Tales de Mileto e a Filosofia Pop
De Tales de Mileto, considerado um dos Sete Sábios gregos, mas também o primeiro filósofo, há duas histórias que são como que metáforas, mitos ou causos que demonstram de certo modo o que é a filosofia e que remetem há alguns dos problemas relacionados ao que atualmente se chama Filosofia Pop.
A primeira história, metáfora, mito ou causo remete-se a Platão em seu livro Teeteto, sobre o conhecimento, no qual Sócrates relata o caso da rapariga da Trácia que zombou de Tales por este ter caÃdo num poço ao observar o céu, demonstrando sua curiosidade astronômica na época.
Na segunda, devido seus conhecimentos astronômicos, isto é, por justamente ficar observando o céu, diz-se que ele conseguiu prever, além do eclipse de 585 a.C., um boa colheita de azeitona um ano antes dela acontecer e que, sabendo disto, alugou todas as prensas de azeite de oliva da região fazendo com que todos os produtores de azeite na época da colheita tivessem de pagar a ele para usar as prensas, tornando-se assim o primeiro capitalista da história ao criar, não por menos, também o primeiro monopólio da história, tornando-se muito rico. Tornar-se rico, porém, não sendo objetivo de seu conhecimento, diz-se.
Pode-se perceber que ambas as histórias, metáforas, mitos ou causos remetem-se ao problema do conhecimento, dos motivos que nos levam a ele, mas também das consequências em relação a adquiri-lo, que, num certo sentido, podem ser ruins socialmente, cômicas e até mesmo motivos de exclusão, na medida em que nos torna um lunático ou louco, não enxergando a realidade, como no caso da queda de Tales no buraco de tanto observar o céu, ou boas socialmente, sérias e importantes nos levando a uma inclusão na realidade tal como ela é, como se diz, como quando ele utilizou o conhecimento de olhar as estrelas para prever um acontecimento da natureza aproveitando-se disto para enriquecer às custas dos produtores de azeite.
Em relação a estas histórias também podemos perceber que são antitéticas, isto é, demonstram valores em relação ao conhecimento que se opõem em certa medida, no primeiro caso, um valor depreciativo, de uma queda, no segundo, um valor lucrativo, de uma ascensão. E que, neste sentido, pode-se perceber ainda em relação ao conhecimento propriamente dito que há uma oposição, pois a primeira demonstra um conhecimento vulgar, comum, no qual Tales cai de modo ridÃculo, duplamente, na natureza e na sociedade, diante do questionamento da própria possibilidade de ir além no conhecimento como pensa o senso comum, limitando-se a ridicularizar, isto é, tornar ridÃculos todos aqueles que querem ir além no conhecimento, conhecer cada vez mais, fazendo de loucos aqueles que se pretendem teóricos como se diz. E a segunda, ao contrário, demonstrando que através deste conhecimento teórico, por mais ridÃculo que sejam ao senso comum aqueles que o buscam, pode-se conseguir uma ciência e/ou filosofia da natureza e da sociedade, com isto conseguindo, por sua vez, uma vida melhor.
Remetendo-se à filosofia propriamente dita, estas duas histórias demonstram que a filosofia é tanto um saber que distancia as pessoas da realidade, natural e/ou social, como no primeiro caso, como também é um saber que aproxima as pessoas da realidade, conhecendo-a de um modo que as pessoas não conhecem como no segundo caso. Remetem, portanto, à duas imagens do filósofo de que fala Deleuze em seu livro Lógica do sentido: no primeiro caso, a imagem do filósofo das alturas, fixada por Platão exemplificada pela queda de Tales devido seu ir à s alturas, e, no segundo, do filósofo da profundidade, pensado por Nietzsche a partir dos pré-socráticos, exemplificada por Tales em seu por os pés no chão, por assim dizer, utilizando o conhecimento para algum benefÃcio na realidade. Mas remetem também à terceira imagem do filósofo segundo Deleuze, no caso o filósofo das superfÃcies, o estoico, o filósofo do acontecimento, acontecimento este exemplificado pela queda e ascensão de Tales de Mileto ao mesmo tempo por ele "ter caÃdo num poço ao observar o céu", ou ainda, na medida em que podemos dizer que o distanciamento da realidade é a condição de possibilidade de uma aproximação da filosofia com a realidade em si na medida em que é somente distanciando-se da realidade que é possÃvel conhecê-la profundamente. Segundo este paradoxo, demonstrando-se, outrossim, que para o filósofo teoria e prática não se opõem do ponto de vista do conhecimento, e sim, que a teoria é prática, mesmo que muitos comum e vulgarmente a considerem inútil. Pois, apesar de absurdo em seu paradoxo, é este o seu sentido, como diz Deleuze, quando se refere a este dizendo que
Neste sentido, estas duas histórias sobre Tales de Mileto antecipam em milhares de anos o problema da chamada Filosofia Pop, que pretende sair das bibliotecas de universidades para os jornais cotidianos, com o objetivo de
como diz o texto Giros, rodopios e piruetas, justamente na coluna Filosofia Pop do jornal O Povo, ressaltando o que é comum hoje em dia, isto é, ver um filósofo publicando num jornal escrito ou comentando num jornal televisivo e fazendo pensar um determinado acontecimento ocorrido contemporaneamente. Isto porque com este objetivo a filosofia pop quer, por assim dizer, prever ou se prevenir quanto ao que aconteceu a Tales de Mileto em sua queda, como talvez quisera Platão fazer também com seu relato e como alerta Paulo Domenech Oneto em outro texto desta coluna, Crônicas ruminantes, isto é, de que
Todavia, sob outra perspectiva, com isto ele demonstra não uma contradição do pensamento como se costuma dizer, mas o paradoxo antes aludido aqui, que se repete agora, o de que é separando-se que se aproxima, que é justamente o paradoxo da filosofia desde Tales, seu envenenamento, como diz Oneto, mas também seu remédio, "reduzir um pensamento ao seu aqui-e-agora", ser ela ao mesmo tempo uma separação e aproximação do pensamento com a realidade aqui e agora, isto é, ser um a-partamento do pensamento e a realidade aqui e agora auto-ajudando todos aqueles que querem atravessar os regatos selvagens da realidade quando a se porem na vida, os quais devemos transpor com pés ligeiros como disse Nietzsche, nadando ou surfando na superfÃcie das águas contra a correnteza ou com pés firmes na superfÃcie da terra sob as águas para não ser levado pela correnteza, buscando sempre a outra margem, paragens, outras perspectivas. Pois como disse Oneto, realmente, tudo depende de perspectiva.
A primeira história, metáfora, mito ou causo remete-se a Platão em seu livro Teeteto, sobre o conhecimento, no qual Sócrates relata o caso da rapariga da Trácia que zombou de Tales por este ter caÃdo num poço ao observar o céu, demonstrando sua curiosidade astronômica na época.
Na segunda, devido seus conhecimentos astronômicos, isto é, por justamente ficar observando o céu, diz-se que ele conseguiu prever, além do eclipse de 585 a.C., um boa colheita de azeitona um ano antes dela acontecer e que, sabendo disto, alugou todas as prensas de azeite de oliva da região fazendo com que todos os produtores de azeite na época da colheita tivessem de pagar a ele para usar as prensas, tornando-se assim o primeiro capitalista da história ao criar, não por menos, também o primeiro monopólio da história, tornando-se muito rico. Tornar-se rico, porém, não sendo objetivo de seu conhecimento, diz-se.
Pode-se perceber que ambas as histórias, metáforas, mitos ou causos remetem-se ao problema do conhecimento, dos motivos que nos levam a ele, mas também das consequências em relação a adquiri-lo, que, num certo sentido, podem ser ruins socialmente, cômicas e até mesmo motivos de exclusão, na medida em que nos torna um lunático ou louco, não enxergando a realidade, como no caso da queda de Tales no buraco de tanto observar o céu, ou boas socialmente, sérias e importantes nos levando a uma inclusão na realidade tal como ela é, como se diz, como quando ele utilizou o conhecimento de olhar as estrelas para prever um acontecimento da natureza aproveitando-se disto para enriquecer às custas dos produtores de azeite.
Em relação a estas histórias também podemos perceber que são antitéticas, isto é, demonstram valores em relação ao conhecimento que se opõem em certa medida, no primeiro caso, um valor depreciativo, de uma queda, no segundo, um valor lucrativo, de uma ascensão. E que, neste sentido, pode-se perceber ainda em relação ao conhecimento propriamente dito que há uma oposição, pois a primeira demonstra um conhecimento vulgar, comum, no qual Tales cai de modo ridÃculo, duplamente, na natureza e na sociedade, diante do questionamento da própria possibilidade de ir além no conhecimento como pensa o senso comum, limitando-se a ridicularizar, isto é, tornar ridÃculos todos aqueles que querem ir além no conhecimento, conhecer cada vez mais, fazendo de loucos aqueles que se pretendem teóricos como se diz. E a segunda, ao contrário, demonstrando que através deste conhecimento teórico, por mais ridÃculo que sejam ao senso comum aqueles que o buscam, pode-se conseguir uma ciência e/ou filosofia da natureza e da sociedade, com isto conseguindo, por sua vez, uma vida melhor.
Remetendo-se à filosofia propriamente dita, estas duas histórias demonstram que a filosofia é tanto um saber que distancia as pessoas da realidade, natural e/ou social, como no primeiro caso, como também é um saber que aproxima as pessoas da realidade, conhecendo-a de um modo que as pessoas não conhecem como no segundo caso. Remetem, portanto, à duas imagens do filósofo de que fala Deleuze em seu livro Lógica do sentido: no primeiro caso, a imagem do filósofo das alturas, fixada por Platão exemplificada pela queda de Tales devido seu ir à s alturas, e, no segundo, do filósofo da profundidade, pensado por Nietzsche a partir dos pré-socráticos, exemplificada por Tales em seu por os pés no chão, por assim dizer, utilizando o conhecimento para algum benefÃcio na realidade. Mas remetem também à terceira imagem do filósofo segundo Deleuze, no caso o filósofo das superfÃcies, o estoico, o filósofo do acontecimento, acontecimento este exemplificado pela queda e ascensão de Tales de Mileto ao mesmo tempo por ele "ter caÃdo num poço ao observar o céu", ou ainda, na medida em que podemos dizer que o distanciamento da realidade é a condição de possibilidade de uma aproximação da filosofia com a realidade em si na medida em que é somente distanciando-se da realidade que é possÃvel conhecê-la profundamente. Segundo este paradoxo, demonstrando-se, outrossim, que para o filósofo teoria e prática não se opõem do ponto de vista do conhecimento, e sim, que a teoria é prática, mesmo que muitos comum e vulgarmente a considerem inútil. Pois, apesar de absurdo em seu paradoxo, é este o seu sentido, como diz Deleuze, quando se refere a este dizendo que
o sentido é o que se forma e desdobra na superfÃcie. Mesmo a fronteira não é uma separação, mas o elemento de uma articulação tal que o sentido se apresenta ao mesmo como o que ocorre aos corpos e o que insiste nas proposições.
Neste sentido, estas duas histórias sobre Tales de Mileto antecipam em milhares de anos o problema da chamada Filosofia Pop, que pretende sair das bibliotecas de universidades para os jornais cotidianos, com o objetivo de
levar o pensamento para outras paragens, recolocando as questões em um panorama transdisciplinar – uma vez que valoriza a intercessão entre os saberes artÃsticos, cientÃficos e cotidianos – e transcultural – na medida em que busca levar ao limite o paradoxo local-universal, especialmente em relação à cultura brasileira contemporânea.
como diz o texto Giros, rodopios e piruetas, justamente na coluna Filosofia Pop do jornal O Povo, ressaltando o que é comum hoje em dia, isto é, ver um filósofo publicando num jornal escrito ou comentando num jornal televisivo e fazendo pensar um determinado acontecimento ocorrido contemporaneamente. Isto porque com este objetivo a filosofia pop quer, por assim dizer, prever ou se prevenir quanto ao que aconteceu a Tales de Mileto em sua queda, como talvez quisera Platão fazer também com seu relato e como alerta Paulo Domenech Oneto em outro texto desta coluna, Crônicas ruminantes, isto é, de que
é justamente o pensamento dito “filosófico” que acaba correndo o risco de se distanciar demais do espaço-tempo de sua emergência, ao assumir certo ar solene e ao se colocar como questionador dos resultados do pensamento mais imediato, de conclusões rápidas, generalizantes e definitivas.Deste modo ressaltando uma certa oposição de status social entre aquele que detém um saber filosófico e aquele que não o detém, dando-se o filósofo a si mesmo um "ar solene", indo à s alturas, num "sobrevoo", que, diz ele, é um "distanciamento demais" ao qual se deve evitar pois é
uma espécie de “sobrevoo” em que já não se olha mais para baixo, de uma ruptura que fica apenas na negação daquilo com o qual rompe. O pensamento levanta voo (se faz filosofia), mas por vezes não quer (ou não consegue) enxergar sua base de lançamento. Recusa o que o constrange, mas sem poder promover nenhuma mudança nisso que o constrange porque já o perdeu de vista.Em resumo, quer-se evitar a queda de Tales de Mileto devido sua abstração, que mesmo sendo uma tentativa de ridicularização do conhecimento ou uma demonstração de como o conhecimento comum ou vulgar vê o filósofo, não deixa de lhe ser um aviso: não vais a ficar muito tempo olhando as estrelas que pode acabar se dando mal! Olha para o que está em sua volta, aos seus pés, o seu cotidiano! "Cotidiano" que Oneto assevera e prescreve como remédio segundo a estratégia da filosofia pop para evitarmos contrair esta "doença" filosófica do "distanciamento demais", que Tales de Mileto foi pelo visto o primeiro a ter. Porém, como já afirmara Jacques Derrida acerca do pharmakon de Platão, aquilo que é remédio (pharmakon, donde vem a palavra farmácia) pode ser também um veneno (pharmakon), o que o dizer popular confirma bem quando diz que tudo demais é veneno, o que Oneto também percebe no que diz respeito à filosofia pop ao prescrever o "antÃdoto" ou "cura" para evitar o mal filosófico do "distanciamento demais", que ele chama de "cronicidade", o "investimento no cotidiano", pois, se
É a abstração, desenvolvida a partir de um pensamento que se quer radicalmente questionador, que gera o distanciamento. (....)
O novo antÃdoto é o investimento no cotidiano – algo que podemos chamar cronicidade. Seu efeito colateral pode ser a conclusão de que importa pensar rápido, mover-se pela fascinação do mais evidente. Envenenamento é reduzir conceitos a fórmulas (auto-ajuda), reduzir um pensamento ao seu aqui-e-agora, fazendo crer que ele só pode valer ali.Neste sentido, como de praxe à quele que pretende remediar ou curar alguém, médico ou curandeiro, não basta prescrever o remédio, mas também sua dosagem, sua medida, quando ressalva a respeito desta que se deve
Investir no cotidiano sim, mas com lentidão, seguindo a proposta de “ruminação” de um filósofo como Nietzsche (1844-1900). Ruminar para partir do aqui-e-agora indo além dele, de modo nômade e extemporâneo.Em resumo a ascensão de Tales após a queda ao ir além de seu tempo em seu próprio tempo, conseguir ir além da realidade conhecida de modo comum com o seu conhecimento filosófico-cientÃfico, mas, paradoxalmente, sem sair dela, beneficiando-se nela, como diz Nietzsche em suas Preleções à história da filosofia quando se remete justamente a Tales de Mileto, o sábio filósofo, quando diz que este
...busca ressoar em si mesmo o clangor total do mundo e, de si mesmo, expô-lo em conceitos; [pois] enquanto é contemplativo como o artista plástico, compassivo como o religioso, à espreita de fins e causalidades como o homem de ciência, enquanto se sente dilatar-se até a dimensão do macrocosmo, conserva a lucidez para considerar-se friamente como o reflexo do mundo, essa lucidez que tem o artista dramático quando se transforma em outros corpos, fala a partir destes e, contudo, sabe projetar essa transformação para o exterior, em versos escritos.E é também a partir de Tales de Mileto que podemos ver com outra perspectiva o caminho proposto pela filosofia pop quando Oneto faz do filósofo um "cronista" assim como Nietzsche fez dele um artista dramático ao pensar que
Talvez seja esse o caminho para uma reaproximação entre filosofia e vida nos dias de hoje. Escrever crônicas filosóficas, mas no modo lento, a fim de poder avistar um além no relato dos acontecimentos. A crônica, que se debruça sobre o cotidiano sem acatar qualquer distinção a priori entre importante e banal. Tudo depende da perspectiva.Isto porque acreditar em tal "reaproximação entre filosofia e vida nos dia de hoje" é acreditar que ela tenha realmente atingido os "ares de solenidade", que ela realmente se distanciou demais da vida em seu tempo presente, algo que ela nunca fez, e, por ventura, nunca fará, a não ser que se torne outra filosofia. Que o pensamento filosófico desde que Tales de Mileto preconizou que "Tudo é um.", como disse Nietzsche, esteve distante da realidade quando, na verdade ou com certeza esteve totalmente inserido nela, ainda que por breves momentos e ainda que, na verdade ou com certeza não tivesse chegado a ela. Mas avistando-a com seus pés ligeiros na medida em que, segundo outra imagem do filósofo segundo Nietzsche, o filósofo como um "andarilho" ao contrário do cientista ou da pessoa comum, quando se põe diante de um regato selvagem, isto é, diante de uma corrente de água forte, um obstáculo por assim dizer,
com pés ligeiros, salta por sobre ele, usando as pedras e apoiando-se nelas para lançar-se mais adiante, ainda que, atrás dele, afundem bruscamente nas profundezas. O outro, a todo instante, detém-se desamparado, precisa antes construir fundamentos que sustentem seu passo pesado e cauteloso; por vezes isso não dá resultado e, então, não há deus que possa auxiliá-lo a transpor o regato.Neste sentido, podemos dizer que a filosofia se padece de um "mal" de se distanciar demais da realidade, é um "mal necessário", pois é sempre através dele em seu ir além da realidade que ela consegue transpor os regatos selvagens da vida, que ela vai além dos acontecimentos, não de um modo "crônico" todavia, tentando se remediar quanto a eles aliando a crÃtica e a clÃnica, isto é, revivendo o acontecimento passado ainda que próximo no tempo de um modo literário, mas antevendo o futuro pelo acontecimento passdo de modo a poder tirar dele algum proveito. Ou seja, sendo aquilo que justamente Oneto tenta evitar não confundir e que é, e sempre foi, a filosofia: uma auto-ajuda! O que ao negar isto, estabelecendo esta diferença entre filosofia e auto-ajuda, ele distingue o "importante", a filosofia de certo, e o "banal", a auto-ajuda, de modo a priori ao mesmo tempo que diz paradoxalmente que a filosofia pop enquanto crônica justamente "se debruça sobre o cotidiano sem acatar qualquer distinção a priori entre importante e banal".
Todavia, sob outra perspectiva, com isto ele demonstra não uma contradição do pensamento como se costuma dizer, mas o paradoxo antes aludido aqui, que se repete agora, o de que é separando-se que se aproxima, que é justamente o paradoxo da filosofia desde Tales, seu envenenamento, como diz Oneto, mas também seu remédio, "reduzir um pensamento ao seu aqui-e-agora", ser ela ao mesmo tempo uma separação e aproximação do pensamento com a realidade aqui e agora, isto é, ser um a-partamento do pensamento e a realidade aqui e agora auto-ajudando todos aqueles que querem atravessar os regatos selvagens da realidade quando a se porem na vida, os quais devemos transpor com pés ligeiros como disse Nietzsche, nadando ou surfando na superfÃcie das águas contra a correnteza ou com pés firmes na superfÃcie da terra sob as águas para não ser levado pela correnteza, buscando sempre a outra margem, paragens, outras perspectivas. Pois como disse Oneto, realmente, tudo depende de perspectiva.
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