Para além da universidade
Terminou recentemente a seleção para o doutorado em educação da Universidade Federal do Ceará no qual eu dentre muitos não fui selecionado, tendo sido reprovado na fase de entrevista, a última, depois de ter passado na prova escrita e no projeto. Mesmo contabilizando mais uma reprovação, a primeira em educação, esta teve um significado diferente para mim, pois eram apenas duas vagas para o eixo escolhido por mim, Filosofias das diferenças, tecnocultura e educação e somente dois "concorrentes", eu e o outro, e mesmo assim não fui escolhido. Contabilizando os resultados em todas as linhas de pesquisa e seus eixos temáticos, foram 7 candidatos reprovados nesta situação, mesmo havendo vagas disponíveis e alguns eixos ficaram sem nenhum aprovado. É importante dizer que isto está no edital do doutorado, de todos eles inclusive, que o número de vagas necessariamente não deve ser preenchido, ou seja, que obrigatoriamente a universidade pode ficar com vagas ociosas que, de certo modo, acumulam para o ano seguinte, pois os professores não pode se dar ao luxo de a cada ano rejeitar estudantes e ficar ocioso na universidade.
Em meu período de universidade, quando já cursava Filosofia na UECE, era fato comum quando pensávamos em situações deste tipo citar o caso da tese de livre-docência de Walter Benjamin que foi rejeitada pelo Departamento de Estética da Universidade de Frankfurt, regojizando-nos por até ele ter sido rejeitado e por que não nós. Contudo, no auge de nossos anseios universitários, mesmo nos dizendo críticos do famigerado "sistema", este de que todos falam e ninguém vê, não nos atentávamos para o fato incomum de toda esta história, haja vista que ele se tornou um dos mais conhecidos filósofos da estética contemporâneos influenciando gerações seguintes com sua teoria crítica, inclusive a mim e minha geração, e foi simplesmente rejeitado pela sua geração. Um motivo que talvez fez ele junto com outros terem criado a Escola de Frankfurt nome pelo qual ele e outros teóricos críticos como Adorno, Horkheimer, Marcuse e Habermas ficaram conhecidos por sua filiação ao Instituto para Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt.
Outros casos como estes, podem ser pilhados na história demente da universidade que, assim como a escola, perde seu crédito diante da sociedade, mesmo sendo-lhe extremamente útil o que nos leva a questionar, o porque de uma universidade pública, gratuita e de qualidade, como arvoram seus professores em defender, recusa estudantes mesmo havendo vagas em seus cursos, impedindo que eles qualifiquem, mesmo demonstrando em pelo menos duas avaliações, como foi o meu caso e de muitos alhures há anos. Ou ainda, porque uma das áreas que mais se reivindica qualificações para os professores, como eu, use do princípio de autoridade para negar esta qualificação, justamente o contrário do que se pressupõe uma universidade em sua razão de ser e em sua responsabilidade, segundo pensava em meu primeiro trabalho na faculdade de Filosofia, na disciplina de Introdução ao curso e à universidade, quando analisava esta questão a partir do texto de Jacques Derrida, As pupilas da Universidade - o princípio de razão e a ideia da universidade, e levantava sua questão razão de ser da universidade, da relação dela com o seu entorno e os muros que se interpõem sua visão ao que está em volta, remontando isto à Metafísica, de Aristóteles, a qual justifica senão o princípio de autoridade da universidade, em particular, de seus professores, bem como o princípio de autonomia ao qual ela e principalmente eles se arrogam, desde Kant e seu célebre texto Resposta à pergunta: O que é esclarecimento?
Longe, porém, de deixar de fazer uma mea culpa a este respeito, de fazer jus a uma reprovação inconteste para mim, independe da forma, o filme recente Os estagiários, demonstra bem como a universidade está demente não em sua razão de ser, como a definira Derrida, mas em sua responsabilidade de contribuir para além de sua razão de ser com o desenvolvimento do capital humano que uma sociedade precisa. Isto porque, este filme, uma comédia sobre a relação entre conhecimento e trabalho na sociedade atual, revela aquilo que mais falta à universidade hoje em dia, principalmente no caso específico de suas seleções de doutorado e mestrado, mas também em muitas escolas, que é a crença no potencial das pessoas dando a elas a oportunidade de desenvolvê-lo numa aposta que pode muito bem dar errada, mas que se der certo pode mudar a vida de uma pessoa. O que, mais do que deixar de preencher uma vaga, o que a universidade deixa de preencher é a vida de uma pessoa que pretende desenvolver o seu potencial e pensa que nela está a melhor possibilidade de desenvolvê-lo.
Em outras palavras, a universidade ao simplesmente negar a vaga a uma pessoa por seu princípio de autoridade, de arrogância em muitos casos, nega a possibilidade de seu próprio desenvolvimento, algo que nenhuma empresa como a Google faz, pressupostamente no caso do filme, cujo mérito é demonstrar que apostar no desenvolvimento pessoal e profissional de alguém, mesmo quando ele parece limitado, é algo premente para todas as instituições que querem se desenvolver, em qualquer área, algo que qualquer universidade deveria fazer em sua razão de ser, algo que, por ventura, a separaria, enfim, de toda a metafísica, mas que ela simplesmente nega, pois em sua caduquice ela só aposta em sua própria morte e na daqueles em que ela confia para trazer-lhe a água ou o cafezinho, como muitos dizem.
A universidade, porém, é o melhor lugar para quem quer desenvolver seus estudos quando o princípio de autoridade não se transforma no princípio de autoritarismo cujo fundamento é sua própria arrogância de um direito que ela não tem, no caso, o direito de negar a qualificação a alguém dispondo ela de vagas quando é, ademais, pública e gratuita e se quer dizer de qualidade, mesmo que ela se arrogue este direito, por aquele princípio. Por este motivo, principalmente, por mais que ela seja ainda uma medida de valor de capital humano na sociedade, mais do que nunca seu valor tem se depreciado nela, como é comum se comentar, não por ela ter deixado de ser útil, mas por ser incapaz de em seu princípio de autoritarismo cumprir com sua responsabilidade de qualificar aqueles cujo potencial são quase incontestes. Pois é quase impossível que alguém que se submeta a uma seleção de mestrado e de doutorado não tenha um potencial que possa ser desenvolvido durante o período de dois e quatro anos respectivamente destes cursos.
Felizmente, hoje em dia, mais do que na época de Benjamin, há vida para além da universidade e mais do que um choro de lamentação, a vida continua e aprendemos hoje em dia mais com o Google, como no filme Os estagiários, do que na universidade, pois nele nunca se negará acesso e haverá sempre vagas para aqueles que querem desenvolver seu potencial, trabalhando ou não para ele, com a criação de blogs e sites onde o princípio de autoridade nunca vai se tornar um princípio de autoritarismo como o que rege algumas universidades.
Em meu período de universidade, quando já cursava Filosofia na UECE, era fato comum quando pensávamos em situações deste tipo citar o caso da tese de livre-docência de Walter Benjamin que foi rejeitada pelo Departamento de Estética da Universidade de Frankfurt, regojizando-nos por até ele ter sido rejeitado e por que não nós. Contudo, no auge de nossos anseios universitários, mesmo nos dizendo críticos do famigerado "sistema", este de que todos falam e ninguém vê, não nos atentávamos para o fato incomum de toda esta história, haja vista que ele se tornou um dos mais conhecidos filósofos da estética contemporâneos influenciando gerações seguintes com sua teoria crítica, inclusive a mim e minha geração, e foi simplesmente rejeitado pela sua geração. Um motivo que talvez fez ele junto com outros terem criado a Escola de Frankfurt nome pelo qual ele e outros teóricos críticos como Adorno, Horkheimer, Marcuse e Habermas ficaram conhecidos por sua filiação ao Instituto para Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt.
Outros casos como estes, podem ser pilhados na história demente da universidade que, assim como a escola, perde seu crédito diante da sociedade, mesmo sendo-lhe extremamente útil o que nos leva a questionar, o porque de uma universidade pública, gratuita e de qualidade, como arvoram seus professores em defender, recusa estudantes mesmo havendo vagas em seus cursos, impedindo que eles qualifiquem, mesmo demonstrando em pelo menos duas avaliações, como foi o meu caso e de muitos alhures há anos. Ou ainda, porque uma das áreas que mais se reivindica qualificações para os professores, como eu, use do princípio de autoridade para negar esta qualificação, justamente o contrário do que se pressupõe uma universidade em sua razão de ser e em sua responsabilidade, segundo pensava em meu primeiro trabalho na faculdade de Filosofia, na disciplina de Introdução ao curso e à universidade, quando analisava esta questão a partir do texto de Jacques Derrida, As pupilas da Universidade - o princípio de razão e a ideia da universidade, e levantava sua questão razão de ser da universidade, da relação dela com o seu entorno e os muros que se interpõem sua visão ao que está em volta, remontando isto à Metafísica, de Aristóteles, a qual justifica senão o princípio de autoridade da universidade, em particular, de seus professores, bem como o princípio de autonomia ao qual ela e principalmente eles se arrogam, desde Kant e seu célebre texto Resposta à pergunta: O que é esclarecimento?
Longe, porém, de deixar de fazer uma mea culpa a este respeito, de fazer jus a uma reprovação inconteste para mim, independe da forma, o filme recente Os estagiários, demonstra bem como a universidade está demente não em sua razão de ser, como a definira Derrida, mas em sua responsabilidade de contribuir para além de sua razão de ser com o desenvolvimento do capital humano que uma sociedade precisa. Isto porque, este filme, uma comédia sobre a relação entre conhecimento e trabalho na sociedade atual, revela aquilo que mais falta à universidade hoje em dia, principalmente no caso específico de suas seleções de doutorado e mestrado, mas também em muitas escolas, que é a crença no potencial das pessoas dando a elas a oportunidade de desenvolvê-lo numa aposta que pode muito bem dar errada, mas que se der certo pode mudar a vida de uma pessoa. O que, mais do que deixar de preencher uma vaga, o que a universidade deixa de preencher é a vida de uma pessoa que pretende desenvolver o seu potencial e pensa que nela está a melhor possibilidade de desenvolvê-lo.
Em outras palavras, a universidade ao simplesmente negar a vaga a uma pessoa por seu princípio de autoridade, de arrogância em muitos casos, nega a possibilidade de seu próprio desenvolvimento, algo que nenhuma empresa como a Google faz, pressupostamente no caso do filme, cujo mérito é demonstrar que apostar no desenvolvimento pessoal e profissional de alguém, mesmo quando ele parece limitado, é algo premente para todas as instituições que querem se desenvolver, em qualquer área, algo que qualquer universidade deveria fazer em sua razão de ser, algo que, por ventura, a separaria, enfim, de toda a metafísica, mas que ela simplesmente nega, pois em sua caduquice ela só aposta em sua própria morte e na daqueles em que ela confia para trazer-lhe a água ou o cafezinho, como muitos dizem.
A universidade, porém, é o melhor lugar para quem quer desenvolver seus estudos quando o princípio de autoridade não se transforma no princípio de autoritarismo cujo fundamento é sua própria arrogância de um direito que ela não tem, no caso, o direito de negar a qualificação a alguém dispondo ela de vagas quando é, ademais, pública e gratuita e se quer dizer de qualidade, mesmo que ela se arrogue este direito, por aquele princípio. Por este motivo, principalmente, por mais que ela seja ainda uma medida de valor de capital humano na sociedade, mais do que nunca seu valor tem se depreciado nela, como é comum se comentar, não por ela ter deixado de ser útil, mas por ser incapaz de em seu princípio de autoritarismo cumprir com sua responsabilidade de qualificar aqueles cujo potencial são quase incontestes. Pois é quase impossível que alguém que se submeta a uma seleção de mestrado e de doutorado não tenha um potencial que possa ser desenvolvido durante o período de dois e quatro anos respectivamente destes cursos.
Felizmente, hoje em dia, mais do que na época de Benjamin, há vida para além da universidade e mais do que um choro de lamentação, a vida continua e aprendemos hoje em dia mais com o Google, como no filme Os estagiários, do que na universidade, pois nele nunca se negará acesso e haverá sempre vagas para aqueles que querem desenvolver seu potencial, trabalhando ou não para ele, com a criação de blogs e sites onde o princípio de autoridade nunca vai se tornar um princípio de autoritarismo como o que rege algumas universidades.
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