Filosofia: perguntas e respostas
O que caracteriza a filosofia? Para muitos, seguindo a tradição socrática, são as perguntas. Para outros, uns poucos, não menos socráticos, são as respostas.
Em geral, caracteriza-se a filosofia e o filósofo por suas perguntas. Sócrates é o exemplo mais conhecido e o mais seguido neste sentido, pois foi com que, para muitos a filosofia surgiu e mesmo se dividiu como pré-socrática e pós-socrática na antiguidade, mas também ainda hoje. Foi ele, ademais, que transformou as perguntas num método filosófico propriamente dito, o primeiro considerando-se o surgimento da filosofia a partir dele. Este método ficou conhecido como maiêutica ou a arte de parteira, como dizia ele em referência a sua mãe com a qual se comparava, buscando fazer com que as pessoas tivessem ideias como suas mãe buscava que as mulheres tivessem filhos. Interessante a questão de gênero, neste ponto, pouco estudada até onde sei, mas que demonstra o lugar das mulheres na história da filosofia, ou melhor, a ausência de lugar delas nesta história, haja vista a preocupação de ter filhos enquanto os homens se preocupavam em ter ideias.
Para fazer com que os homens, seus discÃpulos, tivessem ideias, Sócrates se servia em sua maiêutica de um meio muito especÃfico que se tornaria célebre na Grécia antiga, apesar do mal-estar que causava. Era a sua ironia, muitas vezes vista como um método a parte, até menor em relação à maiêutica que ele defendia, e que era mais especÃfico de sua personalidade, pois foi através dela que ele ficou conhecido e é reconhecido até hoje como filósofo. Entre ambas, a maiêutica e a ironia socrática, as perguntas era o que dava o tom de seu método e o que fez ser incriminado pelos polÃticos, artÃfices e poetas e posteriormente morto punido pelo crime que cometera.
Qual o crime de Sócrates? Perguntar demais, dirÃamos. Ele perguntava sobre tudo e a todos e isto começou a incomodar algumas pessoas, em geral, as que tinham poder em sua época, que foram os que o acusaram: os polÃticos, que tinham o poder de governo na cidade, os artÃfices, que tinham o poder de prover a cidade com sua arte e os poetas, que tinham o poder de educar os atenienses e todo e qualquer grego. Mas, sobretudo, suas perguntas incomodavam os deuses defendidos por estes, sendo ele acusado de blasfemar contra eles, cuja punição era a morte.
Se as perguntas de Sócrates, particularmente, seu modo de fazê-las, o tornaram conhecido para além de sua época, podemos dizer que o mal-estar delas também. Poucos gostavam de ser perguntados por Sócrates, em particular, seus discÃpulos. Suas perguntas não faziam bem à s pessoas, apesar do ideal nela incutido. O motivo parece simples: as perguntas intimidam as pessoas, fazem elas menores, como Sócrates queria fazer menores as pessoas de sua época que se diziam maiores por saberem muito. Mas, novamente, apesar do ideal incutido nisto, perguntas demais nunca são boas.
O mal-estar que os atenienses sentiam com as perguntas de Sócrates é sintomático para percebermos que se as perguntas são praticamente inerente à natureza humana, desde a infância do homem e da humanidade, o mal-estar que elas causam também é inerente ao ser humano. E não simplesmente por uma questão de educação, mas por algo que poucas vezes questionamos socraticamente, mas que os atenienses já sabiam e intuÃam em seu mal-estar mas que a filosofia demorou muito tempo para reconhecer e ainda reconhece pouco hoje. Isto é, o mal-estar que as perguntas causam, qual seja, a ausência de respostas.
Algo que é comum percebermos hoje é que não são apenas as perguntas aos poderosos que causam mal-estar. Um simples criança ao perguntar demais a seus pais causam um julgamento e uma sentença tão inflexÃvel como a que Sócrates sofrera: - Cale-se! Não me faça perguntas! Todo pai e mãe já passaram pelo desconforto com as perguntas de seus filhos e todos que não têm filhos ainda, já sentiram este desconforto com as perguntas de alguém.
Quem pergunta quer saber, diz o ditado, e, em geral, o saber em questão é a verdade. Isto é, uma resposta. E não duas, ou três, ou muitas, quem sabe? Apenas uma. E este é o mal-estar que as perguntas causam: a ausência de uma resposta. Se perguntamos é porque queremos respostas e, muitas vezes, em nome desta resposta, por causa desta resposta que queremos, muitos fazem qualquer coisa, as mais diversas torturas, a começar pelas perguntas, pois é por elas que começam toda e qualquer tortura e, quando aquele que pergunta não encontra a resposta, a morte é inevitável para aquele que a deve responder, o torturante, mas também para aquele que a faz, o torturador, que se tortura a si mesmo, provocando em si mesmo um distúrbio mental pela ausência de uma resposta.
Neste sentido, literalmente, a resposta é aquilo que permite uma pessoa viver, não apenas enquanto é torturada, mas durante toda sua vida. É a resposta que mantém vivas as pessoas, motivo pelo qual elas não gostam de perguntas, pois as perguntas matam o que elas acreditam como resposta mesma que as mantém vivas. Não importa se a resposta é boba ou ingênua. Toda e qualquer resposta que as pessoas tenham sobre a algo as mantém vivas, as caracterizam e, mais ainda, as singularizam de algum modo. É assim em qualquer ideologia, seja ela religiosa, polÃtica ou cientÃfica. Todos se sentem bem com suas respostas e ninguém as quer perder, não importa o que tenham que fazer. Matar ou morrer.
Por mais que os filósofos façam perguntas ainda como Sócrates, e sejam até impertinentes como ele se despreocupando com o mal-estar que suas perguntas causam aos outros, são as respostas que caracterizam a filosofia, e cada filósofo em particular. É a partir delas que os filósofos são conhecidos e reconhecidos como filósofos e é a partir delas que muitos reconhecem um pensamento como filosófico no cotidiano, pelo o que é dito como resposta e não pelo que é perguntado. Não importa se a resposta é longa ou curta, se compõe um livro ou apenas poucas palavras, se é dita para muitos ou poucos. Ela permanece como aquilo que a filosofia antiga chamava de essência, algo exalado das palavras como o cheiro de uma comida que nos faz ansiosos por comê-la, para saboreá-la como saboreamos as palavras que respondem alguma inquietação nossa.
Tanto as respostas fazem singular a filosofia, e a qualquer um em um determinado momento de sua fala, que não nos lembramos especificamente das perguntas que Sócrates fazia aos seus conterrâneos, mesmo que nelas vislumbremos seu método irônico maiêutico, mas nos lembramos de uma resposta sua, e talvez a mais célebre resposta que a filosofia já produziu, que é senão seu mais sublime lema, que a salva e a redime até hoje, bem como a Sócrates quando ele disse pela primeira vez: Só sei que nada sei.
Em geral, caracteriza-se a filosofia e o filósofo por suas perguntas. Sócrates é o exemplo mais conhecido e o mais seguido neste sentido, pois foi com que, para muitos a filosofia surgiu e mesmo se dividiu como pré-socrática e pós-socrática na antiguidade, mas também ainda hoje. Foi ele, ademais, que transformou as perguntas num método filosófico propriamente dito, o primeiro considerando-se o surgimento da filosofia a partir dele. Este método ficou conhecido como maiêutica ou a arte de parteira, como dizia ele em referência a sua mãe com a qual se comparava, buscando fazer com que as pessoas tivessem ideias como suas mãe buscava que as mulheres tivessem filhos. Interessante a questão de gênero, neste ponto, pouco estudada até onde sei, mas que demonstra o lugar das mulheres na história da filosofia, ou melhor, a ausência de lugar delas nesta história, haja vista a preocupação de ter filhos enquanto os homens se preocupavam em ter ideias.
Para fazer com que os homens, seus discÃpulos, tivessem ideias, Sócrates se servia em sua maiêutica de um meio muito especÃfico que se tornaria célebre na Grécia antiga, apesar do mal-estar que causava. Era a sua ironia, muitas vezes vista como um método a parte, até menor em relação à maiêutica que ele defendia, e que era mais especÃfico de sua personalidade, pois foi através dela que ele ficou conhecido e é reconhecido até hoje como filósofo. Entre ambas, a maiêutica e a ironia socrática, as perguntas era o que dava o tom de seu método e o que fez ser incriminado pelos polÃticos, artÃfices e poetas e posteriormente morto punido pelo crime que cometera.
Qual o crime de Sócrates? Perguntar demais, dirÃamos. Ele perguntava sobre tudo e a todos e isto começou a incomodar algumas pessoas, em geral, as que tinham poder em sua época, que foram os que o acusaram: os polÃticos, que tinham o poder de governo na cidade, os artÃfices, que tinham o poder de prover a cidade com sua arte e os poetas, que tinham o poder de educar os atenienses e todo e qualquer grego. Mas, sobretudo, suas perguntas incomodavam os deuses defendidos por estes, sendo ele acusado de blasfemar contra eles, cuja punição era a morte.
Se as perguntas de Sócrates, particularmente, seu modo de fazê-las, o tornaram conhecido para além de sua época, podemos dizer que o mal-estar delas também. Poucos gostavam de ser perguntados por Sócrates, em particular, seus discÃpulos. Suas perguntas não faziam bem à s pessoas, apesar do ideal nela incutido. O motivo parece simples: as perguntas intimidam as pessoas, fazem elas menores, como Sócrates queria fazer menores as pessoas de sua época que se diziam maiores por saberem muito. Mas, novamente, apesar do ideal incutido nisto, perguntas demais nunca são boas.
O mal-estar que os atenienses sentiam com as perguntas de Sócrates é sintomático para percebermos que se as perguntas são praticamente inerente à natureza humana, desde a infância do homem e da humanidade, o mal-estar que elas causam também é inerente ao ser humano. E não simplesmente por uma questão de educação, mas por algo que poucas vezes questionamos socraticamente, mas que os atenienses já sabiam e intuÃam em seu mal-estar mas que a filosofia demorou muito tempo para reconhecer e ainda reconhece pouco hoje. Isto é, o mal-estar que as perguntas causam, qual seja, a ausência de respostas.
Algo que é comum percebermos hoje é que não são apenas as perguntas aos poderosos que causam mal-estar. Um simples criança ao perguntar demais a seus pais causam um julgamento e uma sentença tão inflexÃvel como a que Sócrates sofrera: - Cale-se! Não me faça perguntas! Todo pai e mãe já passaram pelo desconforto com as perguntas de seus filhos e todos que não têm filhos ainda, já sentiram este desconforto com as perguntas de alguém.
Quem pergunta quer saber, diz o ditado, e, em geral, o saber em questão é a verdade. Isto é, uma resposta. E não duas, ou três, ou muitas, quem sabe? Apenas uma. E este é o mal-estar que as perguntas causam: a ausência de uma resposta. Se perguntamos é porque queremos respostas e, muitas vezes, em nome desta resposta, por causa desta resposta que queremos, muitos fazem qualquer coisa, as mais diversas torturas, a começar pelas perguntas, pois é por elas que começam toda e qualquer tortura e, quando aquele que pergunta não encontra a resposta, a morte é inevitável para aquele que a deve responder, o torturante, mas também para aquele que a faz, o torturador, que se tortura a si mesmo, provocando em si mesmo um distúrbio mental pela ausência de uma resposta.
Neste sentido, literalmente, a resposta é aquilo que permite uma pessoa viver, não apenas enquanto é torturada, mas durante toda sua vida. É a resposta que mantém vivas as pessoas, motivo pelo qual elas não gostam de perguntas, pois as perguntas matam o que elas acreditam como resposta mesma que as mantém vivas. Não importa se a resposta é boba ou ingênua. Toda e qualquer resposta que as pessoas tenham sobre a algo as mantém vivas, as caracterizam e, mais ainda, as singularizam de algum modo. É assim em qualquer ideologia, seja ela religiosa, polÃtica ou cientÃfica. Todos se sentem bem com suas respostas e ninguém as quer perder, não importa o que tenham que fazer. Matar ou morrer.
Por mais que os filósofos façam perguntas ainda como Sócrates, e sejam até impertinentes como ele se despreocupando com o mal-estar que suas perguntas causam aos outros, são as respostas que caracterizam a filosofia, e cada filósofo em particular. É a partir delas que os filósofos são conhecidos e reconhecidos como filósofos e é a partir delas que muitos reconhecem um pensamento como filosófico no cotidiano, pelo o que é dito como resposta e não pelo que é perguntado. Não importa se a resposta é longa ou curta, se compõe um livro ou apenas poucas palavras, se é dita para muitos ou poucos. Ela permanece como aquilo que a filosofia antiga chamava de essência, algo exalado das palavras como o cheiro de uma comida que nos faz ansiosos por comê-la, para saboreá-la como saboreamos as palavras que respondem alguma inquietação nossa.
Tanto as respostas fazem singular a filosofia, e a qualquer um em um determinado momento de sua fala, que não nos lembramos especificamente das perguntas que Sócrates fazia aos seus conterrâneos, mesmo que nelas vislumbremos seu método irônico maiêutico, mas nos lembramos de uma resposta sua, e talvez a mais célebre resposta que a filosofia já produziu, que é senão seu mais sublime lema, que a salva e a redime até hoje, bem como a Sócrates quando ele disse pela primeira vez: Só sei que nada sei.
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