Professores: como estrelas na terra
Sociedade dos poetas mortos, Escritores da liberdade, Triunfo – A história de Ron Clark, O substituto, O que traz as boas novas, Como estrelas na terra… O que estes filmes têm em comum? Muitos vão dizer: são sobre professores. De fato, sim. Contudo, há algo mais entre eles, e outros filmes não listados aqui, do que serem sobre professores. É o fato de serem sobre professores substitutos, como um dos filmes expõe literalmente em seu tÃtulo no Brasil.
Professores substitutos são, como o próprio nome diz, aqueles que substituem professores efetivos, contratados e que têm uma garantia de permanência na escola, ao contrário dos professores substitutos que não têm nenhuma garantia de permanência. Esta diferenciação é comum nas escolas do mundo todo como se pode perceber nestes filmes de várias partes do mundo. Também é comum a diferença de atitude de professores efetivos e substitutos, os primeiros, muitas vezes acomodados em suas funções enquanto os segundos não podem se dar este direito, já que seu emprego depende do quanto se esforçam para conseguir mostrar para os gestores que seu trabalho é importante e merecem permanecer no emprego. Professores substitutos são, em geral, neste sentido, cargos de indicação e que passam sempre pelo crivo dos gestores, sendo avaliados não por concursos, uma vez apenas, e nunca mais, mas avaliados constantemente, a cada dia, a cada aula, cada reclamação de estudantes, de pais, de outros professores.
O último filme, Como estrelas na terra (Taare Zameen Par, तारे ज़मीन पर, Like Stars on Earth, 2007), filme indiano de Aamir Khan, que atua no filme como um professor substituto de arte, é o último filme que assisti desta lista e não destoa dos outros nesta visão de que os professores substitutos trabalham mais e são mais eficientes algumas vezes do que efetivos, visão tão comum entre professores substitutos e entre estudantes, mesmo que não seja ecoado isto pelos corredores das escolas, mas ressoado baixo para não constranger os professores efetivos, senhores da razão. Isto não apenas em escolas, mas também em universidades, centro de excelência do ensino, no qual não é difÃcil ver professores efetivos demonstrando todo o seu saber de décadas atrás, regurgitando verborragias que não se aplicam ou não sabem aplicar mais. Enquanto isto, professores substitutos expõem suas mais novas conquistas no saber, ansiosos para passá-las aos estudantes, com o vigor de quem aprende a andar de bicicleta a primeira vez, mesmo já sabendo andar há muito tempo nela, girando sempre o conhecimento em suas rodas como um novo conhecimento.
Como estrelas na terra é um filme surpreendente, menos por toda a dificuldade do garoto Ishaan aprender a ler e escrever devido seu problema de dislexia, do que pela incompreensão da sensibilidade de sua arte, isto é, de sua visão do mundo, cujas letras embaralhadas são apenas uma demonstração de uma lógica do sentido que substitui um sentido lógico ou sentido da lógica tão comum para todos. Uma arte que é comum a de seu professor substituto de arte, Nikumb, também disléxico, também enxergando o mundo por uma lógica do sentido em vez de um sentido lógico, a primeira provida de beleza, o segundo provido por um padrão. Padrão que nem Nikumb e Ishaan se adéquam por serem artistas, estas pessoas cuja sensibilidade vai além do padrões definidos e seguidos por todos, o que não quer dizer que não saibam segui-los em determinados momentos.
Substituir o padrão é subverter sua ordem, é fazer daquilo que é permanente algo variável, que muda constantemente, como as letras que dançam na frente do disléxico, mudando de forma, invertendo-se, mudando de lugar nas palavras. Uma substituição que cria uma nova forma de enxergar aquilo que é comum, padronizado, mas que somente aqueles que tem a sensibilidade para criar conseguem perceber. Uma substituição que descentraliza a estrutura e mostra novas possibilidades, perspectivas não pensadas antes, ou mesmo impedidas de serem pensadas pela estrutura mesma, no caso, pela estrutura de ensino, a escola.
Como estrelas na terra é a lógica desta substituição, a lógica da arte, a lógica do sentido, a lógica do jogo, principalmente se considerarmos os diversos nomes que ele tem: Taare Zameen Par, तारे ज़मीन पर, Like Stars on Earth, Somos todos diferentes. Tudo neste filme é arte, criação artÃstica, da pintura à música, à relação entre pais e filhos, à relação entre professores e estudantes, pois tudo nele perpassa a sensibilidade necessária para criar formas, sons, laços. Ninguém cria sem sentir algo, isto é, sem transformar aquilo que vê em algo diferente, algo que substitui aquilo que é visto, ouvido, tocado, degustado, cheirado, fremido em cada célula da pele que delineia o corpo. Em cada transformação, o que se sente é transmitido de uma forma diferente, com uma lógica própria ao sentir, que transmite um padrão, um código reconhecido por todos as outras pessoas, mas um código diferente que somente pode ser decodificado por quem é capaz de reconhecer padrões diferentes, e não apenas aqueles que já estão acostumados a ver há muito tempo um único padrão e o que veem diferente não faz nenhum sentido para eles, isto é, não lhes desperta nenhuma sensibilidade.
Despertar a sensibilidade é a arte do artista e também do professor, não apenas professor de arte, apesar deste estar mais apto a isto. Para isto, é preciso estar disposto a jogar o jogo da substituição, invertendo, mudando constantemente a forma de ver o mundo, transmitindo o conhecimento sempre de uma forma diferente e única. Diferente e única porque cada professor é diferente e único como meio de transmitir o conhecimento, isto é, transformando aquilo que aprendeu em uma forma de ensinar diferente. Nenhum professor é igual, como nenhum meio é igual a outro em sua forma de transmissão, pois o que se aprendeu de uma forma é transmitido de uma forma diferente por si mesmo, e é o que cada artista e cada professor e cada pessoa que se educa faz: transformam algo que era antes de um modo em algo de outro modo, mas para isto é preciso senão sensibilidade.
SensÃvel, neste sentido, é o que mais define este filme e despertar a sensibilidade em todos que o assistem é algo inevitável, apesar de que muitos talvez digam que um professor não pode dedicar o tempo que o professor no filme faz, que ninguém lhe paga para isso, que professor não ensina por amor... Professor sempre ensina por amor, ainda que não sobreviva de amor. Mas é preciso ser sensÃvel para entender isto, saber substituir o padrão lógico da sociedade capitalista pela lógica do sentido da educação que é, e sempre será, a da sensibilidade, de despertar a sensibilidade, a qual somente é possÃvel quando se ama a educação por mais ilógico que este amor possa parecer, como as estrelas na terra, que são, na verdade, estrelas cadentes que ao cair fazem quem as vê desejar sempre algo mais.
Assim são os professores substitutos, estrelas na terra, cadentes em seu fulgurar momentâneo a quem consegue percebê-los em seu brilho temporário, mas também os professores efetivos que sabem que o amor pela educação é maior do que qualquer salário e não se submetem totalmente a uma lógica de mercado, ainda que dependam dela para sua sobrevivência, pois o que para eles é brilharem, ainda que temporariamente, em sala de aula como estrelas na terra.
Professores substitutos são, como o próprio nome diz, aqueles que substituem professores efetivos, contratados e que têm uma garantia de permanência na escola, ao contrário dos professores substitutos que não têm nenhuma garantia de permanência. Esta diferenciação é comum nas escolas do mundo todo como se pode perceber nestes filmes de várias partes do mundo. Também é comum a diferença de atitude de professores efetivos e substitutos, os primeiros, muitas vezes acomodados em suas funções enquanto os segundos não podem se dar este direito, já que seu emprego depende do quanto se esforçam para conseguir mostrar para os gestores que seu trabalho é importante e merecem permanecer no emprego. Professores substitutos são, em geral, neste sentido, cargos de indicação e que passam sempre pelo crivo dos gestores, sendo avaliados não por concursos, uma vez apenas, e nunca mais, mas avaliados constantemente, a cada dia, a cada aula, cada reclamação de estudantes, de pais, de outros professores.
O último filme, Como estrelas na terra (Taare Zameen Par, तारे ज़मीन पर, Like Stars on Earth, 2007), filme indiano de Aamir Khan, que atua no filme como um professor substituto de arte, é o último filme que assisti desta lista e não destoa dos outros nesta visão de que os professores substitutos trabalham mais e são mais eficientes algumas vezes do que efetivos, visão tão comum entre professores substitutos e entre estudantes, mesmo que não seja ecoado isto pelos corredores das escolas, mas ressoado baixo para não constranger os professores efetivos, senhores da razão. Isto não apenas em escolas, mas também em universidades, centro de excelência do ensino, no qual não é difÃcil ver professores efetivos demonstrando todo o seu saber de décadas atrás, regurgitando verborragias que não se aplicam ou não sabem aplicar mais. Enquanto isto, professores substitutos expõem suas mais novas conquistas no saber, ansiosos para passá-las aos estudantes, com o vigor de quem aprende a andar de bicicleta a primeira vez, mesmo já sabendo andar há muito tempo nela, girando sempre o conhecimento em suas rodas como um novo conhecimento.
Como estrelas na terra é um filme surpreendente, menos por toda a dificuldade do garoto Ishaan aprender a ler e escrever devido seu problema de dislexia, do que pela incompreensão da sensibilidade de sua arte, isto é, de sua visão do mundo, cujas letras embaralhadas são apenas uma demonstração de uma lógica do sentido que substitui um sentido lógico ou sentido da lógica tão comum para todos. Uma arte que é comum a de seu professor substituto de arte, Nikumb, também disléxico, também enxergando o mundo por uma lógica do sentido em vez de um sentido lógico, a primeira provida de beleza, o segundo provido por um padrão. Padrão que nem Nikumb e Ishaan se adéquam por serem artistas, estas pessoas cuja sensibilidade vai além do padrões definidos e seguidos por todos, o que não quer dizer que não saibam segui-los em determinados momentos.
Substituir o padrão é subverter sua ordem, é fazer daquilo que é permanente algo variável, que muda constantemente, como as letras que dançam na frente do disléxico, mudando de forma, invertendo-se, mudando de lugar nas palavras. Uma substituição que cria uma nova forma de enxergar aquilo que é comum, padronizado, mas que somente aqueles que tem a sensibilidade para criar conseguem perceber. Uma substituição que descentraliza a estrutura e mostra novas possibilidades, perspectivas não pensadas antes, ou mesmo impedidas de serem pensadas pela estrutura mesma, no caso, pela estrutura de ensino, a escola.
Como estrelas na terra é a lógica desta substituição, a lógica da arte, a lógica do sentido, a lógica do jogo, principalmente se considerarmos os diversos nomes que ele tem: Taare Zameen Par, तारे ज़मीन पर, Like Stars on Earth, Somos todos diferentes. Tudo neste filme é arte, criação artÃstica, da pintura à música, à relação entre pais e filhos, à relação entre professores e estudantes, pois tudo nele perpassa a sensibilidade necessária para criar formas, sons, laços. Ninguém cria sem sentir algo, isto é, sem transformar aquilo que vê em algo diferente, algo que substitui aquilo que é visto, ouvido, tocado, degustado, cheirado, fremido em cada célula da pele que delineia o corpo. Em cada transformação, o que se sente é transmitido de uma forma diferente, com uma lógica própria ao sentir, que transmite um padrão, um código reconhecido por todos as outras pessoas, mas um código diferente que somente pode ser decodificado por quem é capaz de reconhecer padrões diferentes, e não apenas aqueles que já estão acostumados a ver há muito tempo um único padrão e o que veem diferente não faz nenhum sentido para eles, isto é, não lhes desperta nenhuma sensibilidade.
Despertar a sensibilidade é a arte do artista e também do professor, não apenas professor de arte, apesar deste estar mais apto a isto. Para isto, é preciso estar disposto a jogar o jogo da substituição, invertendo, mudando constantemente a forma de ver o mundo, transmitindo o conhecimento sempre de uma forma diferente e única. Diferente e única porque cada professor é diferente e único como meio de transmitir o conhecimento, isto é, transformando aquilo que aprendeu em uma forma de ensinar diferente. Nenhum professor é igual, como nenhum meio é igual a outro em sua forma de transmissão, pois o que se aprendeu de uma forma é transmitido de uma forma diferente por si mesmo, e é o que cada artista e cada professor e cada pessoa que se educa faz: transformam algo que era antes de um modo em algo de outro modo, mas para isto é preciso senão sensibilidade.
SensÃvel, neste sentido, é o que mais define este filme e despertar a sensibilidade em todos que o assistem é algo inevitável, apesar de que muitos talvez digam que um professor não pode dedicar o tempo que o professor no filme faz, que ninguém lhe paga para isso, que professor não ensina por amor... Professor sempre ensina por amor, ainda que não sobreviva de amor. Mas é preciso ser sensÃvel para entender isto, saber substituir o padrão lógico da sociedade capitalista pela lógica do sentido da educação que é, e sempre será, a da sensibilidade, de despertar a sensibilidade, a qual somente é possÃvel quando se ama a educação por mais ilógico que este amor possa parecer, como as estrelas na terra, que são, na verdade, estrelas cadentes que ao cair fazem quem as vê desejar sempre algo mais.
Assim são os professores substitutos, estrelas na terra, cadentes em seu fulgurar momentâneo a quem consegue percebê-los em seu brilho temporário, mas também os professores efetivos que sabem que o amor pela educação é maior do que qualquer salário e não se submetem totalmente a uma lógica de mercado, ainda que dependam dela para sua sobrevivência, pois o que para eles é brilharem, ainda que temporariamente, em sala de aula como estrelas na terra.
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