Feridas da alma
Ao se arranhar superficialmente em 0,5cm de espessura enquanto corria com seus colegas, meu filho entrou em pânico chorando desesperadamente. Quando seus colegas correram para contar a mim e minha esposa que ele tinha se machucado e estava chorando, corremos também em desespero sem saber o que tinha acontecido. Ao chegar em casa e ver, porém, o tamanho do corte em sua pele, quase imperceptÃvel, comecei a rir de sua cara de choro enquanto ele chorava desesperadamente ainda, afinal, não era para tanto. Não adiantava, porém, pedir para ele parar de chorar, ele só conseguia olhar para o corte e sofrer desesperadamente com o que tinha acontecido.
Que o tempo cura todas as feridas, todos sabemos. Quanto tempo leva para isto acontecer em cada pessoa, não é tão fácil saber, nem os médicos conseguem dizer, ainda mais quando são feridas da alma. Pode levar 2, 6 ou 10 anos, como no filme Tudo vai ficar bem (Every Thing Will Be Fine, 2015), de Wim Wenders, pois depende do quanto cada pessoa se feriu e como ela reage a isto. No caso do meu filho, o que aconteceu foi apenas um corte superficial que se o fez entrar em desespero, em pouco tempo teria esquecido. O tempo curará brevemente sua ferida sem deixar cicatrizes e ele nem lembrará que isto ocorreu, mas talvez eu não esqueça tão facilmente sua cara de choro e ainda rirei bastante dele ao me lembrar deste dia.
No filme de Wenders, não é algo tão simples o que acontece, mas não muito diferente. Quando um acidente grave acontece e surpreende a vida de algumas pessoas, todas sofrem e leva um tempo para que cada uma supere o que aconteceu, nem sempre reagindo de um modo que seja bom para todos e, apesar de se dizer que tudo vai ficar bem, não se sabe exatamente quanto tempo isto levará. Diferente do que acontece no corpo, as feridas na alma não são curadas com remédios cicatrizantes que restabelecem o corpo ou órgãos. Em geral, os remédios adormecem a alma para que ela não pense demais no que aconteceu, já que deixar de pensar é impossÃvel, haja vista que a memória nos lembra num momento ou outro de tudo e cada lembrança magoa as feridas que carregamos na alma.
Com extrema simplicidade e sem muito drama, Wenders consegue nos mostrar neste filme como o tempo para cicatrizar a alma difere para cada pessoa e quais as reações de cada uma. Sobretudo, como a angústia é a dor da alma que lateja a cada lembrança, fazendo-nos chorar, sentirmo-nos vazios, abatidos, sem perspectiva de que tudo vai ficar bem, até nos depararmos com ela e pararmos de senti-la, voltando a viver, não sem ela, mas sofrendo-a em silêncio, diminuindo a intensidade de sua dor a cada dia. Nem sempre é fácil e nem sempre conseguimos sozinhos diminuir a angústia e é preciso a companhia de alguém para dividi-la conosco mesmo em silêncio e sem saber o que sentimos.
Quando assistimos ao filme de Wenders talvez pensemos que nada acontece ou que tudo passe lento demais, mas é aà que nos enganamos. A cada cena, o tempo está ali curando as feridas de cada pessoa envolvida no acidente, sofrendo calada por causa dele, irritando-se, desesperando-se ou simplesmente fugindo dele. A cada momento vemos como cada pessoa lida com sua dor, escrevendo, desenhando, trabalhando, tentando levar a vida depois de tudo que aconteceu e como não é fácil cada momento na vida delas, pois cada cena é uma lembrança adormecida e revivida do acidente na mente de todos, mesmo que não possamos ver.
Aos poucos, porém, na medida em que o tempo passa em anos e mais anos, se as lembranças retornam a cada cena, cada pessoa vai encontrando sua própria forma de viver com suas feridas na alma, mudanças inesperadas acontecem e uma harmonia se faz presente em suas almas, até que um sorriso aparece ainda que tÃmido no canto do rosto de cada uma e se percebe, enfim, que tudo vai ficar bem, mesmo que a alma nunca cicatrize as feridas totalmente, apenas diminua a intensidade das dores nos fazendo conviver melhor com elas.
Que o tempo cura todas as feridas, todos sabemos. Quanto tempo leva para isto acontecer em cada pessoa, não é tão fácil saber, nem os médicos conseguem dizer, ainda mais quando são feridas da alma. Pode levar 2, 6 ou 10 anos, como no filme Tudo vai ficar bem (Every Thing Will Be Fine, 2015), de Wim Wenders, pois depende do quanto cada pessoa se feriu e como ela reage a isto. No caso do meu filho, o que aconteceu foi apenas um corte superficial que se o fez entrar em desespero, em pouco tempo teria esquecido. O tempo curará brevemente sua ferida sem deixar cicatrizes e ele nem lembrará que isto ocorreu, mas talvez eu não esqueça tão facilmente sua cara de choro e ainda rirei bastante dele ao me lembrar deste dia.
No filme de Wenders, não é algo tão simples o que acontece, mas não muito diferente. Quando um acidente grave acontece e surpreende a vida de algumas pessoas, todas sofrem e leva um tempo para que cada uma supere o que aconteceu, nem sempre reagindo de um modo que seja bom para todos e, apesar de se dizer que tudo vai ficar bem, não se sabe exatamente quanto tempo isto levará. Diferente do que acontece no corpo, as feridas na alma não são curadas com remédios cicatrizantes que restabelecem o corpo ou órgãos. Em geral, os remédios adormecem a alma para que ela não pense demais no que aconteceu, já que deixar de pensar é impossÃvel, haja vista que a memória nos lembra num momento ou outro de tudo e cada lembrança magoa as feridas que carregamos na alma.
Com extrema simplicidade e sem muito drama, Wenders consegue nos mostrar neste filme como o tempo para cicatrizar a alma difere para cada pessoa e quais as reações de cada uma. Sobretudo, como a angústia é a dor da alma que lateja a cada lembrança, fazendo-nos chorar, sentirmo-nos vazios, abatidos, sem perspectiva de que tudo vai ficar bem, até nos depararmos com ela e pararmos de senti-la, voltando a viver, não sem ela, mas sofrendo-a em silêncio, diminuindo a intensidade de sua dor a cada dia. Nem sempre é fácil e nem sempre conseguimos sozinhos diminuir a angústia e é preciso a companhia de alguém para dividi-la conosco mesmo em silêncio e sem saber o que sentimos.
Quando assistimos ao filme de Wenders talvez pensemos que nada acontece ou que tudo passe lento demais, mas é aà que nos enganamos. A cada cena, o tempo está ali curando as feridas de cada pessoa envolvida no acidente, sofrendo calada por causa dele, irritando-se, desesperando-se ou simplesmente fugindo dele. A cada momento vemos como cada pessoa lida com sua dor, escrevendo, desenhando, trabalhando, tentando levar a vida depois de tudo que aconteceu e como não é fácil cada momento na vida delas, pois cada cena é uma lembrança adormecida e revivida do acidente na mente de todos, mesmo que não possamos ver.
Aos poucos, porém, na medida em que o tempo passa em anos e mais anos, se as lembranças retornam a cada cena, cada pessoa vai encontrando sua própria forma de viver com suas feridas na alma, mudanças inesperadas acontecem e uma harmonia se faz presente em suas almas, até que um sorriso aparece ainda que tÃmido no canto do rosto de cada uma e se percebe, enfim, que tudo vai ficar bem, mesmo que a alma nunca cicatrize as feridas totalmente, apenas diminua a intensidade das dores nos fazendo conviver melhor com elas.
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