Falando grego
Quanto vezes já nos sentimos falando grego? Quantas vezes já não usamos ou ouvimos esta expressão? E quantas vezes, já pensamos sobre ela?
Talvez, respondendo à s primeiras questões, digamos "várias", mas, com certeza, à última, a resposta mais provável é "nenhuma". E é justamente talvez o fato de não pensarmos nesta expressão tão comum que explicite melhor o que é esta sensação manifestada nela, a de falar grego, tão maravilhosamente expressa no filme "Falando grego", cujo tÃtulo original é "My Life in Ruins", cuja tradução literal seria "Minha vida em ruÃnas". TÃtulo original que arruina o filme, com certeza, pois a sua transliteração para "Falando grego" consegue expor aquilo que de mais belo existe nele, a Grécia para aqueles que não são gregos. Algo distante, incompreensÃvel, arruinada de certo não simplesmente por crise econômica, mas esplendorosa em sua sabedoria.
Heidegger, certa vez, disse que somente seria possÃvel entender a filosofia, ou mesmo fazer filosofia, em grego, demonstrando assim todo o seu amor por estes que, hoje, os alemães tanto recriminam por levarem a Europa a uma crise da qual tenta desesperadamente fugir. Parece estranho, mas é sob este pano de fundo grego heideggeriano e crÃtico da Grécia atual que o "Falando grego" se manifesta, nesta entrecruzilhada entre os gregos antigos e os de hoje na qual nos pomos como não menos outro grego, mÃtico, herdeiros desta civilização, isto é, Édipos, desconhecedores de nós mesmos, estranhos em nossa própria terra como se fôssemos "estrangeiros", "aquele que é de outra terra", a Grécia.
Se a Grécia é hoje um paÃs em uma crise econômica séria que respinga para todos os lados as deficiências não do capitalismo, mas do Estado, ela é também há muito tempo um paÃs mÃtico o qual habitamos todas as vezes que falamos grego, sentimo-nos como tal, de um modo desconcertante, quando lançamos um olhar diferente para nós mesmos e nos angustiamos porque o que vemos é algo crÃtico: a nossa falha. Uma falha de comunicação simplesmente, talvez, mas que reflete em nosso âmago, uma falta de entendimento mais profundo sobre nós mesmos, o que estamos fazendo, o que queremos fazer da nossa vida.
Neste sentido, falar grego nos faz sentir estranhos, numa estranheza abissal que pode nos levar a uma ruÃna dependendo do quanto nos sentimos falando grego, mas, por outro lado, estranhamente ainda, é como se aos nos percebêssemos deste modo nos transportássemos para um paÃs distante no qual não vivemos, mas pensamos e imaginamos que tudo fosse diferente e, novamente como Édipo, desejássemos estar nele ou não. Por um momento, é como se nos sentÃssemos como Sócrates parando em um determinado momento do caminho tão costumeiro e nos puséssemos absortos em nós mesmos, com nossos pensamentos, em paÃs distante, Ideal, diria Platão, a Grécia, a antiga de certo.
É surpreendente, por sua vez, que uma expressão não grega faça com que nos sintamos tão gregos, que a transliteração do tÃtulo de um filme seja melhor que seu tÃtulo original, que um filme tão trágico em seu pano de fundo, seja tão comediante, que a falta de comunicação e entendimento em um determinado momento seja aquilo que nos leva tão profundamente a fazer entender: a nós e aos outros, os "gregos". Falando grego é, por fim, a melhor forma de nos sentirmos filósofos, que filosofamos, não porque o "a lÃngua grega", como pensáva Heidegger é a lÃngua da filosofia, mas porque ao falarmos grego falamos a nós mesmos, conhecemo-nos a nós mesmos em nossa própria ignorância, isto é, em nossa falta de compreensão sobre nós e sobre os outros que em seu aspecto crÃtico gera a violência.
Por isso, falemos grego!
Filme: Falando Grego (My Life In Ruins)
Direção: Donald Petrie
Roteiro: Mike Reiss
Ano: 20009
Elenco: Nia Vardalos, Richard Dreyfuss, Maria Adanez e Rachel Dratch
Talvez, respondendo à s primeiras questões, digamos "várias", mas, com certeza, à última, a resposta mais provável é "nenhuma". E é justamente talvez o fato de não pensarmos nesta expressão tão comum que explicite melhor o que é esta sensação manifestada nela, a de falar grego, tão maravilhosamente expressa no filme "Falando grego", cujo tÃtulo original é "My Life in Ruins", cuja tradução literal seria "Minha vida em ruÃnas". TÃtulo original que arruina o filme, com certeza, pois a sua transliteração para "Falando grego" consegue expor aquilo que de mais belo existe nele, a Grécia para aqueles que não são gregos. Algo distante, incompreensÃvel, arruinada de certo não simplesmente por crise econômica, mas esplendorosa em sua sabedoria.
Heidegger, certa vez, disse que somente seria possÃvel entender a filosofia, ou mesmo fazer filosofia, em grego, demonstrando assim todo o seu amor por estes que, hoje, os alemães tanto recriminam por levarem a Europa a uma crise da qual tenta desesperadamente fugir. Parece estranho, mas é sob este pano de fundo grego heideggeriano e crÃtico da Grécia atual que o "Falando grego" se manifesta, nesta entrecruzilhada entre os gregos antigos e os de hoje na qual nos pomos como não menos outro grego, mÃtico, herdeiros desta civilização, isto é, Édipos, desconhecedores de nós mesmos, estranhos em nossa própria terra como se fôssemos "estrangeiros", "aquele que é de outra terra", a Grécia.
Se a Grécia é hoje um paÃs em uma crise econômica séria que respinga para todos os lados as deficiências não do capitalismo, mas do Estado, ela é também há muito tempo um paÃs mÃtico o qual habitamos todas as vezes que falamos grego, sentimo-nos como tal, de um modo desconcertante, quando lançamos um olhar diferente para nós mesmos e nos angustiamos porque o que vemos é algo crÃtico: a nossa falha. Uma falha de comunicação simplesmente, talvez, mas que reflete em nosso âmago, uma falta de entendimento mais profundo sobre nós mesmos, o que estamos fazendo, o que queremos fazer da nossa vida.
Neste sentido, falar grego nos faz sentir estranhos, numa estranheza abissal que pode nos levar a uma ruÃna dependendo do quanto nos sentimos falando grego, mas, por outro lado, estranhamente ainda, é como se aos nos percebêssemos deste modo nos transportássemos para um paÃs distante no qual não vivemos, mas pensamos e imaginamos que tudo fosse diferente e, novamente como Édipo, desejássemos estar nele ou não. Por um momento, é como se nos sentÃssemos como Sócrates parando em um determinado momento do caminho tão costumeiro e nos puséssemos absortos em nós mesmos, com nossos pensamentos, em paÃs distante, Ideal, diria Platão, a Grécia, a antiga de certo.
É surpreendente, por sua vez, que uma expressão não grega faça com que nos sintamos tão gregos, que a transliteração do tÃtulo de um filme seja melhor que seu tÃtulo original, que um filme tão trágico em seu pano de fundo, seja tão comediante, que a falta de comunicação e entendimento em um determinado momento seja aquilo que nos leva tão profundamente a fazer entender: a nós e aos outros, os "gregos". Falando grego é, por fim, a melhor forma de nos sentirmos filósofos, que filosofamos, não porque o "a lÃngua grega", como pensáva Heidegger é a lÃngua da filosofia, mas porque ao falarmos grego falamos a nós mesmos, conhecemo-nos a nós mesmos em nossa própria ignorância, isto é, em nossa falta de compreensão sobre nós e sobre os outros que em seu aspecto crÃtico gera a violência.
Por isso, falemos grego!
Filme: Falando Grego (My Life In Ruins)
Direção: Donald Petrie
Roteiro: Mike Reiss
Ano: 20009
Elenco: Nia Vardalos, Richard Dreyfuss, Maria Adanez e Rachel Dratch
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