Gooooooool!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

O futebol é um esporte que se joga entre quatro linhas, mas o mais importante é o que acontece fora delas: o gol! Aquilo que diferencia este esporte de todos os outros, mas também que o faz o mais humano de todos os esportes.

Se o futebol é o esporte mais humano de todos é porque vivemos sempre no limite de quatro linhas, de um espaço que se limita em nossa volta, de um corpo que nos prende constantemente e do qual, ansiava Platão, buscamos nos libertar, extravasar, ir além dele, o que só podemos fazer isso se marcarmos um gol, se vivenciarmos ou produzirmos algo em nossa vida que seja o acontecimento de um gol, aquilo que extrapola os limites que se impõem e interpõem a nós. Mas como é difícil marcar um gol! Como é difícil vivenciar ou produzir este acontecimento! Colocar a bola para fora das quatro linhas justamente ali onde é permitido e onde muitos não permitem, não querem que coloquemos!

Diferente dos outros esportes, no futebol, não há pontos, há gols. Neste sentido, diferente do basquete, que também é uma passagem ao limite das quatro linhas, também é um colocar a bola na rede por entre uma abertura, uma fenda, uma falha no sistema das quatro linhas, no caso, pelos aros circulares em vez de traves retangulares, no fato de se fazer gols no futebol em vez de se fazer pontos no basquete, não apenas muda o objetivo de cada esporte, mas aquilo que acontece a nós em cada um deles, a cada gol e a cada ponto. No caso, muda a expectativa que criamos em relação ao futuro, ao que pode acontecer, ao acontecimento mesmo enquanto ponto ou gol, pois aquele acontece sempre num jogo de basquete, no futebol, quase sempre.

E é nisto que o futebol se torna mais humanos também do que outros esportes. Ninguém imagina um jogo de basquete sem pontos, como nenhum outro esporte, mas é possível, imaginável e mesmo plenamente realizável um jogo de futebol sem gols, sem que ele aconteça, sem que aconteça o que esperamos, o que ansiamos, o que desejamos ardentemente e ferozmente como animais para com ele extravasarmos o grito preso na garganta, toda a vida contida no corpo e o corpo contido em si mesmo, pois também ele anseia por liberdade, a liberdade de agir livremente, como um louco desvairado pelo campo à procura de outros corpos para abraçar, beijar, cair, rolar sem se preocupar com o que todos estão pensando. Ademais, porque todos estão vivenciando o mesmo acontecimento do gol, mesmo aqueles que sofrem com ele, que ele faz sofrer, pois, como acontecimento propriamente humano, o gol é tanto aquilo que alegra como deixa triste, quando acontece, mas também quando não acontece.

Se o gol é um acontecimento do futebol é, por sua vez, porque enquanto acontecimento ele é inesperado, mesmo que o esperemos. Pode acontecer e pode não acontecer. E se acontecer, deixa tanto alegre como triste, como também deixa triste e alegre se não acontecer, pois, dependendo da ocasião, o empate é um bom resultado! Outra diferença do futebol: em nenhum outro esporte se admite o jogo termine em empate. Nos outros esportes, sempre deve-se ter um vencedor, sempre deve ter um alegre e um triste com a vitória e a derrota, sempre o objetivo a ser alcançado em cada esporte,  aquilo que faz ele acontecer, todos se reunirem em torno dele vivenciando seu acontecimento, deve ser algo que os divide em lados opostos, contrários em sensações, afectos e pensamentos, em que supera o outro, um vai além do outro, atinge um ponto máximo que o outro não conseguiu, o clímax, o gozo de sua relação a dois.

No futebol também se espera que se consiga o objetivo, mas, diferentemente, nele, isto pode não acontecer, e se não acontecer, não necessariamente isto vai ser ruim, pois, não necessariamente o jogo foi ruim, o futebol propriamente não aconteceu. Faltou o gol, mas não faltaram lances de gol! Momentos em que o gol quase aconteceu, em que o grito preso na garganta se transformou em frêmito contido pelo corpo, momentos em que o desejo pelo gol, com o gol, foi substituído pelo desejo do quase gol, em que a transposição do limite foi substituída pelo limite mesmo do desejo. Todo um controle do id pelo ego com o qual também nos satisfazemos como jogo bem jogado, porque, também nele, imperceptivelmente, passamos ao limite.

O limite no futebol não se limita às quatro linhas do campo, mas também às ações nele, principalmente, mas também fora dele. Há toda uma moral no futebol, neste caso, simbolizada pelas quatro linhas do campo, pelas ações ou comportamentos que os jogadores devem ter dentro delas, mas também fora delas, chamado propriamente de fair play, e, sobretudo, simbolizada e constituída em realidade pelo juiz que está ali para analisá-las, julgá-las e sentenciá-las a uma pena, um contimento dela dentro limites do jogo, a saber: uma advertência verbal, simbólica, nos cartões amarelo e vermelho, por fim, uma advertência por escrito, a súmula, ao fim do jogo a partir da qual esta pena pode se estender indefinidamente dependendo da gravidade da ação a outros juízes e outros tribunais que não o próprio campo. Podendo, neste caso, acontecer o banimento do futebol, a pena perpétua para um jogador: não poder mais jogar, pelo menos oficialmente, isto é, com o aval dos juízes do futebol.

Contudo, se há toda esta moral no futebol, todo o limite das quatro linhas transposto para as ações dos jogadores (Não pode morder! Não pode cuspir! Não pode xingar! Enfim, não pode agredir!), limitando-os em seu desejo pelo gol que muitas vezes leva à violência, o gol, bem como os lances de gol constituem toda a ética do futebol na qual a violência é driblada pelo jogador em seu desejo de fazer o gol, com lances em que o corpo regrado em suas ações, pelos juízes e pelos adversários ao seu desejo encontram, se não o gol, um espaço no qual ele se realize de modo livre, que ele aconteça para além das quatro linhas, que o extravase para além delas, de seu espaço, mas também do tempo. Um lance que o imortalize, que faça o futebol acontecer mesmo que o gol não aconteça, porque o gol, se é o acontecimento do futebol, ele não por menos a expressão dos lances que o produziram, ou não o produziram (como um drible do jogador ao colocar a bola por entre as pernas do adversário como se elas fossem as traves do gol!), lances que são aquilo que expressam a liberdade do ser humano em relação a suas adversidades, a todos os limites que se impõem e se interpõem a ele, lances de genialidade, de alguém fora de série, que não se produz e não se reproduz, que não pode ser produzido ou reprodutível por outros, em outro lugar, em outro momento senão naquele no espaço-tempo de um drible, um lance de gênio, o deslocamento de todo o corpo e todo o pensamento em relação a tudo que se coloca à sua frente como um empecilho, um limite ao seu desejo, sua liberdade.

O que o que se diz em relação ao drible ou lande de gênio de um jogador fora de série refere-se portanto a sua ética dentro de campo, e pode ser dito não apenas de um jogador, mas de um time todo, de toda um país, uma nação, na medida em que depende de cada jogador a cada momento deliberar, decidir e fazer o que decidiu para conseguir o gol, mas, sobretudo, porque depende de cada um encontrar um meio de realizar o seu desejo sem violência, a sua contra os adversários, mas também em relação a deles e dos juízes que querem sobrepor sua violência a ele. O que isto só pode ser conseguido transpondo as regras, isto é, mudando as regras do jogo, as leis que se colocam em relação a ele, aquilo que se coloca como uma violência a ele, um impedimento ao seu desejo de gol o jogador com um lance aos quais as regras já não se apliquem, mesmo a dos juízes, percam sua validade e legitimidade, em que a violência, se é possível dizer que ela existe ainda, pois nenhum jogador ou juiz gosta de ser driblado, e pode considerar isto uma ofensa, punível com uma falta, esta violência é o acontecimento, também ela, do gol do futebol, o qual representa o grande acontecimento do futebol, o drible de todos os que jogam e não jogam em relação a tudo que lhe é adverso, seus adversários, tudo aquilo que se coloca como limite e como violência a si, um impedimento à realização de seus desejos, à sua liberdade de agir, pensar, sonhar, ser quem quiser ser, mesmo que o gol demore ou por vezes não venha a acontecer.

Eis porque talvez possamos dizer que o futebol, jogar futebol é realmente uma arte, talvez como todos os outros esportes, diferentes e semelhantes a ele, pois apenas a arte nos realiza plenamente de modo ético, isto é, nos traz a felicidade da realização de um desejo que nos imortaliza para sempre como um gol de placa o qual nunca mais esquecemos.

Ou ainda, para muitos, seja o futebol uma religião, pois somente com a mão de Deus, um drible divino a se tornar gol, o desejo deles se realize, tornando-se felizes com a beatitude ou graça divina, ainda que gol de mão não valha no futebol conforme a regra clara e evidente, mas o futebol, se é feito de regras, o gol sob é a suspensão de todas as regras cuja mão de Deus agindo pela mão humana beata e em graça demonstra o quanto nele, como se diz, tudo é possível até o apito final.

Por tudo isto, filosoficamente, ele é o mais humano de todos os esportes, pois em nenhum outro a humanidade se faz tão presente ao mesmo tempo que esquece de si mesma como no momento ou na ausência do Gooooooooooooooooooooooooooooooool!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

P.S. Ao procurar a imagem de um gol para ilustrar este texto, ao colocar a palavra "gol" no Goo(g)l(e), num primeiro momento, na guia "Web", apareceu a logo de uma companhia de transporte aéreo. Ao mudar a pesquisa para a guia "Imagens", apareceu a imagem de um carro, ambos denominados como "gol".

Ao mudar, para a guia "Notícias", eis que apareceu em destaque na primeira notícia a imagem de Di María, da Argentina, e de Shaqiri, da Suíça, num lance em que Shaqiri tenta deter Di María, mas não consegue aparentemente, num dos momentos do jogo de ontem, ARGxSUI, pelas oitavas-de-final da Copa do Mundo no Brasil 2014.

Ao mudar para a guia "Vídeos", no primeiro vídeo em destaque, novamente a imagem de Di Maria, agora, comemorando seu gol contra a Suíça com um coração formado pelas mãos. 

Por fim, pois paro na guia "Mapas", apareceu então a imagem no início deste texto, onde se pode ver que o gol está no canto esquerdo, acima, perto do Aeroporto Internacional de Fortaleza, distante da Arena (Estádio) Castelão, há direita, abaixo. E, a meio caminho de um e outro, indo de carro, ou de ônibus, pela Silas Munguba, mais conhecida como Dedé Brasil, de frente para ela, eu, imperceptível em minha casa onde escrevo este texto e vejo os torcedores passarem a caminho dos jogos de futebol, como os da Copa do Mundo, ansiosos como eu por gritarem Goooooooooooooooooooooooooooooooooooooooool!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Mais um, só que não!

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