Sócrates e o ser irônico
Não por acaso, foi
Sócrates a perceber primeiramente o silêncio do ser humano diante do
universo ao tomar para si a inscrição délfica conhece-te a ti mesmo de um modo irônico, ao mostrar a seus concidadãos o abismo entre o que eram e quem eram eles. Mas também, ao mostrar que a questão posta pelos filósofos anteriores a ele sobre o que era a origem (arkhè) do universo (physis) não era mais importante do que saber quem se é originalmente. E, deste modo, fez com que o pensamento filosófico-científico da época, antes cosmológico, isto é, voltado para a natureza objetiva de um ponto de vista material e exterior, como um corpo, passasse a ser ontológico,
voltado para o ser em sua natureza espiritual e interior, como alma,
interrogando a subjetividade humana, e a filosofia se tornasse
propriamente uma ontologia.
Com a passagem da cosmologia dos primeiros filósofos para a ontologia socrática, não é o objeto do pensamento que muda, do universo para o homem, mas sim, a pergunta que, ao se voltar para o homem, modifica-se, modificando tudo em sua volta. Os objetos, antes percebidos apenas como algo que está diante de nós (em sua aparência) através da ingênua pergunta o que é?, agora se tornam subjetos, isto é, algo percebido dentro de nós, que nós intuimos (em sua essência) ao perguntar quem é?. Já não importa tanto o que é algo do ponto de vista de sua origem material, mas quem é de um ponto de vista de sua origem espiritual, isto é, do que o originou espiritualmente.
A mudança na forma de perguntar produzida por Sócrates resultou numa mudança de postura diante do mundo que passou a ser visto não apenas de um modo natural, mas, sobretudo, social e cultural, e isto, obviamente, produziu mudanças muito maiores do que as ocorridas no pensamento. Enquanto os filósofos dirigiam suas perguntas a physis, estas perguntas apenas produziam mudanças no pensamento dela, ora afirmando uma única origem para ela, ora afirmando uma origem múltipla, sem causar muitas mudanças na sociedade. Pelo contrário, como diz Vernant, as mudanças sociais é que produziam mudanças na concepção da physis, como defende ele em relação a Anaximandro. Todavia, se as mudanças pelas quais passou o universo espiritual e político dos gregos, principalmente, entre século VII e VI a. C. possibilitaram o surgimento da filosofia cosmológica jônica, foram as mudanças ocorridas nesta filosofia que fizeram surgir a filosofia socrática, pois assim como os filósofos jônicos começaram a perceber uma ordem não apenas social e política, mas também uma ordem natural, um cosmos, do qual buscavam a arkhè, Sócrates percebeu que não apenas podíamos conhecer a arkhè da physis, mas também da alma humana. Que arkhè era esta? Só sei que nada sei, dizia Sócrates, em seu modo irônico alertando para o fato de que podemos até saber o que somos (animal, homem, filósofo, professor) mas não sabemos quem somos.
Sócrates não pergunta o que são os objetos ao nosso redor, mas o que pensamos sobre eles. Ele modifica a pergunta literalmente ao perguntar o que somos. Simples objetos? Trata-se de uma ruptura e uma oposição que surge entre a objetividade e a subjetividade a partir de seus questionamentos que estão diretamente ligados a um fato particular de sua vida, como relata em sua defesa perante o tribunal de Atenas, quando é julgado, mas também em relação ao seu saber, pois ele é o primeiro a se perguntar quem é de fato e o que sabe em relação a seu próprio saber ao se interrogar por que diziam que ele era o mais sábio, ou mais sábio do que os outros.
Com a passagem da cosmologia dos primeiros filósofos para a ontologia socrática, não é o objeto do pensamento que muda, do universo para o homem, mas sim, a pergunta que, ao se voltar para o homem, modifica-se, modificando tudo em sua volta. Os objetos, antes percebidos apenas como algo que está diante de nós (em sua aparência) através da ingênua pergunta o que é?, agora se tornam subjetos, isto é, algo percebido dentro de nós, que nós intuimos (em sua essência) ao perguntar quem é?. Já não importa tanto o que é algo do ponto de vista de sua origem material, mas quem é de um ponto de vista de sua origem espiritual, isto é, do que o originou espiritualmente.
A mudança na forma de perguntar produzida por Sócrates resultou numa mudança de postura diante do mundo que passou a ser visto não apenas de um modo natural, mas, sobretudo, social e cultural, e isto, obviamente, produziu mudanças muito maiores do que as ocorridas no pensamento. Enquanto os filósofos dirigiam suas perguntas a physis, estas perguntas apenas produziam mudanças no pensamento dela, ora afirmando uma única origem para ela, ora afirmando uma origem múltipla, sem causar muitas mudanças na sociedade. Pelo contrário, como diz Vernant, as mudanças sociais é que produziam mudanças na concepção da physis, como defende ele em relação a Anaximandro. Todavia, se as mudanças pelas quais passou o universo espiritual e político dos gregos, principalmente, entre século VII e VI a. C. possibilitaram o surgimento da filosofia cosmológica jônica, foram as mudanças ocorridas nesta filosofia que fizeram surgir a filosofia socrática, pois assim como os filósofos jônicos começaram a perceber uma ordem não apenas social e política, mas também uma ordem natural, um cosmos, do qual buscavam a arkhè, Sócrates percebeu que não apenas podíamos conhecer a arkhè da physis, mas também da alma humana. Que arkhè era esta? Só sei que nada sei, dizia Sócrates, em seu modo irônico alertando para o fato de que podemos até saber o que somos (animal, homem, filósofo, professor) mas não sabemos quem somos.
Sócrates não pergunta o que são os objetos ao nosso redor, mas o que pensamos sobre eles. Ele modifica a pergunta literalmente ao perguntar o que somos. Simples objetos? Trata-se de uma ruptura e uma oposição que surge entre a objetividade e a subjetividade a partir de seus questionamentos que estão diretamente ligados a um fato particular de sua vida, como relata em sua defesa perante o tribunal de Atenas, quando é julgado, mas também em relação ao seu saber, pois ele é o primeiro a se perguntar quem é de fato e o que sabe em relação a seu próprio saber ao se interrogar por que diziam que ele era o mais sábio, ou mais sábio do que os outros.
Nenhum comentário: