O filósofo, professor e escritor nas horas vagas
A cada ano, pelo menos em um dia nele, celebramos o nosso ser-no-mundo, o nosso aparecer na vida, o momento de nossa abertura para algo que é maior do que nós porque infinito enquanto dura.
Todos os anos neste dia, presenteio-me de alguma forma, em geral, com um livro. Como, neste ano, a crise se tornou palavra de ordem na mente de todos, e comigo não foi diferente, não me dei nenhum livro apesar de muitos em mente. Resolvi então presentear-me com este texto, celebrando nele aquilo que sou ou aquilo que venho a ser há algum tempo tal como me descrevo: filósofo, professor e escritor nas horas vagas.
Escrevo às cinco da manhã, na hora mais vaga de todas, neste momento em que a noite se torna dia, que é a hora na qual os pensamentos e ideias geralmente me despertam, chamada literariamente a hora da morte. Neste momento, em que não há agitação nenhum com que se preocupar é geralmente o momento em que mais me preocupo como filósofo. É quando os pensamentos e ideias vêm a tona em mim e tudo gira em minha volta me fazendo girar consigo ao ponto de ficar muitas vezes nauseado com a tamanha insistência da filosofia em me fazer seu refém.
Ser filósofo, como digo há muito tempo, é se preocupar com tudo em sua volta. É aquilo que penso ter resumido em dois versos de um poema que escrevi e que me descreve quase plenamente, quando digo que me enrolo em tantos vens/
que ir comigo é difícil. Pois a cada manhã me enrolo na filosofia e as preocupações que ela me leva a ter que é difícil ir comigo, dedicar-me um pouco a mim, já que ao pensar em mim já estou filosofando também carteseanamente falando.
Apesar disto, a filosofia é aquilo que me desperta todo dia e a cada dia o que me faz vivê-lo melhor. Tudo que devo enquanto pessoa a mim mesmo se deve a ela. A parte que me cabe no latifúndio da vida foi me dada pela filosofia que carrego como todo filósofo com o fardo de saber que ela não é muitas vezes bem-vinda, como um estrangeiro ou estranho que bate à porta nos pedindo algo sem saber quem ele é, como uma língua que não é muitas vezes uma língua, posto que o que fala nem sempre é entendido, logo, não ouvido.
Foi a filosofia que me fez ser professor, pelo menos profissionalmente, pois ensinar sempre fez parte de minha vida, pois é praticamente a consequência de aprender. Quando resolvi ser filósofo na faculdade, já que não passei para filosofia, sabia que o que faria pelo resto de minha vida era ser professor, talvez por isto não seja frustrado como muitos nesta profissão que é tão lamentada por todos. Filosofia e educação andam sempre juntas como tenho pensado há algum tempo em minha filosofia da educação, pois ninguém aprende algo só para si, e o filósofo como aquele que aprende por natureza, isto é, aprende por estar sempre disposto a aprender, sempre quer ensinar o que aprendeu, ser professor, como qualquer pessoa ademais que adquire o conhecimento de algo. No caso, dele daquilo que muitas pessoas não querem muito saber apesar de fazer parte da vida delas sempre e estar mais presente aos olhos do que a matemática e sempre presente na linguagem de cada dia.
Como professor me orgulho de ser alguém que faz rir, algo que faço toda vez que aprendo algo. Rir é demonstrar que está feliz com o que está acontecendo e, em sala de aula, fazer feliz aqueles que me escutam é meu objetivo como professor. Contudo, isto não quer dizer que eu seja divertido, um palhaço como muitos professores resolvem ser para seus estudantes tentando prender sua atenção de qualquer modo, como se tenta prender muitas vezes os estudantes na sala de aula, na escola, fazendo da educação um sistema prisional dos mais severos, posto que busca dominar o pensamento de quem está ali para aprender a ser feliz e fazer algo que deixe os outros felizes.
Aqueles que estudam comigo não riem de mim, de como me caracterizo, do que faço para prender sua atenção. Eles riem da vida que está fora da escola e que se deve esquecer quando se entra nela para poder ser pensada melhor. Eles riem porque a atenção dele não foi prendida, mas despertada ao máximo, fazendo-os felizes. Eles riem comigo do aprendizado que estão tendo ali no momento em que uma fala minha desperta em seus ouvidos o prazer de uma verdade, que é a verdade do conhecimento, o que nos faz passar de uma perfeição menor para uma maior, como diz Espinoza.
Ser filósofo e ser professor não é engraçado. Há muito drama envolvido e, obviamente, não conto piada ou me travisto para fazer os estudantes rirem. A vida não é uma comédia, tão pouco uma tragédia, mas é uma drama, este gênero artístico que adveio na modernidade e que faz parte de nossa vida, a simbiose entre tragédia e comédia com um suspense no ar. Drama o qual nos faz rir e chorar ao mesmo tempo sem saber muitas vezes porque enlevados pelo que se apresenta a nós num determinado momento.
Neste drama que é a nossa vida, também em sala de aula, a cada riso que desperto mesmo no canto da boca de algum estudante há uma tristeza consequentemente, pois eles sentem e sabem que o que digo não é para divertir. A filosofia nunca é nem vai ser divertimento para ninguém. Rir não é se divertir, é se alegrar. Nunca deixo que os estudantes confundam o divertimento com a alegria de estar ali presente naquele momento ouvindo o que digo e vendo o que faço para ensinar este que é o mais inútil dos saberes em suas vidas até saberem o que ele pode construir para si, obviamente.
Mas, como professor, faço o possível para que eles percebam aquilo que Toquinho e Vinícius, sublimes professores da música e da poesia, souberam muito bem cantar e ensinar nestes versos, fazendo da filosofia tal como eu compreendo um samba em seu drama:
Antes de ser filósofo e professor, desde que me conheço por gente, fui poeta, logo, escritor, pois, hoje em dia, a poesia é declamada apenas para os ouvidos surdos dos leitores em sua ausência do que para pessoas em presença como nos tempos idos, mais antigos. Apesar de ainda ela ser celebrada assim em alguns lugares e em alguns momentos. Contudo, a poesia se fez em mim, como em muitos, mais na fala contida no papel do que na fala bramida a muitos e são poucos os que me conhecem como poeta, pois são poucos aqueles que deixo ler minhas poesias, a quem devoto ainda papel que é o suporte poético por excelência, aquele que leva a poesia a uma presença que uma tela de computador não consegue permitir, pois ela nunca é uma tela em branco na qual as palavras se imprimem com a força da voz contida em palavra e verso.
Assim como na história da filosofia, ao me tornar filósofo deixei de ser poeta, pois a filosofia é o fim da poesia. Um fim nefasto em muitos casos, pois deixa de fazer as pessoas verem o mistério que há por trás das palavras e da vida, para ver apenas uma realidade na qual não há nada mais para ser visto. Enquanto a poesia nos mostra sempre algo ainda por vir apesar de não sabermos o que é, desvendando-o apenas nas palavras poéticas.
Apesar de dedicado às letras através da poesia, não um poeta letrado, conhecedor dos versos metrificados e dos enlevos poéticos que muitos conseguem imprimir e ver concretamente em muitos poemas. Minha poesia não tem forma definida e, neste sentido, uma em específico define não apenas a mim, em minha filosofia, ou o modo múltiplo que ensino, mas também meu fazer poético, a única poesia ademais reconhecidamente poética por alguns poetas, presente como um dos destaques na coletânea do IX Prêmio Ideal Clube de Literatura - Poesia, de 2006. No caso, a poesia Máscaras:
Não sei quando escrevi esta poesia, mas lembro quando ela se tornou tão importante para mim, justamente a partir do concurso literário do Ideal Clube e lembro que o destaque que ela foi entre outras neste concurso não foi produzido por mim especificamente, mas por minha esposa, Dayana Saraiva, minha namorada na época, que viu nela algo que eu não vira até então. Lembro que comentei com ela sobre o concurso e que decidi que ela ia escolher as três poesias para enviar e que, das que escolheu, esta era a que considerava melhor. Lembro que não dei muita atenção à escolha desta poesia em particular e escrevi uma que considerava melhor para mim em relação ao concurso na vã ilusão de todo escritor que tudo aquilo que escreve é o que é bom para ser lido.
A verdade é que ela estava certa, como estão certos todos os leitores, pois a poesia não é aquilo que se escreve, ou se fala, mas o que se ouve, o que o poeta ouve no momento em que fala/escreve e o que ouve o ouvinte/leitor quando está na presença da poesia, a qual não se dá simplesmente de modo presente, mas num momento de verdade poética, isto é, no momento em que a verdade se faz presente poeticamente aos ouvidos, por menor que seja o verso, e sem métrica alguma.
Foi esta verdade poética que se fez presente nos ouvidos de minha esposa e dos leitores do concurso, somente depois a mim, num tempo que ainda permanece sempre disposta a ser vista por aqueles que a lerem em qualquer lugar, de qualquer modo, verem-na por trás das máscaras na qual se esconde, como toda verdade. Como a verdade por trás do que disse anteriormente que a filosofia é o fim da poesia e que deixei de ser poeta quando me tornei filósofo, pois, na verdade, nunca deixei de ser poeta e se a filosofia é o fim da poesia é porque a poesia devém filosofia, a verdade é ela mesma poética por trás das palavras do filósofo e não por acaso os primeiros filósofos eram poetas ao escreverem sobre a physis (a natureza) em poesia e mesmo em prosa.
Mas se é verdade que ainda sou poeta e escritor é apenas nas horas vagas, estas horas em que perambulo em minha mente caçando palavras para por ordem no caos que se abre frequentemente a mim e que tento dominar a cada dia com minha poesia, filosofia e como professor. Escrever é uma arte, já escrevi sobre isto neste blog no qual resumo tudo que sou há algum tempo. Um blog no qual me dedico frequentemente em busca de uma arkhé que é eu mesmo enquanto filósofo, professor e escritor nas horas vagas e no qual quem quiser me conhecer pode conhece um pouco nele, pois para me conhecer deve senão saber o que penso, o que falo e o que escrevo, mas apenas nele, em boa parte dos 36 anos de minha vida hoje em folhas a perder de vista onde estou ao mesmo tempo presente e ausente em meu a-partamento cotidiano celebrando a cada momento em que filosofo, ensino e escrevo minha própria vida.
Todos os anos neste dia, presenteio-me de alguma forma, em geral, com um livro. Como, neste ano, a crise se tornou palavra de ordem na mente de todos, e comigo não foi diferente, não me dei nenhum livro apesar de muitos em mente. Resolvi então presentear-me com este texto, celebrando nele aquilo que sou ou aquilo que venho a ser há algum tempo tal como me descrevo: filósofo, professor e escritor nas horas vagas.
Escrevo às cinco da manhã, na hora mais vaga de todas, neste momento em que a noite se torna dia, que é a hora na qual os pensamentos e ideias geralmente me despertam, chamada literariamente a hora da morte. Neste momento, em que não há agitação nenhum com que se preocupar é geralmente o momento em que mais me preocupo como filósofo. É quando os pensamentos e ideias vêm a tona em mim e tudo gira em minha volta me fazendo girar consigo ao ponto de ficar muitas vezes nauseado com a tamanha insistência da filosofia em me fazer seu refém.
Ser filósofo, como digo há muito tempo, é se preocupar com tudo em sua volta. É aquilo que penso ter resumido em dois versos de um poema que escrevi e que me descreve quase plenamente, quando digo que me enrolo em tantos vens/
que ir comigo é difícil. Pois a cada manhã me enrolo na filosofia e as preocupações que ela me leva a ter que é difícil ir comigo, dedicar-me um pouco a mim, já que ao pensar em mim já estou filosofando também carteseanamente falando.
Apesar disto, a filosofia é aquilo que me desperta todo dia e a cada dia o que me faz vivê-lo melhor. Tudo que devo enquanto pessoa a mim mesmo se deve a ela. A parte que me cabe no latifúndio da vida foi me dada pela filosofia que carrego como todo filósofo com o fardo de saber que ela não é muitas vezes bem-vinda, como um estrangeiro ou estranho que bate à porta nos pedindo algo sem saber quem ele é, como uma língua que não é muitas vezes uma língua, posto que o que fala nem sempre é entendido, logo, não ouvido.
Foi a filosofia que me fez ser professor, pelo menos profissionalmente, pois ensinar sempre fez parte de minha vida, pois é praticamente a consequência de aprender. Quando resolvi ser filósofo na faculdade, já que não passei para filosofia, sabia que o que faria pelo resto de minha vida era ser professor, talvez por isto não seja frustrado como muitos nesta profissão que é tão lamentada por todos. Filosofia e educação andam sempre juntas como tenho pensado há algum tempo em minha filosofia da educação, pois ninguém aprende algo só para si, e o filósofo como aquele que aprende por natureza, isto é, aprende por estar sempre disposto a aprender, sempre quer ensinar o que aprendeu, ser professor, como qualquer pessoa ademais que adquire o conhecimento de algo. No caso, dele daquilo que muitas pessoas não querem muito saber apesar de fazer parte da vida delas sempre e estar mais presente aos olhos do que a matemática e sempre presente na linguagem de cada dia.
Como professor me orgulho de ser alguém que faz rir, algo que faço toda vez que aprendo algo. Rir é demonstrar que está feliz com o que está acontecendo e, em sala de aula, fazer feliz aqueles que me escutam é meu objetivo como professor. Contudo, isto não quer dizer que eu seja divertido, um palhaço como muitos professores resolvem ser para seus estudantes tentando prender sua atenção de qualquer modo, como se tenta prender muitas vezes os estudantes na sala de aula, na escola, fazendo da educação um sistema prisional dos mais severos, posto que busca dominar o pensamento de quem está ali para aprender a ser feliz e fazer algo que deixe os outros felizes.
Aqueles que estudam comigo não riem de mim, de como me caracterizo, do que faço para prender sua atenção. Eles riem da vida que está fora da escola e que se deve esquecer quando se entra nela para poder ser pensada melhor. Eles riem porque a atenção dele não foi prendida, mas despertada ao máximo, fazendo-os felizes. Eles riem comigo do aprendizado que estão tendo ali no momento em que uma fala minha desperta em seus ouvidos o prazer de uma verdade, que é a verdade do conhecimento, o que nos faz passar de uma perfeição menor para uma maior, como diz Espinoza.
Ser filósofo e ser professor não é engraçado. Há muito drama envolvido e, obviamente, não conto piada ou me travisto para fazer os estudantes rirem. A vida não é uma comédia, tão pouco uma tragédia, mas é uma drama, este gênero artístico que adveio na modernidade e que faz parte de nossa vida, a simbiose entre tragédia e comédia com um suspense no ar. Drama o qual nos faz rir e chorar ao mesmo tempo sem saber muitas vezes porque enlevados pelo que se apresenta a nós num determinado momento.
Neste drama que é a nossa vida, também em sala de aula, a cada riso que desperto mesmo no canto da boca de algum estudante há uma tristeza consequentemente, pois eles sentem e sabem que o que digo não é para divertir. A filosofia nunca é nem vai ser divertimento para ninguém. Rir não é se divertir, é se alegrar. Nunca deixo que os estudantes confundam o divertimento com a alegria de estar ali presente naquele momento ouvindo o que digo e vendo o que faço para ensinar este que é o mais inútil dos saberes em suas vidas até saberem o que ele pode construir para si, obviamente.
Mas, como professor, faço o possível para que eles percebam aquilo que Toquinho e Vinícius, sublimes professores da música e da poesia, souberam muito bem cantar e ensinar nestes versos, fazendo da filosofia tal como eu compreendo um samba em seu drama:
É melhor ser alegre que ser tristeUm samba que outros dois mestres da poesia e da música, bem como da filosofia rimada, Caetano Veloso e Chico Buarque resumiram na música Vai levando, uma ode à vida em tudo que ela é, nos faz aprender e nos faz ensinar, bem diferente de um deixa a vida me levar com a graça de Deus que se vê muito hoje em dia sem se fazer nada para melhorar.
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas prá fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
Senão não se faz um samba não
Fazer samba não é contar piada
E quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não
Antes de ser filósofo e professor, desde que me conheço por gente, fui poeta, logo, escritor, pois, hoje em dia, a poesia é declamada apenas para os ouvidos surdos dos leitores em sua ausência do que para pessoas em presença como nos tempos idos, mais antigos. Apesar de ainda ela ser celebrada assim em alguns lugares e em alguns momentos. Contudo, a poesia se fez em mim, como em muitos, mais na fala contida no papel do que na fala bramida a muitos e são poucos os que me conhecem como poeta, pois são poucos aqueles que deixo ler minhas poesias, a quem devoto ainda papel que é o suporte poético por excelência, aquele que leva a poesia a uma presença que uma tela de computador não consegue permitir, pois ela nunca é uma tela em branco na qual as palavras se imprimem com a força da voz contida em palavra e verso.
Assim como na história da filosofia, ao me tornar filósofo deixei de ser poeta, pois a filosofia é o fim da poesia. Um fim nefasto em muitos casos, pois deixa de fazer as pessoas verem o mistério que há por trás das palavras e da vida, para ver apenas uma realidade na qual não há nada mais para ser visto. Enquanto a poesia nos mostra sempre algo ainda por vir apesar de não sabermos o que é, desvendando-o apenas nas palavras poéticas.
Apesar de dedicado às letras através da poesia, não um poeta letrado, conhecedor dos versos metrificados e dos enlevos poéticos que muitos conseguem imprimir e ver concretamente em muitos poemas. Minha poesia não tem forma definida e, neste sentido, uma em específico define não apenas a mim, em minha filosofia, ou o modo múltiplo que ensino, mas também meu fazer poético, a única poesia ademais reconhecidamente poética por alguns poetas, presente como um dos destaques na coletânea do IX Prêmio Ideal Clube de Literatura - Poesia, de 2006. No caso, a poesia Máscaras:
Nas máscaras, me multiplico
mas nenhuma consigo instaurar,
pelas ruas, eu medito
até que venham me encontrar.
Sem saber, eu me divido
para poder me totalizar,
como as cores do arco-íris,
nascendo e morrendo em algum lugar.
Em cada máscara, me escondo,
em cada cor, me transpareço,
mas não sei onde é o fim
da minha origem, meu começo.
Não consigo ser alguém,
não sei quem sou também,
me enrolo em tantos vens
que ir comigo é difícil.
Um labirinto sem saída
é em que resumo minha vida,
cheia de caminhos emaranhados,
cheia de máscara coloridas.
Não sei quando escrevi esta poesia, mas lembro quando ela se tornou tão importante para mim, justamente a partir do concurso literário do Ideal Clube e lembro que o destaque que ela foi entre outras neste concurso não foi produzido por mim especificamente, mas por minha esposa, Dayana Saraiva, minha namorada na época, que viu nela algo que eu não vira até então. Lembro que comentei com ela sobre o concurso e que decidi que ela ia escolher as três poesias para enviar e que, das que escolheu, esta era a que considerava melhor. Lembro que não dei muita atenção à escolha desta poesia em particular e escrevi uma que considerava melhor para mim em relação ao concurso na vã ilusão de todo escritor que tudo aquilo que escreve é o que é bom para ser lido.
A verdade é que ela estava certa, como estão certos todos os leitores, pois a poesia não é aquilo que se escreve, ou se fala, mas o que se ouve, o que o poeta ouve no momento em que fala/escreve e o que ouve o ouvinte/leitor quando está na presença da poesia, a qual não se dá simplesmente de modo presente, mas num momento de verdade poética, isto é, no momento em que a verdade se faz presente poeticamente aos ouvidos, por menor que seja o verso, e sem métrica alguma.
Foi esta verdade poética que se fez presente nos ouvidos de minha esposa e dos leitores do concurso, somente depois a mim, num tempo que ainda permanece sempre disposta a ser vista por aqueles que a lerem em qualquer lugar, de qualquer modo, verem-na por trás das máscaras na qual se esconde, como toda verdade. Como a verdade por trás do que disse anteriormente que a filosofia é o fim da poesia e que deixei de ser poeta quando me tornei filósofo, pois, na verdade, nunca deixei de ser poeta e se a filosofia é o fim da poesia é porque a poesia devém filosofia, a verdade é ela mesma poética por trás das palavras do filósofo e não por acaso os primeiros filósofos eram poetas ao escreverem sobre a physis (a natureza) em poesia e mesmo em prosa.
Mas se é verdade que ainda sou poeta e escritor é apenas nas horas vagas, estas horas em que perambulo em minha mente caçando palavras para por ordem no caos que se abre frequentemente a mim e que tento dominar a cada dia com minha poesia, filosofia e como professor. Escrever é uma arte, já escrevi sobre isto neste blog no qual resumo tudo que sou há algum tempo. Um blog no qual me dedico frequentemente em busca de uma arkhé que é eu mesmo enquanto filósofo, professor e escritor nas horas vagas e no qual quem quiser me conhecer pode conhece um pouco nele, pois para me conhecer deve senão saber o que penso, o que falo e o que escrevo, mas apenas nele, em boa parte dos 36 anos de minha vida hoje em folhas a perder de vista onde estou ao mesmo tempo presente e ausente em meu a-partamento cotidiano celebrando a cada momento em que filosofo, ensino e escrevo minha própria vida.
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