Megaupload: o carteiro e o filósofo em avi e rmvb
Walter Benjamin, em 1936, publicou um texto cânone sobre a obra de arte intitulado A obra de arte na época da reprodutibilidade técnica, que, como muitos dos seus textos, somente hoje podem ser analisados com melhor atenção do que naquele período, pois o que ele disse em seu preâmbulo a respeito de Marx também diz respeito à sua análise, na medida em que, como este, Benjamin "soube orientar sua pesquisa de modo a lhe conferir um valor de prognóstico".
O que fez deste texto um cânone, não se pode dizer ao certo, tendo em vista sua simplicidade de exposição que, desde o início, coloca frente a frente, a obra de arte e a reprodutibilidade técnica como tese e antítese irredutíveis a uma síntese devido ao que ele chama de aura ou hic et nunc da obra de arte que se perderia na medida em que esta fosse reproduzida tecnicamente. Neste sentido, ao contrário de outros textos seus de difícil leitura, como A origem do drama barroco, não percebemos neste texto nenhuma dificuldade presente, que nos faça lhe ter em maior atenção. O problema é que, como ele disse, e repetimos aqui de início, a questão principal colocada por este texto não está naquilo que ele a-presenta, mas sim, naquilo que ele antevê quanto a uma época então surgente em relação a uma outra que estaria deixando de existir. E é senão este seu prognóstico que deve ser tido em questão, que se torna problemático, menos pelo que ele disse, do que pelo que podemos dizer hoje a respeito desta época que ele anuncia que é senão a nossa. Muito mais a nossa do que a dele.
É, portanto esta época, a nossa, mas também a dos que virão, que nos faz pensar no que Walter Benjamin disse, ainda mais, quando fatos específicos nos remetem às questões levantadas por ele como o anúncio da prisão e do fechamento do site de compartilhamento de arquivos Megaupload, sob a acusação de "pirataria", muito bem analisado metaforicamente por Walter Hupsel em seu artigo Tragédia em cinco atos http://br.noticias.yahoo.com/blogs/on-the-rocks/trag%C3%A9dia-em-cinco-atos-205605690.html. A própria maneira de expor de Walter Hupsel, de modo simples e metaforicamente, faz-nos lembrar a simplicidade de alguns textos de Benjamin, para além do que aquele expõe e se contrapõe a este. Isto porque em seu texto, Walter, o Hupsel, não apenas expõe o fato, a notícia tal qual ela foi recebida, dando a ela um tratamento jornalístico adequado, como o anúncio qualquer de prisão de determinados indivíduos, mas ele nos faz refletir em sua metáfora do carteiro a questão aludida por Benjamin quanto aos meios técnicos de reprodução. Contudo, se engana quem pensa que esta é uma questão puramente técnica e simples, pois não é, nem em Benjamin, nem Hupsel, já que tanto o carteiro como os meios técnicos de reprodução se não têm nenhuma relação particular com o conteúdo, eles são produtores de mudanças, mensageiros de um porvir, de um futuro inesperado.
Assim, entre o carteiro de Hupsel e o filósofo Benjamin, há mais do que pontos de vistas contrários no que diz respeito à relação entre obra de arte e reprodutibilidade técnica. Há o anúncio e a denúncia de uma época que todos vivenciamos e pouco discutimos senão de revés, a contragosto, como faço agora, mas deve ser melhor pensada filosoficamente por uma filosofia em tempo real. Mas o que há para ser discutido? Coloquemos as cartas na mesa.
Por um lado, podemos dizer a partir de Benjamin, do que ele analisou tão bem, que vivemos a iminência de uma "época" ou "era" em que cada vez mais as técnicas de reprodução, como ele diz, "desvalorizam" o "hic et nunc" da obra de arte, seu "aqui e agora", sua "autenticidade", que é também a desvalorização de uma época ou era em que esta autenticidade é valorizada, mas também, devemos dizer, do aqui e o agora tal como era entendido o tempo pelos filósofos até então. Isto é, um tempo que não pode ser percebido, nem medido (o aqui e o agora), mas está presente sempre como medição do próprio tempo, que quer dizer o próprio tempo em sua presença, este tempo que vivenciamos sem perceber a cada instante, a todo instante, de modo singular, isto é, particular e universal simultaneamente. Um aqui e agora ou um tempo que não pode ser percebido nem medido sem se perder ao mesmo tempo, simultaneamente, pois, assim, que pensamos o aqui e o agora é senão a algo que se perdeu que nos referimos, porque ele já passou e nunca somos rápidos o suficiente para darmos conta dele, para contá-lo, no duplo sentido de um contar, o algébrico e o narrativo. E aqui é importante perceber o valor "histórico" que Benjamin dá ao conceito de aura para resumir o hic et nunc e a autenticidade de uma obra de arte, seja enquanto objeto seja quanto valor dado a ele por uma tradição, quando diz que "É aos objetos históricos que aplicaríamos mais amplamente essa noção de aura...", pois ela é "a única aparição de uma realidade longínqua, por mais próxima que esteja", ainda que o conceito de aura seja melhor percebido naturalmente, como diz também ele.
A perda da aura da obra de arte, sua desvalorização, seu atrofiamento com a reprodutibilidade técnica é também, portanto, de uma época na qual esta aura é reconhecida em sua "autoridade", cujos motivos, segundo ele, em 1936, mas também hoje, diríamos, são duas "tendências igualmente fortes", ou duas "circunstâncias, uma e outra correlatas com o papel crescente desempenhado pelas massas na vida presente (grifos meus)". Quais sejam, por um lado, a exigência de "que as coisas se lhe tornem [às massas], tanto humana como espacialmente, 'mais próximas'," o que isto gera ou faz que, por sua vez, "de outro lado, acolhendo as reproduções, [as massas] tendem a depreciar o caráter daquilo que é dado apenas uma vez. [Pois] Dia a dia, impõe-se gradativamente a necessidade de assumir o domínio mais próximo possível do objeto, através de sua imagem e, mais ainda, em sua cópia ou reprodução." E, segundo esta exigência, não importa mais o valor de culto de uma obra de arte, estar diante dela como uma obra única, vê-la em sua presença e estar presente a ela, pensar como ela foi produzida, o que foi necessário para sua produção, o que fez ela ser produzida, sentir a "magia" dela, mas o seu valor de exposição como algo reprodutível, e, diferente a cada reprodução, não apenas em sua qualidade técnica, mas em seu olhar, em sua presença sempre diferível, modificável a cada olhar que também nos modifica ao olharmos para ela pensando não mais no modo como foi produzida, mas sim, reproduzida, e sentindo um desejo não de guardarmo-la para nós, mas de expô-la ainda mais a todos, fazendo dela algo que enviamos a alguém. E assim nos transformarmos em carteiros ou piratas da obra de arte, aqueles que, em vez de produzi-la, simplesmente reproduzem-na.
Contudo, para aqueles que queiram ver nestas palavras a melancolia de uma época de ontonte, que define o valor de uma obra pela tradição a que ela se relaciona, ou pelo valor de mercado que é auferido a ela, é preciso ler com atenção o que Benjamin diz para entender a metáfora do carteiro de Hupsel, pois é ao futuro e ao porvir da "obra de arte", daquilo que viria a ser a obra de arte no futuro para Benjamin e o é para nós, e que deve ser para nós. Isto é, algo que serve para nos fazer "aprender", sobretudo aprender o fascismo que pode se esconder por trás de uma concepção dela, motivo pelo qual ele inicia sua análise dizendo: "Os conceitos seguintes, novos na teoria da arte, distinguem-se dos outros pelas circunstâncias de não serem de modo algum apropriáveis pelo fascismo. Em compensação, podem ser utilizados para a formulação de exigências revolucionárias na política artística." De modo que em relação à perda desta aura da obra de arte é preciso que se pense a reprodutibilidade técnica como "renovação da humanidade", a uma mudança em seu modo de percepção cuja crise Hupsel demonstra claramente no que se convém muito bem chamar o dilema do carteiro na quinta e última cena de sua Tragédia em cinco atos, qual seja: "Os correios e todos os outros serviços de courrier fecham as portas. Ninguém quer mais trabalhar nestas empresas com o risco de ser preso por uma entrega que, em nome de um antigo e obsoleto pilar de uma sociedade em decadência, a privacidade dos indivíduos, não pode ser examinada, aberta, violada, scanneada etc.... Só voltam ao trabalho mediante ou a suspensão das prisões ou o fim da privacidade."
É o fim da privacidade da obra de arte que está portanto em questão hoje, cuja prisão dos donos da Megauload nos demonstra claramente. O fim do direito de propriedade do autor sobre sua obra, um direito que, de um ponto de vista político, encerra senão o fascismo em seu valor de culto, por um lado, e uma ditadura capitalista em seu valor de troca, na medida em que somente uns poucos podem ter acesso a determinados objetos, seja por sua crença mágica comum, seja por sua capacidade pecuniária. E o cinema que é defendido em sua "produção artística" com uso da força policial é, ao contrário do que pensam seus defensores, os defensores da "câmara escura", da "câmera de gás" fascista, que aliena as massas como o faz Hollywood, foi o que fez surgir esta época, como diz Benjamin, já que "A reprodutibilidade técnica do filme tem em seu fundamento imediato na técnica de sua produção." Isto é, ele é produzido para ser reproduzido, esta é sua perfectibilidade, este é o seu sentido, e é isto que devemos aprender com ele, pois, diz Benjamin, "O filme serve para exercitar o homem nas novas percepções e reações exigidas por um aparelho técnico cujo papel cresce cada vez mais em sua vida cotidiana." Mas, sobretudo, porque "O filme é uma criação da coletividade (grifos meus)." E como tal deve ser percebido, isto é, como não de uma pessoa, privada e privativamente, de direito, pois, ao contrário da obra de arte tradicional que não requer público, ele depende totalmente deste, inclusive para ser produzido, e mesmo "pirateado", é o seu consumo que o faz ser o que é, como no caso do filme brasileiro Tropa de elite, que se tornou mais visível através da "pirataria". Palavra que, transposta para as relações de mercado atual, como bem frisou Hupsel, "visa dar um conteúdo negativo a um compartilhamento", ou seja, a algo extremamente positivo, aquilo que o individualismo e culto ao individualismo fascista e capitalista não querem: compartilhar, este verbo que as técnicas de reprodução, principalmente atuais, estão nos ensinando a conjugar a cada dia mais, pondo fim ao nosso individualismo.
E o carteiro? Onde ele fica, nesta história? Bem, ele foi preso, como se pode ver nesta charge de Alpino, mas o seu dilema continua. Ou lutamos para suspender a prisão dele ou pomos definitivamente um fim à privacidade, este pilar da já antiga e decadente sociedade burguesa capitalista e todo seu individualismo.
O que fez deste texto um cânone, não se pode dizer ao certo, tendo em vista sua simplicidade de exposição que, desde o início, coloca frente a frente, a obra de arte e a reprodutibilidade técnica como tese e antítese irredutíveis a uma síntese devido ao que ele chama de aura ou hic et nunc da obra de arte que se perderia na medida em que esta fosse reproduzida tecnicamente. Neste sentido, ao contrário de outros textos seus de difícil leitura, como A origem do drama barroco, não percebemos neste texto nenhuma dificuldade presente, que nos faça lhe ter em maior atenção. O problema é que, como ele disse, e repetimos aqui de início, a questão principal colocada por este texto não está naquilo que ele a-presenta, mas sim, naquilo que ele antevê quanto a uma época então surgente em relação a uma outra que estaria deixando de existir. E é senão este seu prognóstico que deve ser tido em questão, que se torna problemático, menos pelo que ele disse, do que pelo que podemos dizer hoje a respeito desta época que ele anuncia que é senão a nossa. Muito mais a nossa do que a dele.
É, portanto esta época, a nossa, mas também a dos que virão, que nos faz pensar no que Walter Benjamin disse, ainda mais, quando fatos específicos nos remetem às questões levantadas por ele como o anúncio da prisão e do fechamento do site de compartilhamento de arquivos Megaupload, sob a acusação de "pirataria", muito bem analisado metaforicamente por Walter Hupsel em seu artigo Tragédia em cinco atos http://br.noticias.yahoo.com/blogs/on-the-rocks/trag%C3%A9dia-em-cinco-atos-205605690.html. A própria maneira de expor de Walter Hupsel, de modo simples e metaforicamente, faz-nos lembrar a simplicidade de alguns textos de Benjamin, para além do que aquele expõe e se contrapõe a este. Isto porque em seu texto, Walter, o Hupsel, não apenas expõe o fato, a notícia tal qual ela foi recebida, dando a ela um tratamento jornalístico adequado, como o anúncio qualquer de prisão de determinados indivíduos, mas ele nos faz refletir em sua metáfora do carteiro a questão aludida por Benjamin quanto aos meios técnicos de reprodução. Contudo, se engana quem pensa que esta é uma questão puramente técnica e simples, pois não é, nem em Benjamin, nem Hupsel, já que tanto o carteiro como os meios técnicos de reprodução se não têm nenhuma relação particular com o conteúdo, eles são produtores de mudanças, mensageiros de um porvir, de um futuro inesperado.
Assim, entre o carteiro de Hupsel e o filósofo Benjamin, há mais do que pontos de vistas contrários no que diz respeito à relação entre obra de arte e reprodutibilidade técnica. Há o anúncio e a denúncia de uma época que todos vivenciamos e pouco discutimos senão de revés, a contragosto, como faço agora, mas deve ser melhor pensada filosoficamente por uma filosofia em tempo real. Mas o que há para ser discutido? Coloquemos as cartas na mesa.
Por um lado, podemos dizer a partir de Benjamin, do que ele analisou tão bem, que vivemos a iminência de uma "época" ou "era" em que cada vez mais as técnicas de reprodução, como ele diz, "desvalorizam" o "hic et nunc" da obra de arte, seu "aqui e agora", sua "autenticidade", que é também a desvalorização de uma época ou era em que esta autenticidade é valorizada, mas também, devemos dizer, do aqui e o agora tal como era entendido o tempo pelos filósofos até então. Isto é, um tempo que não pode ser percebido, nem medido (o aqui e o agora), mas está presente sempre como medição do próprio tempo, que quer dizer o próprio tempo em sua presença, este tempo que vivenciamos sem perceber a cada instante, a todo instante, de modo singular, isto é, particular e universal simultaneamente. Um aqui e agora ou um tempo que não pode ser percebido nem medido sem se perder ao mesmo tempo, simultaneamente, pois, assim, que pensamos o aqui e o agora é senão a algo que se perdeu que nos referimos, porque ele já passou e nunca somos rápidos o suficiente para darmos conta dele, para contá-lo, no duplo sentido de um contar, o algébrico e o narrativo. E aqui é importante perceber o valor "histórico" que Benjamin dá ao conceito de aura para resumir o hic et nunc e a autenticidade de uma obra de arte, seja enquanto objeto seja quanto valor dado a ele por uma tradição, quando diz que "É aos objetos históricos que aplicaríamos mais amplamente essa noção de aura...", pois ela é "a única aparição de uma realidade longínqua, por mais próxima que esteja", ainda que o conceito de aura seja melhor percebido naturalmente, como diz também ele.
A perda da aura da obra de arte, sua desvalorização, seu atrofiamento com a reprodutibilidade técnica é também, portanto, de uma época na qual esta aura é reconhecida em sua "autoridade", cujos motivos, segundo ele, em 1936, mas também hoje, diríamos, são duas "tendências igualmente fortes", ou duas "circunstâncias, uma e outra correlatas com o papel crescente desempenhado pelas massas na vida presente (grifos meus)". Quais sejam, por um lado, a exigência de "que as coisas se lhe tornem [às massas], tanto humana como espacialmente, 'mais próximas'," o que isto gera ou faz que, por sua vez, "de outro lado, acolhendo as reproduções, [as massas] tendem a depreciar o caráter daquilo que é dado apenas uma vez. [Pois] Dia a dia, impõe-se gradativamente a necessidade de assumir o domínio mais próximo possível do objeto, através de sua imagem e, mais ainda, em sua cópia ou reprodução." E, segundo esta exigência, não importa mais o valor de culto de uma obra de arte, estar diante dela como uma obra única, vê-la em sua presença e estar presente a ela, pensar como ela foi produzida, o que foi necessário para sua produção, o que fez ela ser produzida, sentir a "magia" dela, mas o seu valor de exposição como algo reprodutível, e, diferente a cada reprodução, não apenas em sua qualidade técnica, mas em seu olhar, em sua presença sempre diferível, modificável a cada olhar que também nos modifica ao olharmos para ela pensando não mais no modo como foi produzida, mas sim, reproduzida, e sentindo um desejo não de guardarmo-la para nós, mas de expô-la ainda mais a todos, fazendo dela algo que enviamos a alguém. E assim nos transformarmos em carteiros ou piratas da obra de arte, aqueles que, em vez de produzi-la, simplesmente reproduzem-na.
Contudo, para aqueles que queiram ver nestas palavras a melancolia de uma época de ontonte, que define o valor de uma obra pela tradição a que ela se relaciona, ou pelo valor de mercado que é auferido a ela, é preciso ler com atenção o que Benjamin diz para entender a metáfora do carteiro de Hupsel, pois é ao futuro e ao porvir da "obra de arte", daquilo que viria a ser a obra de arte no futuro para Benjamin e o é para nós, e que deve ser para nós. Isto é, algo que serve para nos fazer "aprender", sobretudo aprender o fascismo que pode se esconder por trás de uma concepção dela, motivo pelo qual ele inicia sua análise dizendo: "Os conceitos seguintes, novos na teoria da arte, distinguem-se dos outros pelas circunstâncias de não serem de modo algum apropriáveis pelo fascismo. Em compensação, podem ser utilizados para a formulação de exigências revolucionárias na política artística." De modo que em relação à perda desta aura da obra de arte é preciso que se pense a reprodutibilidade técnica como "renovação da humanidade", a uma mudança em seu modo de percepção cuja crise Hupsel demonstra claramente no que se convém muito bem chamar o dilema do carteiro na quinta e última cena de sua Tragédia em cinco atos, qual seja: "Os correios e todos os outros serviços de courrier fecham as portas. Ninguém quer mais trabalhar nestas empresas com o risco de ser preso por uma entrega que, em nome de um antigo e obsoleto pilar de uma sociedade em decadência, a privacidade dos indivíduos, não pode ser examinada, aberta, violada, scanneada etc.... Só voltam ao trabalho mediante ou a suspensão das prisões ou o fim da privacidade."
É o fim da privacidade da obra de arte que está portanto em questão hoje, cuja prisão dos donos da Megauload nos demonstra claramente. O fim do direito de propriedade do autor sobre sua obra, um direito que, de um ponto de vista político, encerra senão o fascismo em seu valor de culto, por um lado, e uma ditadura capitalista em seu valor de troca, na medida em que somente uns poucos podem ter acesso a determinados objetos, seja por sua crença mágica comum, seja por sua capacidade pecuniária. E o cinema que é defendido em sua "produção artística" com uso da força policial é, ao contrário do que pensam seus defensores, os defensores da "câmara escura", da "câmera de gás" fascista, que aliena as massas como o faz Hollywood, foi o que fez surgir esta época, como diz Benjamin, já que "A reprodutibilidade técnica do filme tem em seu fundamento imediato na técnica de sua produção." Isto é, ele é produzido para ser reproduzido, esta é sua perfectibilidade, este é o seu sentido, e é isto que devemos aprender com ele, pois, diz Benjamin, "O filme serve para exercitar o homem nas novas percepções e reações exigidas por um aparelho técnico cujo papel cresce cada vez mais em sua vida cotidiana." Mas, sobretudo, porque "O filme é uma criação da coletividade (grifos meus)." E como tal deve ser percebido, isto é, como não de uma pessoa, privada e privativamente, de direito, pois, ao contrário da obra de arte tradicional que não requer público, ele depende totalmente deste, inclusive para ser produzido, e mesmo "pirateado", é o seu consumo que o faz ser o que é, como no caso do filme brasileiro Tropa de elite, que se tornou mais visível através da "pirataria". Palavra que, transposta para as relações de mercado atual, como bem frisou Hupsel, "visa dar um conteúdo negativo a um compartilhamento", ou seja, a algo extremamente positivo, aquilo que o individualismo e culto ao individualismo fascista e capitalista não querem: compartilhar, este verbo que as técnicas de reprodução, principalmente atuais, estão nos ensinando a conjugar a cada dia mais, pondo fim ao nosso individualismo.
E o carteiro? Onde ele fica, nesta história? Bem, ele foi preso, como se pode ver nesta charge de Alpino, mas o seu dilema continua. Ou lutamos para suspender a prisão dele ou pomos definitivamente um fim à privacidade, este pilar da já antiga e decadente sociedade burguesa capitalista e todo seu individualismo.
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