O declínio do império americano com as invasões bárbaras
Ao olhar o cartaz do filme O declínio do Império Americano antes de entrar no cinema, achei um exagero colocarem abaixo do título "o filme que originou 'As Invasões Bárbaras'", também do diretor Denys Arcand. Algo tão propagandístico como aquelas frases nas capas dos vídeos do tipo "o melhor filme do ano". Mas não era um exagero propagandístico, pois o filme é de 1986, e era inevitável a referência ao filme mais recente de Arcand e premiado como melhor filme estrangeiro em 2004, ainda mais que os personagens eram os "mesmos" em sua maioria nos dois filmes.
Sendo de uma geração posterior, assisti primeiro As Invasões Bárbaras(2004), de modo que, assim como muitos de minha geração, assistir "O declínio do império americano" foi como uma volta à origem, realmente, das invasões bárbaras, como se entre um e outro filme, houvesse uma história cíclica entre ambos, um levando ao outro e vice-versa, de modo que podemos dizer que um prediz o outro. E, como toda volta, esta era melancólica, cheia de lembranças, mas também de alegria, de reencontros. Mais ainda, foi como abrir um álbum de fotografias e ver fotos antigas de uma época em que...
O Declínio do Império Americano é de 1986, época em que Ronald Reagan era o presidente dos Estados Unidos, e que morreu a uma semana. Entre os seus principais feitos, há o fato de ter governado com muito conservadorismo, como um bom republicano, e de ter gastado mais do que qualquer outro com armas nucleares. Mas o mais memorável, de ter acabado, junto com Gorbatchov, com a chamada guerra fria e incentivado, por assim dizer, o período das guerras quentes da família Bush, ou das invasões bárbaras. E por ter dito num discurso célebre, como foi destacado pela imprensa após sua morte, "Acabe com esse muro Gorbatchov!" No caso, o muro de Berlim que separava além das duas Alemanhas, o capitalismo do comunismo, e, aquela época, da nossa em que assistimos o declínio do império americano com o as invasões bárbaras.
Um paradoxo então surge: ao assistirmos o filme O Declínio Império Americano numa época posterior Às Invasões Bárbaras, o assistimos com olhos melancólicos, condescendentes, olhos de historiador, vivendo uma época que não é, de fato, a nossa, não é a que deveria ser, e nos consolando com aquele declínio fictício, que não é o de nossa geração, mas de outra, anterior à nossa, de outra época. Consolando-nos com a história desta outra época, que profetizava o declínio do império americano e que veria, não com os nossos olhos, o início de uma nova época, a das invasões bárbaras. Época de velhice, de mortes inevitáveis. Pois, como é dito no filme, e a história, este consolo, comprova, todo império ao chegar a um ponto, começa a declinar e é destruído, e sua morte é tão inevitável quanto a morte de uma época, de uma geração.
Neste sentido, n'O Declínio do Império Americano já se vislumbra As Invasões Bárbaras, suas cenas, suas imagens e comentários sobre a destruição. Já se anuncia uma época cujos pressupostos estaria senão na anterior, mas os fins seriam inesperados. A história sempre poderia se desviar, antes do jantar, dar uma parada no meio do caminho antes de um encontro marcado e ser modificada. Quem morreria, ficar vivo, e quem estaria bem, ficar doente, declinar. Endurecer, porém, sem perder a ternura. Quem estaria casado, se separar, e quem estaria solteiro, casar, ter filhos... Quem estava perto, agora, estando longe, o que seguia reto, ficar tortuoso. Enfim, quem estava alegre assistindo O Declínio do Império Americano, ficar triste ao ver As Invasões Bárbaras.
Sendo de uma geração posterior, assisti primeiro As Invasões Bárbaras(2004), de modo que, assim como muitos de minha geração, assistir "O declínio do império americano" foi como uma volta à origem, realmente, das invasões bárbaras, como se entre um e outro filme, houvesse uma história cíclica entre ambos, um levando ao outro e vice-versa, de modo que podemos dizer que um prediz o outro. E, como toda volta, esta era melancólica, cheia de lembranças, mas também de alegria, de reencontros. Mais ainda, foi como abrir um álbum de fotografias e ver fotos antigas de uma época em que...
O Declínio do Império Americano é de 1986, época em que Ronald Reagan era o presidente dos Estados Unidos, e que morreu a uma semana. Entre os seus principais feitos, há o fato de ter governado com muito conservadorismo, como um bom republicano, e de ter gastado mais do que qualquer outro com armas nucleares. Mas o mais memorável, de ter acabado, junto com Gorbatchov, com a chamada guerra fria e incentivado, por assim dizer, o período das guerras quentes da família Bush, ou das invasões bárbaras. E por ter dito num discurso célebre, como foi destacado pela imprensa após sua morte, "Acabe com esse muro Gorbatchov!" No caso, o muro de Berlim que separava além das duas Alemanhas, o capitalismo do comunismo, e, aquela época, da nossa em que assistimos o declínio do império americano com o as invasões bárbaras.
Um paradoxo então surge: ao assistirmos o filme O Declínio Império Americano numa época posterior Às Invasões Bárbaras, o assistimos com olhos melancólicos, condescendentes, olhos de historiador, vivendo uma época que não é, de fato, a nossa, não é a que deveria ser, e nos consolando com aquele declínio fictício, que não é o de nossa geração, mas de outra, anterior à nossa, de outra época. Consolando-nos com a história desta outra época, que profetizava o declínio do império americano e que veria, não com os nossos olhos, o início de uma nova época, a das invasões bárbaras. Época de velhice, de mortes inevitáveis. Pois, como é dito no filme, e a história, este consolo, comprova, todo império ao chegar a um ponto, começa a declinar e é destruído, e sua morte é tão inevitável quanto a morte de uma época, de uma geração.
Neste sentido, n'O Declínio do Império Americano já se vislumbra As Invasões Bárbaras, suas cenas, suas imagens e comentários sobre a destruição. Já se anuncia uma época cujos pressupostos estaria senão na anterior, mas os fins seriam inesperados. A história sempre poderia se desviar, antes do jantar, dar uma parada no meio do caminho antes de um encontro marcado e ser modificada. Quem morreria, ficar vivo, e quem estaria bem, ficar doente, declinar. Endurecer, porém, sem perder a ternura. Quem estaria casado, se separar, e quem estaria solteiro, casar, ter filhos... Quem estava perto, agora, estando longe, o que seguia reto, ficar tortuoso. Enfim, quem estava alegre assistindo O Declínio do Império Americano, ficar triste ao ver As Invasões Bárbaras.
Fortaleza, 13 de junho de 2004.
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