Castelos de areia: o Estado Islâmico e o Estatuto da Famíla
Há um mês cenas vistas somente na Segunda Guerra Mundial tornaram a acontecer na Europa. Milhares de pessoas em famílias inteiras seguindo em marcha para fugir do terror que o Estado Islâmico produz atualmente na Síria em busca de algum lugar para viver em paz. Em contrapartida, porém, encontrando elas na Europa outros Estados que também não as querem por perto ou não conseguem abrigá-las e limitam sua entrada criando campos de refugiados em suas fronteiras, algumas delas barricadas criadas com o objetivo de impedi-las de entrar, mais do que controlar a entrada destas pessoas.
No mesmo período de tempo, no Brasil, também tem se visto cenas que há muitos anos não se via, nas ruas e no Congresso, cenas que não distam e nem destoam muito das cenas lamentáveis que vemos acontecer na Europa em alguns aspectos, principalmente, no que diz respeito à intolerância. Não são os mesmos motivos que levam pessoas a caminharem aqui como fora, tão pouco são construídos campos de refugiados a olhos nus para todos verem, pois os campos de refugiados aqui são invisíveis aos olhos, mas há muito em comum com o que se vê para além das fronteiras do Brasil e dentro das fronteiras deste país ainda dito "cordial".
Em relação a estas cenas, para além e para aquém das fronteiras brasileiras, o que se tem de comum é o estabelecimento de um território pela fé que se constrói por meio da destruição de outros territórios, que estabelece suas próprias fronteiras, suas leis, seus direitos e suas penas. Territórios que são constituídos na terra e no ideal de todos nos quais somente alguns são bem vindos, o que se aliam aos que estão estabelecendo este território. Para além da fronteira do Brasil, o Estado Islâmico estabelecendo o território com base numa fé muçulmana, aquém da fronteira do Brasil, Igrejas cristãs estabelecendo um território com base na fé cristã.
Em comum entre dois movimentos de territorialização crescente no Oriente Médio e no Brasil, além da fé, há o belicismo deflagrado pelo Estado Islâmico de modo iminente com a destruição total de tudo que não representa a fé e cultura islâmica que eles representam, de modo particular, tudo que remete ao Ocidente, com exceção das armas, as quais usam de modos diversos para matar quem se opõe a eles. Entre os mortos que se opõem a eles, estão não apenas etnias e culturas locais que formam o Estado sírio, mas também pessoas que adotam diversidade sexual diferente do que prega o islamismo, além de mulheres que são mortas por abusos constantes. No que diz respeito às Igrejas cristãs, não há mortos literalmente, mas não é difícil observar em seus discursos um tom belicoso, que incita a guerra, que forma exércitos de salvação e que transforma a Bíblia em arma contra aqueles que não cultuam a mesma fé em Cristo professada por eles. Um tom belicoso que não visa matar, mas impõe o mesmo terror de morte e de destruição de todos aqueles que não têm a mesma fé e cultura cristã que eles, inclusive, se aliando a pessoas que defendem uma militarização da sociedade, isto é, um Estado militar, mesmo que não seja uma ditadura, e se for esta melhor ainda para muitos deles. E não são diferentes aqueles que são atacados pelos cristãos com suas palavras em relação aos muçulmanos do Estado Islâmico, pois os cristão também atacam outras etnias, principalmente a negra com sua cultura e fé considerada "demoníaca" por muitos religiosos, toda uma diversidade sexual que se expande no Brasil como uma "ditadura" segundo muitos deles e mulheres que ousam ter liberdade sexual em suas roupas e costumes.
Em relação a isto, tanto o Estado Islâmico como as Igrejas cristãs querem alastrar cada vez mais seu domínio sobre a terra, no Oriente e aqui no Brasil, e ambos usam ainda a mesma propagação da fé por meios midiáticos seja para estimular aqueles que querem seguir suas fés ao seu modo. E usam não por menos o mesmo tom muitas vezes de vitimização, seja em relação ao Ocidente no caso do Estado Islâmico, seja em relação a todos aqueles que não são cristãos. Contudo, os métodos do Estado Islâmico e das Igrejas cristãs de constituírem seus territórios não são os mesmos, obviamente, pois o primeiro constitui seu território com o terror das armas e as segundas com o terror de suas palavras e não os mesmos os territórios que constituem com base na fé, mas também na lei que eles próprios criam.
A diferença de constituição dos territórios pelo Estado Islâmico e as Igrejas cristãs é a de que aquele usa armas e esta usa palavras, o primeiro dispondo da força para expulsar do Estado que querem construir todos aqueles que não seguem a fé e cultura islâmica professada por ele e as segundas, dispondo da "Palavra de Deus" para expulsar do Estado brasileiro que querem cristão todos aqueles que não seguem a fé e cultura cristã professada pelos cristãos. No caso do Estado Islâmico sendo constituído um território literalmente sobre a terra, com suas fronteiras definidas por meio da força das armas, no caso das Igrejas cristãs constituindo um território conceitual sobre o território brasileiro, com suas fronteiras definidas por meio da força das palavras num Estatuto que se quer que transforme em lei do Brasil, o Estatuto da Família. O que, neste ponto, novamente Estado Islâmico e Igrejas cristãs, por mais distantes que sejam em seus objetivos, que não são os mesmos obviamente os mesmos, têm a mesma preocupação, a instituição de um família com base na sua cultura e fé religiosa. No caso do Estado Islâmico, uma família que é um califado, isto é, um poder político criado a partir da descendência direta de Maomé ou da tribo, mas também uma família formada com base na cultura islâmica de há milhares de anos em que se adota em relação às mulheres condutas rígidas, principalmente no que diz respeito aos modos de vida ocidentais, principalmente no que diz respeito à diversidade sexual. No caso do Estado cristão brasileiro que as Igrejas cristãs querem reforçar, uma família que segue também os preceitos cristão existentes há milhares de anos segundo a Bíblia que eles querem reconhecer como lei para o Brasil a partir do Estatuto da Família.
Neste sentido, se o Estado Islâmico não quer em seus territórios e em sua família aqueles que não professam o islamismo e não o seguem à maneira que o Estado deles defende, a Igreja cristã não quer também no território Brasileiro e na definição de família que rege a lei do Brasil aqueles que não professam ou seguem o cristianismo à maneira que elas defendem e que querem que o Estado brasileiro defenda. O que, para além destes movimentos de territorialização diferentes comparados aqui entre o Estado Islâmico e o Estado Cristão que as Igrejas cristãs querem constituir com o Estatuto da Família, o que se percebe é que cada vez mais há uma tentativa de se formar territórios legais para o exercício da fé, seja por meio da força, seja por meio da "palavra divina", que não por menos promovem desterritorializações cada vez maiores de pessoas seja no Oriente Médio, seja no Brasil, as primeiras, obviamente, mais visíveis do que a segunda, pois, no caso do Brasil, o que se promove com o Estatuto da família é uma desterritorialização imperceptível aos olhos, já que se trata de excluir da lei que rege o Brasil, e não do Brasil mesmo, aqueles que não constituem uma família segundo o molde cristão, propriamente aqueles que compõem uma diversidade sexual. Neste caso específico impedindo as diversas famílias que não são formadas com base na fé cristã de direitos que as Igrejas cristãs querem assegurar a partir do Estatuto da família.
Deste duplo movimento de desterritorialização dos outros que não professam suas fés, com todas as diferenças que existem entre eles, muçulmanos do Estado Islâmico e cristãos das Igrejas cristãs, constroem, por sua vez, castelos de areia, aqueles no meio do deserto sobre as ruínas das cidades que eles destroem por onde passam, estes no meio das leis do Estado brasileiro. Castelos de areia que ao menor soprar de ventos ou ondas de água podem cair, no caso do Estado Islâmico, quando forças mundias resolverem varrer o Estado Islâmico do mapa, no caso do Estado brasileiro que se quer cristão à maneira das Igrejas cristãs por meio de um Estatuto da Família, quando pessoas se unirem para questioná-lo na justiça em relação a qual se opõem, seja para incluir nesta concepção de família as diversas famílias excluídas, seja para destruir a própria noção de família baseada na fé cristã defendida pelos cristãos.
Castelos de areia que são ainda fés que são sustentadas pela força das armas e das palavras como sonhos de poder sobre os outros que deixam de existir quando não se acreditam mais nelas.
P.S. Parece óbvio, mas é importante que se diga, para evitar mal entendido, que este texto se dirige a todos os muçulmanos que defendem o Estado Islâmico, única e exclusivamente, bem como a todos os cristãos das Igrejas cristãs que defendem que seja instituído na lei do Brasil um Estatuto da Família com base na fé e cultura cristã. Em outras palavras, se excluindo deste texto todos os muçulmanos que não querem constituírem o Estado Islâmico e cristãos das Igrejas cristãs que não querem constituírem um Estado cristão brasileiro apenas com base em suas fés e culturas familiares respectivamente, mas um Estado democrático de direito que acolha em suas leis e direitos todas as fés e culturas familiares. Neste sentido, não se trata de se opor neste texto às fés islâmicas e cristã, mas analisar como a fé não apenas move montanhas, num caso e no outro, mas pessoas também, e que se todas as desterritorializações são positivas, como dizem Deleuze e Guattari em seus Mil platôs, a cada desterritorialização são produzidos muitos conflitos desnecessariamente pela busca de poderes e da constituição de novos territórios. Por fim, é óbvio que existem diferenças entre uma e outra religião, e é preciso que haja diferenças entre elas para que todos possam conviver conjuntamente, algo impossível se o único objetivo dos muçulmanos do Estado Islâmico e dos cristãos do Estado brasileiro é constituírem um território no qual apenas suas fés, culturas e leis têm valor e nenhuma outra mais.
No mesmo período de tempo, no Brasil, também tem se visto cenas que há muitos anos não se via, nas ruas e no Congresso, cenas que não distam e nem destoam muito das cenas lamentáveis que vemos acontecer na Europa em alguns aspectos, principalmente, no que diz respeito à intolerância. Não são os mesmos motivos que levam pessoas a caminharem aqui como fora, tão pouco são construídos campos de refugiados a olhos nus para todos verem, pois os campos de refugiados aqui são invisíveis aos olhos, mas há muito em comum com o que se vê para além das fronteiras do Brasil e dentro das fronteiras deste país ainda dito "cordial".
Em relação a estas cenas, para além e para aquém das fronteiras brasileiras, o que se tem de comum é o estabelecimento de um território pela fé que se constrói por meio da destruição de outros territórios, que estabelece suas próprias fronteiras, suas leis, seus direitos e suas penas. Territórios que são constituídos na terra e no ideal de todos nos quais somente alguns são bem vindos, o que se aliam aos que estão estabelecendo este território. Para além da fronteira do Brasil, o Estado Islâmico estabelecendo o território com base numa fé muçulmana, aquém da fronteira do Brasil, Igrejas cristãs estabelecendo um território com base na fé cristã.
Em comum entre dois movimentos de territorialização crescente no Oriente Médio e no Brasil, além da fé, há o belicismo deflagrado pelo Estado Islâmico de modo iminente com a destruição total de tudo que não representa a fé e cultura islâmica que eles representam, de modo particular, tudo que remete ao Ocidente, com exceção das armas, as quais usam de modos diversos para matar quem se opõe a eles. Entre os mortos que se opõem a eles, estão não apenas etnias e culturas locais que formam o Estado sírio, mas também pessoas que adotam diversidade sexual diferente do que prega o islamismo, além de mulheres que são mortas por abusos constantes. No que diz respeito às Igrejas cristãs, não há mortos literalmente, mas não é difícil observar em seus discursos um tom belicoso, que incita a guerra, que forma exércitos de salvação e que transforma a Bíblia em arma contra aqueles que não cultuam a mesma fé em Cristo professada por eles. Um tom belicoso que não visa matar, mas impõe o mesmo terror de morte e de destruição de todos aqueles que não têm a mesma fé e cultura cristã que eles, inclusive, se aliando a pessoas que defendem uma militarização da sociedade, isto é, um Estado militar, mesmo que não seja uma ditadura, e se for esta melhor ainda para muitos deles. E não são diferentes aqueles que são atacados pelos cristãos com suas palavras em relação aos muçulmanos do Estado Islâmico, pois os cristão também atacam outras etnias, principalmente a negra com sua cultura e fé considerada "demoníaca" por muitos religiosos, toda uma diversidade sexual que se expande no Brasil como uma "ditadura" segundo muitos deles e mulheres que ousam ter liberdade sexual em suas roupas e costumes.
Em relação a isto, tanto o Estado Islâmico como as Igrejas cristãs querem alastrar cada vez mais seu domínio sobre a terra, no Oriente e aqui no Brasil, e ambos usam ainda a mesma propagação da fé por meios midiáticos seja para estimular aqueles que querem seguir suas fés ao seu modo. E usam não por menos o mesmo tom muitas vezes de vitimização, seja em relação ao Ocidente no caso do Estado Islâmico, seja em relação a todos aqueles que não são cristãos. Contudo, os métodos do Estado Islâmico e das Igrejas cristãs de constituírem seus territórios não são os mesmos, obviamente, pois o primeiro constitui seu território com o terror das armas e as segundas com o terror de suas palavras e não os mesmos os territórios que constituem com base na fé, mas também na lei que eles próprios criam.
A diferença de constituição dos territórios pelo Estado Islâmico e as Igrejas cristãs é a de que aquele usa armas e esta usa palavras, o primeiro dispondo da força para expulsar do Estado que querem construir todos aqueles que não seguem a fé e cultura islâmica professada por ele e as segundas, dispondo da "Palavra de Deus" para expulsar do Estado brasileiro que querem cristão todos aqueles que não seguem a fé e cultura cristã professada pelos cristãos. No caso do Estado Islâmico sendo constituído um território literalmente sobre a terra, com suas fronteiras definidas por meio da força das armas, no caso das Igrejas cristãs constituindo um território conceitual sobre o território brasileiro, com suas fronteiras definidas por meio da força das palavras num Estatuto que se quer que transforme em lei do Brasil, o Estatuto da Família. O que, neste ponto, novamente Estado Islâmico e Igrejas cristãs, por mais distantes que sejam em seus objetivos, que não são os mesmos obviamente os mesmos, têm a mesma preocupação, a instituição de um família com base na sua cultura e fé religiosa. No caso do Estado Islâmico, uma família que é um califado, isto é, um poder político criado a partir da descendência direta de Maomé ou da tribo, mas também uma família formada com base na cultura islâmica de há milhares de anos em que se adota em relação às mulheres condutas rígidas, principalmente no que diz respeito aos modos de vida ocidentais, principalmente no que diz respeito à diversidade sexual. No caso do Estado cristão brasileiro que as Igrejas cristãs querem reforçar, uma família que segue também os preceitos cristão existentes há milhares de anos segundo a Bíblia que eles querem reconhecer como lei para o Brasil a partir do Estatuto da Família.
Neste sentido, se o Estado Islâmico não quer em seus territórios e em sua família aqueles que não professam o islamismo e não o seguem à maneira que o Estado deles defende, a Igreja cristã não quer também no território Brasileiro e na definição de família que rege a lei do Brasil aqueles que não professam ou seguem o cristianismo à maneira que elas defendem e que querem que o Estado brasileiro defenda. O que, para além destes movimentos de territorialização diferentes comparados aqui entre o Estado Islâmico e o Estado Cristão que as Igrejas cristãs querem constituir com o Estatuto da Família, o que se percebe é que cada vez mais há uma tentativa de se formar territórios legais para o exercício da fé, seja por meio da força, seja por meio da "palavra divina", que não por menos promovem desterritorializações cada vez maiores de pessoas seja no Oriente Médio, seja no Brasil, as primeiras, obviamente, mais visíveis do que a segunda, pois, no caso do Brasil, o que se promove com o Estatuto da família é uma desterritorialização imperceptível aos olhos, já que se trata de excluir da lei que rege o Brasil, e não do Brasil mesmo, aqueles que não constituem uma família segundo o molde cristão, propriamente aqueles que compõem uma diversidade sexual. Neste caso específico impedindo as diversas famílias que não são formadas com base na fé cristã de direitos que as Igrejas cristãs querem assegurar a partir do Estatuto da família.
Deste duplo movimento de desterritorialização dos outros que não professam suas fés, com todas as diferenças que existem entre eles, muçulmanos do Estado Islâmico e cristãos das Igrejas cristãs, constroem, por sua vez, castelos de areia, aqueles no meio do deserto sobre as ruínas das cidades que eles destroem por onde passam, estes no meio das leis do Estado brasileiro. Castelos de areia que ao menor soprar de ventos ou ondas de água podem cair, no caso do Estado Islâmico, quando forças mundias resolverem varrer o Estado Islâmico do mapa, no caso do Estado brasileiro que se quer cristão à maneira das Igrejas cristãs por meio de um Estatuto da Família, quando pessoas se unirem para questioná-lo na justiça em relação a qual se opõem, seja para incluir nesta concepção de família as diversas famílias excluídas, seja para destruir a própria noção de família baseada na fé cristã defendida pelos cristãos.
Castelos de areia que são ainda fés que são sustentadas pela força das armas e das palavras como sonhos de poder sobre os outros que deixam de existir quando não se acreditam mais nelas.
P.S. Parece óbvio, mas é importante que se diga, para evitar mal entendido, que este texto se dirige a todos os muçulmanos que defendem o Estado Islâmico, única e exclusivamente, bem como a todos os cristãos das Igrejas cristãs que defendem que seja instituído na lei do Brasil um Estatuto da Família com base na fé e cultura cristã. Em outras palavras, se excluindo deste texto todos os muçulmanos que não querem constituírem o Estado Islâmico e cristãos das Igrejas cristãs que não querem constituírem um Estado cristão brasileiro apenas com base em suas fés e culturas familiares respectivamente, mas um Estado democrático de direito que acolha em suas leis e direitos todas as fés e culturas familiares. Neste sentido, não se trata de se opor neste texto às fés islâmicas e cristã, mas analisar como a fé não apenas move montanhas, num caso e no outro, mas pessoas também, e que se todas as desterritorializações são positivas, como dizem Deleuze e Guattari em seus Mil platôs, a cada desterritorialização são produzidos muitos conflitos desnecessariamente pela busca de poderes e da constituição de novos territórios. Por fim, é óbvio que existem diferenças entre uma e outra religião, e é preciso que haja diferenças entre elas para que todos possam conviver conjuntamente, algo impossível se o único objetivo dos muçulmanos do Estado Islâmico e dos cristãos do Estado brasileiro é constituírem um território no qual apenas suas fés, culturas e leis têm valor e nenhuma outra mais.
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