A felicidade nos pequenos gestos
Uma tia-avó uma vez me chamou à atenção quando eu estava em pé de braços cruzados na soleira da porta de sua casa olhando a rua impedindo de certo modo a passagem: "Descruza esses braços, menino!" Sem saber o motivo perguntei porque e ela disse: "Pra não impedir a felicidade de entrar em casa." Diante da sabedoria de suas palavras, deixei de cruzar os braços não apenas na naquele momento e na porta de sua casa, mas em qualquer momento de minha vida.
A cada vez que involuntariamente cruzo ou sinto vontade de cruzar os braços, eu me lembro do pensamento desta minha tia-avó que falecera recentemente, o que faz da lembrança deste gesto algo sentido mais profundamente agora. Há palavras e ações que nos afetam e que afetam outras pessoas que não envelhecem jamais em nossa memória. São afecções que nos transformam no que somos, deixando-nos alegres ou tristes em alguns momentos, e que nossa felicidade é percebê-las e conhecê-las, conhecendo cada palavra e ato que nos afeta e que afeta os outros. É a ética do afecto de Baruch Spinoza, filósofo holandês do século XVII que passou a vida em sua clausura forçada conhecendo as afecções de nossa vida para nos ensinar sobre elas.
Geralmente, estas afecções passam despercebidas em nosso cotidiano agitado e simples gestos vão se fazendo presente sem que tomemos conhecimento deles como se não fossem importantes. Gestos que se tornam deste modo pouco a pouco autômatos, isto é, independente de nós, alienados ao nosso conhecimento, transformando o nosso corpo numa máquina como pensava Descartes, a quem Spinoza se opunha em sua filosofia. Gestos que, desconhecidos a cada momento, se perdem e nunca serão lembrados por aqueles que os produziram, nem se tornarão conhecimento para eles que passarão a outros pela educação.
Conhecer os afetos do nosso corpo foi o que se propôs Spinoza em sua ética pensando as alegrias e tristezas de nossa vida, algo que, geralmente, fazemos apenas na velhice, mas que devemos nos propor fazer a cada dia, conhecendo os gestos de nosso corpo e como ele nos afeta e afeta a outros. Conhecer estes gestos evita que nos tornemos autômatos não conhecendo o que pode nos fazer alegre ou triste a cada momento ou fazer alegre ou triste a outro. E, neste caso, troquemos o conhecimento dos gestos em palavras e ações a nos deixar felizes pela ignorância deles que fazem cada vez mais nós e outros infelizes.
O conhecimento dos gestos, isto é, do que o nosso corpo produz de afectos, alegres ou tristes, é o que nos faz feliz. Uma felicidade que é o conhecimento de nós mesmos nas palavras e ações de nosso corpo aprendendo cada vez mais sobre ele à medida em que o tempo passa, educando-nos durante a vida sobre o que nos deixa alegre ou triste. Como, por exemplo, saber que os braços cruzados na soleira da porta de casa impedem a felicidade de entrar nela, casa que é uma extensão do nosso corpo a nos proteger das intempéries da natureza e da vida e da qual devemos cuidar como cuidamos dele protegendo nossa alma contra a morte, a maior tristeza de nossa vida... uma tristeza infinita.
A velhice nos dá cada vez mais um conhecimento sobre o que pode o nosso corpo, dos gestos que nos deixam alegre ou triste em seus afectos, dando nos uma felicidade mesmo quando a morte nos lembra do fim de nossa vida. Envelhecer é aprender a cada vez mais sobre nosso corpo e a vida que ele protege na qual cada gesto conta, pois simbolizam mudanças nele que podem mudar toda a vida. Aprender a não cruzar os braços impedindo que a felicidade entre em mim e em minha casa foi um destes gestos que aprendi com a velhice de minha tia-avó.
A cada vez que involuntariamente cruzo ou sinto vontade de cruzar os braços, eu me lembro do pensamento desta minha tia-avó que falecera recentemente, o que faz da lembrança deste gesto algo sentido mais profundamente agora. Há palavras e ações que nos afetam e que afetam outras pessoas que não envelhecem jamais em nossa memória. São afecções que nos transformam no que somos, deixando-nos alegres ou tristes em alguns momentos, e que nossa felicidade é percebê-las e conhecê-las, conhecendo cada palavra e ato que nos afeta e que afeta os outros. É a ética do afecto de Baruch Spinoza, filósofo holandês do século XVII que passou a vida em sua clausura forçada conhecendo as afecções de nossa vida para nos ensinar sobre elas.
Geralmente, estas afecções passam despercebidas em nosso cotidiano agitado e simples gestos vão se fazendo presente sem que tomemos conhecimento deles como se não fossem importantes. Gestos que se tornam deste modo pouco a pouco autômatos, isto é, independente de nós, alienados ao nosso conhecimento, transformando o nosso corpo numa máquina como pensava Descartes, a quem Spinoza se opunha em sua filosofia. Gestos que, desconhecidos a cada momento, se perdem e nunca serão lembrados por aqueles que os produziram, nem se tornarão conhecimento para eles que passarão a outros pela educação.
Conhecer os afetos do nosso corpo foi o que se propôs Spinoza em sua ética pensando as alegrias e tristezas de nossa vida, algo que, geralmente, fazemos apenas na velhice, mas que devemos nos propor fazer a cada dia, conhecendo os gestos de nosso corpo e como ele nos afeta e afeta a outros. Conhecer estes gestos evita que nos tornemos autômatos não conhecendo o que pode nos fazer alegre ou triste a cada momento ou fazer alegre ou triste a outro. E, neste caso, troquemos o conhecimento dos gestos em palavras e ações a nos deixar felizes pela ignorância deles que fazem cada vez mais nós e outros infelizes.
O conhecimento dos gestos, isto é, do que o nosso corpo produz de afectos, alegres ou tristes, é o que nos faz feliz. Uma felicidade que é o conhecimento de nós mesmos nas palavras e ações de nosso corpo aprendendo cada vez mais sobre ele à medida em que o tempo passa, educando-nos durante a vida sobre o que nos deixa alegre ou triste. Como, por exemplo, saber que os braços cruzados na soleira da porta de casa impedem a felicidade de entrar nela, casa que é uma extensão do nosso corpo a nos proteger das intempéries da natureza e da vida e da qual devemos cuidar como cuidamos dele protegendo nossa alma contra a morte, a maior tristeza de nossa vida... uma tristeza infinita.
A velhice nos dá cada vez mais um conhecimento sobre o que pode o nosso corpo, dos gestos que nos deixam alegre ou triste em seus afectos, dando nos uma felicidade mesmo quando a morte nos lembra do fim de nossa vida. Envelhecer é aprender a cada vez mais sobre nosso corpo e a vida que ele protege na qual cada gesto conta, pois simbolizam mudanças nele que podem mudar toda a vida. Aprender a não cruzar os braços impedindo que a felicidade entre em mim e em minha casa foi um destes gestos que aprendi com a velhice de minha tia-avó.
In memoriam a minha Tia Nica,
que nunca foi pequena em suas ações e palavras.
que nunca foi pequena em suas ações e palavras.
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