Cinema e Revolução

Quantas revoluções uma pessoa vivencia durante sua vida? Muito provavelmente apenas uma, mesmo que ela viva 100 anos. Mas se perguntarmos quantas revoluções uma pessoa vive no cinema durante sua vida, neste caso, poderão ser muitas, de diferentes modos, em diferentes tempos históricos, épicas ou simplesmente cotidianas. Neste sentido, o cinema tem mais relação com a revolução do que imaginamos, principalmente quando ele não retrata revoluções históricas que nunca vivenciamos, colocando-nos num devir revolucionário cinematográfico permanente.

Difícil lembrar de tantos filmes sobre revoluções nunca vividas, apenas imaginadas e vivenciadas no cinema. Cada um tem a sua preferida e algumas são indiscutíveis tamanha a amplitude que adquiriram ao se tornarem blockbusters, como a trilogia de Matrix (1999-2003), ou por terem adquirido o estado de cult, como Um dia de fúria (1993), que talvez ninguém veja como revolucionário, simplesmente como uma revolta, por não envolver a luta de um povo oprimido por se libertar de seu opressor, mas demonstra que uma revolução não acontece apenas de modo épico na história. Todos os dias lutamos pela nossa vida contra algo que muitas vezes parece pouco opressor, mas está ali nos oprimindo constantemente a nos fazer almejar uma vida melhor qualquer que seja, pois o poder, já nos demonstrara Foucault há décadas atrás, não está presente apenas na autoridade de um Estado, mas em qualquer lugar, diluído em sua microfísica.

Seja como for, o devir revolucionário está presente constantemente no cinema como sua própria imagem em movimento e tempo nos iludindo constantemente a querer a revolução, a querer revolucionarmos o nosso dia, fazer algo diferente de nossa vida, contra aquilo que impede de nos mantermos vivos, ou plenamente vivos. Mas, assim como nos prega uma revolução constante, o cinema também nos desvela poderes constantes aos quais vislumbramos como opressores sem nem mesmo existirem ou existirem, ainda, apenas em ficção. E é neste ponto que ele também revoluciona, pois ele nos permite ver poderes que não percebemos na realidade, mas podem existir, e se existirem algum dia, que estejamos pronto para eles de qualquer modo.

Estar pronto para revolução é, por assim dizer, o lema do cinema e ele mesmo se revoluciona a cada dia com seus efeitos especiais criando lutas, batalhas e cenas revolucionárias épicas que jamais existiram e jamais existirão, pelo menos daquele modo, pois são apenas ficção. Cenas em que vibramos com a destruição dos nossos algozes, em que sentimos o prazer por nos libertar por tudo que nos oprime, em que sentimos a glória pela nossa liberdade ainda que fictícia e não conseguimos evitar as lágrimas eufóricas de termos vencido uma batalha, de uma guerra ter acabado mesmo que ela nunca tenha existido, tenha sido apenas imaginada por nós durante aquele breve momento, como na batalha final do filme Crepúsculo - Amanhecer - Parte (2012), uma batalha épica entre vampiros e lobisomens contra vampiros de um clã superior cujo efeito especial mais surpreendente é ter existido apenas na mente do chefe do clã superior de vampiros, vislumbrando o fim que teria se enfrentasse os vampiros e lobos que estavam contra ele.

Se há, enfim, uma relação entre o cinema e a revolução muito maior do que imaginamos não é porque o cinema pode mudar a nossa realidade, transformando-a melhor, como a imaginamos, mas por nos colocar neste devir revolucionário permanente através de suas revoluções fictícias com as quais nos identificamos e ansiamos por travar em busca de nossa própria liberdade. Listar todos os filmes que nos fazem se sentir assim é uma batalha épica que cada um pode fazer, mais uma vez de modo fictício, lembrando-se dos filmes de revoluções que assistiu. No meu caso, além da trilogia Matrix e Um dia de fúria (que pode ser incluído em nossas revoluções diárias), Rapa Nui, A revolução dos bichos, O exterminador do futuro, V de Vingança...

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