Educação: tradição e modernidade
Segundo um senso comum, a educação é uma forma de comportamento dentro
de uma sociedade ou cultura, de modo que ser educado significa ter
aprendido práticas valorizadas e reconhecidas pelas pessoas de um
determinado ambiente social e cultural. Contudo, de um ponto de vista
teórico, a educação é um processo de ensino e aprendizagem de conteúdos e
de práticas relacionadas a estes conteúdos com uma finalidade
produtiva, de modo que ser educado, neste sentido, significa ter um
aprendizado que possibilite uma atividade produtiva dentro de uma
sociedade.
A primeira conceituação reflete um ponto de vista tradicional da educação em que ela é considerada um valor a ser ensinado e aplicado em determinada sociedade e cultura e a segunda um ponto de vista moderno da educação em que ela é considerada um produto a ser produzido e consumido por uma determinada sociedade e cultura, o que isto pode ser percebido num quadro explicativo divulgado numa rede social que diz o que é “ser professor” (confira a imagem) e que reflete uma famosa frase título de um livro do pedagogo Paulo Freire, “Professora, sim, tia, não”. Isto porque se não é papel do professor ensinar comportamentos, e sim da família, como diz o quadro, é porque não é uma preocupação da educação moderna ensinar valores a seus alunos, mas pura e simplesmente conteúdos a serem avaliados e aplicados na sociedade como produtos. Da mesma forma, quando Paulo Freire diferencia a professora da tia, busca-se que o educador deva ser reconhecido como alguém capaz de ensinar conteúdos, de modo bancário ou não, isto é, ser um profissional e não um parente que, como os pais, ensine valores a seus “sobrinhos”.
Neste sentido, parece claro a passagem de uma educação tradicional para uma educação moderna, pois ela seria a transformação da educação de um valor em um produto cujo problema pode ser percebido nestas duas passagens do livro A água e os sonhos, de Bachelard:
Quando Bachelard denuncia que as prescrições racionais não atingem um “impulso inconsciente” como os contos e fábulas e, principalmente, os mitos conseguiam, mas já não conseguem mais também, por serem “pitorescos” à racionalidade atual, ele demonstra esta mudança na educação na medida em que enquanto produto ela é incapaz de atender à necessidade da sociedade e da cultura de um ponto de vista dos valores, já que, por exemplo, a prescrição racional dos higienistas não impede que rios e fontes sejam poluídos. Da mesma forma que os especialistas em violência não conseguem evitar a violência crescente nas cidades e os especialistas em acidentes de trânsito não conseguem evitar as mortes também crescentes nas vias e estradas por causa do consumo de bebida alcóolica.
Percebe-se neste sentido que a educação deixou de ser algo bom para a sociedade do ponto de vista dos valores dos quais ela precisa para subsistir para ser boa do ponto de vista dos produtos que cada sociedade pode dispor a partir dela. E o educador, enquanto profissional, perdeu os valores que tinha enquanto “tio”, uma pessoa tão responsável quanto os pais na educação. Neste sentido, educar tornou-se sinônimo de capacitar do ponto de vista dos conteúdos e técnicas e não mais re-criar a cultura e a sociedade, algo que, malgrado o reclame dos educadores, tem sido feito nos últimos anos pela televisão e, mais recentemente, pela internet.
Ironicamente, é através da internet que a educação tem sido resgatada em seu sentido criativo de valores fazendo aquilo que Bachelard pressupunha em relação aos mitos, pois, ao contrário dos educadores, ela tem atingido fortemente os “impulsos inconscientes” das crianças e jovens atualmente e mobilizado-os cada vez mais para um “amor ao saber”. Isto é um saber buscado e não tutelado por um educador ou por um pai, como pressupunha o iluminismo de Kant em seu discurso sobre o esclarecimento no qual aquele que busca o saber percebe o valor que este tem para si em sua vida e não apenas uma finalidade produtiva dele, ainda que esta não esteja dissociada daquela hoje em dia. O que isto pode ser percebido, de certo modo, no reclame de muitos professores que se ressentem de que, com a tecnologia, eles estariam perdendo o seu “valor”, como se este valor já não tivesse sido perdido há muito tempo, desde que eles se tornaram meros de conteúdo. Bem como também no discurso de muitos de que a televisão e a internet, e os jogos eletrônicos numa e noutra, estão pervertendo as crianças e adolescentes, pois isto demonstra o quanto elas estão transmitindo valores ao contrário da escola preocupadas com o repasse do conteúdo, as quais se encontram ou destituídas de valores ou providas de valores que são mais regras e leis sem nenhum pensamento crítico sobre eles, do que valores que os educandos reconheçam como importantes para si.
Neste sentido, para além do bem e do mal que a internet e as tecnologias representem para muitas pessoas, é a partir delas que se visualiza uma educação que crie novamente valores sociais e culturais e cuja utilização só faz temer aos educadores incapazes de usarem seus conteúdos e técnicas para (re)criarem valores assim como acontece na internet com as novas tecnologias.
A primeira conceituação reflete um ponto de vista tradicional da educação em que ela é considerada um valor a ser ensinado e aplicado em determinada sociedade e cultura e a segunda um ponto de vista moderno da educação em que ela é considerada um produto a ser produzido e consumido por uma determinada sociedade e cultura, o que isto pode ser percebido num quadro explicativo divulgado numa rede social que diz o que é “ser professor” (confira a imagem) e que reflete uma famosa frase título de um livro do pedagogo Paulo Freire, “Professora, sim, tia, não”. Isto porque se não é papel do professor ensinar comportamentos, e sim da família, como diz o quadro, é porque não é uma preocupação da educação moderna ensinar valores a seus alunos, mas pura e simplesmente conteúdos a serem avaliados e aplicados na sociedade como produtos. Da mesma forma, quando Paulo Freire diferencia a professora da tia, busca-se que o educador deva ser reconhecido como alguém capaz de ensinar conteúdos, de modo bancário ou não, isto é, ser um profissional e não um parente que, como os pais, ensine valores a seus “sobrinhos”.
Neste sentido, parece claro a passagem de uma educação tradicional para uma educação moderna, pois ela seria a transformação da educação de um valor em um produto cujo problema pode ser percebido nestas duas passagens do livro A água e os sonhos, de Bachelard:
Para uma mente moderna, a diferença entre uma água pura e uma água impura é inteiramente racionalizada. Os químicos e higienistas passaram por aí: um letreiro em cima de uma torneira designa uma água potável. E tudo está dito, todos os escrúpulos terminaram. (BACHELARD, p. 141, 2002)
...Observemos, aliás, que as prescrições de higiene pública, desenvolvendo-se numa atmosfera de racionalidade, não podem substituir os contos. Para lutar contra um impulso inconsciente, seria preciso um conto ativo, uma fábula que fabularia na própria linha dos impulsos oníricos. (Idem, p. 143, 2002)
Quando Bachelard denuncia que as prescrições racionais não atingem um “impulso inconsciente” como os contos e fábulas e, principalmente, os mitos conseguiam, mas já não conseguem mais também, por serem “pitorescos” à racionalidade atual, ele demonstra esta mudança na educação na medida em que enquanto produto ela é incapaz de atender à necessidade da sociedade e da cultura de um ponto de vista dos valores, já que, por exemplo, a prescrição racional dos higienistas não impede que rios e fontes sejam poluídos. Da mesma forma que os especialistas em violência não conseguem evitar a violência crescente nas cidades e os especialistas em acidentes de trânsito não conseguem evitar as mortes também crescentes nas vias e estradas por causa do consumo de bebida alcóolica.
Percebe-se neste sentido que a educação deixou de ser algo bom para a sociedade do ponto de vista dos valores dos quais ela precisa para subsistir para ser boa do ponto de vista dos produtos que cada sociedade pode dispor a partir dela. E o educador, enquanto profissional, perdeu os valores que tinha enquanto “tio”, uma pessoa tão responsável quanto os pais na educação. Neste sentido, educar tornou-se sinônimo de capacitar do ponto de vista dos conteúdos e técnicas e não mais re-criar a cultura e a sociedade, algo que, malgrado o reclame dos educadores, tem sido feito nos últimos anos pela televisão e, mais recentemente, pela internet.
Ironicamente, é através da internet que a educação tem sido resgatada em seu sentido criativo de valores fazendo aquilo que Bachelard pressupunha em relação aos mitos, pois, ao contrário dos educadores, ela tem atingido fortemente os “impulsos inconscientes” das crianças e jovens atualmente e mobilizado-os cada vez mais para um “amor ao saber”. Isto é um saber buscado e não tutelado por um educador ou por um pai, como pressupunha o iluminismo de Kant em seu discurso sobre o esclarecimento no qual aquele que busca o saber percebe o valor que este tem para si em sua vida e não apenas uma finalidade produtiva dele, ainda que esta não esteja dissociada daquela hoje em dia. O que isto pode ser percebido, de certo modo, no reclame de muitos professores que se ressentem de que, com a tecnologia, eles estariam perdendo o seu “valor”, como se este valor já não tivesse sido perdido há muito tempo, desde que eles se tornaram meros de conteúdo. Bem como também no discurso de muitos de que a televisão e a internet, e os jogos eletrônicos numa e noutra, estão pervertendo as crianças e adolescentes, pois isto demonstra o quanto elas estão transmitindo valores ao contrário da escola preocupadas com o repasse do conteúdo, as quais se encontram ou destituídas de valores ou providas de valores que são mais regras e leis sem nenhum pensamento crítico sobre eles, do que valores que os educandos reconheçam como importantes para si.
Neste sentido, para além do bem e do mal que a internet e as tecnologias representem para muitas pessoas, é a partir delas que se visualiza uma educação que crie novamente valores sociais e culturais e cuja utilização só faz temer aos educadores incapazes de usarem seus conteúdos e técnicas para (re)criarem valores assim como acontece na internet com as novas tecnologias.
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