Platão e o ser ideal

julho 06, 2012

Platão, diante do lema délfico socrático é quem começa a responder a pergunta quem é, ou de quem somos e sua resposta é a mais contundente filosófica e ontologicamente, pois, para ele, somos uma Ideia.
Aos olhos de Platão o ser é ideal, algo objetivo em sua subjetividade, podemos dizer, deste modo dialético, agônico, pois Platão percebe a ironia da pergunta socrática sobre quem somos. Sócrates somente chegou a uma resposta a esta pergunta ironicamente ao dizer que seu saber era admitir não saber, mas Platão sabia que isto não respondia a pergunta plenamente. Ela permaneceria sem resposta se o círculo dialético da resposta socrática, saber que não sabe, não fosse superado de um modo a sabermos que sabemos. O que ele conseguiu ao pensar que por trás ou por dentro do nosso saber aparente há um saber essencial, da Ideia, ou que por trás ou por dentro do sabermos o que somos, há a Ideia de que sabemos quem somos. Ideia que é ao mesmo tempo o nosso saber e nós mesmos, a superação dialética do que somos e de quem somos, da nossa aparência e da nossa essência, do nosso corpo e da nossa alma, do saber e do não-saber.
Que o saber essencial ou não saber muitas vezes fique escondido nas aparências dos objetos e em nós mesmos como objetos, que nós silenciemos diante dele, desconhecendo-nos, que o ser seja uma Ideia, imutável, perene, pura, inatingível, isto não é o problema, pois a pergunta sobre quem somos emergida com Sócrates havia sido respondida. Somos uma Ideia. Que Ideia é esta, isto é o que precisamos saber a partir de então se quisermos conhecer a nós mesmos ou o Universo, pois a Ideia é o que somos e quem somos. Neste sentido, negar o platonismo por nos fazer inferir sobre algo que nunca será atingido, que é ideal, é negar a possibilidade de fazer ou termos uma ideia, isto é, um conhecimento sobre nós mesmos e sobre tudo. É negar, em suma, o próprio conhecimento. Sócrates percebeu a ironia disto, por isso não negava que sabia ou que podia conhecer, do contrário, ao ser perguntado sobre o que sabia, diria simplesmente, nada em vez de dizer que sabia que nada sabia. Sócrates, enfim, tinha conhecimento do que sabia, nunca negou o conhecimento, mas o que sabia e o que era este, isto, ele já não sabia.
Platão, ao retomar o pensamento socrático, não estagna seu conhecimento na ironia dialética do saber não saber e vai literalmente além em busca de uma resposta para saber quem somos e, neste além, a resposta que ele encontra é a das mais fantásticas já encontradas pela filosofia, pois, em sua busca de saber quem somos, ele descobre que já sabemos quem somos e o que são todas as coisas, o problema é que esquecemos, e toda nossa vida é a busca incessante de relembrarmos quem somos e o que são as coisas a partir de uma reminiscência. O ser, em suma, já foi ou já era. O que somos já fomos. Assim, ao conhecer a Ideia, não conhecemos simplesmente o que é algo ou quem somos, mas o que foi algo e quem fomos. Todo o conhecimento é um reconhecimento. Tudo que conhecemos, na verdade, já conhecemos e a cada momento que conhecemos algo ou a nós mesmos é um reconhecimento do que é algo e de quem somos não naquele instante, naquele momento, mas sempre, imutavelmente, de modo puro, intangível, enfim, idealmente.

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