O "x" da questão

De repente, o botão da letra no teclado do meu notebook começou a falhar até que agora definitivamente não consigo escrevê-la, a não ser copiando e colando ela de outra palavra. Em princípio, esta solução parecia razoável, isto é, poderia ser aplicada sem maiores problemas. Contudo, aos poucos a razoabilidade desta operação se tornou complicada e o que era um problema simples de ser resolvido eis que se tornou um problema filosófico, pois comecei a pensar sobre a importância desta letra em nossas vidas.

Pensando, pois, nesta letra, na ausência dela, mais particularmente, lembrei-me como é fácil imaginar que ela é referida comumente a uma questão a qual, como diz Derrida sempre se remete a outro, sempre interroga o outro, é posta ou imposta a ele. É fácil, por sua vez, lembrar na história da filosofia a importância desta letra quando ela se refere a uma questão, principalmente se pensarmos em Sócrates e as questões colocadas aos seus pares, bem como as consequências destas questões levando-o à condenação de morte.

Antes, porém, desta referência à questão e à morte a qual ela pode levar, esta letra já aparece na clássica peça Édipo Rei, de Sófocles, quando Édipo, na encruzilhada que define sua vida, assassina seu pai na primeira briga de trânsito da história, e começa assim a realizar o seu destino o qual inclui responder em seguida justamente a questão que lhe (im)põe a Esfinge, a ele que é, desde seu abandono por Laio, o rei de Tebas, não por menos é o outro, o estrangeiro a ser interrogado. Uma questão posta pela Esfinge que é ademais um enigma, isto é, algo que esconde uma verdade que deve ser revelada sob pena de morte dele e de qualquer um que a quisesse responder e errasse sua resposta, mas cuja resposta correta revelaria não por menos a verdade que libertaria Tebas e seu povo, uma verdade que diz respeito, neste sentido, justamente ao homem em sua vida, não apenas como ser que nasce, torna-se adulto e morre, mas que se liberta ao responder às questões que lhe são (im)postas durante a vida.

Ao pensar no x como a encruzilhada que se interpôs na vida de Édipo e como esta se colocou como questão ao chegar em Tebas por meio da Esfinge é impossível não pensar como o x se refere a uma questão de vida e de morte, ao cruzamento de vida e morte como dois caminhos que se interpõem como questão interposta a nós a nos perguntar qual devemos escolher seguir para realizar ou mudar nosso destino. Uma questão que se coloca como um corte, uma cisura no tempo e no espaço que nos faz defrontarmos com o que somos, quem somos e o que devemos fazer. Uma questão que esconde, portanto, uma verdade a qual, por mais que já esteja definida por outro como nosso destino, ainda não conhecemos e podemos encontrar, mas cientes, por meio de Édipo que ao encontrarmo-la também podemos nos cegar ao chegarmos ao x da questão.

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