O utilitarismo ético à brasileira

Todas as ideias que chegam ao Brasil se distorcem. Já faz parte da história do Brasil distorcer as ideias, a começar pela ideia de seu descobrimento por Portugal como se fosse a Índia, assim com em outras partes da América. É o jeitinho brasileiro, como se diz, que cria uma ideologia própria a partir da tradução de ideias que se tornam as bases de uma cultura que aprendeu a desconstruir todos os discursos que vem de fora, incluindo o do utilitarismo ético onde vigora a lei das perdas e danos na qual sempre é levada em conta o que é mais prazeroso individual e coletivamente.

Hoje, com a crise política no país, o utilitarismo ético à brasileira está cada vez mais presente, mas as consequências dele são nefastas, pois longe de reduzir penas e danos para se avançar socialmente em prol de uma felicidade, o utilitarismo ético brasileiro caminha no sentido contrário. "Quando pior, melhor." é seu lema, "Pior do que está pode ficar.", seu princípio. E assim caminha a humanidade brasileira voltada para ampliar as perdas e danos que possam fazê-la ascender socialmente para um tipo de sociedade na qual a felicidade está na utilidade de algo que pode contribuir para gerar incerteza, caos, crise política, econômica, social. Não por acaso, neste sentido, é um político corrupto que defende o impeachment de uma presidente supostamente corrupta, pois faz parte do utilitarismo ético brasileiro usar todos os meios possíveis para sustentar seu prazer perverso de perda e dano ao outro necessário para sua sobrevivência.

Em tudo o utilitarismo ético de Jeremy Bentham e de John Stuart Mill é invertido no Brasil que visa, neste caso, o bem-estar não da população, mas de uma pequena parcela dela, não importa que meios sejam utilizados para isto, incluindo a própria população como um todo como fazem muitos, que fazem crer que estão em sua defesa quando, na verdade, estão em defesa de si próprios, particularmente os políticos e empresários. Dificil, neste sentido, é escapar deste utilitarismo ético à brasileira no qual cada vez mais as pessoas percebem que não há saída da corrupção, das injustiças, do poder dos privilegiados pela mídia que hora produzem perda em um, ora produzem danos em outros, a seu bel-prazer tendo em vista um maior Ibope. Uma dificuldade diante da qual os brasileiros ficam à mercê sempre de terem escolher não o que é melhor, mas o que é menos pior, perdendo de vista neste sentido a felicidade social pressuposta pelo utilitarismo ético e tendo em vista sua própria infelicidade diante desta alternativa nefasta.

Chega-se assim ao fundo do poço social e político-econômico que vivemos hoje em que a escolha de um lado não dá à ninguém nenhuma perspectiva de melhoria e felicidade para o país. Pior, de que tudo pode piorar cada vez mais a cada instante, que é o que muitos que defendem a democracia mais temem, ao verem que a justiça, princípio de toda política, se divide claramente em lados opostos e escolhe também ela o lado que lhe é mais confortável, o dos podres poderes.

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