O futuro da educação

Pensar na educação é pensar inevitavelmente no futuro que ela encerra em seu movimento de catapulta, um movimento que lança algo que está atrás (no passado) para frente (o futuro). A educação é propriamente este movimento de catapulta, uma transmissão de um conhecimento adquirido no tempo passado em um determinado espaço para um tempo futuro num espaço indeterminado.

Pensar este movimento de catapulta da educação é pensar a educação como uma transmissão de conhecimentos passados para o futuro. A definição de educação como transmissão de conhecimentos para muitos é algo ofensivo, pois considera a educação apenas do ponto de vista de um meio negligenciando os seres humanos envolvidos nela. A educação como transmissão é vista, assim, meramente como instrumental que nada acrescenta ao ser humano de um ponto de vista crítico.

Contudo, quem vê a educação como transmissão de conhecimentos como um puro meio esquece aquilo que Marshall McLuhan disse de que o meio é a mensagem, em outras palavras, esquece que o meio encerra em si mesmo algo que ele transporta de um lugar para outro, mas também de um estado para outro, de uma forma para outra, de um meio mesmo para outro, quente ou frio, e que, neste sentido, todo meio é ele próprio uma transformação da mensagem que ele encerra, transmite e transporta. Em outras palavras, que se a educação como transmissão pode ser considerada um movimento de catapulta, há neste movimento uma transformação de algo em outra coisa no ato mesmo de sua emissão. A catapulta transmite assim toda sua energia e força acumulada para um objeto impulsionando-o de trás pra frente, como também faz o elástico num estilingue ou baladeira, mas a transmissão desta energia e força depende de diversos fatores envolvendo não apenas o meio transmissor como também o que é transmitido, assim como o que é transmitido em sua transmissão a partir de outra catapulta. Deste modo, cada transmissão de conhecimento por um determinado meio, como uma catapulta propriamente dita, é feita a partir de um máquina de guerra que põe o conhecimento em movimento e, neste movimento, o transforma em algo diferente, e que é sempre diferente a cada recepção, que nunca é uma recepção pura, mas a remissão de algo, consequentemente, uma nova transformação no momento em que aquilo que é emitido é recebido e transmitido novamente.

Cada meio encerra uma educação que não necessariamente se opõe a de outro meio, mas se relaciona com ele conforme sua transmissão de conhecimentos. A educação através de tecnologias não se opõe a uma educação tradicional neste sentido, apenas diferem na transmissão do conhecimento, pois obviamente a transformação que o ser humano opera no conhecimento adquirido quando o transmite é diferente da transformação que uma máquina opera na transmissão do mesmo conhecimento. Em outras palavras, um gravador pode até transmitir a fala de um professor, mas não transmite tudo que está relacionado à sua fala num determinado tempo e espaço. Contudo, um professor não transmite conhecimento em sua fala indeterminadamente no tempo e no espaço como uma máquina por tudo que envolve sua vida, biológica e conceitual. Opor educações do ponto de vista das transmissão dos conhecimentos a partir de determinados meios, neste sentido, é restringir a educação a um único meio, o que seria restringir a educação a uma única transmissão de conhecimento e que todo conhecimento adquirido somente possa ser transmitido de uma única forma. Algo que, deste modo, inviabiliza a educação mais do que a possibilita tendo em vista que o ser humano não se educa nunca pela transmissão de conhecimentos a partir de um único meio, biológico, técnico ou conceitual.

Pensar a educação como transmissão de conhecimentos a partir de determinados meios, no caso, não é pensar uma educação propriamente instrumental, mas pensar uma educação que não se restrinja a um único meio ou que depende de uma única transmissão de conhecimentos. Mais ainda, é pensar que cada transmissão de conhecimentos contribui para a educação e que cada alteração produzida numa transmissão deve ser pensada em seus resultados, independente de ser antiga ou nova. A transmissão de conhecimentos é, portanto, não uma repetição de um conhecimento adquirido no passado num futuro simplesmente, mas uma transformação deste conhecimento passado em conhecimento futuro. É uma transformação do conhecimento no tempo e no espaço determinados para um conhecimento no tempo e espaço indeterminados.

O futuro da educação como transmissão de conhecimentos é como todo futuro indeterminado em que o conhecimento adquirido transmitido pode até ser exato, de modo matemático e gramático, ou provavelmente exato como nas ciências da natureza ou da linguagem, mas ele é sempre improvável exatamente como na filosofia e nas ciências humanas onde as catapultas deixam de ser objetos físico-matemáticos para se tornarem conceitos e metáforas cujo entendimento depende de cada ser humano em sua subjetividade individual no tempo e no espaço em que ele se insere.

O futuro da educação é, deste modo, o de uma educação como transmissão de conhecimentos independente dos meios utilizados em que cada meio transforma o conhecimento adquirido no passado em determinado espaço em um conhecimento transmitido a sabe-se lá quem num espaço e tempo indeterminados que o catapulte a outros mais sempre de modo improvável.

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