aqui o que Galileu fez e Frege diz que fez:
A mudança no olhar ou telescopia produzida pelo telescópio não é algo propriamente tecnológico ou científico, como se pode perceber ainda pela descrição de Frege. Ela diz respeito propriamente ao modo como alguém observa as coisas, como a lua, que pode ser vista por vários observadores simultaneamente e pode ter a sua própria imagem da lua com ou sem telescópio, mas não sem telescopia, que é justamente o movimento de observar de alguém que muda necessariamente a cada instante, tanto quanto as coisas ao seu redor. E que, deste modo, pode-se medir a revolução que as novas tecnologias produzem hoje em nossa visão de mundo senão pela revolução produzida pelo telescópio de Galileu, posto que as tecnologias de hoje fazem perceber ainda mais a possibilidade de uma mudança no olhar com os televisores móveis aumentando nosso alcance de visão sobre o mundo (natural e social) da mesma forma que os telescópios lançados no espaço sideral, como o Hubble, aumentaram nosso alcance de visão do universo e mudam a cada momento nosso olhar sobre ele. E, obviamente, não é do mesmo modo que cada um vê as imagens produzidas nos televisores móveis e no Hubble, ainda que o que se vê tenha a mesma geometria, isto é, a mesma forma definida no espaço para todos.
A geometria a que se refere Frege pode ser vista aqui propriamente como a verdade para todos que se é de modo única, congruente, já que ninguém ver a lua quadrada, isto é, diz do círculo que ele é quadrado, também não se pode negar que todos veem aquilo que está em sua frente, e se chama aquilo de "lua" ou "hipopótamo", ninguém pode negar que vê algo. Porém, esta verdade é relativa e não absoluta, pois sua congruência geométrica ou espacial depende do telescópio ou da retina, isto é, depende da observação que se faz nestes dois casos, num e noutra, em ambos ao mesmo tempo. E, deste modo, a verdade deixa de ser absoluta justamente quando alguém observa a lua através de um telescópio, e tudo em sua volta muda, mas não de espaço, pois tudo está sempre no mesmo lugar, ocupando um espaço, e sim, de foco, isto é, no olhar, pois, agora, o olhar no telescópio não é o mesmo que o olhar sem o telescópio, assim como o olhar displicente não é o mesmo que o olhar atento.
A mudança no olhar é uma mudança, portanto, no foco, isto é, uma mudança em nossa maior ou menor concentração em algo, material ou imaterial, coisa ou pensamento. Foi isto que Galileu fez em sua época com o telescópio e o que fazem hoje os cientistas com os telescópios móveis, é o que fazemos hoje com as televisões e os televisores móveis. É o que fazemos naturalmente, independente de qualquer tecnologia com nossos olhos e, em tudo isto, diferentemente do que se diz, os objetos não aumentam ou diminuem de tamanho, tão pouco se tornam mais perto ou mais longe em distância, apenas concentramos mais e menos o nosso olhar nele, mudando nossa visão deles dependendo do quanto nos concentramos em cada um ou em vários aspectos dele, como fez Galileu justamente ao observar que a lua tinha crateras.
A perspectiva é justamente o ponto, por sua vez, em que o nosso olhar muda, que uma telescopia se faz presente e podemos dizer que algo mudou em nosso ponto de vista. Não há uma única perspectiva, e dizer-se que a perspectiva é o ponto em que podemos ver uma obra em sua completude, é apenas dizer que a vemos de modo completo no espaço, mas isto não muda nada, pois todos podem ter a mesma perspectiva e a obra permanecer como a lua completa ao olhar, no telescópio ou não, sem que se produza nenhum conhecimento a respeito dela e se diga sobre ela como sobre a obra vista destas perspectiva totalizante que: "Sim, é um uma obra de arte (uma lua)." Em outras palavras, remetendo novamente à descrição de Frege, a perspectiva não é um ponto físico simplesmente em sua geometria espacial, ela uma mudança no olhar do expectador, naquele que observa algo em sua frente. Ela é o que fazemos a todo instante quando vamos atravessar a rua e olhamos para os carros, querendo saber o momento no tempo que nós poderemos atravessar sem sermos atingidos por eles, este momento em que temos uma "ideia" e uma "intuição", ou simplesmente a perspectiva de que este é o momento em que há uma mudança do meu ponto de vista em ficar parado ou em movimento.
O que Galileu viu no seu telescópio, além das crateras na rua, é simbólico em muitos aspectos para a nossa vida moderna no que diz respeito a ficar parado dos corpos em seu olhar para o mundo, vendo o passar aos seus olhos, e o se mover destes corpos a partir de uma mudança no olhar para o mundo. Isto porque o movimento da Terra percebido por ele ao observar os satélites de Júpiter em seu telescópio, mais do que em seus pés ou em livros antigos, não mudou nada do ponto de vista natural, posto que já era assim desde muito tempo, e nada ficou maior ou menor, próximo ou distante, mas mudou o olhar para as coisas definitivamente que já não eram simplesmente vista por um olhar estático a partir de então, mas de um olhar que estava em movimento, mudando, como a Terra em torno do sol. E assim a perspectiva que temos ao atravessar a rua quando carros passam por ela é a mesma perspectiva que Galileu teve ao olhar os satélites de Júpiter, pois é justamente a perspectiva de uma mudança no olhar, no nosso caso, para o lugar em que estamos e nós mesmos neste lugar, no caso de Galileu, uma mudança no olhar para a Terra, que está sob nossos pés e nossas mentes como planeta em que vivemos, não mais parada, e sim, se movendo, e que nós nos movendo também a partir desta perspectiva.
A telescopia da vida moderna advinda a partir do telescópio de Galileu é, assim, este movimento constante de nossas perspectivas sobre as coisas ao olharmos para elas com uma maior ou menor concentração, que é produzida hoje cada vez mais com os televisores móveis. Assim como a Terra não deixa de ser redonda olhando-a de baixo ou de cima, as coisas em nossa volta não também não se modificam ao nosso olhar, mas o nosso olhar se modifica constantemente ao observá-las, isto é, ao olhá-las atentamente a qualquer momento. Isto pode ser explicado fisicamente, como fez Frege, e poderia explicar qualquer cientista arguto em seu ponto de vista, mas nada mudaria no que diz respeito às diversas observações feitas por pessoas de uma mesma imagem, como se mostrou recentemente a partir da imagem de um vestido em suas cores.
Podemos explicar as coisas, se queremos, de uma perspectiva científica, lógica, tecnológica, ou mesmo vulgar, as cores de um vestido, a lua, a Terra, mas o que acontece quando alguém observa é o que nos faz ver ou não ver, e isto depende do modo como nos concentramos ou não no que estamos vendo, da concentração que acontece num olhar, que pode ser maior ou menor em força, mais ou menos intensa, e que nos fará ver as coisas de um ou de outro modo, mas nunca elas deixarão de ser do modo que são. As coisas são o que são, e isto é a imutabilidade de sua verdade, mas elas podem ser diferentes ao olharmos para elas, e isto é a mutabilidade delas não como são, mas em nosso olhar segundo sua telescopia.
Não podemos mudar as coisas como elas são, apenas nosso olhar sobre elas. Olhar para as coisas de um modo diferente é mudar o nosso olhar para elas o que esta mudança no olhar para as coisas que chamamos telescopia é o que Galileu Galilei a partir de seu telescópio e desde então nova vida é moderna, algo que muda constantemente aos nossos olhos em sua presença.
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1. Chama-se aqui de telescópio o instrumento utilizado por Galileu por convenção, já que ele utilizou uma luneta para fins astronômicos, definida como luneta astronômica. A diferença entre aquele e esta, é que: "Num telescópio, a característica mais importante não é o numero de aumentos que ele dá, e sim a quantidade de luz que pode concentrar." (http://fisicadaslunetas.tumblr.com/) Contudo, como se poderá perceber, este sentido do telescópio que chamamos de "telescopia", já estaria pressuposto na luneta astronômica de Galileu, podendo ser chamada convencionalmente de telescópio a partir de nosso ponto de vista.
2. O astrônomo e escritor Caio O. Macedo usa a palavra telescopia com o significado de estudo dos telescópio, o que é propriamente um uso não adequado da palavra segundo sua etimologia para a ação dele, pois um estudo dos telescópios deveria se chamar "telescopologia", de certo modo. O mesmo que acontece também com a palavra "microcospia", a qual ele opõe a sua, que é um estudo dos microscópios. De qualquer modo, trata-se aqui de pensar algo diferente disto, seja no plano tele seja no plano micro.
3. Chamamos aqui por televisores móveis tudo que se refere às mídias antigas mais atuais, já que todas elas têm a mesma função de uma televisão, isto é, se referem à nossa visão à distância, independente do conteúdo ou formato que fazem ver, cuja única diferença entre a televisão e os televisores se dá apenas quanto ao tamanho e a mobilidade.
A história deste filósofo italiano renascentista, que viveu entre meados do século XVI e XVII é fantástica não apenas por suas descobertas científicas, mas também pelo que foi sua vida, ainda emblemática do que significa ser filósofo e cientista. Se levarmos em conta A vida de Galileu Galilei, peça teatral de Brecht, podemos perceber que o telescópio foi, sim, uma invenção sua, apesar de não ter sido patenteado com ele. Pois para um fabricante de óculos, como Hans Lippershey, que patenteou o telescópio, mesmo a palavra tendo sido inventada somente em 1611, na Itália, aquela invenção era mais um óculos, apena algo para se ver melhor alguma coisa, com um alcance limitado e nunca algo que ele pensaria que servisse para abalar definitivamente a visão de mundo que se tinha até então, como foi depois que Galileu construiu seu próprio telescópio.
Neste sentido, há algo interessante em relação a este que é o momento marcante do renascimento filosófico e científico da modernidade, bem como desta, pois, assim como a filosofia sofreu uma revolução com o pensamento de Sócrates, mas foi inventada enquanto palavra muito antes, pressupostamente por Pitágoras, apesar de um "amor à sabedoria" já existir antes deste, desde Tales de Mileto, somente com Galileu, a palavra telescópio ganhou a finalidade revolucionária que tem ainda hoje, de formas diversas, não apenas para filósofos e cientistas, mas para todo mundo.
O telescópio de Galileu não é, portanto, apenas um instrumento filosófico científico tecnológico, ele é propriamente um conceito inventado por Galileu, assim como a "água" de Tales de Mileto, a partir da qual ele concebeu tudo e toda a filosofia antiga a partir dele. Dito de outro modo, para justamente que não se confunda o material com o imaterial, ele criou com o telescópio, o que se poderia chamar hoje de telescopia,² que é propriamente a possibilidade de uma mudança no olhar (skopein), de ponto de vista, de foco, bem como de tudo que é visto no olhar. Em outras palavras, ele criou uma différance no olhar, isto é, um espaçamento e uma temporalização diferente dele e do que é visto por ele e que hoje podemos perceber facilmente em nossa vida moderna com a utilização das mais recentes tecnologias.
O espaçamento e a temporalização do olhar a partir de uma telescopia é produzido justamente quando utilizamos um telescópio, pelo movimento ocular fundido ao movimento do telescópio que pode ser percebido em seu modo estático ou constante na descrição que faz G. Frege da utilização do telescópio para ver a lua, que é senão aquilo que Galileu fez, mas não pensava do modo de Frege, nem do modo como pensamos aqui o que Galileu fez e Frege diz que fez:
Alguém observa lua através de um telescópio. Comparo a própria lua à referência; ela é o objeto da observação, proporcionado pela imagem real projetada pela lente no interior do telescópio, e pela imagem retiniana do observador. A primeira imagem comparo ao sentido, a segunda à ideia ou intuição. A imagem real dentro do telescópio é, na verdade, relativa, depende do ponto de vista da observação; não obstante, ela é objetiva, na medida em que pode servir a vários observadores. De fato, ela pode ser disposta de tal forma que vários observadores poderiam utilizá-la simultaneamente. Mas no que diz respeito à imagem retiniana cada um dos observadores teria a sua própria imagem. Devido à diversidade da configuração dos olhos, mesmo uma congruência geométrica entre tais imagens [o fato de todas as imagens da lua em todos os olhos serem circulares] dificilmente poderia ser obtida, e uma coincidência real seria impossível. (FREGE, 2009, p. 135. Grifos meus.)O que Frege demonstra aqui de um ponto de vista lógico, estático, do ponto de vista da linguagem é, como observa seu tradutor, que há três pontos de vista da lua: da lua mesma, como referente, da imagem da lua no telescópio, imagem real e objetiva enquanto "sentido" segundo Frege, e a imagem da lua na retina, enquanto "ideia" e "intuição". Contudo, o mais importante é o movimento relativo ou telescopia produzido entre estes pontos de vista da lua que pode ser percebido ainda que de modo estático na primeira frase da descrição de Frege: "Alguém observa a lua através de um telescópio." Um movimento que é o mesmo que fazemos a todo instante hoje quando olhamos para a televisão e todos os televisores móveis³ atuais como computadores, tablets, smartphones, smartwatchs, todos derivados do telescópio e produtores de uma temporalização e espacialização do olhar, isto é, de uma differánce telescópica dele. Um movimento que depende ao mesmo tempo da produção de uma imagem na realidade, neste caso a partir de um telescópio, bem como da produção de uma imagem na retina a partir de uma ideia e uma intuição, se partimos de Frege. Uma movimento que é simplesmente definido como telescopia, isto é, uma mudança no olhar, neste caso, para a lua, mas pode ser para qualquer coisa, e que não necessariamente muda somente se utilizarmos uma tecnologia.
A mudança no olhar ou telescopia produzida pelo telescópio não é algo propriamente tecnológico ou científico, como se pode perceber ainda pela descrição de Frege. Ela diz respeito propriamente ao modo como alguém observa as coisas, como a lua, que pode ser vista por vários observadores simultaneamente e pode ter a sua própria imagem da lua com ou sem telescópio, mas não sem telescopia, que é justamente o movimento de observar de alguém que muda necessariamente a cada instante, tanto quanto as coisas ao seu redor. E que, deste modo, pode-se medir a revolução que as novas tecnologias produzem hoje em nossa visão de mundo senão pela revolução produzida pelo telescópio de Galileu, posto que as tecnologias de hoje fazem perceber ainda mais a possibilidade de uma mudança no olhar com os televisores móveis aumentando nosso alcance de visão sobre o mundo (natural e social) da mesma forma que os telescópios lançados no espaço sideral, como o Hubble, aumentaram nosso alcance de visão do universo e mudam a cada momento nosso olhar sobre ele. E, obviamente, não é do mesmo modo que cada um vê as imagens produzidas nos televisores móveis e no Hubble, ainda que o que se vê tenha a mesma geometria, isto é, a mesma forma definida no espaço para todos.
A geometria a que se refere Frege pode ser vista aqui propriamente como a verdade para todos que se é de modo única, congruente, já que ninguém ver a lua quadrada, isto é, diz do círculo que ele é quadrado, também não se pode negar que todos veem aquilo que está em sua frente, e se chama aquilo de "lua" ou "hipopótamo", ninguém pode negar que vê algo. Porém, esta verdade é relativa e não absoluta, pois sua congruência geométrica ou espacial depende do telescópio ou da retina, isto é, depende da observação que se faz nestes dois casos, num e noutra, em ambos ao mesmo tempo. E, deste modo, a verdade deixa de ser absoluta justamente quando alguém observa a lua através de um telescópio, e tudo em sua volta muda, mas não de espaço, pois tudo está sempre no mesmo lugar, ocupando um espaço, e sim, de foco, isto é, no olhar, pois, agora, o olhar no telescópio não é o mesmo que o olhar sem o telescópio, assim como o olhar displicente não é o mesmo que o olhar atento.
A mudança no olhar é uma mudança, portanto, no foco, isto é, uma mudança em nossa maior ou menor concentração em algo, material ou imaterial, coisa ou pensamento. Foi isto que Galileu fez em sua época com o telescópio e o que fazem hoje os cientistas com os telescópios móveis, é o que fazemos hoje com as televisões e os televisores móveis. É o que fazemos naturalmente, independente de qualquer tecnologia com nossos olhos e, em tudo isto, diferentemente do que se diz, os objetos não aumentam ou diminuem de tamanho, tão pouco se tornam mais perto ou mais longe em distância, apenas concentramos mais e menos o nosso olhar nele, mudando nossa visão deles dependendo do quanto nos concentramos em cada um ou em vários aspectos dele, como fez Galileu justamente ao observar que a lua tinha crateras.
A perspectiva é justamente o ponto, por sua vez, em que o nosso olhar muda, que uma telescopia se faz presente e podemos dizer que algo mudou em nosso ponto de vista. Não há uma única perspectiva, e dizer-se que a perspectiva é o ponto em que podemos ver uma obra em sua completude, é apenas dizer que a vemos de modo completo no espaço, mas isto não muda nada, pois todos podem ter a mesma perspectiva e a obra permanecer como a lua completa ao olhar, no telescópio ou não, sem que se produza nenhum conhecimento a respeito dela e se diga sobre ela como sobre a obra vista destas perspectiva totalizante que: "Sim, é um uma obra de arte (uma lua)." Em outras palavras, remetendo novamente à descrição de Frege, a perspectiva não é um ponto físico simplesmente em sua geometria espacial, ela uma mudança no olhar do expectador, naquele que observa algo em sua frente. Ela é o que fazemos a todo instante quando vamos atravessar a rua e olhamos para os carros, querendo saber o momento no tempo que nós poderemos atravessar sem sermos atingidos por eles, este momento em que temos uma "ideia" e uma "intuição", ou simplesmente a perspectiva de que este é o momento em que há uma mudança do meu ponto de vista em ficar parado ou em movimento.
O que Galileu viu no seu telescópio, além das crateras na rua, é simbólico em muitos aspectos para a nossa vida moderna no que diz respeito a ficar parado dos corpos em seu olhar para o mundo, vendo o passar aos seus olhos, e o se mover destes corpos a partir de uma mudança no olhar para o mundo. Isto porque o movimento da Terra percebido por ele ao observar os satélites de Júpiter em seu telescópio, mais do que em seus pés ou em livros antigos, não mudou nada do ponto de vista natural, posto que já era assim desde muito tempo, e nada ficou maior ou menor, próximo ou distante, mas mudou o olhar para as coisas definitivamente que já não eram simplesmente vista por um olhar estático a partir de então, mas de um olhar que estava em movimento, mudando, como a Terra em torno do sol. E assim a perspectiva que temos ao atravessar a rua quando carros passam por ela é a mesma perspectiva que Galileu teve ao olhar os satélites de Júpiter, pois é justamente a perspectiva de uma mudança no olhar, no nosso caso, para o lugar em que estamos e nós mesmos neste lugar, no caso de Galileu, uma mudança no olhar para a Terra, que está sob nossos pés e nossas mentes como planeta em que vivemos, não mais parada, e sim, se movendo, e que nós nos movendo também a partir desta perspectiva.
A telescopia da vida moderna advinda a partir do telescópio de Galileu é, assim, este movimento constante de nossas perspectivas sobre as coisas ao olharmos para elas com uma maior ou menor concentração, que é produzida hoje cada vez mais com os televisores móveis. Assim como a Terra não deixa de ser redonda olhando-a de baixo ou de cima, as coisas em nossa volta não também não se modificam ao nosso olhar, mas o nosso olhar se modifica constantemente ao observá-las, isto é, ao olhá-las atentamente a qualquer momento. Isto pode ser explicado fisicamente, como fez Frege, e poderia explicar qualquer cientista arguto em seu ponto de vista, mas nada mudaria no que diz respeito às diversas observações feitas por pessoas de uma mesma imagem, como se mostrou recentemente a partir da imagem de um vestido em suas cores.
Podemos explicar as coisas, se queremos, de uma perspectiva científica, lógica, tecnológica, ou mesmo vulgar, as cores de um vestido, a lua, a Terra, mas o que acontece quando alguém observa é o que nos faz ver ou não ver, e isto depende do modo como nos concentramos ou não no que estamos vendo, da concentração que acontece num olhar, que pode ser maior ou menor em força, mais ou menos intensa, e que nos fará ver as coisas de um ou de outro modo, mas nunca elas deixarão de ser do modo que são. As coisas são o que são, e isto é a imutabilidade de sua verdade, mas elas podem ser diferentes ao olharmos para elas, e isto é a mutabilidade delas não como são, mas em nosso olhar segundo sua telescopia.
Não podemos mudar as coisas como elas são, apenas nosso olhar sobre elas. Olhar para as coisas de um modo diferente é mudar o nosso olhar para elas o que esta mudança no olhar para as coisas que chamamos telescopia é o que Galileu Galilei a partir de seu telescópio e desde então nova vida é moderna, algo que muda constantemente aos nossos olhos em sua presença.
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1. Chama-se aqui de telescópio o instrumento utilizado por Galileu por convenção, já que ele utilizou uma luneta para fins astronômicos, definida como luneta astronômica. A diferença entre aquele e esta, é que: "Num telescópio, a característica mais importante não é o numero de aumentos que ele dá, e sim a quantidade de luz que pode concentrar." (http://fisicadaslunetas.tumblr.com/) Contudo, como se poderá perceber, este sentido do telescópio que chamamos de "telescopia", já estaria pressuposto na luneta astronômica de Galileu, podendo ser chamada convencionalmente de telescópio a partir de nosso ponto de vista.
2. O astrônomo e escritor Caio O. Macedo usa a palavra telescopia com o significado de estudo dos telescópio, o que é propriamente um uso não adequado da palavra segundo sua etimologia para a ação dele, pois um estudo dos telescópios deveria se chamar "telescopologia", de certo modo. O mesmo que acontece também com a palavra "microcospia", a qual ele opõe a sua, que é um estudo dos microscópios. De qualquer modo, trata-se aqui de pensar algo diferente disto, seja no plano tele seja no plano micro.
3. Chamamos aqui por televisores móveis tudo que se refere às mídias antigas mais atuais, já que todas elas têm a mesma função de uma televisão, isto é, se referem à nossa visão à distância, independente do conteúdo ou formato que fazem ver, cuja única diferença entre a televisão e os televisores se dá apenas quanto ao tamanho e a mobilidade.
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