P de Professor de Peso de Pesado

"'P' de professor. Para que os alunos se interessem, é preciso se interessar pelo que você mesmo diz." Assim começa Claire Parnet mais uma parte do "Abecedário de Gilles Deleuze", sua entrevista com o filósofo Gilles Deleuze que tem como roteiro o alfabeto. Ser professor não é fácil, é preciso se preparar, diz Deleuze logo de início. É preciso se preparar se quiser ter 5 ou 10 minutos de inspiração, o que, segundo ele, não é muito diferente de muitas áreas.

Em geral, em filmes de professores, é sempre um aluno que está com dificuldades ou muitos deles. São problemas com drogas, com violência, com os pais, com a autoridade ou com tudo isto e que parecem incontornáveis do ponto de vista do aluno, mas não do professor que o ajuda a enfrentar todos estes problemas, ou não consegue, como no filme Sociedade dos poetas mortos, mesmo com todo a sua "inspiração" de "my captain!" Pelo menos, não consegue completamente. Mas isto não é uma regra. A regra é que ele consegue. Que ele inspira seus estudantes a uma mudança inimaginável e nos leva às lágrimas com seus bons resultados. E ficamos felizes em ver os "alunos" iluminados pelo professor. Com o filme Professor Peso Pesado, de Frank Coraci, não seria diferente. Ou melhor, pensando bem, seria de um certo modo.

No decorrer de sua entrevista a Claire Parnet, Deleuze vai repetir a máxima de que o professor deve se interessar pelo que diz: "É preciso achar a matéria da qual tratamos, a matéria que abraçamos, fascinante." Todavia, destaca ele: "Mas nem sempre achamos interessante o que dizemos." E complementa, demonstrando como isto é mais comum do que pensamos, ademais, muito doloroso, posto que: "Às vezes, temos de nos açoitar. Não que seja desinteressante, a questão não é essa. É necessário chegar ao ponto de falar de algo com entusiasmo." Mas como o professor deve buscar este entusiasmo? Com quem? Em geral, estas não são perguntas demonstradas nos filmes, nem tão pouco são mostradas suas angústias, a não ser num breve momento de desencanto. É aí que é preciso pegar pesado como diz Deleuze, e, às vezes, muito pesado, como no caso de Professor Peso Pesado.

Se o filme Professor Peso Pesado é diferente dos filmes de professores é porque ele é sobre professores, suas dificuldades, e não sobre as dificuldades dos estudantes. Obviamente, os estudantes são parte do problema, mas seus problemas não são o leitmotiv do filme. É o problema de um professor, especificamente, o problema de um professor de música, Martin, prestes a ser despedido, ou ainda, de dois, pois ele recebe a ajuda de outro professor, de biologia, Scott, que já foi um professor brilhante, mas que não é mais, perdeu a inspiração, ou ainda, de três, pois há o professor de lutas marciais, Niko, que não pode mais lutar. Todos em busca de resolver o problema do professor de música, ou ainda, um problema que este professor levanta ao citar Nietzsche ao fim de sua aula: "Sem a música a vida seria um erro." E porque não dizer que é justamente isto que inspira o professor de biologia ao comprar literalmente uma briga para arrecadar o dinheiro necessário para salvar o ensino de música na escola? Que o faz se açoitar aprendendo a lutar MMA com seu professor holandês de lutas marciais, de quem também é professor, isto é, o simples fato de que a vida seria um erro sem a música?

É, portanto, como um filme sobre professores ajudando uns aos outros que este filme se supera mediante aquilo que parece mais cômico, um professor de biologia se tornar lutador de MMA para ajudar a ganhar dinheiro para salvar o ensino de música da escola. Mas o que seria cômico se torna ainda mais entusiasmante, pois o que vemos é professores de música, de biologia e de luta se ajudando. No fim, além da música, a luta os devolve a inspiração que tanto lhes faltava e o que vemos é uma alegria contagiante de todos com um final previsível, mas não menos épico: professores se superando não para ajudar os estudantes, mas para ajudarem a si mesmos, em seus problemas cotidianos, consigo mesmos, em casa, com o que deixaram pra trás e não podem mais recuperar. E assim, cada luta é uma luta não contra outros, mas contra si mesmo, contra sua própria apatia, contra sua própria crença de que não consegue mais e, óbvio, isso não deixa de ser uma inspiração aos estudantes.

Veja o trailer:

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