O riso nosso de cada dia
E se todos nós nos vestÃssemos de palhaços? O que aconteceria?
Geralmente, não gostamos de ser palhaços. Quando criança, minha mãe me vestiu como pierrô e a foto é de uma tristeza só, minha, no caso, que nem esbocei um sorriso. Nas minhas bochechas estavam as marcas de minha angústia. De um lado e do outro do meu rosto, um ponto de interrogação.
Definitivamente, rir não faz parte do meu dia a dia. Nem do de muitos. Nem mesmo da vida. Ninguém passa o dia rindo. O que não quer dizer que não esteja feliz, claro. Rir não é felicidade. Rir é um momento Ãmpar da nossa vida quando nada mais importa e tudo parece não fazer sentido. O mais comum e a regra geral é não rir. Ser sério. Levar-se a sério o tempo todo. No trabalho, na escola, em casa, com os amigos, nas festas.
Em alguns destes lugares, obviamente, existe uma propensão maior para o riso, mas não é regra. Mesmo uma comédia que busque fazer rir as pessoas não as faz rir constantemente, nem a todos. Somos destinados à seriedade. Rir é um acaso do destino. Por isso rimos por qualquer besteira. Em geral, por qualquer coisa abrupta.
Como professor, busco vez ou outra fazer os estudantes rirem, mesmo este não sendo o meu ofÃcio, mesmo não querendo ser palhaço. Mas tem algo que os faz rir mesmo sem eu querer: uma batida sem querer numa cadeira ou um tropeção. Até o mais indolente adolescente não foge ao riso quando isto acontece.
Esta saÃda abrupta do contexto com a possibilidade de um constrangimento ao extremo é o que faz rir e nos aflige constantemente. Não queremos ser risonhos. Não queremos ser palhaços, mesmo que gostemos deles. A imagem do palhaço triste, neste sentido, não é uma contradição. É uma demonstração da nossa realidade comum. Gostamos de fazer os outros rirem em um determinado momento. Alguns fazem isto com mais perfeição do que outros, como os cearenses, que aprenderam não sei lá com quem que o bom é rir da vida. Mas se mesmo assim o comediante fica triste e pode sucumbir à s drogas para fugir da depressão, ou a um psiquiatra, o que seria mais sensato, é porque, para ele, fazer rir é coisa séria. Não é uma graça. O comediante não ri de si mesmo. Ninguém ri de si mesmo. Rimos sempre do outro. O outro é sempre o motivo do nosso riso.
Ri de si mesmo é uma arte que dificilmente alguém conseguiria durante toda sua vida. Transformar a sua vida em uma comédia seria um destempero sem tamanho. Se alguém conseguisse isso, e talvez alguém chegue ou tenha chegado a este espÃrito elevado alguma vez, por mais que fosse visto como uma pessoa excepcional, seria apenas isto: excepcional, incomum e, por isto mesmo, algo a não ser repetido. Um estranho no ninho.
Mas e se todos se vestissem de palhaços? Fazendo um a outro rir, senão constantemente pelo menos um pouquinho a cada momento do dia? Haveria algum problema nisto? Rir um pouco a cada duas horas de seriedade, por exemplo, com alguém vestido de palhaço?
Talvez se todos se vestissem como palhaço, isto é, de maneira totalmente esdrúxula, com certeza a seriedade perderia um pouco do espaço e rÃssemos um pouco mais. Contudo, em pouco tempo, perderÃamos o riso mesmo assim, pois não seria mais estranho, abrupto, um acaso do destino. Pelo contrário. A seriedade é que seria abrupta e rirÃamos dela. O riso continuaria existindo. Só mudaria de forma.
Geralmente, não gostamos de ser palhaços. Quando criança, minha mãe me vestiu como pierrô e a foto é de uma tristeza só, minha, no caso, que nem esbocei um sorriso. Nas minhas bochechas estavam as marcas de minha angústia. De um lado e do outro do meu rosto, um ponto de interrogação.
Definitivamente, rir não faz parte do meu dia a dia. Nem do de muitos. Nem mesmo da vida. Ninguém passa o dia rindo. O que não quer dizer que não esteja feliz, claro. Rir não é felicidade. Rir é um momento Ãmpar da nossa vida quando nada mais importa e tudo parece não fazer sentido. O mais comum e a regra geral é não rir. Ser sério. Levar-se a sério o tempo todo. No trabalho, na escola, em casa, com os amigos, nas festas.
Em alguns destes lugares, obviamente, existe uma propensão maior para o riso, mas não é regra. Mesmo uma comédia que busque fazer rir as pessoas não as faz rir constantemente, nem a todos. Somos destinados à seriedade. Rir é um acaso do destino. Por isso rimos por qualquer besteira. Em geral, por qualquer coisa abrupta.
Como professor, busco vez ou outra fazer os estudantes rirem, mesmo este não sendo o meu ofÃcio, mesmo não querendo ser palhaço. Mas tem algo que os faz rir mesmo sem eu querer: uma batida sem querer numa cadeira ou um tropeção. Até o mais indolente adolescente não foge ao riso quando isto acontece.
Esta saÃda abrupta do contexto com a possibilidade de um constrangimento ao extremo é o que faz rir e nos aflige constantemente. Não queremos ser risonhos. Não queremos ser palhaços, mesmo que gostemos deles. A imagem do palhaço triste, neste sentido, não é uma contradição. É uma demonstração da nossa realidade comum. Gostamos de fazer os outros rirem em um determinado momento. Alguns fazem isto com mais perfeição do que outros, como os cearenses, que aprenderam não sei lá com quem que o bom é rir da vida. Mas se mesmo assim o comediante fica triste e pode sucumbir à s drogas para fugir da depressão, ou a um psiquiatra, o que seria mais sensato, é porque, para ele, fazer rir é coisa séria. Não é uma graça. O comediante não ri de si mesmo. Ninguém ri de si mesmo. Rimos sempre do outro. O outro é sempre o motivo do nosso riso.
Ri de si mesmo é uma arte que dificilmente alguém conseguiria durante toda sua vida. Transformar a sua vida em uma comédia seria um destempero sem tamanho. Se alguém conseguisse isso, e talvez alguém chegue ou tenha chegado a este espÃrito elevado alguma vez, por mais que fosse visto como uma pessoa excepcional, seria apenas isto: excepcional, incomum e, por isto mesmo, algo a não ser repetido. Um estranho no ninho.
Mas e se todos se vestissem de palhaços? Fazendo um a outro rir, senão constantemente pelo menos um pouquinho a cada momento do dia? Haveria algum problema nisto? Rir um pouco a cada duas horas de seriedade, por exemplo, com alguém vestido de palhaço?
Talvez se todos se vestissem como palhaço, isto é, de maneira totalmente esdrúxula, com certeza a seriedade perderia um pouco do espaço e rÃssemos um pouco mais. Contudo, em pouco tempo, perderÃamos o riso mesmo assim, pois não seria mais estranho, abrupto, um acaso do destino. Pelo contrário. A seriedade é que seria abrupta e rirÃamos dela. O riso continuaria existindo. Só mudaria de forma.
E assim é o riso: uma mudança de forma que foge ao padrão com o qual nos acostumamos em nosso dia a dia. Não importa o que utilizemos para provocá-lo. Ele sempre aparecerá quando menos esperamos. Até mesmo na lágrima de um palhaço como no filme de Jerry Lewis quando uma garota ri ao vê-lo chorar.
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