Ruby Sparks e o poder d'As palavras

fevereiro 10, 2013
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O que fazer quando as palavras vêm? E o que fazer quando elas não vêm? Escrever. Um escritor sempre sabe disso. Na presença ou na falta delas, as palavras sempre vêm e a folha nunca fica em branco. A pureza é sempre desvelada pelo negrume das letras que a perfidiam uniformemente. Este é o poder das palavras: elas sempre aparecem e sempre fazem aparecer alguma coisa, mesmo quando parece que não há nada para aparecer. Mesmo quando a folha parece que vai ficar em branco.
Começo a escrever este texto exatamente à meia-noite de uma noite de carnaval, depois de ter assistido ao filme As palavras (The words), e de, na noite anterior, ter assistido ao filme Ruby Sparks, ambos sobre escritores, ambos sobre escrever, ambos sobre o sucesso e o reconhecimento pelo que se escreve, algo que todo escritor busca: leitores. Pessoas que digam que amam seus livros, que perguntem como escreveram, como lhes veio a famosa “inspiração”, o pneuma divino. Ambos dramáticos em suas perspectivas únicas sobre o ato de escrever.
Em Ruby Sparks, o drama da criação que vem sem ao menos se perceber e traz consigo o dilema do que fazer com ela, do que fazer quando a criação aparece diante dos seus olhos perfeita. Isto é, nada. Apenas paralisar diante dela como se não houvesse mais nada no mundo, apreciá-la, absorvê-la o máximo que pode até que sua perfeição se desgaste e com ela, a criação se torne um direito de propriedade. Ou ainda, até que a criação se torne a loucura de seu criador diante do seu próprio poder de fazer o que quiser com ela. Um drama comum nos escritores, o poder sobre sua própria obra. A quem ela pertence: a si ou àqueles que fazem parte da própria história, seus personagens? Afinal, ela é sua ou do leitor que a recria sob seus olhos? O fato dele colocar parte de si na história, a torna sua? O fato dele lhe emprestar a voz e a escrita, ou ainda, o pensamento, faz dela a sua história? As palavras têm dono?
O drama continua em As palavras, pois o que dizer quando o leitor se apropria de suas palavras e de sua história fazendo delas suas? E o que fazer quando perdemos aquilo que escrevemos sob a força de um instante, aquele em que o pneuma nos invade o peito e somente o conseguimos brandir em silêncio, palavra por palavra deposta sobre a folha? Quanto vale o regojizo por uma palavra bem entonada, um verso bem escrito, uma obra-prima literária? A palavra se paga? Seu poder se resume a isto: um bem que se consome em silêncio?
As palavras têm o poder de criar e de recriar qualquer história e destruí-la também. Uma palavra errada e tudo se esvai em pranto, dor, intriga e rancor, da mesma forma que uma palavra bem dita ou escrita traz a lágrima alegre que serpenteia e escorre à boca docemente depois de sulcar o rosto. E tudo se resume a nada. E nada, a tudo. Tudo se envolve em nada e nada se envolve em tudo. Como se o nada fosse tudo e tudo fosse nada.
Enfim, quando chega o fim da história e nada há mais a dizer, quando as palavras se perdem no vazio recôndito de onde elas vieram e o escritor dorme tranquilo despido das vestes que se impunham e sobrepunham sobre ele, pesadas demais para carregar, leve demais para conseguir manter consigo: as palavras e suas faíscas de rubi poderosas.

Ruby Sparks (Ruby Sparks)

Ano de Lançamento: 2012 (Brasil)
Gênero: Comédia
Duração: 104 Minutos
Direção: Jonathan Dayton / Valerie Faris
País de Origem: EUA
Estúdio: Fox Filmes






 
As palavras (The words)

Ano de Lançamento: 2012
Gênero: Drama
Duração: 97 Minutos
Direção: Brian Klugman / Lee Sternthal
País de Origem: EUA
Estúdio: Imagem Filmes







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